Mexendo Com o Comando Errado

1654 Words
Tártaro Narrando Mano, quando eu bati o olho na Bia, já vi que ela tava bolada. Não é todo dia que você tromba uma mina aqui, no meu escritório, de roupão e tal, na maior situação ïntima. Pô, é føda. Meus filhos nunca viram uma cena dessa, e eu também não tava esperando que fosse ser tão assim, explícito, tá ligado? Mas Camila é dessas, ela não tem medo de nada. Já vi que ela joga no limite. Aí, na moral, foi só questão de tempo até meus tios chegarem. Porr@, esqueci da Reunião. Mas que Caralhø, daqui a pouco chega os outros. E, lógico, Camila sacou a situação, não é boba. Saiu rapidinho pra botar a roupa, e foi aí que eu pensei: "Não vou deixar essa bandïdona sozinha por aí, não." Falei pra Bia ir atrás dela, garantir que a Camila não desse uns perdidos, sacou? Porque, mano, essa mina tem uma energia que você tem que ficar de olho. Muito malandra, estilo que eu curto, mas na minha área não dou mole não. Tio Davi foi o primeiro a mandar a real, já querendo saber quem era a mina. Tava claro que ele tava curioso, e eu, sem pensar muito, soltei: — Ah, é uma mina que eu conheci por aí. Aquela resposta meio padrão, só pra cortar o papo. Mas aí veio o tio Murilo, que sempre tem um comentário afiado na ponta da língua. Ele chegou mais, com aquele jeitão meio debochado e largou: — E aí, Otávio, vai dar uma chance pro coração ou vai continuar na frieza? Mano, ri por dentro, mas mantive a pose. Tô calejado dessas paradas de sentimento, não sou de me apegar fácil não. Então, sem enrolar, mandei logo a real: — Nada, tio, tô esperando o Resumo do Bruninho pra ver qual é a fita com ela. Tá ligado, não sou de me jogar de cabeça sem saber onde tô pisando. Com Camila, o bagulho é diferente. Ela tem um lance que te puxa, mas eu também tô vacinado com esse tipo de situação. Sei que o Bruninho sempre tem a visão certa, aquele resumo que te bota no eixo, sabe? Se o garoto disser que dá pra confiar, talvez eu veja onde isso vai dar. Mas por enquanto, o coração tá na gaveta, trancado. Enquanto eu trocava ideia com os tios, a Bia já tinha saído atrás da Camila. Ela sabe que eu confio nela pra resolver essas paradas, é uma mina que tá sempre ligada. Não dá mole, puxou ao Papai. Os moleques entraram no escritório de repente. Já deu pra sacar que vinha treta. Oliver, já chegou estufando o peito e com aquela cara de quem acha que manda. Ele parou na minha frente, cravando os olhos em mim. Nem precisou abrir a boca pra eu saber que ia vir cobrança. Dei uma tragada no meu baseado, deixei a fumaça subir e esperei ele começar a falar. — Quem é essa tal de Camila? — Ele soltou, direto, com o tom todo errado. Olhei pra ele com calma, mas já sentindo o sangue esquentar. Eu não devo satisfação pra ele, e ele sabe disso. — Fica na tua, moleque. — soltei, sem rodeio. — Camila não é problema de ninguém aqui. Ele bufou, mas não se deu por vencido. Achava que ia me encurralar com aquela postura de macho alfa, mas eu já vi muito mais da vida do que ele. — Você vai botar ela no lugar da nossa mãe, é isso? — Ele insistiu, encarando de novo, achando que tinha algum direito de perguntar isso. Eu traguei o baseado de novo, dessa vez mais devagar. O gosto amargo da erva me acalmou um pouco, mas a pergunta dele martelava na minha cabeça. A mãe deles já tá fora da jogada faz um tempo, e a verdade é que o espaço dela ninguém vai ocupar, mas também não é o caso de explicar isso pra ele. Soltei a fumaça devagar e olhei bem no fundo dos olhos do meu filho. — Não toca nessa parada, ouviu? — respondi, a voz baixa, mas firme. — Eu e a Camila tamo curtindo de outro jeito, uma vibe só nossa. Não tem espaço pra vocês se meterem nisso. Ele engoliu seco, deu pra ver. Mas não falou nada. Só balançou a cabeça devagar, tipo quem entende, mas não quer admitir que entendeu. Eu já sabia que a conversa tinha acabado ali, pelo menos por agora. Dei mais uma tragada e olhei pros outros três. Estavam quietos o tempo todo, observando. Nenhum deles ousou abrir a boca, e é melhor assim. Já tava cansado dessa conversa. — Mais alguma coisa? — perguntei, olhando um por um, deixando claro que eu não tava pra brincadeira. Silêncio. Eles não tinham coragem de continuar o papo. Sabiam que eu não ia ceder. Dei um último trago no baseado e joguei a bituca fora, deixando o clima pesar por uns segundos. — Beleza, então. Se não tem mais nada, vaza. — falei, apontando