Tártaro Narrando
Acordei com uma ressaca do caralhø. A noite de ontem foi pesada, regada a cachaça, pó e Büceta, e a ruiva Püta que pariu, que mulher. Reunião do comando virou pütaria. Falei que ia sair cedo, mas do nada já tava num motel com a gostosa. Não me arrependo, não. Ela fez valer a pena. Joguei uns trocados na cama antes de vazar. Ela quis um beijo de despedida, mas não sou desses. Saí fora, deixei o dinheiro e fui embora sem olhar pra trás.
Agora tô aqui, tomando café da manhã com meus filhos. Hoje eles completam 20 anos. Três de uma vez só, meus trigêmeos: Breno, Oliver e Beatriz. Se eu sou marrento, eles herdaram tudo e mais um pouco. Mas sabe como é, por mais que a vida seja corrida e cheia de b.o., nunca deixo de marcar presença nessas datas importantes. E hoje não ia ser diferente.
Minha mãe e meu pai também tão aqui. Sempre presentes nessas ocasiões, especialmente minha mãe, que adora esse tipo de momento em família. Ela tenta manter o clima ameno, mas meu pai é mais na dele, só observa. O café da manhã tava rolando, mesa farta como sempre. Mas hoje o que importa são os presentes de patrão que eu separei pros três.
— Feliz aniversário, molecada — soltei, me aproximando da mesa. Já sabiam que eu não ia fazer discurso emocionado, não sou desses, mas o sorriso deles bastou.
Oliver, o mais marrento de todos, tem uma mente afiada. Ele curte adrenalina e já vinha de olho numa moto há tempos. Sabia que ia deixar o moleque maluco com o presente. Entreguei a chave da moto esportiva direto na mão dele, uma máquina sinistra, última geração, do jeito que ele queria.
— Tá aqui, filhão. Vê se não vai fazer merda na pista — falei, rindo.
Os olhos dele brilharam, e mesmo sendo do tipo fechado, me abraçou com força.
– Caralhø, pai, valeu mesmo! Essa moto é surreal!
Breno, dei pra ele um relógio de ouro, ouro maciço e uma corrente que pesa mais do que o moleque, meu BN gosta de ostentar.
— Pra tu ficar bonitão — disse, colocando o presente na frente dele.
Ele sorriu de canto, do jeito dele, e abriu o pacote com calma.
— Pai, você acertou em cheio — valeu! Isso aqui é o que eu precisava!
Agora, Beatriz, minha princesinha. Mesmo sendo toda durona, ela sempre foi meu xodó. Hoje, completando 20 anos, ela merece algo à altura. Então, comprei uma joia fina: um colar, com a pulseira e os brincos de ouro branco com diamantes. Elegante e sofisticado, exatamente como ela gosta.
— Isso aqui é pra minha princesa — falei, colocando o colar no pescoço dela.
Ela se olhou no espelho e sorriu, os olhos brilhando.
— Pai, é perfeito! Eu amei! — e me deu um abraço apertado.
Enquanto isso, meus pais observavam a cena. Meu pai, sério como sempre, deu aquele leve aceno de cabeça, aprovando. Minha mãe, claro, tava quase chorando, emocionada com os netos.
— Você criou eles do jeito certo, filho — minha mãe falou, toda carinhosa.
— Tentei né, mãe? – respondi, rindo. Sei que eu falho às vezes, não sou o pai mais presente, mas quando tô com eles, faço valer.
A gente ficou ali, trocando ideia, rindo, curtindo o momento. Hoje não era dia de lembrar das tretas, nem de ficar pensando nas merdas que já passamos. Hoje é dia de ser pai e aproveitar cada segundo com meus filhos, meu trio infernal, que tão virando adultos.
Dia de baile, mano. Aquele corre louco que o Morro já conhece. Meus filhos, porr@! Caralhø, como o tempo passa rápido. Parece que foi ontem que eles eram só uns pivete correndo descalço por aí, e hoje... hoje tão tudo crescido, porr@. E cada um com suas doideiras, tá ligado? Mas, de qualquer jeito, não tem como eu não ficar orgulhoso.
Oliver o Lúcifer, mano, esse moleque é o caos encarnado. Parece que o sangue ferve mais nele do que nos outros. E pra completar, ele se juntou com a Caroline, minha afilhada. Ô casalzinho complicado. Esses dois não se entendem nunca, mas ao mesmo tempo se amam de um jeito que só eles entendem. É aquele tipo de relacionamento que tu vê de longe e já sabe que vai dar merda, mas eles tão de boa. Discutem, xingam, se abraçam, se beijam... vivem num mundo deles. E eu só observo de camarote.
— Pai, a gente se ama assim — ele sempre fala. Aí, quem sou eu pra dizer o contrário, né?
Agora, a Bia, mano... Bia é outro nível de doideira. Minha filha é a Arlequina em pessoa, não tô de sacänagem. Ela e o Christian, porr@, eles brigam mais do que respiram. E o Christian, não tem muita paciência pra aguentar o furacão que é minha filha, mas ele tenta, tá ligado? Só que, por algum motivo bizarro, eles se amam nessa confusão. Mäl brigam, e no segundo seguinte tão se agarrando de novo. Eu fico só rindo, porque, quem vê de fora não entende, mas no fundo esses dois se completam. Acho que no fundo, os surtos é o que faz dar certo.
E o Breno? Porr@, o Breno é føda, mano. É o mais frio de todos. Moleque não se apega, cüzão, Parece que vive numa vida rasa, sem mergulhar fundo em nada nem ninguém. Dá uns pega aqui, outros ali, mas nunca se prende. Eu fico olhando e me pergunto se um dia ele vai encontrar alguém que vire o mundo dele de cabeça pra baixo. Mas até lá, ele vai só curtindo a vida, sem compromisso, sem envolvimento. E tá tudo bem também, né? Cada um no seu ritmo.
Mas hoje não é dia de ficar filosofando sobre os dramas de cada um deles. Hoje é dia de baile! E quando eu cheguei lá, irmão, já sabia que o bagulho ia ser louco. Os moleques já tavam no pique, soltaram o hino do comando logo de cara, e aí não teve jeito: geral já começou a ficar frenético. Os fuzil na mão, os moleque jogando o armamento pro alto, gritando, comemorando. Porr@, o baile de favela aqui é outro nível. Quem vê de fora até estranha, mas aqui, mano, a gente vive desse jeito, é a nossa festa, nosso território. A rua virou pista de dança, e o som das batidas faz o chão tremer. As mina rebolando até o chão, os cara boladão no canto, mas todo mundo no clima.
Teve Salva de tiros, teve lança pra todo lado, uma treta aqui, outra ali, Beatriz botando Ordem no Camarote, BN enche o Camarote de püta, Bia bota tudo pra Correr.
Eu só observo, mano. Orgulho? Porr@, nem sei se é isso que eu sinto, mas é føda ver as minhas crias vivendo o mundo do jeito deles. Oliver, Bia, Breno... cada um no seu ritmo, mas todos dentro do caos que é essa vida. Eu rio, porque, no fundo, essa é a nossa essência.
— O que foi pai? — O Bruninho perguntou, olhando pra pista, para onde meus olhos estavam grudados.
— Nada Filho! Só estou vendo a galera se jogando — Respondi, mas na verdade eu tava de Olho em um morena que nunca vi aqui na quebrada, quem é ela?