Point Of View Mona Stuart.
Boston - Massachusetts.
7h30 p.m.
Sempre me perguntei o que as poucas pessoas que me conhecem, pensariam de mim ao saberem qual é a minha verdadeira profissão. Não que eu me importe com a opinião delas, mas seria de fato satisfatório ver o choque no olhar de todos, ao descobrirem que ao invés de ser uma simples secretária, eu tiro vidas. Eu sei, é hilário!
Aposto que meu pai estaria orgulhoso agora, se ele tivesse cumprido a m e r d a do seu papel e tivesse feito parte da minha vida. Minha mãe sempre disse que minha vida seria melhor sem ele, que ele não prestava, mas vindo dela, é de se duvidar. A mulher era uma v a d i a!
E nem me deixe dizer o tanto de vezes que eu fui criticada por ter esse tipo de pensamento da mulher que me pariu, o que as pessoas nunca entenderam é que o único papel que ela teve na minha vida foi esse, me colocar no mundo e fazer eu arcar com uma dívida enorme, por conta do seu uso excessivo de drogas.
Eu passei toda a minha adolescência tendo que ir para a escola, enquanto mantinha dois empregos, tudo para impedir que um traficante qualquer matasse a minha mãe, a ironia disso é que ela acabou morrendo de qualquer maneira, por causa da vício maldito que tinha. Me lembro do dia que a encontrei jogada em nossa cozinha, já sem vida, como se fosse hoje; foi um misto de alívio e uma certa tristeza. Eu verdadeiramente não sei os sentimentos que tive naquele dia, a minha infância acabou com qualquer personalidade boa que eu podia ter, qualquer chance que eu tinha de me tornar um ser humano admirável.
Minha mãe dizia que eu era uma p s i c o p a t a, e para ser sincera, eu não duvidaria disso.
Deve ser por isso que para mim é tão fácil matar, eu nunca senti sequer pesar por fazer o que eu faço, nunca nem quis saber se a pessoa que eu estava prestes a tirar a vida, merecia aquele fim c***l.
Eu nunca me importei! É por isso que sou muito boa no que faço.
Estou prestes a encontrar um dos meus clientes e sou rápida ao atravessar a rua, vendo que um carro poderia me atingir, se eu tentasse atravessar mais devagar. Consigo ver a frente do restaurante onde o encontro tinha sido marcado e um suspiro escapa dos meus lábios, olho atentamente para a rua na qual estou e não fico muito surpresa ao perceber o quão movimentada ela era.
No meu serviço existem dois tipos de clientes: Os que marcam em lugares isolados, porque vão me contratar pessoalmente e não querem serem vistos comigo. E os que marcam em lugares movimentados, porque não virão pessoalmente, geralmente mandam algum capacho para combinar tudo comigo.
E esse com certeza tinha mandado um capacho; um detalhe importante sobre esse tipo de cliente, eles têm muito dinheiro.
Eu tenho ciência que já deve ter tido muitas pessoas famosas e extremamente ricas que me contrataram, porque eu já tive que matar figuras bem conhecidas.
Dou passos acelerados até a entrada do local e ajeito a minha jaqueta, antes de empurrar a porta e ouvir o barulho insuportável do sininho que toca acima da minha cabeça.
Passo os meus olhos por todo o local e analiso a quantidade de clientes presentes, havia uma quantidade significativa de pessoas ali. Um garoto chama a minha atenção, ele estava sentado sozinho, na mesa mais escondida do lugar, olhando para a janela ao seu lado, enquanto brincava com os próprios dedos.
Ele parecia nervoso, tenso, assustado.
Meu deus, mandaram uma criança resolver isso, não tem nada que me deixe mais irritada do que isso! Aposto que deve ser um estagiário, que está tentando impressionar o chefe.
Só com esse detalhe eu já sei que o chefe não é muito inteligente, mandar um garoto desse é pedir para ter uma arma apontada para a própria cabeça, porque no primeiro apertão que derem nesse menino, ele vai abrir a boca e vai dizer tudo o que sabe. Para mim tanto faz, porque dificilmente a polícia conseguiria me pegar.
