A vilã

864 Words
Anna Eu não era uma pessoa de muitos amigos, até por conta do meu sobrenome que normalmente afugentava as pessoas. Então, durante as aulas eu me mantinha sempre dedicada a isso, apenas a estudar. Mas ser uma Princesa Camacho não evitava os olhares doentios das outras pessoas quando eu entrava para assistir a aula e um silêncio mortal dominava o ambiente. O que eles esperavam? Que eu ordenasse as suas mortes? Eu não era assim, eu não queria machucar ninguém, duvidava muito que eu fosse capaz de algo assim. Naquele momento a Clara ainda se recuperava do surto de raiva do meu avô e como qualquer mulher naquela casa eu sabia exatamente como ela se sentia. Vulnerável e desprotegida. Respirei fundo, tentando aliviar o nó que se fez na minha garganta com o pensamento. Não olhei para ninguém em especial enquanto caminhava até o meu lugar e me sentava em silêncio, ainda tentando esquecer a dor da primeira vez que o meu avô me prendeu para me punir, por subir em uma árvore e comer amoras… - Você está no meu lugar! - Uma voz carregada de um sotaque forçado do interior me atingiu e só então eu olhei para a mulher que estava parada na minha frente. - Vamos garota, levante! Ela era uma aluna nova, e sem dúvidas não sabia quem eu era ou não ligava. - Não vou discutir por lugar, sento aqui desde o início do curso e continuarei aqui. - Falei, da forma mais educada que eu consegui. Uma faísca de raiva acendeu nos olhos pretos dela e em seguida ela jogou o cabelo preto para trás, demonstrando a incredulidade com a minha resposta. - Garota, acho que você não entende… - Um sussurro no fundo da sala chamou a atenção dela. De certo alguém tentando avisá-la que não deveria mexer comigo. Mesmo que eu não fosse capaz de fazer nada para ninguém, ainda assim a fama do meu sobrenome era sangrenta. - Não me importa quem ela é. - A garota respondeu para quem quer que fosse que tentou alertá-la do perigo que corria. - Eu escolhi sentar aqui e ela vai me dar o lugar. - Nesses poucos segundos de interação eu já sabia o tipo de pessoa que tinha diante de mim. Uma mulher amarga, que não deveria ter amor em sua vida, como qualquer pessoa ali, e de certo mimada e egoísta. Eu respirei fundo, tentando alinhar as minhas emoções. Eu tenho problemas de verdade para resolver para perder tempo com chiliques como aquele. Respirei fundo e ela sorriu, começando a sentir a vitória. - Desculpe. - Eu comecei e ela mostrou mais os dentes. - Qual o seu nome? - Ela apertou os braços para junto do corpo. - Valquiria e levante logo. - Eu conseguia ouvir nas palavras dela o controle indo para o espaço, e depois de crescer em uma casa cheia de homens autoritários e de presenciar inúmeras ameaças, não só a mim, mas aos que estavam ao meu redor eu realmente me vi em um impasse. Eu poderia ceder o lugar e não ter problemas imediatos com ela, além de aguentar ela se gabando deu ter cedido ou… - Não fomos devidamente apresentadas. - Mantive a voz em um tom baixo, mas alto o suficiente para todos ao redor ouvirem. Estendi a mão. - Sou Anna. Anna Camorra. - Ela deveria ser nova por ali, o abalo por citar o meu nome não surgiu como normalmente acontecia. Ela não apertou a minha mão. - Certo, Anna Camorra. Ou você levanta ou serei obrigada a te fazer levantar… - Dois segundos foi o que demorou para que eu estivesse cercada. 4 homens, incluindo o Nico estavam ao meu redor, sem armas em mãos, mas visivelmente armados para todos verem. - Algum problema Senhorita Camorra? - O Nico perguntou mantendo o olhar fixo na garota, que finalmente entendeu o que estava acontecendo ali. O olhar dela foi caindo pouco a pouco, observando as armas dos homens, percebendo o pânico das outras pessoas e a tranquilidade que eu tentei manter na minha expressão. Afinal, eu pretendia resolver aquilo sozinha, sem a necessidade de interferência dos guardas que eu sabia que sempre estavam à espreita por ali, enquanto eu estudava - Não tenho certeza, Nicolas. - Eu respondi, mantendo o meu olhar para a menina. - Algo sobre ser o lugar dela. - Esse sempre foi o seu lugar. - Ele respondeu antes mesmo que eu terminasse a frase. - Tive uma pequena impressão de ameaça nas suas palavras? - A pergunta era para ela. - De forma… alguma senhor. - Ela gaguejou e alguns risinhos ecoaram pela sala. - Senhorita, precisa de mais alguma coisa? - A pergunta era pra mim. - Sim, falemos lá fora. - Eu respondi me colocando de pé. - Foi um pra.zer Valquiria. Ela não conseguiu responder, devido ao pânico que ela deveria estar sentindo e que estava estampado nas feições dela. Caminhei entre os homens, sendo escoltada para fora da sala, com uma única certeza. Aquela garota seria um problema sim, mas o homem que estava ao meu lado era o maior problema que eu tinha agora.
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