A noite de sábado deslizou sobre a cidade como um deus Baco das trevas, tecendo seu manto de sedução e mistério sobre cada rua e beco, numa mistura de Kerouac, ao som da banda The Doors. Enquanto as sombras se adensavam, os suspiros da juventude e os risos dos adultos se transformavam em um coral de expectativas e desejo, ecoando através das ruas estreitas e das vielas sombrias. Entre essas sinistras melodias, Sandrine se encontrava, mergulhada em um turbilhão de emoções noturnas, preparando-se meticulosamente para sua incursão na atmosfera vibrante da cidade.
Sua jornada pela noite começou com uma seleção de vestimenta meticulosa, cada peça escolhida com a precisão de um alquimista, destinada a realçar sua beleza e provocar os olhares dos transeuntes noturnos. Sob a luz pálida da lua, ela se envolveu em um vestido n***o como a meia-noite, cujas pregas sinuosas pareciam ondas sombrias em um mar de trevas. Adornada com joias de um opulento tom rubro, ela parecia uma sacerdotisa do oculto, pronta para invocar os mistérios da noite.
Perfumes exóticos envolviam-na como uma névoa perfumada, tecendo uma aura de sedução e mistério ao seu redor. Cada fragrância era uma promessa de êxtase e perigo, uma tentação para os corações incautos que cruzavam seu caminho. Sim, ela estava preparada para a noite, suas armadilhas e suas perdições.
Apesar do convite insistente de seu namorado, Sandrine ainda estava envolta em um véu de ressentimento pelas experiências íntimas insatisfatórias que compartilharam. Sua mente era um abismo de emoções conflitantes, um labirinto de desejos reprimidos e decepções amargas. A mesma inventou uma desculpa para evitar o encontro, preferindo a solidão da praia à companhia dele, onde as ondas sussurrantes e os ventos uivantes eram seus únicos confidentes na escuridão da noite.
Na sinistra penumbra notívaga, ela se viu compelida a adentrar uma loja de conveniência, cuja presença solitária ecoava como um espectro abandonado pela luz. Entre as sombras das prateleiras empoeiradas, seus olhos fixaram-se em uma garrafa de Passion Rouge: uma poção misteriosa envolta em promessas sinistras. Seu vidro gelado, como os grilhões de um túmulo, escondia segredos indizíveis, e sua tampa de rosquear parecia um selo que aprisionava não apenas o líquido carmesim, mas também o destino daqueles que ousassem desvendar seus mistérios profanos.
Com o coração pulsando ao ritmo de tambores funestos, Sandrine envolveu a garrafa com mãos trêmulas, consciente de que a jornada que se iniciava seria uma descida aos abismos do desconhecido. As palavras de sua amiga Madana ecoavam em sua mente como um eco enlouquecedor, advertindo-a das consequências de tal audácia, mas o fascínio pelo desconhecido a impelia adiante, rumo ao abismo de possibilidades obscuras.
E assim, munida da poção proibida e de um coração tomado pela inquietação, Sandrine lançou-se ao mundo noturno, onde as sombras dançavam ao som de lamentações ancestrais. O lamento das ondas quebrando contra a costa era como o choro de almas penadas, ecoando pelos recônditos da noite, enquanto a brisa gelada soprava como o sopro de espectros ancestrais, despertando arrepios que não eram apenas físicos, mas sim da alma.
Ao alcançar as margens sombrias da praia, onde a luz da lua se refletia em um mar de prata líquida, os passos de Sandrine a conduziram até uma pista de skate abandonada, um campo de batalha onde os corajosos desafiavam a morte em cada curva e salto. Ali, os gritos silenciosos dos que ousaram desafiar o destino pairavam no ar como um aviso, mas a jovem intrépida ignorava-os, mergulhando na escuridão como um sacrifício aos deuses do desconhecido.
