O Chefe quer tudo

1396 Words
Camila Narrando Assim que a gente entrou na casa da Ludmilla, eu senti um peso cair nos meus ombros. A Lud fechou a porta atrás da gente, e Fomos direto pro quarto, sem dizer uma palavra. Me sentei na cama, nervosa, o coração batendo tão rápido que parecia que ia sair pela boca. Sentei ali, tentando organizar os pensamentos, mas era impossível. — O que aconteceu, Camila? — ela perguntou, se aproximando de mim. Eu respirei fundo, sentindo o peito apertado. Aquele era o tipo de coisa que a gente sempre temia, mas nunca tava preparada pra enfrentar. Olhei pra ela, as palavras saindo aos trancos e barrancos. — Eu e o Cássio trocamos tiros com os bandïdos. Tô achando que foi armação do Tártaro. O rosto da Ludmilla mudou na hora. A preocupação virou pânico. — Cadê o Cássio? — ela perguntou, com a voz tremendo, o corpo inteiro tenso como se esperasse o pïor. — Tá com os capangas do Tártaro. Ela congelou, os olhos arregalados de puro desespero. A voz dela quase não saiu quando falou: — Cássio vai morrer, Camila. Ele vai morrer... Eu não consegui deixar ela pensar isso. Não podia deixar o medo consumir ela desse jeito. Pulei da cama, segurei a mão dela e puxei ela pra perto, abraçando ela forte. Senti o corpo dela tremendo nos meus braços, mas tentei passar toda a segurança que eu mesma não sentia. — Ele não vai morrer, Lud. Eu vou dar um jeito. Eu juro pra você que vou dar um jeito nessa situação. Por mais que eu dissesse isso, lá no fundo, eu sabia que tava falando mais pra mim mesma do que pra ela. Mas eu precisava acreditar que tinha como sair dessa. Ludmilla me soltou, mas o olhar dela continuava carregado de medo, confuso. E foi aí que eu resolvi falar o que tava me corroendo por dentro. Fechei os olhos por um segundo, sentindo a culpa pesar. — Lud... Eu e o Tártaro... A gente se beijou. Ela me olhou surpresa, mas não disse nada. Talvez ela não soubesse o que falar. — Quase... Quase transämos— continuei, minha voz baixando à medida que as palavras saíam. — Eu ainda gozei pra ele. Só de lembrar, eu sentia a mesma sensação que tive nos braços dele, como se o corpo todo ainda estivesse preso naquele momento. Fechei os olhos de novo, tentando afastar aquele sentimento, mas era difícil. A culpa e o prazer se misturavam de um jeito confuso. Senti a Ludmilla ficar tensa de novo ao meu lado, e quando abri os olhos, o rosto dela era uma mistura de incredulidade e raiva. — O que você tá falando, Camila? — ela perguntou, a voz dela mais baixa, como se tivesse medo de ouvir a resposta. Eu respirei fundo, sem saber como explicar. Como eu podia justificar o que aconteceu? — Eu não sei, Lud. Só aconteceu. Foi rápido, intenso, E agora eu tô aqui, presa nessa situação. Eu preciso resolver isso, mas eu também preciso entender o que está acontecendo comigo. Ludmilla deu um passo pra trás, cruzando os braços, visivelmente em choque. Mas, apesar do que eu esperava, ela não me julgou naquele momento. — E o que você vai fazer agora? — ela perguntou. — Vou dar um jeito no Tártaro. Vou trazer o Cássio de volta. Eu não sabia como. Não tinha um plano. Mas uma coisa é certa: eu não ia deixar o Tártaro matar o Cássio, eu não posso deixar ele pagar uma conta que pertence a mim. Saí do banho me sentindo um pouco mais leve, mas não conseguia evitar aquela pontada de arrependimento. Fechei os olhos, tentando respirar fundo e me acalmar, mas uma lágrima escapou antes que eu pudesse controlar. A verdade é que eu não devia ter deixado acontecer. Eu e o Tártaro. Como eu fui deixar isso rolar? Só de pensar, meu estômago revirava, e o peso da culpa parecia aumentar. Queria poder apagar essa noite, fazer de conta que nunca tinha acontecido. É como se uma parte de mim estivesse em guerra. O que eu estou pensando? Passei a mão pelo rosto, afastando os fios de cabelo molhado. Eu não estava pensando, essa é a verdade. Agora, é tarde demais