Liberdade é caro!

863 Words
Anna Eu só conseguia pensar que ela precisava saber que não estávamos parados. Que assim que o Ricardo se acalmou minimamente, ele procurou o Nicolas e isso fez com que eles bolassem algum tipo de plano para tirar a Clara daqui. E eu iria junto. Não sei quando, nem como seria, mas eu não ia perder essa oportunidade. - Olha só, temos uma estrangeira na nossa mesa. - O Matteo provocou e eu precisei de um esforço imenso para manter os meus olhos abaixados. - Matteo, por favor. - O Davi era um homem bom que nasceu na família errada. Mesmo que ele assumisse as coisas, se chegasse a casar com a Clara, eu sei que seria uma coisa boa. Isso não iria corromper o bom coração dele. - Só porque é a sua mulherzinha eu não posso fazer piada? - De todos os meus tios, o Matteo era o pior. O limite das pessoas era algo que ele nunca respeitou e eu me sentia extremamente desconfortável com a forma que ele me olhava. - Sem piadas. - Finalmente o meu avô chegou, e poderíamos ter uma refeição minimamente em paz. - Eu queria quebrar o gelo, para que a nossa querida Clara ficasse à vontade. - O Matteo justificou forçando um tom inocente na voz. O Dom deu de ombros, e analisou todos na mesa. - Todos sabem que a presença da Clara aqui significa que ela aceitou a minha proposta. - Eu continuei observando o meu prato. - Brindemos à nossa família. - O meu avô sempre acreditava que uma boa bebida poderia resolver as coisas. O que ele não via é que aquilo era um canil, lotado de animais selvagens e sanguinários. Eu não preciso olhar para o meu pai para saber que ele estava transtornado. Aquele casamento colocava em risco tudo o que ele se preparou a vida inteira para conseguir. Levantamos os copos em silêncio e observei a Clara levantar o copo dela muito tarde, uma revolta silenciosa pairava ao seu redor. - Aos finais felizes, aos casais perfeitos e ao império Camacho. - O meu avô brindou. - Que os nossos inimigos sangrem embaixo das nossas botas! - Todos brindaram e voltamos a ficar em silêncio. O barulho de talheres e pratos foi a única coisa que ecoou durante algum tempo até que o Matteo perguntou: - E quando será o casório? - Ele perguntou ao Davi, mas direcionou o olhar ao meu pai, e foi impossível não olhar as cores da pele do meu pai variarem de um branco quase cinza para um tom avermelhado que eu conhecia muito bem. A vergonha estampada para todos verem. - Veremos os detalhes nos próximos dias… - O Davi respondeu, sendo completamente invasivo. - Ela precisa se adaptar aos nossos costumes primeiro. - A Perlla interveio, quebrando completamente a regra de falar sem ser citada. Era uma coisa que ela costumava fazer normalmente para defender o meu pai ou a Gio. Normalmente o meu avô fazia vista grossa. Não hoje. - Perlla, não percebi que eles falavam com você. - O tom educado dele era sempre imprevisível, você nunca sabia o que viria depois. - Desculpe. Eu me excedi. - A Perlla fez a melhor expressão de vergonha. - De qualquer forma, ela tem razão Dom. A Clara é uma estrangeira, não está acostumada com as coisas aqui. Imagino que seja necessária uma adaptação. - A fúria que emanava da Clara era quase palpável. O meu avô assentiu. - Como eu ordenei, ela terá aulas intensivas com a Perlla, e imagino que em uma semana tenha absorvido tudo. Correto, Clara? - Ela levantou o olhar e encarou o Dom. Percebi ela refletindo sobre como responderia, lutando com algum monstro interior que nós não conseguimos ver. Uma fera enjaulada na própria pele. Era assim que o Nicolas tinha chamado ela. Dito que eu não me enganasse quando tentasse me aproximar, ela era imprevisível. - Imagino que vocês tenham pressa. - Ela falou, a voz contida. - E me manter em cativeiro sem amarras suficientes é arriscado. - Eu nem precisei olhar para o Davi para saber que ele estava decepcionado. - Ela é ótima não? - O Matteo brincou. - Sim, ela é. - O Dom respondeu, o tom um pouco mais ameaçador agora. - Quanto tempo acredita que possa absorver os nossos costumes? - Eu aprendo rápido e de qualquer forma, quanto antes começarmos essa palhaçada mais rápido estarei livre. - Ela retrucou sem nem pestanejar. Todos seguraram a respiração, enquanto o Dom absorvia as palavras dela. Ela nem imaginava o que poderia acontecer, se ela não segurasse a língua. - Pai… - O Davi tentou intervir, mas era tarde demais. A minha pele queimou com o olhar que o meu avô disparou para ela. A lembrança do que aconteceu quando eu me comportei de forma afrontosa. - Perlla, ela não terá lições com você hoje. - O Dom falou, o tom calmo e a sombra da ameaça pairando no ar. - Como quer que eu aprenda? - Ele sorriu quando ela o questionou. - Eu mesmo vou te ensinar. - E todos nós sabíamos o que aquilo significava.
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