Marina respirou fundo diversas vezes antes de finalmente sair da água, sabendo que sua raiva estava prestes a borbulhar. Uma coisa sobre Marina que nem ela mesma sabe é o quão intensa ela pode ser.
Claro, todos conhecemos pessoas intensas na vida, mas Marina ultrapassa todos os limites. Enquanto algumas pessoas vivem no meio termo e outras oscilam entre 8 e 80, Marina sempre está no 80. Ela sente suas emoções ao máximo, então quando fica com raiva, é uma raiva avassaladora. No geral, isso nunca foi um problema, afinal, ela sempre esteve rodeada de pessoas que a amam profundamente. E mais uma vez, essas pessoas a salvaram de um futuro arrependimento colossal.
Isso aconteceu quando Emília notou os passos pesados de Marina indo em direção aos padrinhos. Emília rapidamente cutucou as amigas e elas correram para interceptá-la antes que fosse notada. Por sorte, Marina estava molhada e andava devagar, permitindo que as garotas a alcançassem e a levassem para uma área segura. Elas a colocaram no chão sem delicadeza, mas quando Marina estava prestes a explodir, Emília a segurou pelos ombros e falou com firmeza:
— Respira! Você não pode armar uma confusão aqui, não hoje! Eu sei que você entende isso, então para um pouco e respira!
As palavras de Emília foram o suficiente para Marina recobrar o juízo.
— Ele acha que eu sou maluca. — Marina disse, mais calma.
Luísa riu.
— E você ia lá provar que ele estava errado? — Ela ironizou.
— Mário falou que você é maluca? Que estranho, nunca o vi assim...— Isa ponderou.
Marina então se levantou do chão.
— Não. Não, Mário. Ander acha que sou maluca, ele me impediu de chegar perto do Mário como se fosse o segurança pessoal dele.
Isa assentiu.
— Ander... faz mais sentido.
Marina bufou.
— Ele é... um troglodita! Sério, um grosso!
— Veja só o que você vai fazer: você vai até seu quarto, vai tomar um banho, trocar de roupa e ajeitar esse cabelo, e então você vai para aquele lugar lá. — Luísa disse a Marina.
Isa franziu a testa.
— Que lugar? — Ela perguntou.
— Não é da sua conta. — Emília cortou a prima.
Isa soltou um gemido de indignação.
— Como assim não é minha da minha conta? É o meu casamento. — Isa levantou a voz.
— É uma surpresa pra você, para de estragar tudo. — Gabi puxou a saia do vestido de Isa.
Isa não se deu por vencida.
— E agora não podem me contar o que é? — Ela perguntou, olhando cada uma das madrinhas.
Marina olhou a prima de cabeça torta.
— Não, sua bobinha, não podemos. — Marina disse, tocando no nariz de Isa com um dedo.
Marina então fez o que Luísa sugeriu. Ela deixou Isa discutindo com as madrinhas e foi para o seu quarto. Por sorte, ela não tinha levado o cartão de acesso consigo, e o resort guardava os cartões dos participantes do casamento, para que não estivessem com nada nos bolsos durante a cerimônia. Ela foi até a recepção primeiramente.
— Olá. — Ela disse ao rapaz de plantão.
Ele prontamente ajeitou sua postura.
— Olá! No que posso ajudá-la? — Ele perguntou.
— Eu sou a madrinha da noiva, preciso do acesso para meu quarto.
O rapaz assentiu.
— Qual seu nome? — Marina deu seu nome completo ao rapaz, que logo voltou com vários cartões nas mãos. — Aqui está, quarto número seis.
— Obrigada. — Marina disse.
O rapaz então procurou entre os cartões e entregou um a Marina.
Marina então atravessou um longo corredor até a área dos quartos. Agora, ela pôde visualizar melhor a distribuição do resort. Seu cartão indicava o bloco e número do seu quarto, e ela pôde se guiar pelas placas até o bloco correto. Logo chegou ao seu bloco. Havia duas entradas, uma indicando quartos de 1 a 5, e outra de 6 a 10. Ela se encaminhou para o corredor correto. Marina passou o cartão no leitor do quarto 6, e a porta abriu na hora.
