Gentileza Gera Gentileza. - Parte -1

2269 Words
Sebastian Estávamos na calçada aguardando Joel, o porteiro da empresa, trazer meu carro. A partir daqui, daria continuidade ao meu plano: seduzir a Santa Liz. Todos os detalhes estavam arquitetados em minha cabeça: jantar romântico no Le Bernadin; alguns drinks e ..Enfim, ela não escaparia. No final da noite ela estaria completamente rendida a mim. -Amanhã vai ser um péssimo dia.. - começo a tirar meu paletó. - Aqui.. - coloco sobre os ombros dela. - O-o-obrigada.. Ah..- ela se encolhe um pouco, mas aceita o agasalho. - Eu esqueci meu cardigan hoje. - ela sorri. - Não tem problema. - meus olhos percorrem toda a sua pequena figura. Das botinhas pretas, as meias grossas e escuras, a jardineira e, por fim, pela gola alta da camisa de estampa estranha. Meu paletó a abraçou por completo, quase como um segundo vestido. - A senhorita usa bastante roupa. Sente tanto frio assim? - Ah.. Um pouco..aahh. - aquela risada estranha. - Senhor Sebastian, porque disse que seu dia vai ser péssimo? - Depois de hoje, todos os meus dias serão péssimos. - toco o cotovelo dela quando percebo que o carro está chegando. - Não diga isso.. - ela me fita. - Oh.. Eu afirmo.. - Senhor Sebastian. - Joel desce estacionando meu carro, uma Lamborghini Aventador na cor preta, bem ao nosso lado. - Boa noite, Liz. Eu me sentia em outra realidade ao perceber que todos na empresa a conheciam. Ela havia falado com Cláudia Maria na recepção, com Wilson na portaria e agora Joel; todos a tratavam com carinho de velhos amigos. Aparentemente, somente Steve e eu desconhecíamos sua presença ali. Ou melhor, apenas eu, porque o Steve poderia não se recordar, mas esteve com ela. Era inacreditável. - Boa noite, Joel. - ela o cumprimenta com um abraço. - Cláudia Maria pediu para avisar que vai te esperar. - Ótimo. - ele sorrir. - Vou abrir para a.. - Não precisa..- seguro-o pelo ombro antes que ele dê a volta para abrir a porta para ela. - Pode ir. - Sim senhor.. - ele trava por um instante, mas segue de volta ao prédio. - Tenham uma Boa noite. - Pra você também.. - dou a volta até a porta do carona. - Senhorita Eliza. - Ah..Obrigada. - ela faz um pequena reverência antes de entrar. Não pude deixar de rir com o gesto inusitado. - Como eu estava dizendo. - tomo meu lugar e dou a partida com o carro. - Eu não acredito que haja a remota possibilidade de existir outra como você. - Como eu? - Inteligente e absurdamente eficiente. - era a verdade. - O Soares não mentiu. Qualquer outra não vai chegar aos seus pés. Foi muito injusto de sua parte me colocar nessa posição. Por volta das 19 horas toda a minha agenda estava organizada e em dia; diantamos videoconferências com alguns dos meus principais clientes e fechei algumas parcerias pendentes. Poderia afirmar, sem nenhuma dúvida, que hoje foi o dia de trabalho mais produtivo que eu tive na vida - É.. Obrigada, eu acho. O senhor é muito gentil. - os olhos dela eram insuportavelmente inocentes. Quase me faziam querer desistir da aposta. - É uma pena não ter conseguido achar os comprovantes que precisamos. Acho que vamos ter que ir ao cartório e ao banco. Tomei a liberdade de enviar uma mensagem em seu nome para o Banco Internacional, o senhor Huffington, diretor de lá, foi meu supervisor no estágio. Eu sei que esses comprovantes demoram cerca de 48 horas para serem liberados, mas ele me assegurou que pode fazer amanhã se formos lá pessoalmente. O ofício de Notas onde o senhor tem firma registrada disse que pode nos atender depois de amanhã. -Ah..- foi tudo que pude dizer. Quando ela tinha feito isso? Eu não desgrudei dela mais do que dez minutos para ir ao banheiro. - Quer dizer..ah..- o que eu poderia dizer? Para começar, os documentos não estavam perdidos; eu não podia fazer ela pedir favores para ajudar em um problema que, tecnicamente, não existia. - Nossa. Senhorita Eliza..