Luz da Escuridão

1195 Words
No final havíamos comido três fatias de bolo cada, o bolo era pequeno então deu para que cada uma comesse o suficiente. Eu não escolheria pessoas melhores para estar ao meu lado, elas são as melhores. Emocionada acabei chorando ali, junto a elas, enquanto as lágrimas rolavam eu sentia queimar dentro de mim o sentimento de gratidão, eu nunca vou esquecer o que essas únicas três pessoas nessa ilha inteira fizeram por mim. Passei o dia ali, no refeitório conversando com Alice, Marta e a irmã Izabel. Posso dizer que depois do que eu passei meu coração agora estava mais leve, a felicidade se fez presente mesmo que fosse durar pouco naquele orfanato de freiras. — Meninas, o toque de recolher é daqui a vinte minutos, não se esqueçam. - comunicou irmã Izabel. — Já? mas a conversa está tão boa! - Disse Marta. — Só mais cinco minutos ? - Pediu Alice. — Sinto muito meninas, desobediências geram consequências. - Afirmou irmã Izabel. Neste momento, a imagem do porão e das sufocantes chicotadas retornaram à minha mente, eu não queria passar por isso nunca mais, também não queria expor Alice a isso. — irmã Izabel está certa, teremos mais momentos para conversar e dar boas risadas. - Eu afirmei com um leve sorriso enquanto me levantava. Alice e eu nos levantamos para guiar marcia até o portão deixando a irmã Izabel na cozinha, ao chegarmos no portão marcia me entregou um presente, estava embrulhado em papel prata, o que era carinhoso da parte dela, a abracei fortemente segurando os braços dela para que ela não tivesse chance de retribuir e acabar roçando em minhas costas feridas pelos chicotes das freiras. Quando soltei Márcia, ela caminhou para fora do portão acenando para Alice e eu. Eu abri o envelope de presente prateado e nele continha um colar com uma pedra quase transparente, mas ainda sim rosada. — Acho melhor guardar isso, é uma coisa diferente para as freiras e tudo o que é diferente tem envolvimento com o demônio, na cabeça delas. -Alice pôs a mão em meu ombro. Guardei o colar novamente no envelope prateado e seguimos para o quarto. Para evitar que alguém o visse guardei o envelope dentro de meu soutien enquanto entrava novamente no orfanato. Subimos até os quartos, Alice se deitou na cama dela e eu deitei de barriga para baixo na minha cama. O toque de recolher soou uns minutos depois, mas assim que ele tocou uma freira entrou no quarto. — Elena. - Chamou ela me olhando. — Sim? - Eu disse levantando com cuidado. — Você não toma jeito, quantas vezes falamos sobre deitar de bruços? - Disse ela me repreendendo. — Desculpe, é que minha costas estão doendo e eu não consigo deitar normal. - Tentei explicar. — Levante-se, agora. - Disse a freira. Assim o fiz, a freira pegou no meu antebraço e começou a me arrastar para fora do quarto, minha cabeça começou a dar voltas em perguntas como: "onde ela está me levando?", "Será que vou apanhar de novo?". Meu coração acelerou quando entramos no corredor principal, a aflição era perceptível em meu olhar, meus olhos estavam arregalados, mas um grande alívio me atingiu quando passamos pela escada do porão e não adentramos nela, mas uma nova onda de perguntas me atingiu: "ela está me levando para fora?", "eu estou sendo expulsa?", "O que vai acontecer comigo?". Passamos pelo portão e do lado de fora, avistei outras freiras, algumas estavam com lanternas, outras cordas e outras com bíblias. — O que vão fazer comigo? vão me bater com as cordas? por favor! eu não vou aguentar sentir mais dor, por favor! — Cale-se garota. - Disse a freira que estava segurando meu braço. Elas me puxaram pela lateral da ilha próximo ao mar, segurei a respiração quando me levaram a adentrar a floresta, lá me seguraram de costas à uma árvore, fechei meus olhos com força soltando um grito de dor, por conta da dor referente às feridas que agora estava rente a superfície do tronco da árvore, tampada apenas por um fino pano que era meu vestido. Logo, elas me amarraram usando das cordas que antes haviam em mãos. Com dor em minhas feridas e com medo em meu coração, fechei meus olhos enquanto meu coração se enchia de aflição, fechei meus olhos e sentí as lágrimas quentes rolarem por meu rosto. — Que Deus tenha piedade de sua alma, pecadora infame. - Desejou uma das freiras. Ao abrir meus olhos pude reparar que elas estavam saindo de uma a uma. — Para onde vocês estão indo? Por favor! me tira daqui! me solte! por favor! Respirei fundo tentando acalmar meus batimentos cardíacos. — Está tudo bem, vou ficar bem, elas só querem me assustar, elas vão voltar, isso aqui é um castigo. - Falei para mim mesma, tentando acreditar em algo positivo. As amarras me davam uma sensação horrível de impotência, estar presa contra minha vontade era angustiante, além disso aos poucos a corda parecia me sufocar, tornando cada vez mais difícil respirar, a escuridão da floresta tornava tudo ainda mais assustador, aos poucos repetir as mesmas frases não estavam mais causando efeito, tentar me mover só piorava a dor em minhas costas, depois de uma hora amarrada meu corpo começou a doer pela posição a qual eu estava obrigada a ficar. A escuridão à minha volta era palpável, ao meu redor os animais pareciam curiosos com minha presença, meu medo era de surgir alguma cobra ou animal selvagem, nunca se sabe o que pode ter nas matas de uma ilha. Aos poucos as horas foram se passando e quando a lua estava em seu auge ouvi um barulho da mata se extinguir, o que até poderia ser um bom sinal, porém, "quando a mata silencia sempre há um predador" foi uma frase que ouvi em um dos filmes de "Anaconda" e desde então a quietude me assusta. Um galho fora pisado não muito longe, a mata estava estalando como se algo estivesse passando por ela. passadas leves e suaves se posso assim dizer, foi quando à minha frente cinco silhuetas eram bem visíveis. — Olha só, ao que parece finalmente fizeram certo. - Disse uma voz melancólica masculina. Eles se aproximaram e um deles desamarrou a corda, ao fazer isso minhas pernas falharam e eu caí ajoelhada, minhas costas estavam molhadas provavelmente por meu sangue. — Ela está ferida. - Apertou uma voz um pouco mais grossa. — Humanos são mesmo frágeis e inúteis. - Afirmou uma voz mais calma mas ao mesmo tempo ríspida. Fraca por conta da dor alucinante em minhas costas, senti quando um deles me pegou em seus braços, logo caminhando para fora da mata em direção à orla da praia, minha visão estava turva, e ele me segurando em seus braços me fez fechar os olhos por conta do contato de minhas costas feridas como seus fortes braços. Ao olhar seu rosto pude ver um rapaz ruivo, seus olhos eram azuis, seu rosto era divino, mas não consegui manter a consciência por muito mais tempo, pois acabei desmaiando por conta da dor.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD