Anna
Na manhã seguinte senti o meu coração quase sair pela garganta quando caminhei até a garagem e ele estava ali.
Encostado no capô do carro, na sua melhor pose de soldado da máfia. Todo de preto e uma lembrança doce de um sorriso no rosto, os olhos vivos.
Nicolas.
Foi impossível não sorrir, e eu fiquei imensamente grata da Gio ainda não ter descido.
Ele nos levaria para a aula.
- Bom dia Senhorita Camorra. - O tom respeitoso dele estava envolto em promessas, que somente eu entenderia. Promessas de beijos com sabor de perdição.
- Bom dia Nico. - Eu respondi, tentando controlar o meu sorriso. Ele abriu a porta do carro para mim e eu demorei mais do que o necessário para entrar, ainda me perdendo nos olhos dele.
Eu estava dividida entre a alegria e o alívio de encontrá-lo ali, bem e inteiro e a vontade de beijá-lo.
Depois daquela noite ele manteve uma distância segura de mim. A desculpa favorita dele era que assim que me beijasse de novo ia passar dos limites. E ele não queria fazer isso em um jardim.
Respirei fundo assim que ele fechou a porta do carro e voltou à posição inicial, para esperar a minha irmã. Pela janela, protegida pelo vidro blindado e fume, eu fiquei olhando para ele descaradamente.
Ele não parecia ferido, o que era um ótimo sinal.
Depois de alguns minutos da minha observação silenciosa a Gio veio quase correndo. Atrasada eu imagino. Ele quase não teve tempo de abrir a porta para ela.
- Nico, preciso ir voando. - Ela disse se jogando ao meu lado no carro. Olhou para mim, piscou algumas vezes e disso. - Oi Anna.
- Oi Gio. - E era isso. Todos os dias, eram essas as palavras que falávamos uma para a outra naquele momento que ficávamos a sós.
O Nicolas se colocou no volante e ligou o carro.
- Nicolas, podemos deixar a Gio primeiro? - Ele me olhou pelo retrovisor. - Ela está atrasada, eu não. - Justifiquei, mantendo os anos de educação forçada dominar a conversa.
- Obrigada. - A Gio falou e sorriu para o Nicolas, quando ele assentiu.
O carro se movimentou e o meu coração começou a girar dentro do peit0.
Todos os dias, ou o Tom, ou Nicolas nos levavam. Eles me deixavam na faculdade primeiro e depois deixavam ela na escola. Era uma oportunidade de ficar mais alguns minutos com ele, a sós.
Mantive a postura despreocupada, enquanto observava a vista e a Gio passava um gloss com pressa ao meu lado. Eu estava contando os minutos e senti o olhar dele pelo retrovisor, me observando.
Assim que ele parou o carro na frente do colégio católico eu senti um pouco do meu bom senso se esvair.
Eu poderia matar aula, ninguém saberia… Poderíamos ir para algum lugar, só nós dois, e passar todo aquele tempo com as bocas grudadas uma na outra, o corpo perto…
A porta abriu e a Gio desceu apressada.
- Obrigada Nicolas. - Ele não respondeu, normalmente não falava nada além do bom dia para nenhuma de nós duas.
- Boa aula. - Eu falei, um pouco baixo demais quando ela bateu a porta. Suspirei enquanto observava a Gio quase correr para dentro do Colégio.
- Podemos ir Senhorita? - Ele perguntou formalmente.
- Podemos. - Olhei para ele pelo retrovisor e o sorriso dele estava completo e liberto agora. - Mas, use o caminho mais demorado por favor.
- Sem dúvidas. - A distância do Colégio da Gio para a minha faculdade era pequena, por isso eu sabia que tínhamos poucos minutos.
- Ou… podemos ir para outro lugar. Eu não preciso ir para a aula… - Ele balançou a cabeça.
- Eu preciso voltar, não posso sumir depois de levar as herdeiras Camorras para o colégio, e se você não estiver lá ainda… Isso pode dar muita confusão. - Ele tinha razão.
Deslizei para frente no banco e estendi a mão. Eu precisava encostar nele.
- Cuidado. - Ele me alertou quando eu alcancei o ombro dele e pude ver os olhos dele brilharem. Ele segurou a minha mão, entrelaçando os nossos dedos.
- Eu estava preocupada. - Falei, sentindo o meu coração tremer no peit0.
- Eu sei. Precisamos de um jeito de nos comunicarmos. Mensagens são perigosas. - Ele falou e eu assenti.
- Ela vai nos ajudar? - Ele sorriu mais e assentiu. - Eu sabia que ela era uma boa pessoa. - Falei, lembrando da expressão amedrontada da Clara quando entrou na nossa casa.
- Eles demoraram um pouco para acreditar que eu queria ajuda… Acharam que sozinho eu poderia destruí-los. - O sorriso dele estava me tirando completamente a concentração. - Mas me ouviram e me propuseram fugir com você para a América com eles. - Pisquei algumas vezes, absorvendo aquela informação. Fugir, com ele, para outro continente. Longe de tudo aqui.
Algo como esperança cresceu no meu coração. Sim, eu iria, sem dúvidas.