Os olhares se voltaram para ela, e por um breve momento, o tempo pareceu parar. Ela viu os sorrisos se abrirem em resposta ao seu gesto, e sentiu uma onda de acolhimento e calor humano. A jovem respirou fundo, deixando o alívio e a felicidade tomarem conta de si. Aquela era sua oportunidade de fazer parte de algo maior, de se conectar com aquelas pessoas de uma maneira que jamais havia imaginado. E ela estava pronta para cada momento, cada emoção, cada segundo dessa nova experiência que se desdobrava diante dela como um sonho prestes a se tornar realidade.
- E aí, pessoal? Estão esperando a Madana chegar com a chave da casa de Berenice?
Um dos rapazes, com um boné virado para trás, respondeu com um sorriso malicioso:
- Exato! Estamos ansiosos para começar a festa. Madana sempre traz as melhores surpresas.
A garota olhou ao redor, percebendo a vibração pulsante do grupo, e perguntou curiosa:
- E o que costuma acontecer nessas festas na casa de Berenice? Parece meio misterioso.
Uma moça de cabelos coloridos e piercings no rosto respondeu com um brilho travesso nos olhos:
- Ah, querida, aqui é onde as noites ganham vida. Danças, jogos, conversas profundas... E às vezes, quem sabe, um pouco de romance sob a luz das lamparinas.
O rapaz de boné virou-se para a garota com um sorriso travesso:
- Se você está procurando uma noite inesquecível, veio ao lugar certo.
A jovem riu, sentindo-se cada vez mais intrigada e entusiasmada com a perspectiva da noite que estava por vir.
- Valeu aí. Obrigado.
Sandrine foi então até o pessoal. Lá chegando, se deparou com uma turma de oito pessoas mais ou menos. Curiosa e ansiosa foi logo se apresentando:
- Oi pessoal! Vocês conhecem a Madana? Estou procurando por ela.
Uma garota que estava conversando com outras meninas, olhando Sandrine de cima a baixo com um olhar devorador, disse:
- A gente está esperando ela chegar. Você deve ser a Sandrine, não é? A Madana falou de você.
- Nossa... Espero que ela não tenha falado m*l de mim. Mas sou eu mesmo. Prazer.
- Satisfação, moça. Sou a Dani. Prazer: só na casa de Berenice.
- Ah, então você é a Dani! Madana mencionou você algumas vezes. Bom, pelo menos nada de r**m, espero. - Sandrine respondeu com um sorriso, tentando acompanhar o tom descontraído de Dani.
- Relaxa, Sandrine! A Madana só fala bem de você. - Disse uma das outras garotas, tentando tranquilizá-la.
- Ufa, que alívio! - Sandrine soltou um suspiro. - Então, vocês estão esperando ela para fazer o que exatamente?
- Estamos indo para a festa na casa de Berenice. Madana disse que você também estava afim de ir, então decidimos te esperar antes de irmos. - Explicou Dani, ajustando a alça da sua bolsa no ombro.
- Ah, entendi. Legal, então vamos esperar pela Madana juntas. - Sandrine sorriu, sentindo-se mais à vontade na companhia das novas amigas.
- Ótimo! Enquanto isso, você pode nos contar um pouco mais sobre você, Sandrine. Madana disse que você é bem interessante. - Comentou outra garota, com um olhar curioso.
- Claro! O que querem saber? - Sandrine respondeu, sentindo-se empolgada para se enturmar com o grupo.
Dani então apresentou Sandrine para todos os que estavam ali e, conversa vai, conversa vem, uns dez minutos depois, Madana chega à pista de skate, com várias bolsas.
- Ajuda aqui gente! Tá quase caindo da minha mão!
Os rapazes presentes correram pra ajudar Madana com as bolsas. Ela então deu boa noite a todos e ficou bastante animada ao ver que Sandrine não tinha dado para trás, quando recebeu o convite.
- Menina! Que bom que você veio! A festa hoje promete muita coisa!
Em meio à escuridão sufocante que envolvia a noite como um manto de luto, seus passos ressoavam pelo caminho como suspiros de almas penadas. Cada pisada era um eco da própria angústia, um mergulho vertiginoso nos abismos sombrios que se estendiam diante deles, onde os segredos do passado se entrelaçavam com os sussurros do vento, como se os fantasmas da história estivessem despertando para clamar por justiça.