É..Bom, sabe. Eu andei pensando e acho que, talvez, os documentos que você precisa estejam no meu apartamento. - Tem certeza. Senhor Sebastian, isso é muito sério. - ela vira o corpo em minha direção. - O senhor pode ser preso e multado. As obras de arte que o senhor negociou podem qualificar o crime de evasão de divisas. O senhor sabe o que é isso ? - ela me encara. - Claro.. - falo de forma confiante. - Senhor Sebastian, isso é sério. - ela junta as mãos em uma prece silenciosa. - Eu não sei. - mordo os lábios contrariado. - É quando uma pessoa física ou jurídica envia dinheiro de forma ilegal para fora do país. É muito sério. Por favor.- seu olhar era suplicante. Quando a mão dela cobriu a minha mão direita, eu tive certeza que um buraco ia se abrir e eu seria lançado no inferno por cogitar seduzir uma moça assim. Porque ela tinha que ser tão gentil? O Victor fez de propósito! - Okay. - tamborilo os dedos da mão esquerda no volante. - Eu sei que estão lá. - mordo meu lábio inferior e faço uma careta. - Sabe? - ela fica piscando, como se algo não fizesse sentido. - Sim. É..digo, existe uma grande possibilidade. - Entendo. Hum.. - ela respira fundo umas cinco vezes, os braços envolvem o próprio corpo em um abraço solitário.- P-p-po-po.. - ela suspira lentamente.- Po-po-podemos ir .. - era como se fosse algo muito difícil de se falar. - Está se sentindo bem? - paro o carro no acostamento, tiro meu sinto e me aproximo o máximo até que ela estende a mão para que eu não chegue tão perto. - S-s-sua c-c-casa.. - ela começa a abanar o próprio rosto. Ela estava passando m*l só por sugerir ir até a minha casa? - A senhorita realmente quer ir ao meu apartamento? - Não..- ela sacode a cabeça em negação. Dizer que aquilo feria meu ego era pouco. - M-ma-mas q-quero me-nos a-inda que - ela fecha os olhos. - o s-senhor passe dois anos em um presídio. Enquanto ela estava com os olhos fechados, simplesmente respirando, eu senti uma coisa apertar dentro do meu peito. Um impulso desconhecido. -Eliza..- toquei seu rosto, trazendo a face dela para perto do minha. - Calma. Tranquila.. Hum..- eu podia sentir a respiração quente dela, o hálito doce do bendito suco de amora que ela bebeu durante o dia inteiro. - Tranquila. Eu não vou te machucar. - Eu não acho que vai.- um sussurro soa por seus lábios. Ela não abre os olhos. - Eu só tenho medo. - em uma atitude inesperada, os braços dela envolvem o meu corpo em um abraço apertado. Como ela poderia ser tão frágil, tão delicada assim? Ser gentil a ponto de se colocar em uma situação assustadora só para ajudar alguém que ela m*l conhece e que claramente, tem intenções nem um pouco dignas. "Tan, tan, tan." Quando meu celular começa a tocar, eu não sei o que fazer. Ela me apertava como se precisasse de mim. -Tranquila.. - devolvo o aperto com o braço direito e me esforço para alcançar o painel do carro e desligar o celular por lá. Não seria justo, depois de tudo que ela fez e de tudo que eu pretendia fazer com ela, soltá-la para atender. - Não precisa sentir medo.. - aperto o botão. -Aí..Sebastian, eu já estou aqui.. Quente e pronta pra você.. - os braços de Eliza se soltam assim que a voz feminina de Priscila, a editora da Cosmopolitan , começa a encher o carro. - Estou completamente n..- desligo a ligação antes que ela complete a frase. - Ah.. - fico parado com o dedo no botão certo do painel. O silêncio que se seguiu foi sepulcral. Eu nunca tinha me sentido envergonhado por ser flagrado em algum ato libidinoso ou potencialmente indecente com minhas "amigas"; e tinha certeza que não tinha motivo para tal. Eu era um homem adulto, saudável e solteiro. Então, porque eu fiquei congelado, parado, fitando a estrada a minha frente? - Eu gostaria de ir pra casa. - ela não me olhou e eu senti que não deveria olhar pra ela. Mas que d***a é essa, Sebastian! -Sim.. O endereço. - volto a ligar o carro. - Eu gostaria de ficar na próxima saída a esquerda. - foi tudo o que ela disse. - Certo. Enquanto eu passava a marcha do carro, meus olhos passavam pelas mãos dela, o jeito nervoso com o qual ela abria e fechava os dedos sobre o tecido do meu paletó. -Aqui.. - ela aponta para um ponto de onibos próximo ao sinal de transito.- Obrigada pela carona, senhor Sebastian. - ela tira o cinto assim que eu encosto o carro. - Pode enviar os documentos amanhã, no primeiro horário. - o olhar dela permanece em suas mãos.