O plano era simples. Iriam comigo ao chá com a Perlla Camorra, o Ricardo e o Piranh4. Os demais ficariam em alerta ao redor e prontos para invadir a propriedade, para nos tirar de lá, caso alguma coisa desse muito errada.
Nenhum de nós sabia o que esperar. Sabíamos que seria perigoso e que algo seria proposto a mim naquela visita.
O Ricardo não falou nada enquanto dirigia o carro até a propriedade. O Piranh4, que pediu para chamá-lo de Rubens, fez alguns comentários no caminho sobre o trajeto que deveríamos tomar caso nós precisassem fugir. Assim que o Ricardo refez o caminho até a Mansão Lussuria o Piranh4, digo, Rubens soltou um assovio comprido.
- Caralh0, isso é put4 uma mansão! - Ele falou impressionado.
- Quer ficar aqui? - O Ricardo perguntou put0. - Posso te entregar de presente para eles.
- Você não pode negar que é uma casa muito grande. - Eu intervi, tentando manter a calma da situação.
- Quanto maior o lugar, mais coisas para queimar… - O Ricardo desceu do carro e eu sabia que aquilo não era um bom sinal. Ele abriu a porta para mim e me estendeu a mão para descer. O Rubens olhou ao redor e murmurou.
- 10 homens armados… - Assenti vendo também.
- Muita segurança para um simples chá, não acha? - O Ricardo perguntou.
- Rubens, pode nos dar um segundo? - Pedi e o Piranh4 caminhou até os degraus da entrada.
- Você pode por favor se controlar? - Pedi baixinho.
- Eu estou normal. - Cerrei os olhos e arrumei a gola da camisa dele. Ele estava incrível, com uma camisa de manga longa preta e calças pretas, destacando a pele branca. Ele levou apenas duas pistolas, enquanto eu levava 3 facas e uma pistola por baixo do vestido. O Rubens estava armado também, mas nada fora do comum, para um encontro com mafiosos…
- Eu sei que está preocupado. - Ignorei a mentira dele. - Mas, se agir reativo assim, pode causar problemas que não queremos. Lembre-se que aqui nós somos fracos.
Ele desviou o olhar para o jardim. Da entrada, no portão, até a porta o caminho era cortado por um jardim enorme, cheio de árvores e com uma espécie de lago no centro. As flores se destacavam em várias cores por ali e pensei que se fosse uma outra ocasião, seria um cenário perfeito para fotografá-lo. Coisa que eu vinha fazendo sempre que podia, visto que estávamos em um dos lugares mais lindos do mundo.
- Vou me controlar. - Ele avisou. Eu respirei fundo e ele soube que não seria suficiente. - Prometo me controlar, por você.
- Obrigada. - Segurei a mão dele e caminhei até onde o Rubens fingia olhar para uma dos leões que cercavam a imensa porta preta. Os homens que estavam espalhados pelo jardim se aproximaram aos poucos de nós, imagino que para o caso de não sermos visitas agradáveis.
Bati na porta e menos de 5 segundos depois ela abriu. Reconheci imediatamente uma das minhas primas, da noite anterior. Ela era bastante parecida com a Perlla, o cabelo loiro e as feições fortes. Vendo-a sem a mascara agora eu pude perceber um par de olheiras nos seus olhos, que delataram noites complicadas.
- Clara. - Ela estendeu o meu nome, com uma voz doce e forçada. Olhou para os meus acompanhantes e os mediu descaradamente. - Senhores. - Ela os comprimentou com a cabeça. - Sejam bem-vindos à Mansão Lussuria.
- Obrigada. - Eu falei, e o Ricardo apertou a minha mão.
- Venham comigo, todos estão esperando… - Ela caminhou quase saltitante para dentro da casa e nós a seguimos. Atravessamos o grande salão até portas imensas de vidro nos fundos, portas que estavam fechadas com cortinas ontem. Passamos pela porta e caminhamos por um deque por alguns segundos atrás dela. Quando eu estava prestes a perguntar onde íamos ela virou em volta do jardim e eu os vi.
Eu não pensei nem em um milhão de anos que a Perlla iria me delatar tão rápido assim. Eu realmente acreditei, pela mensagem dela, que seríamos apenas nós. Não cogitei outros participantes nem mesmo quando a filha dela, que eu ainda não sabia se era a Anna ou a Giorgia, abriu a porta para me recepcionar. Senti o meu corpo todo travado com a visão e se não fosse o Ricardo, continuar a caminhar, me segurando pela mão, eu talvez tivesse parado.
Em um jardim, cercado de flores de muitos tipos tinha um gazebo branco como leite, com treliças ao redor e com duas entradas, dentro dele havia uma imensa mesa redonda, pronta para um chá chique.
Sentados a mesa estavam todos os Camorras. Apenas o Dom não estava presente, e eu realmente não sabia se isso era motivo de preocupação naquele momento. Não quando todos eles me encararam com olhos profundos, desconfiados e assassinos. Busquei o olhar da Perlla, que parecia triste com a situação e mantive a minha expressão dur4 quando subi os degraus do gazebo. Eu fui inocente pensando que ela queria apenas me conhecer, porque afinal, foi o que eu pensei com o convite, que ela iria assumir o papel dela como membr0 da minha família. Eu deveria ter pensado melhor, afinal ela traiu a todos para ser alguém aqui. Ela era uma Bambina e estava ali, completamente à vontade entre os maiores inimigos dos seus. O Ricardo tinha razão quando pensou ser uma armadilha. Mas a forma com que a expressão dele endureceu ficou óbvio que ele não pensou que estariam todos ali. O Rubens parecia prestes a sacar uma arma e atirar em todo mundo. Aquilo estava prestes a virar uma bagunça.
Os olhares não suavizaram nem um milímetro quando paramos de frente para eles. Eu no centro, o Ricardo à minha direita e o Rubens à esquerda. As nossas expressões não estavam animadas e a deles nada convidativas. Ninguém falou nada e pensei se não seria melhor ir embora agora, voltar para a minha casa e para a minha família de verdade. Afinal, com base na energia pesada e sanguinária do ambiente, eu não era bem-vinda ali.