Anna
Eu não era uma pessoa de muitos amigos, até por conta do meu sobrenome que normalmente afugentava as pessoas. Então, durante as aulas eu me mantinha sempre dedicada a isso, apenas a estudar.
Mas ser uma Princesa Camacho não evitava os olhares doentios das outras pessoas quando eu entrava para assistir a aula e um silêncio mortal dominava o ambiente.
O que eles esperavam? Que eu ordenasse as suas mortes?
Eu não era assim, eu não queria machucar ninguém, duvidava muito que eu fosse capaz de algo assim.
Naquele momento a Clara ainda se recuperava do surto de raiva do meu avô e como qualquer mulher naquela casa eu sabia exatamente como ela se sentia.
Vulnerável e desprotegida.
Respirei fundo, tentando aliviar o nó que se fez na minha garganta com o pensamento.
Não olhei para ninguém em especial enquanto caminhava até o meu lugar e me sentava em silêncio, ainda tentando esquecer a dor da primeira vez que o meu avô me prendeu para me punir, por subir em uma árvore e comer amoras…
- Você está no meu lugar! - Uma voz carregada de um sotaque forçado do interior me atingiu e só então eu olhei para a mulher que estava parada na minha frente. - Vamos garota, levante!
Ela era uma aluna nova, e sem dúvidas não sabia quem eu era ou não ligava.
- Não vou discutir por lugar, sento aqui desde o início do curso e continuarei aqui. - Falei, da forma mais educada que eu consegui. Uma faísca de raiva acendeu nos olhos pretos dela e em seguida ela jogou o cabelo preto para trás, demonstrando a incredulidade com a minha resposta.
- Garota, acho que você não entende… - Um sussurro no fundo da sala chamou a atenção dela. De certo alguém tentando avisá-la que não deveria mexer comigo. Mesmo que eu não fosse capaz de fazer nada para ninguém, ainda assim a fama do meu sobrenome era sangrenta.
- Não me importa quem ela é. - A garota respondeu para quem quer que fosse que tentou alertá-la do perigo que corria. - Eu escolhi sentar aqui e ela vai me dar o lugar. - Nesses poucos segundos de interação eu já sabia o tipo de pessoa que tinha diante de mim.
Uma mulher amarga, que não deveria ter amor em sua vida, como qualquer pessoa ali, e de certo mimada e egoísta. Eu respirei fundo, tentando alinhar as minhas emoções.
Eu tenho problemas de verdade para resolver para perder tempo com chiliques como aquele.
Respirei fundo e ela sorriu, começando a sentir a vitória.
- Desculpe. - Eu comecei e ela mostrou mais os dentes. - Qual o seu nome? - Ela apertou os braços para junto do corpo.
- Valquiria e levante logo. - Eu conseguia ouvir nas palavras dela o controle indo para o espaço, e depois de crescer em uma casa cheia de homens autoritários e de presenciar inúmeras ameaças, não só a mim, mas aos que estavam ao meu redor eu realmente me vi em um impasse.
Eu poderia ceder o lugar e não ter problemas imediatos com ela, além de aguentar ela se gabando deu ter cedido ou…
- Não fomos devidamente apresentadas. - Mantive a voz em um tom baixo, mas alto o suficiente para todos ao redor ouvirem. Estendi a mão. - Sou Anna. Anna Camorra. - Ela deveria ser nova por ali, o abalo por citar o meu nome não surgiu como normalmente acontecia. Ela não apertou a minha mão.
- Certo, Anna Camorra. Ou você levanta ou serei obrigada a te fazer levantar… - Dois segundos foi o que demorou para que eu estivesse cercada.
4 homens, incluindo o Nico estavam ao meu redor, sem armas em mãos, mas visivelmente armados para todos verem.
- Algum problema Senhorita Camorra? - O Nico perguntou mantendo o olhar fixo na garota, que finalmente entendeu o que estava acontecendo ali.
O olhar dela foi caindo pouco a pouco, observando as armas dos homens, percebendo o pânico das outras pessoas e a tranquilidade que eu tentei manter na minha expressão.
Afinal, eu pretendia resolver aquilo sozinha, sem a necessidade de interferência dos guardas que eu sabia que sempre estavam à espreita por ali, enquanto eu estudava
- Não tenho certeza, Nicolas. - Eu respondi, mantendo o meu olhar para a menina. - Algo sobre ser o lugar dela.
- Esse sempre foi o seu lugar. - Ele respondeu antes mesmo que eu terminasse a frase. - Tive uma pequena impressão de ameaça nas suas palavras? - A pergunta era para ela.
- De forma… alguma senhor. - Ela gaguejou e alguns risinhos ecoaram pela sala.
- Senhorita, precisa de mais alguma coisa? - A pergunta era pra mim.
- Sim, falemos lá fora. - Eu respondi me colocando de pé. - Foi um pra.zer Valquiria.
Ela não conseguiu responder, devido ao pânico que ela deveria estar sentindo e que estava estampado nas feições dela.
Caminhei entre os homens, sendo escoltada para fora da sala, com uma única certeza.
Aquela garota seria um problema sim, mas o homem que estava ao meu lado era o maior problema que eu tinha agora.