Na segunda feira eu tive um dia bem diferente do costume, tive que levantar cedo e me arrumar inteira, para estar na empresa. Olhei para o meu apartamento todo bagunçado e soltei um longo suspiro, sabia que precisava dar uma boa arrumada nele, mas não tinha ânimo o suficiente para isso. Coloquei o meu café na garrafa térmica e simplesmente sai, ignorando toda a minha confusão e bagunça.
Ao entrar no elevador eu encarei todo o meu look com um certo cuidado, odiando me ver dessa maneira. Eu estava usando uma saia lápis cinza escura, uma camisa social branca e saltos pretos. Meu cabelo estava solto e tinha alguns cachos nas pontas, feitos com um babyliss. O rosto continha uma maquiagem suave e um batom nude. Eu estava linda, mas definitivamente não era eu aqui.
Eu já tive que me disfarçar outras vezes no meu trabalho e geralmente, quando o cliente pede por isso, eu cobro mais caro. Porque preciso abdicar de um tempo da minha vida para assumir um personagem que não me cabe, para entrar em uma rotina que eu não quero ter. Mas dessa vez, eu confesso que estou achando até que divertido, porque eu conheço perfeitamente quem será a próxima vítima, eu sei o quão r**m Julian Montgomery é, e que a morte dele talvez seja necessária.
A minha adolescência sempre foi difícil e eu não tive sequer a chance de ter uma vida normal, então ir para a escola, era o mais perto disso que eu tinha, era a minha chance de ter um pouco de normalidade. Mas isso foi brutalmente arrancado de mim, quando as “brincadeiras” começaram, era assim que eles chamavam. Stacey era a garota popular da escola e o comportamento dela era típico daquela garota, sabe? Ela sempre soltava alguns comentários maldosos sobre a aparência das meninas e soltava uma risadinha, como se aquilo não fosse nada demais. Até que um dia ela notou a minha existência, no início ela apenas expressava as suas opiniões, que não tinham sido pedidas, sobre a minha aparência. Mas era sempre em um tom de cuidado, como se ela estivesse me dando um conselho de amiga. Coitada de mim, na época eu achei que teria a chance de ser amiga dela e me tornar popular.
Depois de um tempo, a situação começou a ficar mais pesada, ela e as amigas me prendiam no banheiro, ela passava ao meu lado e sussurrava adjetivos ruins sobre mim, até me fazer chorar, roubavam as minhas roupas em toda aula de Ed. Física que tinha. Minha vida virou um inferno! E o namorado babaca dela, quis entrar na brincadeira e ser tão m*****o quanto, Julian. Ele já chegou a colocar o pé na minha frente, para que eu caísse na frente da escola inteira, e aconteceu, inclusive eu me machuquei feio em uma das vezes.
Apesar de ter passado o pão que o d***o amassou nessa época, eu não sinto dor ao lembrar disso, eu sinto raiva. E a minha versão adulta é totalmente movida por ela.
Chego na empresa exatamente no horário que eu precisava chegar e sou guiada por uma mulher, até o andar onde eu ficaria, que para a minha zero surpresa, era o mesmo andar que o Julian trabalhava. Pelo o que eu soube o meu cargo aqui seria de uma espécie de estagiária, a ideia inicial é que eu fosse a secretária pessoal do Julian, mas o cargo exigiria que eu trabalhasse de verdade e não é isso que eu estou fazendo aqui. Como estagiária, eu conseguiria dar uma disfarçada e não precisaria fazer tudo o que o trabalho exige de fato.
O lugar é bem amplo e moderno e eu confesso que gosto bastante do que vejo, sou deixada em uma pequena mesa e me ajeito ali, fingindo que estou arrumando as minhas coisas, quando na verdade, estou fazendo uma análise rápida das duas funcionárias que estão me observando com atenção.
Eu sempre ando com uma Glock 18, mas achei que não seria necessário trazer ela até aqui, eu deixei uma arma no meu carro e foi isso. Para preservar o meu disfarce, talvez não seja uma ideia muito inteligente andar com uma arma por aí.
- Bom dia. – uma das meninas fala e eu suspiro.
Que chatice, vou ser obrigada a ser simpática com alguém logo cedo.
Dou um gole em meu café e ergo a minha cabeça, esboçando um sorriso singelo para ela.
- Bom dia.
- Seja bem vinda! Espero que goste do seu primeiro dia. – fala toda gentil, mas algo nela não me desce.
- O pouco que eu vi, já estou amando! – abro um sorriso sem mostrar os dentes e meus olhos vão em direção a outra garota, que nem tinha se dado ao trabalho de me desejar as boas vindas. Pelo menos ela é mais sincera.
- Alguns detalhes que você precisa saber: A gente trabalha diretamente com os chefes e enquanto um deles é gente boa, o outro é um carrasco.
Ela ganha a minha atenção aí.
- Sério? E qual deles é o carrasco? – pergunto verdadeiramente interessada, com certeza é o Julian.
Ela abre a boca para responder, mas o barulho do elevador a faz ficar quieta, na medida em que ela se afasta da minha mesa e vai para a sua.
- Você está prestes a descobrir. – é o que ela diz.
Eu odeio esse tipo de mistério!
Ouço os passos se aproximarem cada vez mais de onde estamos e sou rápida em manter os meus olhos fixos nas duas figuras que estão andando lado a lado. Um deles é um homem extremamente charmoso, de pele escura e cabelo baixo, usando uma camisa preta lisa e calça de alfaiataria. Bem estiloso, mas não tinha muito a ver com a proposta de ser um dos chefes.
O outro era o meu terror, que para a minha tristeza, continuava lindo! Julian tinha uma pele parda, seus olhos eram em um castanho claro e ele tinha lábios carnudos e o cabelo em um topete m*l feito. Diferente do amigo, ele estava vestido todo formal.
Seus olhos cravam em mim e eu vejo o seu cenho se franzindo, deve estar se perguntando de onde me conhece.
- Ei! Você deve ser a estagiária nova, meu nome é Joe Gray. – o homem alto para em frente a minha mesa e diz com um pequeno sorriso.
Ah, então ele é a última sigla do nome da empresa.
- Prazer.
Ele abre um sorriso amigável e olha para o amigo.
- Não vai desejar as boas vindas para a nossa nova funcionária?
Julian me olha com atenção e solta uma longa bufada, parece estar sem paciência. Não sei se é porque ele me reconheceu, ou se só está sem paciência mesmo.
Eu tinha mudado bastante desde a época da escola, tinha virado uma mulher muito mais bonita e atraente, então talvez ele nem tenha me reconhecido ainda.
- Seja bem vinda, senhorita...- faz uma pausa, esperando que eu diga o meu sobrenome.
- Stuart. – digo, tentando conter o meu sorriso debochado. – Mona Stuart.
Ele fica extremamente sério ao ouvir o meu nome e vejo seu maxilar travando de imediato. Então ele se lembra de mim! Julian fica me encarando severamente e parece não querer fazer outra coisa além disso, até que seu amigo começa a tagarelar com ele, o puxando em direção a sua sala. Observo eles, até que entrem na sala.
- Nossa! Acho que a sua vida aqui não vai ser fácil. – meus olhos vão em direção a garota e ela concluí. – Julian parece ter te odiado.
- Ah, eu posso lidar com isso. – falo tranquila e abro um sorriso.
Mesmo porque, nada do que ele possa fazer comigo agora, vai ser pior do que o que eu estou prestes a fazer com ele. Julian vai ter uma morte dolorosa e lenta, e eu faço questão de que ele esteja olhando nos meus olhos, quando eu fizer.
Esse vai ser um assassinato diferente.