- O nosso prazo é de 5 dias, contando com as retificações necessárias. Caso não os localize, vamos proceder como havia dito antes. - ela abre a porta do carro. - Boa noite.- ela sai antes que eu responda. - Que porcaria! - bato a cabeça no volante e volto a olhar para frente, ela estava atravessando o sinal. - Amanhã. Amanhã eu resolvo.. - meu cérebro para quando vejo que ela está entrando no metrô.- Mas.. - saio do carro e corro atravessando as ruas até o bendito metrô. - Senhorita Eliza Aurora Rodríguez! - eu estava gritando em meio a escadaria e era algo ridículo. Por sorte, aquele horário não era tão barulhento e movimentado. -Ah.. - ela para depois de atravessar a catraca. - O que pensa que está fazendo ?- desço os degraus até ela. - Indo pra casa. - fala tranquilamente. - Ah..- ela parece se dar conta de algo. - O senhor quer o paletó? - ela começa a tirar enquanto se aproxima para entregar. - Não. - reviro os olhos.- Eu pensei que a senhorita morasse aqui. - No metrô?- ela inclina a cabeça para o lado esquerdo. - Não. - cruzo os braços em frente ao peito. - Pensei que morasse nesse bairro. - Ah..Não. - ela estende o paletó pra mim. - Eu moro no Brooklyn. - dá de ombros. - O quê? - sacudo a cabeça.- Porque diab.. - Não blasfeme. - ela faz uma careta ao interromper a blasfêmia alheia. - Por qual motivo..- me aproximo o máximo que a catraca permite. - ..a senhorita pediu para descer aqui? - Não quis atrapalhar. - ela continua estendendo o paletó pra mim. - Está tudo bem. - ela suspira. - São poucas estações até a minha casa. De verdade. - ela deixa o paletó sobre a catraca. - Boa noite, senhor Sebastian. - Eu sinto muito..- ela me fita. - Eu sinto muito pelo que você ouviu. - por alguma razão, eu realmente sentia. O que era uma d***a, a culpa não é um sentimento que eu costumo cultivar. - Não precisa se desculpar. - ela respira fundo. - Espero os documentos amanhã. Boa noite. - ela vai embora. >>> -Pela sua cara as coisas com a Trollzinha não estão bem. - Steve fala assim que me encontra no bar. - Falou o apaixonado pela doutora Rodríguez. - viro a dose de uísque. - Em minha defesa. - ele ergue as mãos. - Eu digo: Quem ouve voz não vê cara. - Você é ridículo. - reviro os olhos. - Mais uma aqui. - sinalizo para o barman. - Eu sei que está difícil. Eu passei pela sua sala hoje, vi que monstrinha estava lá e não tive coragem de entrar. Vai que ela decide aceitar os convites. - ele faz o sinal da cruz. - Ela nem sonha com isso. - viro a nova dose. - Claro que sonha. - ele ri.- Olha pra mim. Steve era o tipo ideal para, sei lá, todas as mulheres que conhecíamos; apesar das cantadas baratas e o comportamento deplorável, sua boa aparência parecia ser capaz de amenizar quase tudo que ele fazia de errado. Durante os tempos de faculdade, ele fez uma boa grana modelando para grandes marcas de roupas e acessórios; e era difícil ver alguma mulher ou mesmo homem não olhar quando ele passava ostentando a figura esculpitda por anos de musculação e uma vida muito dedicada a cultura do corpo. E como ele costuma dizer : "A vida é uma delícia para gente bonita.", e ele não estava completamente errado. - Você disse que ela te livrou de uma multa de milhões. - o encaro. - É uma profissional excelente. O que não muda o fato de que ela não é bonita. - É uma moça muito gentil. - observo as gotas de uísque que sobraram no fundo do meu copo. - Vai desistir da campanha? Sabe que um trabalho para uma marca como a Casa Gucci só vai acrescentar ao nosso portfólio. Sem contar toda aquela fortuna de comissão. -Só não quero quebrar aquela moça no processo. Mais uma..- ergo o copo para o barman. - Você não precisa ser um canalha. - ele toca meu ombro. - Seja educado e gentil.- ele vira a dose dele. - Depois, termine com dignidade. - i*****l. - deixo umas notas no balcão. - É sério. - ele segura meu braço antes que eu passe por ele. - Boa noite. Volto pra casa ignorando as dezenas de chamadas de Priscila, deixaria para pensar no que fazer ou não amanhã.
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