Gentileza Gera Gentileza. - Parte - 2

1972 Words
Liz Uma boa noite de sono, era disso que eu precisava. O dia havia sido um pouco mais estressante do que o normal, não pelo trabalho, porque eu amava poder lidar com números. Eu só me sentia estranha com a proximidade do senhor Sebastian. Eu sabia que ele queria ajuda com toda a questão contábil que a antiga contadora deixou em aberto, eu só não entendi o motivo dele agir de forma tão estranha. -Acho que ele deve ser assim por hábito.- abro a porta de casa. -Quem é assim por hábito? - Ah!!! - solto minhas bolsas no chão e cubro o rosto. - Q-q-quem tá aí?! - Quem mais seria?! - ouço um som alto de palmas. - Abra os olhos, Liz! - aquela voz estridente e anasalada inconfundível. - Tio Victor. - sorrio enquanto afasto as mãos do rosto. - É claro. - ele sorri. - Eu tenho quase certeza, que dessa vez o Floquinho está morto..- ele aponta para o gatinho preto e branco completamente esticado sobre a mesinha de centro. - Não seja malvado. Ele só está dormindo. - vou até o meu amigo peludo e o tomo nos braços. - Está cansado, né, amigo. "Miau" -Eu estou há duas horas aqui e ele nem se mexeu. – tio Victor se aproxima de nós. - Veio sozinha? - Ah..Sim. - aperto o Floquinho em meus braços. - Fiquei sabendo que você passou o dia com o Sebastian..- ele enrola um cacho do meu cabelo no dedo. - Ah.. - mordi o lábio. Claro que ele saberia. - Também soube que vocês saíram juntos da empresa. - fala despretensiosamente. - Ah..Sim. Ele me deu uma carona até o metrô. - Claro. Meu anjo, eu não entendo a sua insistência em viver como uma pobre menina rica. - Eu não faço isso. - Claro que faz. - ele estende as mãos apontando para a minha casa. - Essa casa me traz recordações felizes. - caminho até o sofá. - Foi o lar que senhor me deu. - encosto entre as almofadas macias. - O senhor e a Lurdinha. Era uma casa simples : duas suítes, uma cozinha pequena, sala, um lavabo, uma varanda e , a minha parte favorita, um jardim com cerca branca. Não podia ser considerada a casa mais luxuosa do bairro, porém, pra mim, era a mais bonita. - Também foi onde você decidiu se esconder depois que seu coração foi quebrado por aquele miserável cujo o nome eu me recuso a mencionar, a menos que seja no velório dele..- ele senta ao meu lado. - Tio.. - encosto a cabeça no ombro dele. - Eu sei.. - um suspiro audível soa pelo cômodo. - Já perdi as contas de todas as vezes que prometi não mencionar isso.. - ele abraça meus ombros. - O que importa é que você saiu da empresa acompanhada. Devo me intrometer ? - Por qual motivo? - O Sebastian é um excelente funcionário. Tem uma certa tendência a viver rodeado por "amigas". - ele para de falar. - Mas também é honesto. Um bom homem. - O senhor não está achando que ele teria algum interesse em mim, certo? - Porque não? - o tom de voz dele fica um tanto irritado. - Tio..- me encolhi. - É só olhar pra ele e depois pra mim. - Menina, tonta. - ele apoia o queixo na minha cabeça. - Você é a criatura mais doce que eu já conheci.. Puxou o tonto do seu pai. Porque os Lombardi não são assim. - Aah..Desprovidos de beleza? - uma risada sem graça brota da minha garganta. - Tontos…E você não é f**a, você se esconde. - os braços dele se apertam ao meu redor.