A Família Camorra

1162 Words
Assim que eles terminaram de descer as escadas eles se espalharam pelo salão e eu levei pouco menos de um minuto para voltar a raciocinar. - Se atacarmos… - O Dego falou no nosso ouvido. - Estaremos mortos antes que alguém possa tentar nos salvar. - O Ricardo respondeu e o Dego fez uma expressão séria. Ela iria reconhecê-lo. Afinal era o irmão dela, ela cresceu e dividiu a vida com ele, mesmo que ele quisesse acabar com ela. O Ricardo moveu o queixo e eu observei com mais atenção ao redor das pessoas que tinham descido a escada. Cada um deles era acompanhado por uma espécie de segurança. Ali eram chamados de soldados. Os peões da máfia, aqueles que faziam qualquer tipo de serviço em troca apenas de dinheiro. Não era preciso ser um gênio para saber que eles estavam armados e que ali, ao nosso redor não havia apenas eles, mas também um número incontável de soldados que acabariam conosco ao primeiro sinal de ataque a qualquer pessoa daquele lugar. Apoiei a mão involuntariamente na coxa, onde eu carregava a minha adaga e lembrei da pistola presa na outra coxa. Estávamos todos armados, para o caso de algo dar muito errado, e de qualquer forma, nós não iríamos fazer nada naquela noite, além de nos familiarizar com os processos da máfia Camorra. - Devemos nos afastar. - Falei para o Ricardo e eu sabia que o Dego e a Malu estavam ouvindo. - Vamos para o outro ambiente, vamos na frente. - Falei em inglês, no ouvido do Ricardo, para que ninguém além deles pudesse ouvir. O Ricardo imediatamente me conduziu para o outro lado do salão, e atravessamos portas duplas. Ali estava disposta uma pista de dança, e alguns casais dançavam timidamente. Ele tirou a taça da minha mão e me convidou para dançar. Estavamos no segundo giro quando a Malu e o Dego se juntaram a nós. A música era lenta e observamos tudo ao redor. Cada um tinha um alvo de observação, e o meu era o Matteo. O filho mais novo do Dom. Ele não estava mais com a Julie quando entrou no salão. Ele começou a conversar com algumas moças e percebi que ele era mais jovem do que a sua idade dizia. Provavelmente um menino mimado que cresceu com muito dinheiro e sem muita responsabilidade. Por ser o filho mais novo, ele dificilmente herdaria tudo aquilo, então deveria apenas aproveitar a vida fácil. Como José assumiu o cargo de Dom dos Camorra foi fácil de descobrir. A minha avó era a única herdeira e o conselheiro do seu pai assumiu assim que ele morreu, esse era José Camorra. Ele era filho de um primo deles, que foi levado ali ainda pequeno e estava prometido para assumir tudo caso não houvesse outros herdeiros homens. E assim se fez. Ele não tinha nem 18 anos quando assumiu tudo e criou o seu império, usando o dinheiro, o poder e a influência do nome Camorra. - A sua tia vem aí. - O Ricardo falou no meu ouvido. Perla Camorra era exuberante. Um exemplo de mulher de alta classe. O tempo lhe fez muito bem. Ela era loira e tinha os olhos castanhos claros, os olhos do Russo. Ela caminhou pelo salão, procurando alguém e o Ricardo me virou de costas para ela. - O que foi? - Perguntei enquanto ele terminava de me girar. Ele quase rosnou quando respondeu. - O Caqui está aqui. - Ele apoiou o rosto no meu ombro, e me conduziu ainda dançando para um canto do salão. Paramos em um bar cumprido, com algumas banquetas e nos sentamos, ficando de costas, observando pelo espelho acima do bar, os movimentos no salão. - Talvez vir em um evento desses tenha sido uma decisão precipitada. - O Ricardo falou. - Já sabemos que ela está dentro da família, isso é uma informação importante. - Falei. - É sinal que eles não negam os seus, mesmo as mulheres. - Ele manteve a boca em uma linha fina e firme. Pude ver a Perla se aproximando de onde estávamos e prendi a respiração tentando disfarçar que eu a observava. O Matteo já tinha saído da minha vista, e era arriscado segui-lo. Ela parou ao meu lado e me cumprimentou. - Ciao. - Eu assenti e respondi. - Ciao. - Ela falou algo em italiano para o barman e ficamos parados ali observando. O perfume dela era muito doce e ela estava vestida inteira de dourado, com um vestido fechado até o pescoço, somente com os braços de fora. Ela olhou novamente para mim. - Ci siamo incontrati? - Ela me perguntou em italiano. - Lei non parla italiano. - O Ricardo interviu. - Americana? - Ela perguntou, um sotaque carregado. - Sim. - Respondi sentindo uma emoção estranha. Ela era uma das poucas peças que restou da minha família. - Eu perguntei, se nos conhecemos. - Ela traduziu o que tinha me dito inicialmente. - Acredito que não, cheguei faz pouco tempo dos EUA. - Ela sorriu e eu reconheci aquele sorriso. Era o meu sorriso. A aparência dela era um misto da minha com a do Russo. - Você é muito familiar. - Ela estalou a língua. - Perla Carmorre. Muito praz3r. - Ela me estendeu a mão e eu apertei de volta. - Rhay Campos. - Era o nome que constava nos meus documentos falsos. Usei o meu codinome e também o sobrenome do Ricardo, para entrar no país. - E esse é o meu noivo. Ricardo Potrafke. - Usei o nome falso dele também. Ela estendeu a mão e ele beijou as costas da mão dela. - Encantada. Vocês formam um belo casal. - Ela demorou mais do que o necessário para soltar a mão dele, e eu observei ela olhar para o Ricardo com cobiça e assim que a mão dele ficou livre eu segurei possessivamente na mão dele, entrelaçando os dedos, mostrando a aliança. Ela olhou para mim sorridente e eu sorri de volta, me esquecendo completamente de quem ela era. O ciúme começando a invadir a minha corrente sanguínea. - Aproveitem a festa. Espero encontrá-los de novo. - Ela saiu e nos deixou sozinhos. - Nenhuma pergunta? - O Ricardo indagou. - Isso é muito estranho. - Achou que ela perguntaria o quê? - Percebi ela se aproximar do Dominique, que nem pareceu perceber a presença dela. - Quem éramos, porque americanos estariam no evento deles… Qualquer coisa. - Uma possibilidade me ocorreu. - Realmente, é um pouco estranho. - Avaliei as possibilidades. - Ela perdeu um pouco o rumo quando te viu. - E você ficou com ciúmes de novo, eu estou começando a gostar disso. - O sorriso dele era provocante. - Estou pensando em te recompensar por não ter matado ninguém ainda. - Eu sorri de volta. O brilho no olhar dele era uma promessa, que mais tarde, ele me provaria que ele é só meu.
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