- É uma porr4 de uma armadilha! - O Ricardo estava tentando manter o tom baixo, mas o esforço dele para isso era visível.
- Eu sei. - Falei pela décima vez. - Você e o Piranh4 vão comigo, estaremos monitorando tudo e explodiremos o lugar se for necessário.
- Não é necessário. - A voz dele era quase sombria, beirando um surto. - Responda a mensagem dizendo que não vai, ela que venha! - Ele vinha usando esse tom desde que me perguntou o que eu queria fazer e eu disse que queria ir. Levantei e fui na direção dele. Desde que subimos, ele não sentou nem por um segundo. Ficou andando de um lado para o outro na sala do nosso apart enquanto eu ainda estava tentando pensar sobre os possíveis resultados daquele chá.
Parei de frente para ele, segurei nas mãos dele e ele olhou para mim, parecendo que iria explodir.
- Ricardo, pare por um segundo ok? - Ele respirou fundo. - Estou aqui, segura e inteira e continuarei assim. Se eles quisessem me fazer algum m4l, já teriam tentado. Teriam tentado ontem…
- Na festa? Eu duvido… - Ele estendeu a palavra, demonstrando que nem cogitava isso.
- Eu estava completamente vulnerável ontem. Hoje não estarei. Você estará lá comigo e podemos levar mais gente…
- Isso vai parecer um ataque. - Ele rebateu.
- Você precisa respirar! - Eu estava começando a perder a paciência. - Você pode, por um segundo, parar de lutar contra algo que ainda nem existe? - Forcei a voz, tentando fazer como ele, com um tom ameaçador de chefe, mas eu era péssima naquilo perto dele. Ele piscou algumas vezes e depois levantou a cabeça, olhando para o teto e bufou. Me olhou nos olhos e respirou fundo.
- No menor sinal de perigo… - Ele começou, ainda parecendo muito frustrado.
- Vamos embora e voltamos para Nova York. - Respondi antes que ele concluísse.
- Eu não me sinto melhor. - Ele confessou. - Realmente não quero participar disso.
- Se você não for comigo… - Comecei e ele segurou os meus ombros com firmeza.
- Eu vou! Nunca que eu ia permitir você entrar lá sozinha. - Ele bufou de novo. - Ainda não me sinto melhor!
- Nem eu, mas é o que temos. - Ele me puxou contra ele, me abraçando forte, e senti os músculos dele rígidos. Ele estava preocupado de que alguma coisa me acontecesse, e eu não poderia culpá-lo. O trauma de perder alguém que ama ainda o assombra. E aquilo tudo era novo e desconhecido para nós todos, a máfia Italiana era diferente do que conhecemos, o nosso poder ali era limitado, mas precisamos começar por algum lugar.
- A missão ainda é a mesma? - Ele perguntou, com a boca no meu ombro.
- Sim. - Respondi, pensando na oportunidade que perdi ontem. Eu poderia tê-la matado ali mesmo e fugido. Poderíamos estar em um avião para casa já.
- Então, se ela aparecer na minha frente, vou meter uma bala na cabeça dela. - O tom de ódio manchou cada palavra dele.
- E vamos começar uma guerra que não queremos… Uma guerra que estamos tentando evitar, inclusive. - Argumentei, sabendo que atacar a filha do Dom, mesmo que uma filha bastarda, seria um ato que nos sentenciaram de morte.
- Eu sei. - Ele me puxou para longe, e me olhou nos olhos de novo. - Ela disse que não pode partir… Vamos deixar tudo isso para trás então. Largar esse plano… - Balancei a cabeça.
- Ela pode ter mentido. - Ele fechou os olhos e encostou a testa na minha. - Eu também estou com medo. - Falei, tentando alcançá-lo onde eu sabia que estava doendo. - Mas eu não vou ter uma noite de sono tranquila enquanto ela respirar… - Ela me fez refém, quase matou ele, envenenou a Jay, mandou me estuprar, mandou matar o Russo… - Ela fez coisa demais, para só deixar para lá.
- Eu sei. - Ele falou, sem se afastar. - Nós vamos, ouvimos o que ela tem a dizer, e depois vamos embora. Não decidimos nada na emoção.
- Não decidimos nada na emoção. - Repeti e ele me deu um beijo leve nos lábios. Eu sabia que ele estava cedendo porque eu não cederia. Aquele toque era uma espécie de trégua, eu não podia abrir mão da oportunidade de me aproximar dos Camorras.
A Julie articulou boa parte das desgraças que aconteceram na minha vida, e as que ela não participou ela soube e se deliciou com a minha desgraça. A morte dos meus pais foi de responsabilidade do cúmplice dela e depois disso, ela enganou, mentiu, matou e fingiu a própria morte, levando quase toda a vida do Ricardo. Um homem que a amou intensamente e que quase destruiu tudo ao seu redor para vingar uma morte que nem aconteceu. Quando ele finalmente começou a se recuperar e se permitiu amar de novo ela nos colocou em perigo quase constante, deixando ele gravemente ferido, depois matou o meu padrinho, que foi a única família que eu conheci, envenenou a Jay e depois levou com ela dois dos nossos melhores homens, provocados pelo amor que ela jurou por eles. Até hoje não ficou claro para mim como ela conseguiu corromper o Caqui e a Donna, mas uma coisa era certa, eles não teriam nos traído, traído os Trucks se ela não tivesse entrado no caminho deles.
Os Trucks se tornaram parte de quem eu sou, eles sempre foram o meu destino. Assumir o meu lugar de direito, a minha herança… O lugar que meu pai morreu ocupando sempre esteve destinado para mim, mesmo que eu tenha negado isso por muito tempo, mesmo que eu tenha abominado os métodos nada respeitosos da máfia. Assim que eu senti o poder correr ao meu redor eu soube que eu viveria por aquilo, ou seria como o meu pai, morreria sendo quem eu sou.
Uma Chefe Truck.