Ela entrou.
Ela tremia por ainda estar molhada e ter pegado friagem no caminho. Rapidamente se livrou das roupas, deixando-as no meio do quarto mesmo, e correu até o banheiro. Entrou no chuveiro de água quente o mais rápido que pôde e avistou uma hidromassagem. Marina abriu um sorriso instantâneo. Deixou a banheira enchendo enquanto tirava o cloro do corpo e lavava o cabelo com os minis shampoos e condicionadores do resort, e só então entrou.
— Isso que é vida. — Ela sussurrou consigo mesma.
Foi quando ela se deu conta: essa era a vida de Isa agora. Nada mal.
Passaram-se longos minutos quando Marina escutou a porta do quarto se abrir. Ficou aliviada por ter deixado a porta do banheiro aberta, permitindo que conversasse com sua prima dali. Por Marina e Emília terem chegado juntas, elas preferiram dividir o quarto, já que Isa havia reservado um quarto para cada duas pessoas.
— Mili? Me desculpa! Eu sei que demorei, você veio se trocar para irmos para a surpresa da Isa? Eu já vou sair. — Marina comunicou à prima. Ela olhou em volta, em busca de toalhas, mas não viu nenhuma. — Você pode ver se deixaram as toalhas nas camas?
Nenhuma resposta.
Marina ouviu passos se aproximando e olhou para a porta do banheiro. De repente, quem aparece não é Emília.
É Ander. Segurando uma toalha.
Marina instantaneamente dá um grito.
— O que é isso? — Ela pergunta, gritando e tapando o máximo que podia do seu corpo.
— Eu que pergunto, que porra é essa? — Ander vira o rosto e joga a toalha próximo de Marina. — Você é maluca. Meu Deus, você realmente é maluca.
Marina rapidamente se enrola na toalha e sai da banheira.
— Eu sou maluca? Você invadiu meu quarto, enquanto eu tomava banho... — Marina então se dá conta da situação. Um homem invadiu seu quarto enquanto ela tomava banho. Marina olha em volta e apanha uma lâmina de barbear na pia. Aponta a arma para Ander, ameaçadoramente. — Saia daqui.
Ander levanta as mãos para Marina, como se pedisse calma.
— Não é possível que estou duas vezes na mesma situação. — Ele murmura mais para si do que para ser ouvido. — Marina, calma. Eu não invadi seu banheiro, esse não é seu banheiro.
Marina chega mais perto com a lâmina, fazendo Ander dar um passo atrás.
— Eu estou falando sério, eu vou atacar você se não fizer o que estou mandando! — Marina ameaça. A verdade é que ela estava apavorada. Nunca um homem tinha chegado tão perto de abusá-la, e ela sabe que isso é apenas uma questão de tempo, conforme indicam as estatísticas.
— Acredite, eu acredito em você, então vou calmamente sair do meu quarto, tá bem? — Ander fala com a voz mansa e um semblante amigável.
Marina estreita os olhos.
— Você... você está agindo como se eu fosse a louca aqui?
Então Marina olha em volta. Ela finalmente olha em volta. Percebe as camisas sociais em uma das camas, as malas que nunca viu na vida, e finalmente, a lâmina de barbear em sua mão.
Ela larga a arma imediatamente e leva as mãos à boca.
— Ai meu Deus, este é seu quarto!
Ander aproveita a deixa e chuta a lâmina para longe.
— Sua doida! Maluca! — Ele grita.
Marina olha para o rapaz exaltado à sua frente.
— Ander... eu...
Marina gagueja, mas Ander não a deixa concluir.
— Você o quê? Entrou escondida para surpreender o Mário? O que você iria fazer com ele se eu não tivesse chegado? Olha só para isso! Você molhou tudo!
