A Máfia Italiana

1049 Words
Naquela noite decidimos não levar a equipe toda para participar do evento. Íamos em dois casais. Inicialmente eu iria de par com o Dego, que assumiu o nome verdadeiro, Vicente. E o Ricardo iria com a Malu. No momento que estávamos saindo decidimos inverter. Imaginei que a Malu ficaria desconfortável longe do Dego, que esteve grudado nela desde que ela foi feita refém. Os demais iriam nos monitorar e ficar de sobreaviso para o caso de algo dar muito errado. O Cobra tinha muitos contatos ali, assim como a minha sogra, Vivian Truck. Com a ajuda deles conseguimos convites para o evento anual dos Camorres. Um evento que eles promoviam em comemoração às suas boas safras de vinhos daquele último ano. Apenas o alto escalão da Itália era convidado e prometia ser um evento imenso e muito chique. Quando se tratava de esbanjar dinheiro e demonstrar poder, os Camorres eram o exemplo mais forte do lugar. Praticamente tudo em Nápoles e em boa parte do sul da Itália eram comandados por eles. E eu era herdeira de tudo. Por direito. E nós sabíamos que bater na porta deles e declarar isso significava que eu morreria, porque na linha de sucessão do atual chefe deles, havia uma verdadeira fila de pessoas. José Camorra tinha 4 filhos, 3 com a sua primeira esposa, que faleceu no nascimento do terceiro filho e tinha mais um filho do terceiro casamento. Todos homens. E segundo as nossas investigações, Julie, a traidora filha da put4 que estávamos caçando, ex-mulher do Ricardo, irmã do Dego que forjou a própria morte para derrubar os Trucks, era a filha do segundo casamento. A segunda esposa dele sumiu sem deixar rastros e o boato era que ele mandou ela embora para os EUA quando descobriu que ela estava grávida de uma menina. Segundo a ordem cronológia das nossas investigações e da adoção da Julie pelos pais do Dego, isso era completamente possível. O obstáculo de tudo isso, não só para Julie reclamar o seu lugar nos Camorres, mas também para eu declarar a minha parcela de herança era apenas um. Éramos mulheres. A cultura da máfia Italiana nunca considerou as mulheres como partes importantes da máfia. Não importando de quem você era filha, na linha de sucessão, se você fosse mulher, não seria considerada. Infelizmente, os Bambinos, a família do meu avô mantinha a mesma cultura. E nós ainda não tínhamos pensado em como lidar com isso. O Ricardo conduziu o carro, blindado e lacrado nos vidros de preto, pela entrada da Mansão Lussuria, que estava na família Camorra fazia quase 200 anos. Era um verdadeiro castelo visto de longe, e quanto mais nos aproximamos, maior aquele lugar ficou. A casa tinha apenas um andar, e eu poderia jurar que era do tamanho de um quarteirão inteiro. As paredes de tijolos mostravam uma estrutura artística barroca, com dois leões de pedras imensos na entrada, um de cada lado da imensa porta. - Preparada? - Ele me perguntou. - Não. - Confessei. - Mas, vamos mesmo assim. - Coloquei a minha máscara, do tom do vestido e ele a dele, que era preta. O valete abriu a porta para mim e me estendeu a mão me ajudando a descer. O Ricardo já estava ao lado dele, me estendendo a mão. Caminhamos com calma pelo tapete vermelho que ia até uma pequena escada e passamos entre os leões. Eu imaginei muito luxo quando pesquisamos sobre aquele evento, mas ver com os meus próprios olhos foi assombroso. Eu me senti uma verdadeira plebéia em um reino muito rico. Todos que estavam ali vestem marcas caríssimas. Pedras preciosas brilhavam para todos os lados. O buffet era imenso, cheio de aperitivos e garrafas de vinhos estavam espalhadas em pequenos bistrôs pelo salão. O salão estava decorado com tecidos e flores vermelhas, e a luz baixa refletia nos tecidos brancos, tornando a visão multicolorida. - Eu esperava mais. - O Ricardo falou perto do meu ouvido, e foi impossível não rir. Caminhamos pelo salão e esperamos até o Vicenti e a Malu entrarem. Combinamos de chegarmos com 10 minutos de diferença, para não atrairmos suspeitas. Eles se colocaram do outro lado do salão e fiquei grata por ser um baile de máscaras, a Malu não estava conseguindo disfarçar o quanto ela estava incrédula com o tamanho do evento. O Ricardo pegou duas taças de vinho em uma bandeja e me ofereceu uma. Brindamos em silêncio e eu bebi. O vinho era… Indescritível. Olhei para ele surpresa e ele estava apreciando os odores amadeirados do vinho, com o nariz quase dentro da taça. Ele deu mais um gole e eu esperei, observando as expressões dele se suavizarem e ele sorrir. - Uma indecência! - Ele falou baixinho, mas com força, fazendo a minha memória voltar há quase um ano atrás. A nossa primeira interação foi na fila de um mercado, e ele falou que o vinho que eu estava comprando era uma verdadeira indecência. Na ocasião eu não sabia, mas ele estava falando de mim, não do vinho. - Eu não tenho palavras… - Falei, bebendo mais um gole. Alguns minutos se passaram, enquanto observamos os convidados, tentando identificar qualquer m****o dos Camorras, mas até aquele momento nenhuma das pessoas, que identificamos por meio de fotos e pesquisa, apareceu. - Temos um problema. - O Dego falou pelo pequeno aparelho que usávamos para nos comunicar e que era praticamente invisível aos olhos. - Acompanhem a escadaria. O Ricardo endureceu o braço no meu quando eu olhei. Um grupo de pessoas descia a escada. José Camorra, o Dom da máfia, descia com a sua terceira esposa, Sofia. Seguidos dos seus filhos. Dominique Camorra, seu filho mais velho, com a esposa Perla Camorra, que antes era Perla Bambino, irmã do meu pai, famosa apenas porque ela traiu o meu avô, fugindo para se casar com o Dominique. Giorgia e Anna Camorra, filhas de Dominique, minhas primas, desciam de cabeça baixa seguidas por seus tios Davi e Mattia Camorra, seguidos de… O meu coração gelou e depois ferveu. Matteo Camorra, o filho mais novo do Dom descia de braços dados com a desgraçad4 que nos jurou vingança e disse que voltaria para destruir os Trucks. A mulher que jurei arrancar até os olhos. Julie Camorra, ao que tudo indicava.
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