- Era uma garotinha adorável.. - Com os dentes bem tortos e cega como uma toupeira..aah. - E daí. Um sorriso sincero. - tio Victor segura meu queixo até que eu possa olhar para ele. - Até hoje. É a minha menina. Eu deveria ter cuidado melhor de você. - O senhor cuidou. Eu preferiria que ele nunca soubesse o que Fred Helton havia tentado fazer comigo, mas foi inevitável. Queria evitar a vergonha por ter sido enganado tão facilmente. Como eu pude ter acreditado que o menino mais popular da escola estava apaixonado por mim? Eu não poderia ter sido mais ingênua. Fred m*l tinha trocado duas palavras comigo durante os anos anteriores, mas no final do terceiro ano ele se declarou. Se aproximou devagar e me fez acreditar que ele estava apaixonado. No final, a família dele, que estava afundada em dívidas, havia descoberto que eu era a herdeira do Tio Victor. Eles decidiram que seria um bom investimento se seu filho engravidasse a f**a da escola, não seria difícil me convencer a um casamento, afinal de contas eu estava apaixonada e queria passar o resto da vida com ele. Eles só não contavam com uma Lurdes vigilante. Ela não deixava que ficássemos sozinhos, afinal de contas, eu só tinha 16 anos e ele 18. Ela estava presente em cada passeio e apenas no baile de formatura tivemos um momento de privacidade. Foi quando ele tentou, eu não cedi. Não me sentia pronta para ter relações, ele ficou furioso e acabou perdendo a paciência; Fred acertou um t**a forte na minha face e tentou me forçar. Por sorte a segurança particular que o tio Victor mantinha para mim ouviu meus pedidos de socorro e invadiu o quarto do hotel. No meio de todo aquele desastre, eu me lembro de chorar enquanto um dos seguranças me levava para fora do quarto. Quando chegamos a delegacia, tio Victor já estava lá com uma Lurdinha destroçada. Eles se sentiam culpados, mas eu sabia que não era assim. Tio Victor trouxe o doutor Esteban para resolver todos os trâmites e conseguir contornar a situação para que tudo fosse mantido em sigilo absoluto, inclusive da imprensa. Eu permaneceria como eu sempre quis, longe dos holofotes. Depois disso, eu decidi finalizar os estudos em casa e fazer faculdade na Inglaterra, em Oxford, longe de tudo aquilo que poderia me fazer lembrar do Fred. Quando voltei, há dois anos, tio Victor aceitou que eu finalizasse meu doutorado em economia e permanecesse trabalhando no Banco Internacional, na sede de Nova York, mas eu assumiria um vaga na Lombardi Concept assim que a banca aprovasse minha tese. Eu aceitei, mas sob os meus termos. Não assumiria nada que me colocasse na mira da imprensa e meu contrato seria sigiloso; apenas o doutor Esteban e o senhor Soares saberiam que eu sou sobrinha neta de Victor Lombardi, para os demais, eu seria apenas mais uma funcionária. -Somos uma família muito feliz. Aah..Não é Floquinho? - Esse gato tem 14 anos, ele já está quase saindo da família, Liz. - Não..- tapo as orelhinhas dele. - Porque não me conta o sobre o seu dia com o Bastian? - ele se levanta. - Vou aquecer o jantar. Pedi naquele mexicano que você gosta. - Sim.. - permaneço encolhida no sofá. Uma das vantagens de casas pequenas : conversar da sala com quem está na cozinha. - Ele tem alguns problemas com a receita federal. Temos alguns documentos pendentes, mas ele vai entregar e .. - Pelo amor de tudo que há de mais sagrado! - ele junta as mãos na frente da testa. - Está me dizendo que realmente passou o dia com o macho alfa da Lombardi e tudo que fez foi trabalhar?!- ele parecia irritado. - Sim..- sorrio. - Ele é cliente da AR. - Não é possível! - ele revira os olhos. - Sim..