Capítulo 5

1808 Words
Anne Derek me deixou ir embora depois do jantar, deixar era uma palavra forte porque ele não mandava em mim e eu iria embora de qualquer forma. Ele pediu para que um motorista me levasse para casa em segurança, essa era a única condição para me deixar sair sozinha essa hora da noite. Ele havia ficado frio e sério de repente, isso aconteceu depois da nossa conversa, era como se o homem quisesse me evitar. Foi a conversa mais estranha que já tive com um desconhecido na vida e estava desconfortável também. Um mafioso estava me comparando a sua mãe morta, isso não era algo que acontecia todos os dias ou fazia algum sentido. Me pergunto se ele ainda tem família, ou se não tem mais nada por isso se enfiou nesse mundo do crime. Porque não tinha ninguém o esperando em casa, porque já tinha perdido tudo e não tinha medo de nada. Penso nos meus irmãos, tenho 2 menores, filhos de vários pais diferentes e vivem com as avós porque a minha mãe não tem condições de criá-los, não temos muita proximidade, mas imagino o trauma que isso o trará ao crescer. Pensarão que foram abandonados pelos pais, que estão sozinhos. A vida começa a ensinar a sobreviver desde cedo, porque ela é c***l e dura. Quando o motorista me deixou em casa, se é que poderia chamar aquilo de casa, eu apenas me tranquei no quarto e observei a noite passar pela janela. Tristeza de alastrava em meu corpo. Me perguntava o que estava fazendo da minha vida e se o melhor seria deixar aquela boate. Deveria me afastar daquelas pessoas, daquele caminho perigoso e continuar o trabalho na lanchonete. Era honesto e seguro porque mesmo que eu não tivesse ninguém me esperando em casa, eu tinha alguém para cuidar e que precisava de mim. — O que há com você hoje menina? — Theo reclamou quando derrubei uma bandeja. — Desculpa, eu vou limpar. Corri para a dispensa onde peguei um pano de chão e comecei a limpar a sujeira que fiz. Havia quebrado uma xícara. Pela noite de sono m*l dormida acabei por estar aérea hoje, e me amaldiçoava por isso. Trabalhar naquele lugar já era irritante, ainda mais se estivesse perturbada. Limpei minha bagunça e fui acalmar um Senhor que estava bravo pelo seu sanduíche ter ido com pouca carne. Meu uniforme estava sujo e eu já estava estressada em pouco tempo de trabalho. Quando finalmente tirei um tempinho para respirar a porta se abre e Joseph entra na lanchonete, com as mãos no bolso da calça escura. Ele parou no meio da lanchonete buscando algo com o olhar e quando me encontrou veio até mim. Não estava gostando dessas pessoas virem ao meu local de trabalho. — Vamos dar uma volta. — O que? — Eu disse vamos dar uma volta. — Não vou a lugar nenhum com você e estou trabalhando. — Seu patrão não vai se importar se você sair alguns minutos. — É claro que ele se importa. — retruquei me irritando com sua ousadia. Se Derek tiver mandando esse cara aqui ele irá me ouvir muito. Joseph sorriu e caminhou até o balcão onde estava Theo. Eles trocaram algumas palavras e o cara tirou do bolso algumas notas de dinheiro. Observei inconformada meu chefe sorrir e confirmar alguma coisa para ele. Joseph voltou até mim com um olhar orgulhoso de vitória que detestei. Essas pessoas achavam que podiam resolver tudo com dinheiro? — Acho que nós vamos dar uma volta. Olhei para Theo e ele abanou a mão pedindo para eu dar o fora dali. Pelo seu olhar, se eu não seguisse Joseph eu estaria bem encrencada. Respirei fundo tirando o avental sujo e o bati contra o balcão antes de sair da lanchonete com o homem atrás de mim. m*l o conhecia e já estava o detestando, ele era da mesma laia que Derek. — O que você quer? Caso não saiba preciso trabalhar. Tem gente que precisa lutar para conseguir as coisas. — não me preocupei em ser irônica demais. Parei na calçada e me virei para ele com os braços cruzados. Fazendo questão de mostrar que não estava para brincadeiras e muito menos interessada em seja lá o que for que ele queira me dizer. — Por acaso está insinuando que eu não luto para ter o que quero? Acha que sou um vagabundo? Agora você realmente me ofendeu gracinha. — Joseph disse tranquilo enquanto tirava uma carteira de cigarro do bolso. Observei acender um dos cigarros e me oferecer um. Bufei revirando os olhos, e ele sorriu me analisando com malícia e diversão. — Você é uma coisinha brava. Derek gosta de você. — apontou o dedo para mim. Odiava quando me chamavam de algo que não fosse meu nome, ainda mais quando faziam suposições ridículas. — Azar o dele. O que você quer? — Que continue fazendo o que está fazendo. — O que estou fazendo? — Fazendo um cara odioso se interessar por uma mulher. Agora ele estava brincando com a minha cara. — Ele é gay? — Com certeza não. — Então imagino que tenha uma fila de mulheres. — Não uma, mas várias filas. — Claro. — Mas nenhuma dessas filas foi interessante para ele até agora. — Não serei eu a ser interessante, seu amigo é um doente. — retruquei abismada. Ele acha mesmo que vou cair na conversa de