Dou passos precisos até a mesa e me sento em sua frente, sem aviso algum, cruzando as minhas pernas e agarrando o cardápio em minha frente.
Ele olha para mim confuso e vejo que o seu lábio treme. Amadores! Se alguém gritar com esse menino, é capaz dele se mijar inteiro.
- O que você tem para mim? - pergunto, mas sem tirar os olhos do cardápio.
Eu estava faminta, não iria sair daqui sem comer algo.
- Você é a Mona? - sua voz sai trêmula e uma bufada escapa dos meus lábios.
Eu sei que talvez devesse ser um pouco mais gentil com ele, mas eu não sei como ser gentil há muito tempo. Se é que um dia eu soube.
- Não, eu sou uma garota aleatória que resolveu se sentar na sua mesa e fazer uma pergunta estúpida, sem sentido algum.
Abro um sorriso sem mostrar os dentes e apoio as minhas duas mãos na mesa, o encarando com atenção. Como o esperado, ele não conseguiu segurar o nosso contato visual.
- É que você é tão...- ele para e parece procurar algum adjetivo para mim, espero para ver o que vai sair disso. - Você não parece uma pessoa que machucaria alguém. - ele fala e engole seco.
Essa é a parte mais emocionante disso, as pessoas nunca esperam o pior de mim, nunca imaginam que eu serei a pessoa que vai mata-las. Afinal, alguém com uma aparência tão angelical, não seria capaz de algo c***l. m*l sabem!
- Pois é, mas eu sou malvada quando eu quero e tenho certeza que você não quer provar desse meu lado, então seja breve!
Vejo o tremor nas suas mãos, quando ele pega uma pasta preta, de couro, a coloca sobre a mesa e a abre.
Enquanto isso, eu observo o cardápio mais uma vez, decidindo pedir um café preto e panquecas.
Ergo a minha mão e prontamente uma garçonete para em frente a nossa mesa.
- Quero um café e panquecas. - peço e ela anota o pedido, olhando para o meu acompanhante.
- Só um café. - ele diz e ela se afasta, avisando que já traz o nosso pedido.
- Você é estagiário, não é?
O garoto me olha por cima da pasta aberta e ajeita a postura, parece ter receio de responder a minha pergunta. Será que ele pensa que eu vou fazer algo com ele? Porque para ser sincera, eu não faria. Qual é! Eu tenho critérios e costumo matar apenas as pessoas que eu sou paga para fazer, não mato ninguém atoa e sem receber uma boa grana por isso.
- Não acredito que essa resposta seja relevante para você.
Fico surpresa com a audácia do garoto. Ouvindo ele falar dessa maneira, você nem imagina que as suas mãos estão trêmulas e ele está em choque.
- Que bonitinho! - abri um sorriso para ele e apoiei o meu queixo na palma da minha mão. - Seu chefe te mandou não responder nenhuma pergunta que não tivesse a ver com o assunto. - chuto e ao notar a sua reação, percebo que foi um chute certeiro.
Eu era boa nisso.
- Meu chefe quer eliminar um colega de trabalho. - é o que ele fala, ignorando completamente o meu chute.
- Ok. O que eu preciso saber sobre ele?
- Ele é bem rico e bem conhecido no mundo dos negócios. - Informação zero relevante. - Tem 27 anos e está na posição da presidência de uma grande empresa.
- Como o seu chefe quer que eu aja?
- Ele achou que seria melhor que você trabalhasse na empresa por um tempo, para entender direitinho como funciona a rotina e conseguir cometer o crime de forma silenciosa. - o garoto quase engasga ao dizer a palavra crime.
- Você trabalha nesse lugar também?
- Sim.
- Que ótimo! - reviro os olhos. - Eu posso até trabalhar nessa empresa i****a, mas faço questão de ficar no setor mais longe que tiver de você, não estou a fim de ter que ficar lidando com o seu olhar assustado. Sem contar que a sua atitude pode prejudicar o meu trabalho e acabar com qualquer disfarce.
