O Baile é só o Começo

1052 Words
Camila Narrando Cheguei no Brasil depois de um vôo cansativo e, honestamente, a única coisa que eu queria era uma cama. Mas antes de pensar nisso, segui direto para o apartamento da Cecília. Minha irmã sempre foi meu porto seguro, e eu sabia que ela estaria me esperando com aquele sorriso enorme. Mesmo assim, eu já tenho em mente que não ficarei muito tempo por lá. Não quero ser um peso, e também não quero interferir na privacidade dela com o André. Eles formam um casal tão lindo, e ele sempre foi tão querido comigo, mas um casal precisa do seu espaço. Eu vou ficar alguns dias, ajeitar minhas coisas, descansar um pouco, e depois vejo pra onde vou. Assim que a porta do apartamento se abre, Cecília me abraça apertado. É aquele tipo de abraço que só a gente consegue dar uma na outra, cheio de saudade e emoção. A gente não se via há meses, e ao sentir o calor do corpo dela, toda a distância se esvaiu. "Finalmente em casa", pensei. Ela me aperta mais forte e sinto o choro subir. Engoli o nó na garganta, mas as lágrimas dela já escorriam. — Cami! Você voltou! — ela disse, quase sem fôlego. Eu ri, sentindo a emoção transbordar em mim. Então, sem pensar muito, me ajoelho diante dela, olhando para aquela barriguinha que já começava a despontar. Essa era uma das razões que me trouxeram de volta. Coloquei as mãos no ventre dela e beijei com carinho. — Que você venha com muita saúde, meu anjinho. Amado você já é, e posso te garantir, vai ser muito mimado também — falei, com o coração cheio de amor pelo meu sobrinho ou sobrinha. Cecília riu e bagunçou meu cabelo. — Ele vai ter a tia mais coruja do mundo, pelo visto. Levantei e a abracei de novo. Não havia nada mais importante para mim naquele momento do que ela e esse bebê. Depois de um banho rápido para lavar a poeira do aeroporto, nos sentamos para almoçar. Cecília sempre capricha nas refeições. Mesmo simples, o arroz com feijão dela me dava a sensação de lar, algo que eu não sentia há muito tempo. — E o Endrick? — Cecília perguntou, de repente, quebrando a leveza da conversa. Senti um frio na espinha ao ouvir aquele nome. Já faz tempo que eu tento tirar ele da minha cabeça, mas parece que o universo insisti em trazê-lo de volta. Suspirei fundo antes de responder. — Nós não temos mais nada, Cissa — Falei num tom mais sério do que pretendia. — Acabou. Ela me olhou com uma mistura de preocupação e compreensão. Cecília sempre foi a mais sensível entre nós duas. Sabia quando algo me incomodava, mesmo que eu tentasse disfarçar. — Sabe, Camila, eu fico preocupada com você. Esse negócio de vingança, de mexer com o passado, já não deu o que tinha que dar? Já se passou tanto tempo, minha irmã desapega, Esquece isso. Por favor. Fiquei um tempo em silêncio, mexendo na comida no prato, sem saber ao certo como explicar. Cecília sempre quis me ver longe de toda essa história, mas o que ela não entende é que eu não posso simplesmente ignorar o que aconteceu com nossa família. — Cecília, eu não estudei à toa. Não me formei em Direito só pra seguir a vida de boa, como se nada tivesse acontecido. Eu já me inscrevi pro concurso, e vou passar. — Deixei a voz firme, sem titubear. — Quero ser desembargadora, ou até promotora, aqui no Rio. E vou pegar o Tártaro. Ele vai pagar por tudo que fez à nossa família, vou usar de toda a minha influência para acabar com a vida dele. Cecília colocou o garfo de lado, me encarando com uma expressão de pura preocupação. Ela sempre foi a pacificadora, e ver a sede de justiça nos meus olhos, eu sabia que a assustava. — O Tártaro é um dos bandidos mais perigosos do país, Camila. Ele tá na lista dos sociopatas mais procurados, você sabe disso, né? Dei um sorriso cínico. Aquela era a resposta que eu já esperava. — Se ele é um sociopata, então eu sou mais ainda — falei com um sorriso frio no rosto. — Não se preocupa comigo, eu sei o que tô fazendo. Não tenho medo, relaxa Cissa, vai dar tudo certo. Ela suspirou e me abraçou de novo, como se tentasse me proteger de algo invisível. E, quem sabe, ela até estava tentando. Mas já era tarde demais. Eu estou envolvida nessa história até o pescoço, e não vou recuar agora. Pedi licença e fui deitar um pouco. Depois de um voo longo como aquele, tudo o que eu precisava era descansar. Me joguei na cama e fechei os olhos por alguns minutos, até que meu celular vibrou na mesa ao lado. Era uma mensagem. O nome que apareceu na tela me fez respirar fundo. Endrick. Eu nem precisava abrir a mensagem pra saber o que ele queria. Ele escreveu que vai voltar para o Brasil ainda essa semana. Revirei os olhos, apaguei a mensagem e, sem hesitar, bloqueei o número. Nem me dei o trabalho de responder. Não quero, não preciso, e não devo mais nada a ele. Ele foi um capítulo que eu fechei e não tem mais volta, mas parece que ele ainda não entendeu. Mandei mensagem para alguns amigos, avisando que cheguei no Brasil. E Quero me encontrar com eles. Adormeci logo em seguida, e quando acordei, a primeira coisa que fiz foi checar o celular de novo. Desta vez, era uma mensagem de uma velha amiga da faculdade, daquelas que você mantém contato mesmo depois de anos. Ela trabalha na promotoria do Rio de Janeiro, e conhece toda a minha história. “Vai ter um baile na Rocinha, achei que você ia gostar de saber" Senti um sorriso se formar no meu rosto. Essa é a oportunidade que tenho de ver Tártaro pessoalmente pela primeira vez. “Com certeza. Adorei saber" Eu sabia que minha volta ao Rio não seria tranquila, mas também não tinha vindo em busca de paz. Eu estou aqui para acertar contas, e o baile é só o começo, vamos começar brincando de seduzir. Vamos ver até Onde passarei despercebida pelo Famoso Rei do Caos.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD