Jogando até o Fim

1531 Words
Camila Narrando Colocaram o capuz na minha cabeça com pressa e brutalidade. Senti as mãos ásperas dos caras me empurrando em direção a um carro. Não me deram tempo nem de reagir ou pensar, já estavam me jogando lá dentro. O carro arrancou em alta velocidade, e eu senti o corpo ser jogado para trás com a força da arrancada. Ouvi a voz de Tártaro pelo rádio, grave e autoritária como sempre. "Tragam ela direto pra sede" ele disse, e aquilo ecoou pela minha mente durante o caminho todo. A voz dele que é mais parece um rosnado, é inconfundível. Por algum motivo, eu não sentia medo. Era engraçado até, pensar que eu deveria estar apavorada, tremendo, ou coisa assim. Mas não. Não tinha medo. Só conseguia pensar em uma coisa: "Será que ainda dá tempo de salvar o Cássio?" Essa era a única preocupação que martelava na minha cabeça. O resto, o que viesse, eu ia resolver. Quando o carro parou de repente, senti o tranco e a porta do carro se abriu de imediato. Me puxaram para fora com a mesma pressa que me jogaram pra dentro. Senti as mãos firmes de um dos capangas me empurrando de novo. Então, arrancaram o capuz da minha cabeça. Pisquei algumas vezes, ajustando a vista à luz fraca ao redor. Eu estava em frente à sede do Comando Vermelho. Não era minha primeira vez ali, mas fazia tanto tempo que parecia uma eternidade. Dois caras me escoltavam: um na frente, abrindo caminho, e outro atrás, garantindo que eu não fosse a lugar algum. Acompanhei em silêncio, observando tudo ao redor. A fachada do lugar era simples, mas era dentro que as coisas realmente aconteciam. A porta de madeira rangia alto quando se abriu. Dei o primeiro passo para dentro e me deparei com Tártaro, sentado atrás da mesa, como se fosse o rei de tudo aquilo. E, bem, ele é. Ele olhou para mim, e, sem falar nada, fez um sinal para os dois capangas saírem. Eles obedeceram na hora, fechando a porta atrás de mim. Eu permaneci parada no mesmo lugar, olhando para ele. Tártaro era… bom, lindo demais. Alto, forte, cheio de tatuagens que contavam histórias que eu provavelmente nem queria saber. Senti um frio no estômago, mas rapidamente dei um jeito de me controlar. "Não é hora pra isso, Camila", eu pensei comigo mesma. — O que você quer? — perguntei, tentando soar casual, mas o sorriso que se formou nos meus lábios me denunciou. — Outro toco, talvez? Ele não respondeu de imediato. Se levantou da cadeira e veio caminhando em minha direção. Cada passo parecia pesar toneladas na atmosfera ao nosso redor. Eu fiquei onde estava, encarando ele, sem mover um músculo. Quando ele chegou perto o suficiente, senti o cheiro forte do perfume dele, e o som da porta sendo trancada com a chave, me fez perceber que ele estava totalmente no controle da situação. Sua respiração quente chegou no meu pescoço, fazendo um arrepio instantâneo percorrer o meu corpo todo. Minha pele parecia sensível, sentindo cada movimento dele tão perto. — Eu quero saber — ele começou, a voz baixa e rouca. — Que merda de roupa é essa que tu tá vestindo. Eu segui o olhar dele, que agora estava preso no meu pijama. Um shorts curto, folgadinho, e uma camiseta que mäl cobria minha barriga, marcando os meus s***s. Senti meu rosto esquentar, mas não por vergonha. Virei para ele, encarando-o com um sorriso malicioso. — Gostou? — provoquei, mantendo a voz o mais segura possível. Os olhos dele queimaram sobre mim, e antes que eu pudesse reagir, Tártaro avançou. Suas mãos grandes seguraram meu pescoço, mas não de um jeito ameaçador. Era firme, dominador, e ao mesmo tempo eletrizante. Ele me empurrou contra a porta, me prensando ali, e antes que eu pudesse processar o que estava acontecendo, sua boca encontrou a minha com uma intensidade que quase me derrubou. Eu deveria ter resistido, deveria ter dito algo, empurrado ele de volta. Mas não consegui. Meu corpo, traidor miserável, cedeu de imediato. Cada célula minha implorava pelo toque dele, como se fosse algo que eu estivesse esperando há muito tempo. O beijo foi bruto, urgente, e eu retribuí com a mesma fome. Minhas mãos se agarraram ao seu pescoço, puxando ele para mais perto, como se o espaço entre nós fosse insuportável. Sentia o calor do corpo dele se misturar com o meu, o peito forte contra o meu, e o mundo ao nosso redor parecia ter sumido. Não havia mais Tártaro, chefe