A casa, erguida como um monumento à decadência e ao desespero, emergia das sombras como um espectro ressurgindo de seu túmulo. A luz das lanternas de óleo, trêmula e vacilante, lançava sombras distorcidas que dançavam ao redor da fachada, revelando detalhes macabros e obscuros que se retorciam na escuridão como serpentes famintas. Um boneco da morte, com sua máscara rubra e seus olhos vazios, pendia da parede como um símbolo sinistro do destino que aguardava aqueles que ousassem desafiar os segredos ocultos daquela morada amaldiçoada.
Ao atravessarem o limiar da sala, o ar pesado e viciado da luxúria, parecia vibrar com a energia antiga que permeava o ambiente, como se os móveis cobertos por lençóis empoeirados fossem testemunhas silenciosas de prazeres indizíveis. As sombras dançavam em uma sinfonia macabra ao redor das velas que ardiam como chamas eternas, evocando visões de espectros ancestrais que clamavam por justiça ou vingança, presos em um ciclo interminável de sofrimento e tormento.
Enquanto os rapazes brandiam as chamas que saltitavam, lançando sombras grotescas pelas paredes de pedra, transformando o ambiente em uma visão digna dos mais sombrios contos medievais, as meninas deslizavam pelo salão com uma graça que beirava o sobrenatural. Seus movimentos eram como os de seres que dançavam entre os vivos e os mortos, organizando as garrafas de vinho como se fossem os artefatos de um ritual proibido, um ritual que invocava forças além da compreensão humana. O aroma de vinho, misturado com o incenso que queimava em tigelas de prata, impregnava o ar, criando uma atmosfera intoxicante que envolvia todos os presentes em um véu de mistério e êxtase, como se estivessem prestes a se entregar a algum segredo oculto da noite.
Entre eles, Sandrine permanecia à margem, seus olhos fixos e brilhantes como duas estrelas perdidas na escuridão. Ela observava com uma mistura de curiosidade e inquietação, absorvendo cada gesto, cada palavra carregada de significado obscuro. Naquela casa de pedra antiga e misteriosa, ela se sentia viva de uma maneira que jamais experimentara antes. Era como se cada sombra que dançava nas paredes sussurrasse segredos antigos, como se cada batida de seu coração ecoasse a pulsação do universo em seu estado mais primordial. Ali, naquela penumbra enigmática, ela se via à beira de desvendar os mistérios mais profundos do cosmos, ou talvez desafiar os limites entre a vida e a morte, como se estivesse prestes a mergulhar em um abismo onde a razão se perde e apenas o desconhecido reina supremo.
- Madana, você é dona dessa casa?
- Ai, ai... Quem me dera. Essa casa pertence a uns amigos da minha mãe. Eles viajam o tempo todo e quase não tem tempo de ficarem aqui. Então como moro numa república aqui perto, ganho um extra como caseira e diarista. E como possuo uma cópia da chave, limpo e arrumo tudo, faço minhas festinhas quase todos os finais-de-semana.
- E porque a casa fica escura?
- É uma forma de não gastar energia e os amigos da minha mãe não saberem que a casa anda badalada à noite. Eles são muito pães-duros e prestam muita atenção nas contas. Por isso eu criei esse mito da casa não ter energia.
- Ah, certo. Entendi.
- Mas é um segredo só da gente que organiza as festas aqui! Não saia por aí falando isso pra geral, que se os donos souberem, acabou a casa de Berenice.
- Pode deixar! Minha boca é um túmulo.
- Que alívio! É bom saber que posso confiar em você, Sandrine. Afinal, manter esse segredo é crucial para nossas festinhas continuarem rolando. A gente se diverte tanto aqui, seria uma pena se tudo acabasse por causa de um descuido, não é?
- Totalmente. Aliás, eu estava pensando em uma ideia para a próxima festa. Que tal um tema diferente? Tipo uma festa à fantasia ou algo do tipo?
- Adorei a ideia! Imagina só, uma festa à fantasia aqui nessa casa com essa atmosfera misteriosa. Seria incrível!
- Exatamente! E podemos até fazer uma competição de melhores fantasias, com prêmios e tudo mais. Tenho certeza de que todo mundo iria adorar.
- Eu tô dentro! Vou começar a pensar nas minhas fantasias agora mesmo. E você, Madana, já tem alguma em mente?
- Ainda não, mas vou começar a pesquisar e me inspirar. Tenho certeza de que vou encontrar algo bem legal.
- Ótimo! Então vamos fazer dessa próxima festa um sucesso ainda maior. m*l posso esperar para ver como vai ficar tudo.
- Eu também, Madana. Com você cuidando dos detalhes, sei que será incrível.