- Não se preocupe, se depender de mim, essa é a última vez que você vai me ver.
Pelo menos concordamos em uma coisa, ótimo!
- Então, que empresa é essa? - pergunto com tédio.
- Monthay Company. - fala com naturalidade e eu suspiro.
Era apenas a maior empresa de tecnologia, dos últimos tempos.
Eu sabia muito pouco da empresa em questão, mesmo que estivesse ciente da sua grandeza, eu tinha consciência que ela tinha três donos e que um deles tinha falecido, só não me pergunte como. Nunca procurei saber.
Quando eu estava prestes a perguntar quem era o sortudo que seria morto, a garçonete surgiu na nossa mesa e eu fechei a minha boca na mesma hora.
Ela colocou os nossos pedidos na mesa e saiu tão rápido, quanto tinha aparecido.
- Então, quem é?
O garoto começou a tirar algo da maleta, era um envelope pardo, o colocando em minha frente e olhando para os lados, para checar se não estávamos sendo observados. m*l sabia ele o quanto essa atitude soava suspeita e acabava atraindo ainda mais atenção. A sorte dele, é que a maioria das pessoas presentes aqui, parecem estar presas demais no próprio mundinho, para se importarem com o que acontece ao redor. Como todo ser humano normal!
Quem diria que a garota que queria ser vista, quando estava na infância, seria a mulher que faz questão de viver na escuridão. Poucas pessoas sabem a minha verdadeira história e eu nunca sequer quis abrir a minha boca para contar ela completa, porque nunca quis ter a pena de ninguém, nunca quis ocupar o papel de vítima. Eu tive pais de m e r d a, não tive um m****o sequer da minha família para me salvar, nem amigos, nem a conselheira da escola, que estava ciente de tudo o que eu passava. Então me salvei sozinha, simples assim!
As pessoas não se importam com ninguém além delas mesmas, por isso eu nunca me importo com ninguém, sei que na primeira oportunidade que tiverem, vão meter um tiro na minha testa. Se as pessoas souberem o tanto de gente que eu já matei, vão querer a minha cabeça em uma bandeja, então antes que elas tenham a chance eu as mato.
A vida é c***l e eu decidi ser tão c***l quanto.
Pego o envelope e começo a puxar as folhas que tinham dentro dele, antes que eu pudesse ler e observar as informações que estavam escritas ali com atenção, a voz do garoto soou novamente, me dizendo o nome da pessoa que eu mataria.
- O nome dele é Julian Montgomery. - ele fala baixo, quase como um sussurro. Era um segredo que ele queria que só eu soubesse e a razão é óbvia. Seria melhor para nós dois, que ninguém ali soubesse sobre a pessoa de quem estávamos falando.
Eu engoli seco e cravei os meus olhos nas folhas, podendo ver uma foto do dito cujo, e para a minha surpresa, não se tratava apenas de uma coincidência, de nomes parecidos.
O homem que eu teria que matar era o mesmo que tinha praticado bullying comigo, durante toda a minha adolescência.
- Aqui está a metade do seu p*******o, a outra metade você vai receber depois que o serviço estiver feito. - continuou falando baixo e empurrou um envelope menor em minha direção, o colocando em minha frente.
Peguei o envelope e o abri, checando a quantidade de dinheiro que tinha ali, para ver se batia com o valor que eu tinha pedido. Mas para ser sincera, eu poderia fazer esse serviço até de graça. As pessoas dizem que é muito bom perdoar quem nos fez m*l, seguir em frente, mas eu jamais perdoaria o que esse homem me causou, finalmente terei a minha vingança.
Ou o universo está sendo muito bondoso comigo, ou eu sou uma maldita sortuda!
Estou prestes a cometer o assassinato mais fácil de toda a minha profissão!
E eu prometo que vou fazer o Julian sofrer.