pra voltar atrás. Só resta encarar as consequências. Pedi desculpas ao meu tio em pensamento. Ele sempre confiou em mim, sempre me tratou com respeito, e eu tinha feito uma besteira monumental. Não só com o Tártaro, mas comigo mesma. Meus pensamentos pareciam um turbilhão, e quanto mais eu tentava parar de pensar, mais as lembranças da noite passada vinham à tona, o toque, o beijo, o cheiro, de longe Tártaro foi o melhor beijo e o melhor Orgäsmo da minha vida. Suspirei pesado e terminei de vestir o short e a blusa do pijama que a Lud tinha me emprestado. Quando finalmente saí do banheiro, eu estava exausta. Não era só cansaço físico, era mental. Eu me sentia drenada, como se estivesse carregando um peso que não sabia como tirar de cima de mim. Sentei na cama, ao lado da Ludmilla, que estava distraída mexendo no notebook. Ela parecia concentrada, os olhos fixos na tela. — O celular do Cássio tá no carro — ela disse, sem nem desviar o olhar da tela. — Vou buscar. Mas antes que eu pudesse me mover, Ludmilla finalmente olhou para mim, largando o notebook no colo e me encarando com uma expressão séria. — Só vai quando amanhecer — ela pediu, quase em um sussurro. Assenti com a cabeça, tentando manter a calma. Não adiantava sair agora, no meio da noite, sem visibilidade e com uma sensação estranha de que algo estava para acontecer. Melhor esperar o sol nascer. Ludmilla voltou a mexer no notebook, mas não demorou muito até que ela fechasse a tela e suspirasse. — Camila, Você e o Cássio ficaram? Olhei para ela surpresa. A pergunta me pegou de surpresa, Respirei fundo antes de responder, porque a última coisa que eu queria era magoar minha amiga. — Não, Lud. Jamais ficaria com ele sabendo que você gosta dele. É a mais pura verdade. Desde o começo eu sabia dos sentimentos da Ludmilla pelo Cássio, e por mais que ele tivesse dado em cima de mim algumas vezes, eu nunca faria nada que machucasse minha amiga. Não é minha vibe quebrar a confiança de alguém que amo. Só que, por dentro, eu lembrei das vezes em que o Cássio flertou comigo, das indiretas, dos olhares demorados. Mas guardei isso para mim. Não ia falar nada. Ludmilla não merece essa dor agora. Ela já estava suficientemente abalada. Ela olhou para mim com um sorriso aliviado, mas o olhar ainda carregava um peso. Eu sabia que a cabeça dela estava a mil, mas, naquele momento, o que ela precisava era de distração. Ficamos conversando, e eu acabei contando sobre o que aconteceu mais cedo, como o Cássio tinha se escondido de um jeito completamente idïota. Ludmilla riu alto. A Lud dormiu, Fiquei ali, deitada. Não consegui dormir. Minha cabeça estava cheia. Peguei o celular de Ludmilla de leve, tentando não fazer barulho, e vi que já eram cinco horas da manhã. O céu lá fora começava a clarear, Levantei devagar, tentando não acordá-la. Peguei a chave do carro que estava em cima da cômoda e fui em direção à porta. O ar frio da madrugada me arrepiou quando saí de casa e fui até o carro. O silêncio era quase ensurdecedor, e tudo parecia mais quieto do que o normal. Caminhei devagar até o carro, abrindo a porta do motorista com cuidado. O celular do Cássio estava no porta-luvas. Peguei o aparelho. Mas, de repente, antes que eu pudesse reagir, senti algo encostar nas minhas costelas. O frio do metal era inconfundível. Meu corpo congelou no mesmo instante, e o coração disparou. Uma voz baixa e ameaçadora surgiu atrás de mim. – Quietinha, você vem comigo. Meu corpo inteiro ficou em alerta. Sabia que era uma arma, tentei me manter calma. Respirei fundo, sem fazer movimentos bruscos. Se eu fizesse qualquer coisa errada, aquilo poderia acabar mäl. Engoli em seco, tentando pensar em uma forma de sair daquela situação. — O que você quer? — perguntei. — Eu, nada. Já o meu chefe, pela naipe, ele quer tudo. Já sei quem mandou fazer essa palhaçada.
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