- sorrio. - A última contadora deixou documentos importantes fora da declaração. Ele pode ser preso, tio. - perco alguns segundo pensando nisso. - Não entendo porque ela fez isso, a Cassandra é uma contadora conhecida. - Vingança. Ele dormiu com ela. - Ah.. - suspiro. - Ela é muito bonita. - É uma v***a maluca. - ele começa a arrumar a mesa. - Tive que proibir a entrada dela no prédio. - Sério? - sento no sofá. O Floquinho já estava dormindo outra vez. - Sim. Algumas pessoas não lidam bem com um " não ". Deixe esse pequeno zumbi e vá lavar as mãos. - Sim.. Corro até o lavabo que fica embaixo da escada e volto com as mãos limpas. - Salada?- ele começa a servir meu prato com uma montanha de salada verde. - Sim. Você precisa de salada. E de frango e de uma boa concha desse mole. Apimentado e docinho do jeito que você gosta. - Obrigada. - sorrio. - O senhor vai ficar para dormir? - Não. Só vou jantar. Tenho que estar no Hilton antes das onze da noite. Vão fazer um lançamento da Cosmopolitan, sabe que ela é uma das nossas principais clientes no ramo de entretenimento feminino. - Sim. A campanha que a senhorita Milla assinou ficou perfeita. - Sim. Se quiser, pode ir? - Ah.. - sacudo a cabeça em negação. - Não vai poder me esconder da sua vida pra sempre. - ele segura a minha mão. - Não quero esconder o senhor. - beijo as costas da mão dele. - Só tenho medo de pessoas que só querem o que acham que eu tenho. - Tudo que eu tenho É SEU, minha menina. E você vai ter que aprender a lidar com as pessoas que não merecem a sua amizade, o mundo está cheio de leões e lobos prontos a devorar uma cordeirinha igual a você. Tem que ser forte e corajosa. - Eu sei. - abaixo a cabeça. - Com essas eu sei lidar, mas o coração é mais difícil. Eu tenho medo de amar alguém que só quer o dinheiro. - Querida, não pense nisso agora. - ele dá um tapinha amigável na minha mão. - Vamos terminar o jantar. - Sim. - Mas, se o Bastian tentar beijar você.. - Não precisa se preocupar com isso, tio. - Não interrompa os mais velhos.. - ele me olhar com uma sobrancelha erguida.- O que eu dizia ? Ah..Sim. Se o Bastian tentar te beijar, aproveite..- ele dá uma gargalhada alta. - Tio! - sinto minha face queimar de tanta vergonha. Terminamos o jantar em meio a uma conversa amigável e a promessa de que eu me esforçaria mais para não sentir tanto medo. Era a mesma promessa que eu sempre fazia a mim mesma há seis anos. >>>>> Pela manhã, quando cheguei, a empresa estava silenciosa, apenas Wilson e Joel haviam batido o cartão. Deixei um recado sobre a mesa da Alice para que ela verificasse a documentação com o senhor Sebastiane enviasse me enviasse tudo assim que ele chegasse. -O quê? - assim que passo pela porta da minha salinha, avisto um balão transparente preso a um vaso de orquídea branca. Ele estava sobre a minha mesa junto a um cartão. - Quem? - toco o cartão pintado em aquarela. Flores coloridas estão dispostas de forma harmônica por toda extensão do cartão. Dentro do envelope havia uma folha, também pintada em suas bodas. Uma caligrafia bonita e perfeitamente desenhada trazia uma mensagem. Querida, senhorita Eliza. Sinto muito pela noite passada. Espero que tenha chegado em segurança. Pensei em ligar, mas percebi que não tinha o seu número, apenas o e-mail da AR. Não achei que seria gentil misturar trabalho e nossa nova, porém, preciosa amizade. Serei eternamente grato por tudo que fez por mim ontem, a senhorita resolveu mais da minha agenda em um dia do que todas as secretarias que eu tive em seis meses. Sei que vai ficar feliz em saber que encontrei os documentos que a senhorita tanto queria. Eu pretendia deixá-los sobre a mesa, porém, não seria tão agradável quanto entregar pessoalmente. Afetuosamente, Senhor Sebastian. -O quê? - caio sentada em minha cadeira.
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