- Eu poderia ter resolvido aquilo. - Falei fechando a porta, que nos dava uma pequena privacidade, nas escadas do prédio.
- Ela te ameaçou. - Eu balancei a cabeça.
- Eu ia lidar com aquilo sem parecer que alguém ia morrer ao se aproximar de mim. - Encarei os olhos dele, mais perto do que eu pretendia, deixando toda a raiva que eu senti ferver nos meus nervos. - Mesmo que ela me atacasse, eu não ia aceitar ser ferida por uma garota como aquela.
- Agora ela não vai mais mexer com você. - Ele afirmou vitorioso.
- Nico, você talvez não entenda, mas para mim é tenebroso saber que as pessoas têm medo de chegar perto de mim. Doente ou não, aquela garota foi a única em anos que falou comigo como se eu fosse uma pessoa normal. - Ele piscou. - Eu precisava resolver isso, pelo menos isso. - Ele segurou a minha mão, olhou ao redor, e beijou levemente a ponta do meu nariz.
- Desculpe, eu perdi a cabeça. - Eu respirei fundo.
- Agora me explique… Qual o objetivo do meu pai de colocar 4 seguranças só no andar que eu estudo? - Ele suspirou.
- Depois de prender a Clara ele imaginou que os Trucks poderiam usar você ou sua irmã como reféns. Ele anda… descontrolado quanto às decisões. - Eu respirei fundo.
- Você poderia ter me avisado. - Ele entortou a boca. - Deveria ter me avisado.
- Eu realmente não achei necessário te alertar, para que você não tivesse essa reação. - Eu assenti. - Aquela casa está perigosa demais, preciso que tenha cuidado por uns dias. - Eu sabia que um plano para o resgate da Clara estava em andamento, mas o Nicolas ainda não tinha conseguido entrar em um acordo com o Truck e de qualquer forma eles precisavam que a Clara estivesse minimamente bem para fugir.
- Eu não quero voltar para lá. - Ele sorriu. - Nem para aquela casa nem para a sala de aula. As proteções demasiadas do meu pai… Vão acabar me enlouquecendo.
- Posso te levar para casa… - Ele sugeriu, com uma dor no olhar. Neguei com a cabeça.
- Onde estão os outros homens? - Ele sorriu.
- Eu os dispensei, imaginei que você não ia querer mais ninguém te vigiando tão de perto pelo resto do dia. - Uma ideia maluca começou a se formar na minha cabeça. - Comentei que você ia querer ir para casa.
- Existe algum lugar, que podemos ir, sem que ninguém nos veja? - Ele ergueu as sobrancelhas para mim. - Talvez seja uma oportunidade de ficarmos um pouco juntos… - Eu pude perceber ele analisando mentalmente as variações daquela ideia. - Por favor… - Fiz um biquinho e ele suspirou.
- Eu vou acabar morto com as suas ideias. - Ele pegou o telefone e ligou para um dos homens que ele acabou de dispensar.
- Ela continuará aqui, mas não precisam voltar… Ela ficou nervosa com a quantidade de homens, aceitou apenas que um de nós ficasse e eu já estou aqui. Se um dos chefes perguntar diga que eu explico quando voltar, mas só se um deles perguntar, não queremos problemas para a menina.
Eu não conseguia ouvir o que o homem respondia, mas o sorriso no rosto do Nico me dizia que o homem acreditou.
Esperei ele desligar e pulei nos braços dele.
- Onde vamos? - Eu perguntei.
- Ao único lugar que não seremos incomodados. - Ele pegou a minha bolsa e me puxou pela mão. - Você vai precisar abaixar no banco de trás para que ninguém te veja na rua… - Ele foi ditando os detalhes de como faríamos aquilo e eu praticamente não conseguia processar as informações. Não quando eu logo ficaria sozinha com ele. Sem a chance de ninguém nos interromper…
No estacionamento do colégio fomos para o carro e eu entrei mais rápido do que eu achei ser capaz. Tentando não pensar muito naquilo.
Ele dirigiu com calma, agindo com naturalidade até a saída do campus e assim que pegamos o trânsito ele me pediu para deitar no banco.
Eu obedeci de imediato e fiquei em silêncio por todo o caminho, torcendo para que nada desse errado e pudesse me roubar aquela energia gostosa que eu estava sentindo.
Eu teria algumas horas sozinha com ele, em um lugar privado, provavelmente entre quatro paredes.
Uma ansiedade imensa pesou no meu estômago, e eu senti os meus nervos repuxarem…
Sozinha, entre quatro paredes, eu poderia fazer o que eu quisesse com ele…
- Chegamos. - Ele falou. - Pode se sentar agora.
Estávamos em um estacionamento fechado, de um prédio que parecia bastante humilde.
Ele abriu a porta pra mim, soltou o meu cabelo que estava delicadamente preso em um coque e apertou as minha bochechas, me fazendo sorrir.
- Você não só é uma princesa, como parece com uma… É o melhor que consigo fazer para disfarçar a mulher de classe que é. - Eu assenti e caminhei segurando firme a mão dele.
Não me importei em tentar disfarçar o sorriso enquanto entrávamos no elevador, as grades fizeram um barulho forte quando ele as fechou e eu dei um salto.
- Tudo bem? - Ele perguntou, me puxando para perto e eu assenti. Mantive o meu olhar fixo no dele, tentando não pensar no mar de possibilidades que me aguardava atrás de alguma porta, bem perto dali.
Saltamos no 7º andar e caminhamos por um corredor escuro, com as paredes manchadas. Era um prédio muito humilde, de certo do subúrbio. Ele parou de frente para uma porta e destrancou, me puxando rápido para dentro e trancando a porta atrás de si.
- Seja bem vinda… Eu moro aqui.