No entanto, ao cruzar o limiar entre o mundo conhecido e o desconhecido, uma sensação de inquietação e pavor a envolveu como um manto de trevas. A pista de skate transformou-se em um labirinto de pesadelos, onde as sombras dançavam com vida própria e os murmúrios dos condenados ecoavam como o sussurro dos mortos. Diante da imensidão desoladora daquele cenário, Sandrine percebeu-se como uma intrusa em um reino de sombras e desespero, onde a juventude imprudente dançava sobre a linha tênue entre a vida e a morte, desafiando os próprios deuses que ela, agora, temia despertar.
Sob a penumbra dos candelabros e o eco soturno das rodas que rangiam, ela se viu imersa na profunda escuridão da multidão, onde cada olhar parecia perfurar sua alma e cada riso ressoava como um eco macabro em seu coração. O salão se transformava em um labirinto de sombras dançantes, onde sua figura solitária se perdia entre os espectros que se contorciam ao redor, como se cada um deles fosse um fantasma do passado, trazendo consigo o peso de seus próprios tormentos.
Diante daquela assembleia de desconhecidos, ela sentiu-se encolher, sua presença se tornando insignificante diante da vastidão sombria que a cercava. Cada rosto parecia esculpido pela mão do próprio destino, cada gesto uma dança macabra executada pelos marionetes de um destino c***l e impiedoso. Ela era apenas mais uma peça nesse tabuleiro sombrio do ouija: uma partícula perdida em um vendaval de inquietação e desespero.
No entanto, mesmo envolta pela névoa do desconhecido, uma chama teimosa ardia dentro dela, alimentando sua vontade de desafiar as trevas que a cercavam. Uma coragem inabalável, embora frágil como uma flor em um cemitério, empurrava-a para a frente, guiando seus passos trêmulos através do tumulto sinistro.
E então, com o coração batendo no compasso frenético dos suspiros agonizantes, ela se aproximou de um grupo de sombras que se contorciam em uma dança macabra, suas risadas ecoando como o riso de demônios em sua mente atormentada. Cada passo era um mergulho mais profundo na escuridão, cada movimento uma dança com o desconhecido, enquanto ela se esforçava para encontrar seu lugar em meio aos espectros que pareciam conhecer os segredos mais sombrios daquele lugar sinistro.
- Boa noite. Vocês são o pessoal que está se reunindo para uma festa que vai rolar perto daqui?
Um dos jovens chegou até ela e disse:
- Talvez você esteja procurando a Madana. É ela quem organiza as festas na casa de Berenice.
- Casa de Berenice? O que é isso?
- É uma casa de praia que não tem iluminação e fica aqui perto. Mas só vá se estiver a fim de curtir muitas loucuras à luz de lamparinas.
- É para lá que eu vou mesmo! E quero ir, justamente para conhecer essas loucuras.
- Então cole naquele pessoal ali perto da arquibancada, pois é o pessoal que organiza as paradas todas lá na casa de Berenice. Eles esperam a Madana chegar com a chave, vão à frente e depois de tudo arrumado é que a galera chega.
A jovem, com um sorriso radiante iluminando seu rosto, sentiu o coração acelerar de empolgação enquanto seguia na direção apontada pelo rapaz. Cada passo parecia carregado de uma expectativa eletrizante, como se a própria atmosfera ao seu redor vibrasse em sintonia com sua alegria. O sol brilhava intensamente, refletindo nos seus olhos cheios de vida e esperança, enquanto ela avançava com uma determinação que parecia desafiar o próprio tempo.
Ao se aproximar do grupo que se reunia perto da arquibancada, o murmúrio das conversas e as risadas que ecoavam no ar aumentaram sua ansiedade. Ela levantou a mão lentamente, sentindo cada músculo do braço se mover, e finalmente os cumprimentou com um aceno gracioso. Seus dedos tremiam ligeiramente, mas seu gesto foi firme e cheio de entusiasmo, uma mistura de nervosismo e alegria contagiantes.