que o cara m*l ira se apaixonar por mim e vou transforma-lo em um príncipe. Pessoas não transformam pessoas, uma mulher não muda um homem. A mudança é pessoal e vem de dentro, a mudança precisa vir se você e por você ou nada fará sentido. Mas a questão principal aqui era que Derek m*l me conhecia e se dependesse de mim as coisas continuariam assim. — Derek raramente é um doente fodido, mas deve haver alguma esperança. — E não será encontrada em mim, se ele precisa de ajuda, que procure um psiquiatra. — lhe dei as costas, voltando para a lanchonete. Estava encabulada com a loucura dessas pessoas. Não irei deixar que me usem ou brinquem comigo. (...) O dia foi cansativo. Tive que limpar a lanchonete no fim do expediente. Theo não se importava em me fazer trabalhar como escrava. Como não iria na boate hoje aproveitei para fazer hora extra e limpar todo local. Depois da noite de tiros ontem acho difícil alguém querer voltar para aquele lugar tão cedo. Eu mesma pensaria bem, antes de voltar lá porque tinha amor à minha vida. Suspirei me abaixando para limpar o resto da sujeira do chão. Estava acabada, mas continuava firme até tudo estar limpo. Se eu não liberasse esse lugar viraria um chiqueiro e nenhum cliente voltaria aqui. E se não viesse cliente não tinha trabalho ou dinheiro para mim. Theo deveria aumentar meu salário, e depois do dinheiro gordo que ganhou hoje de Joseph deveria me dar uma recompensa. — É a segunda vez que aquele cara vem aqui, dessa vez veio sozinho e cheio de grana. Você tá dando pro riquinho garota? Theo me assustou ao parar atrás de mim. Me levantei segurando o pano de chão, limpando o suor do meu rosto. Ele estava no batente do corredor que ligava as escadas para o andar de cima. Seu olhar era avaliador sobre mim toda. Não entendia o que ele estava tentando dizer, mas não gostei da sua insinuação e tom de voz. Me pergunto a quanto tempo estava ali me observando. — Não os conheço. — resmunguei e ele gargalhou. — Claro que conhece. Deveria dividir a grana comigo. O deboche em sua voz me deu nojo. — Não tem grana. — retruquei. Agora estaria mais preocupada em esconder o meu dinheiro. Theo tinha se mostrado uma pessoa gananciosa que faria de tudo por dinheiro. Eu deveria tomar cuidado com esse cara de agora em diante. — Acha que sou burro garota? Sei quem aqueles caras são, a máfia, eles tem dinheiro e se você está envolvida com eles, você também tem dinheiro. — E o que isso é da sua conta? — Você é minha funcionária e mora na minha casa, me deve satisfação. Pra onde vai todas as noites? Sai com eles? — A acusação em sua voz me deixou irritada. Quem ele pensa que é pra falar comigo dessa forma? Como se eu fosse uma propriedade sua. Sei que sou sua funcionária, mas minha vida pessoal não lhe interessa. Theo deveria respeitar meu espaço e não falar comigo como se fosse uma qualquer. — Minha vida não diz respeito a você. — passei por ele a passos pesados guardando os produtos de limpeza atrás do balcão. Estava tarde e eu cansada demais para ficar discutindo com o patrão. Não precisava perder mais um emprego, porque era isso que aconteceria se eu continuasse a falar. Subi as escadas apressada e me tranquei no quarto certificando de colocar um móvel em frente à porta. Theo estava estranho e eu não confiava nem ao menos na minha própria sombra agora. Tirei as roupas a jogando pelo chão e entrei no banheiro pequeno, suspirando em baixo da ducha fria. Aquele era o único momento do dia em que eu pensava em tudo, todo o rumo que minha vida estava tomando e como seria o futuro. O que a vida esperava por mim? O que o futuro me guardava? As coisas tinham sido muito difíceis desde que cheguei nessa cidade. Mas eu era forte e poderia passar por tudo isso. Quando finalmente consegui meu descanso, acordei no meio da madrugada com o barulho da porta tentando ser aberta. A pessoa estava forçando do outro lado com baques fortes. Me levantei apressada olhando para a janela fechada. Era muito alto e não tinha pra onde ir ou com o que me defender. Engoli em seco entrando no banheiro a procura de alguma coisa, mas só havia uma toalha e escova de dente. Suspirei passando a mão pelos cabelos e encontrei um escovão de limpeza. O peguei caminhando de volta para o quarto e abri a janela. A pessoa continuava a esmurrar a porta e pela voz embriagada era Theo. Ele faria tudo por dinheiro e já havia deixado claro isso. Depois da nossa conversa de hoje não duvido da sua capacidade de fazer algum m*l a mim. Respirei fundo olhando as ruas escuras e vazias lá embaixo, sentindo o vento frio da madrugada bater em meu rosto e a porta do quarto prestes a arrebentar pelas pancadas que estavam cada vez mais fortes. Teria que tomar uma decisão e sairia prejudicada em qualquer atitude que tomar agora. Ninguém vai me machucar, eu não vou deixar. Foram com esses pensamentos que eu passei as pernas pela janela ficando sentada no parapeito e pulei noite adentro.
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