Sinais

1014 Words
Clara A expressão do Davi foi de admiração quando eu terminei de descer as escadas. - Sei stupendo! - Ele falou e eu franzi a testa, em seguida ele traduziu em um sussurro. - Você está deslumbrante! - Gracias. - Eu respondi e segurei na mão que ele estendeu para mim, para que ele me conduzisse pelo tapete vermelho que atravessava todo o salão. Diferente do outro baile que fui naquele mesmo lugar, esse era nosso, e nós éramos o foco de todos ali presentes. Isso me incomodava intensamente, mas ignorei esse incômodo e tentei sorrir, para manter as aparências. A vida do Ricardo e dos meus amigos dependia disso e eu não suportava mais ameaças a eles, usando o meu comportamento como alvo. - Pronta? - O Davi perguntou e eu respirei fundo, as portas do jardim fechadas, com dois homens parados. Seguranças como eu esperava. - Sim. - Ele sorriu e manteve a mão na minha enquanto assentiu para os homens que imediatamente abriram as portas e nós caminhamos em direção a estrutura que foi montada no jardim da Mansão. Luzes brilharam por todos os lados e as pessoas aplaudiam conforme caminhamos. - Não fique nervosa. - O Davi falou. - São todos puxa saco do Dom… - Ele sussurrou e eu precisei segurar a risada. A banda começou a tocar e as pessoas voltaram a sua atenção para as conversas ao redor, enquanto caminhávamos até a mesa central, com os nossos lugares de honra. O lugar dos noivos ficava em uma mesa imensa e redonda que estava presente toda a família. As mesmas pessoas que eu via todos os dias, todos nos olhando com desafio no olhar. Perigo! O alerta soou dentro de mim ao encarar os olhos de Dominique, que perderia a sua herança se aquele plano desse certo. - Boa noite. - Eu falei antes de me sentar. A Gertrudes me explicou que durante eventos assim as mulheres tinham liberdade para conversar e que era esperado que elas falassem sobre filhos, cuidados de casa e receitas. Eu não podia falar sozinha com um homem, somente com o Davi, que naquela noite se tornaria o meu noivo. As pessoas na mesa responderam e percebi um olhar brilhante da Anna para mim e eu sorri para ela com carinho. Desde o início eu me afeiçoei por ela e senti empatia pelo que ela vivia ali, em meio aquela prisão. E quando ela sorriu de volta tive a impressão que ela moveu a cabeça levemente para a esquerda, como se indicasse alguma coisa. - O que quer beber? - O Davi perguntou e eu olhei ao redor. - Por enquanto apenas água. - Eu precisava me manter completamente sã durante aquele evento, para evitar perder o controle e gritar com aquele bando de hipócritas sentados ao meu redor. Ele fez sinal com a mão e uma moça surgiu, a Flora, ao seu lado. - Per ora servi solo acqua alla mia fidanzata. E per me un Whisky. (Por enquanto sirva apenas água para a minha noiva. E para mim um Whisky) - Ela assentiu e sumiu em seguida. Um minuto depois uma mão familiar colocou na minha frente uma taça de água. Me virei sobressaltada para agradecer e precisei controlar todas as minhas emoções ao encarar a Malu sorrindo timidamente para mim. - Gracias. - A minha voz era um fio e ninguém pareceu perceber que eu a reconhecia de algum lugar. - Prego. (De nada). - Ela respondeu e saiu me deixando com as entranhas revirando. - Está tudo bem? - A voz do Davi me tirou do furacão que me atingiu. - Apenas me assustei. - Eu forcei um sorriso e ele segurou a minha mão e a apertou. Procurei o olhar da Anna e ela ainda sorria, com a cabeça ainda inclinada para a esquerda… Eu deixei a minha cabeça trabalhar. O Nicolas me deu o sinal a poucos dias que hoje algo iria acontecer, que eles tentariam alguma coisa e eu tentei não nutrir tantas esperanças, busquei me conformar com o meu destino. Mas, aqui estava eu, passando os olhos pela multidão de pessoas desconhecidas, procurando os olhos que eu tanto precisava ver. Em apenas um olhada com atenção no salão eu identifiquei expressões conhecidas que estavam trabalhando e me observando de longe. Não apenas a Malu estava ali, servindo as mesas, mas a Rita também. Eu pude ver o Cobra e o Tom um pouco distantes, vestidos como seguranças de um homem que estava quieto observando a multidão. O Ricardo estava ali, em algum lugar… - Querida, está passando m4l? - O Davi chamou a minha atenção e eu respirei fundo, quando olhei para ele. - Não sei se é o calor… - Menti com a primeira coisa que veio na minha cabeça. - Senti uma sensação estranha. - Ele manteve a mão sobre a minha, aparentemente preocupado. Bebi um gole longo de água e respirei fundo de novo. - Preciso ir ao toalete. - Ele se preparou para levantar. - Eu vou com ela. - A Anna nos surpreendeu. - Preciso conferir a maquiagem. - Ela falou baixinho, quando todos os olhos da mesa viraram para ela. - Tudo bem. - O Davi falou e eu levantei. Depois, tudo aconteceu muito rápido. A Anna prendeu o braço no meu e caminhou lentamente pelo salão, passando por algumas mesas, a caminho da entrada da casa. - Você precisa disfarçar melhor. - Ela disse sussurrando. - Ou tudo vai dar errado. - Eu encarei a minha prima que até pouco tempo tinha trocado poucas palavras comigo. - Confie em mim. - Eu confio. - Eu disse por fim, quando ela abriu a porta do banheiro. - Agora entre aí, respire fundo e deixe que o sangue Truck domine os seus instintos, eles serão necessários. - Eu sorri para ela, depois de entrar no banheiro. - Estou aqui na porta, caso precise de alguma coisa. - Obrigada! - Eu respondi e a porta fechou na minha frente, e logo em seguida um estrondo forte demais fez as paredes tremerem.
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