O apartamento dele era simples e aconchegante. Ele não tinha muitos móveis, apenas coisas necessárias para uma pessoa viver.
A sala continha um sofá preto e uma mesa de centro, que abrigava um mapa de Napolés, a direita havia uma cozinha americana com o mínimo necessário e no fundo era possível ver uma grande cama de casal, devidamente posta com almofadas e travesseiros.
- Aconchegante. - Falei sem pensar.
- E humilde… Sei que não é o que está acostumada, mas queria vir para um lugar mais privado. - Segurei ele pelo queixo, vendo pontos de vergonha nos olhos dele.
- É perfeito, assim como você. - Aos poucos aqueles pontos brilhantes de vergonha diminuiram.
- Você cresceu como uma princesa… - Ele caminhou até a cozinha com calma. - Essa casa é o suficiente para que eu viva enquanto estou aqui.
Observei mais de perto o mapa da cidade e percebi anotações em volta da Mansão Lussuria. Pontos de fuga.
- Eu estava estudando formas de tirar a Clara de lá. - Ele explicou e eu assenti. - Quero fazer isso logo, antes que o Ricardo incendeie toda a Italia.
- Eu entendo. - E realmente pensei naquilo por um tempo. Se por algum acaso do destino o Nicolas se tornasse prisioneiro do meu avô eu não teria um momento de paz até conseguir tirar ele de lá.
- Eu também entendo, mas estamos falando dos Camorras… - Eu sentei no sofá, que era muito mais confortável do que aparentava e tentei ignorar os pensamentos pecaminosos que corriam pela minha cabeça. - Quer beber alguma coisa?
Ele segurava uma lata de refrigerante em uma mão e uma garrafa de água na outra. Os olhos cautelosos, a voz calma e completamente lindo.
Será que ele sabia o efeito que causava nos meus nervos?
- Eu sou a primeira visita que recebe? - Ele sorriu.
- Não traria mais ninguém aqui. - A certeza nas palavras dele me atingiu. Eu não duvidava disso e ele reforçar aquilo me dizia o quanto ele estava comprometido comigo, com o que nós éramos.
- Você deveria fazer amigos… - Falei sorridente, mantendo o assunto em curso.
- Você também. - Apontei para a água e ele me entregou. - Vamos falar da confusão de mais cedo?
Respirei fundo antes de beber, e ele sentou ao meu lado, o calor do corpo dele ao alcance das minhas mãos. O que aconteceu naquela manhã parecia ter acontecido em outra vida.
- Eu sou temida, apenas por ser eu. - Ele assentiu, me incentivando a continuar. - As pessoas sabem quem são os meus pais e o meu avô e isso garante uma distância segura.
- Isso não deve ser confortavel. - Mordi a boca, lembrando da sensação de ser observada constantemente.
- De fato não é. Os olhares e os cochichos acontecem sempre. Talvez eles pensem que se me fizeram algo vão acabar em uma vala…
- Aquela garota poderia acabar em uma vala se te tocasse. - Eu balancei a cabeça.
- Ela me tratou como se não soubesse quem eu era, e acredito que ela não saiba mesmo. Ela é uma aluna nova que não deve saber como as coisas funcionam aqui.
- Nesse momento acredito que as pessoas já atualizaram ela.
- Sim, certamente. - Ele sorriu para mim. - Ela ter sido grossa, me ameaçar era a chance de demonstrar que as pessoas podem se aproximar e ser elas mesmas sem medo de morrer.
- E eu destruí isso com a minha entrada triunfal.
- Sim. - Respondi, sorrindo, para assegurar que ele não achasse que eu estava brava ou algo assim.
- Desculpe. - Ele apoiou a mão no meu rosto, carinhosamente e um choque diferente percorreu o meu corpo.
- Tudo bem. Não ficarei aqui por muito tempo mesmo. - Ele sorriu levemente com o meu comentário.
- Certo, o que quer fazer? - Ele colocou uma mexa do meu cabelo para trás da minha orelha. - Podemos fazer o que você quiser. Podemos… - Ele olhou ao redor, como quem estuda possibilidades. - Jogar cartas, dançar ou assistir um filme. - Levantei as sobrancelhas para ele, as ideias do que eu queria fazer eram muito diferentes das dele.
- Suas opções são estranhas. - Eu não consegui conter o riso.
- Estou pensando coisas que casais de namorados normais fazem. - Pisquei, uma, duas vezes.
- Namorados? - Ele me olhou, um susto novo no rosto.
- Desculpe se me precipitei…
- Não se desculpe. - Eu me aproximei dele, deitando no ombro dele. - Eu apenas não tinha definido na minha cabeça isso.
- Tem razão… - Ele me puxou para os braços dele, me fazendo olhar para ele. - Você quer me namorar? - A apreensão na voz dele era intensa e quase palpável. Era uma pergunta real, e o poder estava nas minhas mãos.
- Eu quero muito mais que isso Nicolas. - E eu o beijei, querendo atividades que namorados normais fazem.