do Comando Vermelho. Não havia mais a sede, a porta trancada, o perigo. Era só eu e ele, naquele momento. Quando ele finalmente se afastou um pouco, com a respiração acelerada, seus olhos continuaram cravados nos meus. Eu ainda estava ofegante, tentando recuperar o fôlego, mas sem arrependimento algum. — E agora? — murmurei, a voz mais suave do que eu esperava. Ele não respondeu, mas o olhar dizia tudo. Tártaro me mandou sentar, apontando com o queixo para uma cadeira. Não hesitei. Meu corpo estava tenso, meu coração batia tão forte que parecia que ele podia ouvir. Me sentei e, antes que pudesse pensar duas vezes, perguntei: — Onde está o Cássio? Ele não respondeu de imediato. Ficou me olhando como se estivesse me analisando, tentando decifrar cada movimento meu, cada respiração. Eu sabia que estava num jogo perigoso, e qualquer deslize poderia ser fatal, mas isso não me amedronta, só me instiga. — Primeiro tu vai me dizer o que eu quero saber — Ele falou e se calou. O silêncio pesava no ar, como se cada segundo fosse uma eternidade. Ele deu mais um passo à frente, os olhos fixos nos meus. — Como tu descobriu o meu nome? Eu tinha que manter a calma. Sabia que estava entrando em terreno minado, mas não podia parar agora. Cássio estava em algum lugar, e eu preciso encontrá-lo. — Onde está o Cássio? — perguntei de novo, ignorando sua pergunta. Tártaro franziu a testa, irritado com a minha insistência. Ele deu mais um passo em minha direção e, de repente, o clima mudou. Seu rosto endureceu, e a máscara de calma que ele tinha até agora desapareceu. — Responde quando eu perguntar! — ele gritou, a voz ressoando como um latido rouco nas paredes do lugar. — Você é polícia? Meu corpo inteiro se arrepiou. A maneira como ele me olhava, como se estivesse prestes a me devorar, me deixava petrificada. Por um segundo, pensei que ele fosse me pegar pela garganta, me esmagar com aquelas mãos enormes. — Não, eu não sou polícia — respondi rapidamente, tentando manter a voz estável. — Então o que você é? — Ele cruzou os braços, esperando alguma coisa. Sabia que qualquer palavra errada agora poderia desencadear algo ainda pior. — Eu estudei Direito — comecei a falar. — Sou advogada. Mas nunca atuei aqui no Brasil. Ele estreitou os olhos, desconfiado. — E onde você atuou então? Engoli seco, sabendo que precisava dar a resposta certa. — Na Flórida. Trabalhei com meu ex por lá. A expressão de Tártaro mudou instantaneamente. Era como se uma bomba tivesse explodido na cabeça dele. Ele deu um passo para trás, como se precisasse de espaço para processar o que eu tinha acabado de dizer. Seu rosto se contorceu de raiva. — Quem é o seu ex? — perguntou, agora completamente fora de si, a voz tremendo de ódio. Pude ver as veias saltarem em seu pescoço, o maxilar travado, os punhos cerrados. Ele parecia prestes a explodir, e eu estava ali, sentada, sem saída. Sabia que não podia dar mais nenhuma informação que o inflamasse ainda mais, mas, ao mesmo tempo, não podia deixar de responder. Precisava jogar com cuidado. — Isso não importa agora — tentei desviar, mas a raiva nos olhos dele era como uma chama que não ia apagar tão cedo. — Importa sim! Quem é o seu ex, Camila? — ele gritou, batendo a mão na mesa ao lado, como se isso fosse me obrigar a responder. Eu não queria falar. Sabia que, se eu desse qualquer nome, isso poderia piorar as coisas de uma maneira que eu ainda não conseguia prever. Mas ao mesmo tempo, me recusar a responder poderia fazer com que Tártaro perdesse o pouco controle que ainda tinha sobre si mesmo. Mas não entendi o que interessava a ele, o nome do meu ex namorado. — Ele... Ele não tem nada a ver com isso — disse, tentando manter a calma, mas minha voz vacilou. Tártaro olhou para mim como se fosse explodir a qualquer momento. Os olhos dele, antes frios e calculistas, agora estavam cheios de fúria. Ele estava fora de controle, e eu não sabia o que faria em seguida. — Camila, você não entende em que encrenca se meteu. Me diz logo quem é esse desgraçado! — Ele estava praticamente berrando agora, completamente tomado pela raiva. Eu sei que estou em apuros, sei que qualquer palavra minha pode ser o estopim de algo pior. Mas eu também sei que, para sair daqui com vida, terei que jogar esse jogo até o fim.
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