Nunca se sabe

1018 Words
Camila Narrando Assim que eu entrei no quarto do Tártaro, a filha dele apareceu atrás de mim, e eu só consegui sorrir. Eu não sabia muito bem como reagir, então soltei um — Com licença. Só pra quebrar aquele gelo esquisito. Ela me respondeu com um aceno de cabeça, sem dizer muita coisa, e eu segui em direção ao banheiro. Fechei a porta com cuidado, me encarando no espelho por alguns segundos antes de começar a me trocar. Respirei fundo, tentando acalmar os pensamentos enquanto eu tirava o roupão e colocava a lingerie que ela tinha trazido. Pra minha surpresa, ficou perfeita, ajustou no meu corpo como se tivesse sido feita sob medida. Senti uma sensação boa ao ver o caimento, que me fez sorrir de leve, já imaginando o Tártaro tirando do meu corpo. Logo em seguida, vesti o shorts de alfaiataria e gostei. Olhando no espelho, percebi que ficou melhor do que eu esperava, até que a menina tem bom gosto. Ele delineava as curvas na medida certa, sem ser vulgar, e me dava uma elegância que eu adorava. A camiseta básica era simples, mas encaixava perfeitamente com o resto do look. A combinação me deixou satisfeita. Não era nada exagerado. Saí do banheiro e, para minha surpresa, Beatriz ainda estava no quarto. Ela estava sentada na ponta da cama, mexendo no celular, mas assim que me viu, sorriu. — Ficou boa a roupa — disse, dando uma olhada de cima a baixo. Eu dei uma risadinha. Olhei no espelho rapidinho, ajeitei a blusa e respondi: — Valeu! Eu amei mesmo. A gente não tem assunto, então ficamos uns segundos em silêncio. Eu já estava começando a achar que o momento estava ficando esquisito, mas aí ela quebrou o gelo. — Tá com fome? — perguntou de repente, me encarando. — Estou sim — respondi, meio aliviada por ela ter puxado assunto. — Mas, vou te falar, seu pai só me deu canseira até agora e comida que é bom, nada. Ela deu uma risada curta, sacudindo a cabeça. — Meu pai tem dessas mesmo — disse, se levantando. — Vem, vamos pra cozinha. Vou mandar arrumar a mesa pra gente. Segui ela até a cozinha, ainda um pouco desconfortável. Por mais que ela estivesse sendo simpática, eu sentia aquele clima estranho no ar, como se ela tivesse algo a mais pra dizer e estivesse só esperando o momento certo. Chegando na cozinha, ela deu umas ordens rápidas e mandou arrumar a mesa e servir o café. Me sentei enquanto ela se encostava no balcão, de braços cruzados, me observando. Quando a mesa ficou pronta, sentei na ponta e comecei a me servir, mas percebi que Beatriz continuava me olhando de canto de olho. Eu sabia que tinha alguma coisa engatilhada. Ela suspirou e, antes de se sentar, virou pra mim: — Então, Camila. Qual é o lance entre você e o meu pai? Eu congelei por um segundo, sem saber exatamente como responder aquilo. Não era surpreendente. Olhei pra ela e dei de ombros, tentando parecer relaxada. — Não sei, Bia — respondi, pegando um pedaço de pão e passando manteiga devagar. — A gente ficou. Depois ficamos de novo. E aí ele me trouxe pra cá — Não vou dar detalhes de nada, até porque estamos perdidos no mesmo caminho, eu e o pai dela. Ela continuou me encarando, como se estivesse tentando decifrar se eu estava sendo sincera ou escondendo alguma coisa. O silêncio dela me fez sentir que eu tinha que continuar explicando. — Não tem nada muito definido, sabe? — acrescentei, enquanto mordia o pão, na esperança de encerrar logo o assunto. Beatriz não disse nada. Só assentiu levemente com a cabeça, mas o olhar dela era cheio de desconfiança. Ela sabia que tinha algo mais ali, talvez achasse que eu estava tentando dar o golpe no pai dela, ou sei lá o quê. Mas, sinceramente, eu também não sabia direito o que estava acontecendo entre mim e ele. Só sei que ele é gostoso, mas é um assassino, isso tudo tá bagunçando a minha mente. — Você não gostou muito, né? — perguntei de repente, sentindo que, se não falasse logo, a tensão entre nós só ia aumentar. Beatriz deu de ombros e balançou a cabeça, tipo quem diz "não é da minha conta". Ela não parecia querer se envolver mais do que o necessário. A mensagem era clara: — Eu não aprovo, meu pai deveria ter te levado para outro lugar. Mas também não vou me meter. Melhor assim, pensei. Se ela começasse a implicar, a coisa ia ficar complicada pra mim, ela não parecia disposta a travar uma guerra por causa disso. Continuei comendo, tentando disfarçar o incômodo que essa conversa tinha deixado. Beatriz, depois de um tempo, finalmente relaxou. Ela se sentou à mesa, pegou uma xícara de café e começou a comer também. O clima melhorou um pouco, e o silêncio que antes parecia pesado agora era mais confortável. — E aí, o que você faz da vida? — ela perguntou, mudando de assunto. — Sou Advogada, e atuo na área criminalista — respondi, meio aliviada pela mudança no tema. — Estou pensando em abrir um escritório aqui no Rio. — Entendi! Então não é atoa que você está aqui. Eu ri. — Talvez, nunca se sabe quando vai precisar de um advogado. Ela assentiu, parecendo aprovar. Talvez essa resposta tenha mudado um pouco a impressão que ela tinha de mim. Ou pelo menos, eu esperava que sim. O resto do café da manhã seguiu tranquilo. Não voltamos a falar sobre o pai dela, e eu fiquei aliviada por isso. Preferia que as coisas fossem acontecendo do jeito que está, só entre nós dois, sem ninguém se metendo nem os filhos dele. Quando terminamos, Beatriz me acompanhou até o quarto novamente, Tártaro deve ter mandado ela me vigiar, achei melhor não perguntar, ficamos um tempo assistindo televisão, acho que, depois daquela conversa, as coisas ficaram mais leves entre nós. Pelo menos, por enquanto. Espero que o Tártaro termine logo a reunião para conversamos sobre o Cássio.
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