A campainha me acordou e senti o Ricardo levantar do meu lado para atender.
Eu estava cansada demais para criar coragem para levantar. A nossa noite tinha sido intensa em muitos níveis, e assim como prometido, ele me garantiu que era só meu em várias posições diferentes.
- Rainha…? - Ele estendeu a palavra e eu virei para olhar para ele. - O Cobra nos chamou, urgente.
- A mensagem? - Ele assentiu.
Levantei de forma mecânica, sem pensar muito, ainda com bastante sono. Coloquei uma roupa simples e me deixei conduzir por ele para onde fomos convocados.
O dia não tinha nascido ainda e isso explicava o tamanho do sono que eu sentia.
O cheiro de café na sala do apartamento em que o Cobra e a Rita estavam hospedados me animou um pouco. Me joguei no sofá pouco antes do Ricardo me entregar uma xícara.
- O que estamos esperando? - Ele perguntou ao Cobra. Depois de um gole de café o meu cérebro começou a registrar a cena ao meu redor. A expressão deles era preocupada e eu me ajeitei ao lado do Ricardo direcionando a minha atenção.
- Estamos esperando o Piranh4. - Todos estavam ali e isso com certeza não era um bom sinal. A mensagem deveria ser preocupante para acordar a equipe inteira no meio da noite.
A porta abriu, e o Piranh4 entrou. Ele não pareceu ter acabado de acordar como nós.
- Todos estão alertas. - Ele anunciou.
- A mensagem é dos Camorras. - O Jon anunciou. - Para a Rhay. - A tensão de todos era palpável. Até a Malu, que parecia estar cochilando de repente, pareceu completamente desperta.
Ele apertou um botão no notebook em cima da mesa e um áudio começou a tocar.
“Eu sabia que você era familiar.” - A voz da Perlla Camorra fez os meus olhos saltarem. - “Mas, o seu sorriso te entregou.” - Olhei para o Ricardo e a expressão dele era de espanto. - “Quero te conhecer melhor, venha tomar um chá comigo hoje e você pode me contar tudo sobre a sua visita à nossa cidade e discutirmos seu lugar de princesa dos Camorras. Te aguardo dia 7 às 16.”
- Hoje é dia 07. - O Dego falou.
- Essa não é a questão. - O Ricardo rebateu. - Um convite para um chá, criptografado?
Olhamos de um para o outro e esperamos que qualquer um de nós tivesse uma boa justificativa para aquilo. Não tínhamos.
- A não ser… Que não seja um convite para um chá e ela quis dizer algo nas entrelinhas.
- Outro código, dentro de uma mensagem que já foi criptografada? - Aquilo parecia um pouco demais.
- Vou analisar possibilidades, mas em um primeiro momento, parece que a mensagem diz o que diz mesmo. Não tem nenhum ruído no fundo, nenhum tom estranho. Nenhuma ênfase em nada. - O Jon estava usando o poder analítico dele para nos convencer.
- E essa história de princesa dos Camorras? - Todos se olharam. Aparentemente isso não chamou a atenção de ninguém. - Gente, o que realmente sabemos da cultura deles como máfia?
- Sabemos que homens têm o poder total…. - O Dego arriscou.
- E que eles são malucos. - A Rita reforçou.
- Sim, tudo isso… - Respirei fundo. - E que usam as mulheres como uma forma de unir as famílias mais poderosas… Ela usou o termo princesa dos Camorras. Onde já ouvimos isso antes? - Aguardei, porque eu honestamente não lembrava.
O Jon digitou algumas coisas no notebook enquanto olhávamos um para o outro com expressões pensativas.
- Aqui. - Ele virou para mim, a pesquisa inicial que fizemos com base nos contatos do Cobra.
Um contato em particular foi extremamente detalhista quanto à estrutura da máfia Italiana.
“Eles agem como o governo. Tem seus próprios tribunais, suas sentenças… As famílias mais poderosas usam seus herdeiros para aumentar a sua fortuna. Um casamento por contrato garante posses, riqueza e até perdão de dívidas e crimes. Se você for um príncipe da máfia e cometeu um crime, basta negociar um bom casamento para sair ileso…”
- Ela não quer que você se case com alguém não né? - A Malu falou incrédula.
- Não acho que seja o caso, ela me viu com o Ricardo… - A expressão do Ricardo foi de preocupação ao ódio em questão de segundos, segurei a mão dele. - Eu estou aqui e vou casar com você. - Ele assentiu duramente e o olhar dele não me deixou com nenhuma dúvida de que ele mataria todos se essa ideia surgisse. - Acho que é mais uma questão de reclamar o meu lugar, existem duas mulheres na linha de sucessão, depois de todos os filhos do Dom.
- Eles querem um filho seu então? - O Piranh4 parecia enojado.
- Não sei gente, tudo isso ainda é uma grande especulação. Aliás, não acho que tenha dado tempo deles armarem um plano tão elaborado, faz poucas horas que ela descobriu que eu estava aqui.
- Ela teve tempo de criptografar uma mensagem. - O Jon comentou, de forma grosseira.
- Eu estou achando isso tudo muito suspeito… - O Cobra comentou.
- …E também perigoso. - A Malu completou.
- Rhay, eu acho que é uma armadilha, não importa o que eles querem… Se for nessa porr4 será como entrar na jaula do leão. - Olhei novamente para o Ricardo e eu soube pela expressão dele que ele não concordava que eu fosse, mas ele não iria se opor, pelo menos não na frente de todos. A curiosidade era imensa, um convite, para me aproximar deles, para entrar naquela casa, pela porta da frente.
- E o que você quer fazer? - O tom do Ricardo beirava a uma ameaça, tentei ignorar, sabendo que as minhas próximas palavras não iriam deixá-lo mais confortável, muito pelo contrário.
- Vamos até lá, tomar chá e descobrir o que essa v4dia está armando!