pra porta com a cabeça. Eles saíram, um por um, sem falar mais nada. Oliver foi o último, ainda com aquela cara fechada, mas eu sabia que ele tinha entendido o recado. Fechei os olhos por um segundo depois que eles saíram, respirando fundo. A vida com esses moleques era sempre um jogo de cintura, mas Camila, ela é outra história, e essa história ninguém ia me tirar. Meus tios já deram o papo que fiz o certo, meus filhos não direito de se meter na minha vida, mas eu tenho que tomar cuidado, Camila tá no nosso território. Assenti com a Cabeça e não falei nada. Os Mano chegaram, Cléber, IC e o Thiago. — E aí, Otávio? — Cleber chegou cumprimentando, mas sem muita cerimônia. — Como é que tá a situação? Eu olhei pra ele e dei de ombros, apontando pros lugares vazios na mesa. Era hora de falar, não de enrolar. — Sentem aí, vamos resolver isso logo — respondi, sem perder tempo. Dava pra sentir a tensão no ar. Eu comecei a falar direto, sem rodeio. — Seguinte, a gente tá com um problema na distribuição do morro de cima. Os caras tão cortando nossa rota, e a grana tá começando a ficar curta. Não sei se é alguém de dentro, se os caras do outro lado tão tentando avançar no nosso território, mas a gente precisa resolver isso antes que vire uma merda maior. Já tô püto com essa História, prejuízo pelo bolso é o que mais dói, noia indo atrás de outra parada, e ainda estamos sendo sabotados é de cair o cü da bünda. — Eu já tô ligado nisso. Tem alguém jogando sujo, Otávio. A última carga que a gente mandou, sumiu no meio do caminho. Os caras do morro de cima tão de olho no que é nosso. Se a gente não agir agora, vamos perder tudo — Cleber desenrolou a fita. Thiago, que até então tava quieto, soltou: — A gente não pode ficar só esperando. Ou a gente ataca agora, ou vamos ser engolidos por esses vermes. A questão é, quem é que tá por trás disso? IC, com sua voz rouca e lenta, finalmente decidiu falar: — Pode ser alguém de dentro, mano. Tem dedo-duro em todo lugar. A grana sempre mexe com a cabeça de qualquer um, e se tiverem pagando mais, alguém tá entregando nossos planos. Eu respirei fundo. O silêncio que seguiu foi pesado. Sabia que a confiança dentro da facção era a chave, mas desconfiar de alguém de dentro, isso é perigoso demais. — Não vou descartar essa possibilidade, IC — eu falei, olhando pra ele. — Mas por enquanto, a gente não tem prova de nada. O que eu preciso é saber quem tá por trás do sumiço da carga e quem tá tentando fechar nossas rotas. Tio Davi se inclinou na mesa, olhando pra mim com seriedade. — E se a gente mandar alguém lá no morro de cima? Fazer uma pressão, mostrar que a gente não tá dormindo no ponto. — Isso pode ser arriscado, mas é uma ideia — respondi, coçando a barba. — O problema é, se a gente fizer isso e for pego de surpresa, pode acabar piorando a situação. E outra: a gente precisa de alguém que eles não conheçam. Eu concordei. Mandar alguém infiltrado é um risco, mas se funcionasse, podia nos dar a vantagem que a gente precisava. — Eu conheço um cara que pode fazer isso — IC soltou. — Ele é discreto, trabalha só pra mim, e ninguém do morro de cima vai reconhecer ele. A gente pode mandar ele sondar o terreno, ver quem tá movimentando lá. Pensei na proposta por um momento. Podia ser o movimento certo, mas nada podia sair errado. — Beleza. IC, coloca teu cara nessa. Se ele conseguir alguma coisa, traz a informação pra gente o mais rápido possível. Enquanto isso, Thiago e Cleber, quero que vocês dois reforcem nossa segurança no morro de vocês, passem pra molecada, Tio Davi passa pro Chris e eu vou dar o papo no Oliver. Qualquer movimento estranho, qualquer cara que não seja de confiança, eliminem. Não podemos dar brecha. — Fechado — Cleber respondeu de imediato. Thiago apenas assentiu com a cabeça, já com aquele olhar determinado que eu conheço bem. A reunião estava praticamente no fim, mas antes que eu encerrasse, Cleber soltou uma última preocupação. — E se for alguém de dentro mesmo, Otávio? Como a gente vai lidar com isso? Olhei pra ele, firme. Sabia que essa era a pior hipótese, mas eu já tinha uma resposta. — Se for alguém de dentro, a gente lida como sempre lidou. O que acontece com traidor, você já sabe. O silêncio voltou a dominar a sala. Ninguém mais disse nada. Sabiam que o recado estava dado. Traidor não tem segunda chance.
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