Avalie a expressão dele enquanto sentia a verdade daquelas palavras me atingirem.
Ele armou tudo, me colocou em um beco sem saída. A vida dela, que eu vim até a Itália para tirar em troca do controle sobre as minhas decisões. Ser uma princesa Camorra significava exatamente isso. Deixar o controle da minha vida na mão daquele homem que eu acabei de conhecer.
- O que acontece se eu me recusar? - Perguntei sentindo a mão do Ricardo apertar a minha coxa.
Ele bebeu mais um gole de vinho.
- Você não tem motivos para recusar. - Ele voltou a sorrir. - Você é a herdeira, por direito não é mesmo? - Era uma pergunta retórica e eu respondi mesmo assim, sentindo o meu estômago revirar o macarrão que eu acabei de comer.
- Eu não quero. - Falei. - Não vim atrás de nada disso. Você é o Dom, tem os seus herdeiros e deve dar sequência ao seu legado. Você não precisa de mim. - Eu sabia que todos estavam prontos para atacar.
Eu errei. Subestimar a inteligência dele foi um erro fatal, e ele não parecia que me deixaria partir tão fácil assim.
- Você está completamente enganada de pensar que eu não preciso de você. - Ele sorriu. - Você é uma herdeira Camorra e também é uma Herdeira Bambino. - O plano dele se formou na minha mente. Me ter sob o seu controle era um caminho menos tortuoso para derrubar os Bambinos.
- O que acontece se eu recusar? - Ele bebeu de novo, e considerei tomar a taça da mão dele.
- Você queria a sua vingança. Ela está ali. - Ele apontou para a Julie. - Você veio até aqui para partir de mãos vazias?
- Dom. - Falei e respirei fundo. - Fod4-se a vingança. - Ele arregalou os olhos. - Eu não quero. - Olhei para a Julie. - Ela pagará em vida o que nos fez. Vou sair da Itália, hoje. - Falei e ele quase riu. Percebi ele tentando controlar o riso.
- Você está enganada de novo. Ninguém entra ou sai daqui se eu não permitir… - Ele fez um movimento com a cabeça muito sutil para que eu tivesse tempo de reação. Imediatamente 10 homens entraram na sala e apontaram armas para o Ricardo, e somente para o Ricardo. - Eles podem partir, você fica. Ou ele morre. - O meu coração batia violentamente contra a minha caixa torácica.
O Ricardo levantou as mãos tranquilamente e eu me coloquei de pé.
- Você enlouqueceu! - Acusei. - Abaixem as armas. - Gritei.
- Ou o que, menina? - Ele perguntou, se divertindo ao ver o meu desespero.
Eu não tinha com o que ameaçá-lo. Nada. Eu não conseguia pensar, conforme eu percebia a realidade. A armadilha que eu cai foi muito mais séria do que eu desconfiava que seria. Ele descobriu tudo, me manipulou e me atraiu como um rato para uma ratoeira. E era previsível que ele usasse a vida do Ricardo para me manipular.
- Quais os seus termos? - Perguntei, sabendo que a derrota estava próxima.
- Clara… - O Ricardo estendeu a palavra e eu olhei para ele, incrédula.
- A decisão é minha. - Falei, com mais violência do que eu gostaria.
- Ele te deixou sem opções. - O Ricardo argumentou. - Não se entregue assim, eles vão me matar de qualquer forma. - PERIGO! PERIGO! PERIGO! O meu sangue zumbia nos meus ouvidos e eu não conseguia pensar. Ele tinha razão. Eles não sairiam dali vivos. Olhei para o Dom, que mantinha um ar animado.
- Os termos? - Perguntei e ele suspirou.
- É simples. Você fica e eles vão. - Encarei ele, sem acreditar que ele deixaria o Ricardo sair livremente. Olhei para o Dego e o Piranh4 que seguravam as próprias armas sem conseguir pensar em como atacar. Estávamos cercados. Eu não sairia daquela casa, isso era um fato. Agora eu teria que conseguir que eles saíssem. Olhei para o Ricardo e ele leu na minha expressão os meus planos.
- Nem fudend0! - Ele falou.
- Você sabe que tenho que fazer isso. - Eu argumentei.
- Eu prefiro morrer. - Ele falou, perdendo a aparência de controle.
- Não diga uma coisa assim. - Falei, sentindo os meus olhos arderem. - Os Trucks precisam de você. Levem todos para casa… - Eu sabia que ele ia tentar me resgatar, e o meu plano ali era para que ele pudesse ter uma chance. Me virei para o Dom.
- Deixe eles irem. Eu fico aqui. - Ele sorriu para mim, ainda relaxada na sua cadeira. O cabo da pistola queimou a minha pele, como se fosse um chamado para a ação.
- O rapaz é esperto. Eu não posso correr o risco dele tentar te salvar. - Ele ficou de pé e eu me movi antes que ele entendesse o que estava acontecendo. Travei o tronco dele contra o meu e apontei a pistola para a têmpora dele. Todos os homens presentes viraram as armas para mim. O Davi deu um passo para frente.
- Vão embora! - Gritei para o Ricardo. E ele não se mexeu. - Truck, é uma ordem! - Falei, sentindo o desespero na minha voz. - Eu vou manter essa arma na sua cabeça até que eles estejam em segurança bem longe daqui. E se eu imaginar, de longe que algo aconteceu com eles, eu vou matar todos vocês. - Falei no ouvido do Dom.
- Lasciarsi andare. - Ele falou. - Ora! (deixem eles irem, agora!)
O Dego e o Rubens se colocaram de pé, seguindo o meu comando. O Ricardo levou alguns segundos para se levantar. Olhou para mim e eu sabia que ia cair no choro a qualquer momento, assenti para ele.
- Eu venho te buscar. - Ele falou e o Dego puxou ele pelo braço.
O sentimento desesperador de impotência foi tomado por uma esperança quente no meu coração. Assim que ele saiu da minha vista eu relaxei um pouco, mas mantive a arma ali, pronta para matar ou morrer, para que eles pudessem ter uma chance.