Marina olha para todos os lados, em busca do que falar ou fazer que melhorasse a situação. Mas quanto mais ela fazia, pior ficava aos seus olhos. Ander continua a gritar o quanto Marina é maluca, e ela estava começando a acreditar, quando de repente, o rapaz da recepção apareceu na porta do quarto.
Após ver a imensa cara de culpa do rapaz, ela entende o que aconteceu.
— Você! — Ela diz, apontando para o rapaz. — Por que você me deu a chave do quarto dele?
O rapaz olha assustado para Marina, prevendo provavelmente o fim do seu contrato de trabalho no resort.
— Mil desculpas, senhores! Peço perdão pelo constrangimento que causei a vocês, por favor. Eu acabei lendo errado o número do seu quarto, na verdade, o seu é o nove, senhorita Marina.
Marina respira fundo e vê o olhar de raiva que Ander tinha no rosto murchar.
— Você fez o que? — Ander pergunta num tom ríspido.
O rapaz sacode as mãos próximo ao corpo, a voz grossa de Ander o desnorteou.
— Mil desculpas, por favor, aceitem esses cupons como desculpas, são serviços grátis no spa, podem levar quantos quiserem. — O rapaz estende as mãos, onde há diversos cupons coloridos.
Ander está próximo ao rapaz. Ele bruscamente retira todos os cupons das mãos do rapaz.
— E o cartão da moça? — Ander pergunta. O rapaz tira o cartão do bolso e entrega a Ander. — Por favor, suma da minha frente.
Ríspido e grosso. Um verdadeiro troglodita, do jeito que ele havia se mostrado ser para Marina. O rapaz obedece, deixando Marina e Ander a sós.
Ander segura os dois cartões, um ao lado do outro, e começa a rir.
Marina se encontra petrificada, no mesmo canto onde largou a lâmina.
— Do que está rindo? — Marina pergunta.
Ander olha para a moça de toalha à sua frente.
— São idênticos. Os cartões são idênticos, exceto por um minúsculo ponto na parte inferior aos números. — Então ele vai até Marina e estende o cartão certo para ela.
Marina estende a mão.
Ander coloca uma pilha de cupons na mão dela e o cartão em cima.
Marina olha para a pilha de cupons que Ander tem na mão. É claramente maior que a dela.
Então ela toma a pilha dele. Ander tenta puxar de volta, mas Marina rapidamente a coloca no decote da sua toalha.
— Ponha a mão aqui e eu busco aquela lâmina de novo. — Ela diz a ele.
— Você não pode levar todos os cupons! — Ele insiste.
Marina bufa.
— E você não pode levar a maior pilha! — Marina tira metade da sua pilha e entrega a ele.
— E você pode? — Ele pergunta.
— Quem foi surpreendida na banheira por um estranho, eu ou você?
— Quem foi ameaçado por uma maluca com uma lâmina de barbear?
— Eu não sou maluca! E você é um homem das cavernas! Deixa eu te contar, estamos no século XXI, você não precisa ser um troglodita primitivo pra se mostrar.
Ander joga a cabeça para trás, fingindo rir ironicamente.
— Hahahaha. Dá o fora daqui antes que eu...
— Antes que o que? Antes que você pegue uma marreta, bata ela na minha cabeça e me leve pelos cabelos? — Marina cita a única lembrança que seu cérebro tem de homens da caverna nos desenhos infantis.
— Quem sabe eu coloque um parafuso seu no lugar, assim. — Ander retruca.
Marina não aguenta mais um minuto perto de Ander. Ela imita um homem das cavernas, do jeito que ela consegue fazer, com uma careta, balançando os braços e fazendo sons primitivos, e então, ela catou suas roupas e saiu do quarto.
Finalmente, ela se encaminhou para o novo quarto e o reconheceu assim que entrou.
Teve que sentar um pouco antes de finalmente se vestir. Mas meia hora depois, ela estava pronta. Com uma roupa leve e bonita, uma maquiagem também leve e o cabelo ainda molhado, porém finalizado, ela se encaminhou até a surpresa de Isa.