Marina fixou seus olhos no rapaz, cujos olhos claros pareciam mel, cada detalhe da íris visível sob as luzes. Prestou atenção ao toque suave em sua pele e à maneira como seus lábios se moviam para proferir palavras. Sabia que Mário era bonito, mas havia algo mais. Ele era o que ela poderia chamar de encantador.
Ao olhar ao redor, viu as amigas se aproximando, com Luísa as impedindo com os braços e um sorriso travesso no rosto. Esse balde de água fria foi o suficiente para tirá-la do transe.
— Eu estou bem, estou bem. — Ela repetiu.
O rapaz parecia aliviado. Ajudou Marina a se equilibrar e apanhou o buquê do chão.
— Acho que ninguém merece mais esse buquê. — Ele disse, brincalhão, oferecendo-o a Marina.
Ela pegou o buquê vagarosamente, seus dedos tocando os de Mário. Ambos sorriram um para o outro. Marina odiou gostar de cada segundo daquela situação.
Não demorou para Isa aparecer, jogando-se em Marina para um abraço caloroso à lá Isa.
— Me desculpe! Meu Deus, só me toquei de o buquê estar pontudo quando eu joguei e levei um baita arranhão. — Isa mostrou o pulso com um arranhão imenso, minando sangue.
Mário puxou a manga do terno, revelando um arranhão vermelho no braço que usou para proteger Marina.
— Que bom que isso bateu em mim. — Ele falou pensativo.
Marina observou Mário se afastando, e estranhamente, sentiu-se incomodada.
— Obrigada, de verdade. — Marina disse a ele. — Sinto muito pelo arranhão.
Mário acenou com a cabeça.
— Que isso, não foi nada. — O rapaz falou bem-humorado.
Marina suspirou. Estava impressionada, algo que não acontecia há algum tempo. Olhou para o buquê em suas mãos e viu as amigas se aproximando. Imediatamente, Marina agarrou as mãos delas e as arrastou para o banheiro.
Assim que entraram, Marina levou as mãos ao rosto.
— Vocês viram o que eu vi? Vocês viram? — Perguntou, escandalosa.
— Se vimos exatamente o que Sol falou? Seu futuro marido? — Luísa exclamou, tão escandalosa quanto Marina.
Isa deu um gritinho agudo.
— Isso é incrível! Vocês se apaixonam no meu casamento e tornam esse dia mais memorável ainda... — Isa começou a balançar as mãos, tentando evitar as lágrimas.
Emília cruzou os braços.
— Isso não é justo, eu sou a mais velha! Com minhas duas primas mais novas casadas, já era pra mim. — Emília exclamou.
— Peraí, vocês não estão enfiando os pés pela cabeça? — Gabi falou. — Nada aconteceu. Nada que a vidente falou aconteceu, Marina apenas conheceu um cara bonito, grande coisa.
A fala de Gabi fez as garotas ficarem pensativas. No fundo, sabiam que ela tinha razão e começaram a rir juntas.
— Isso é culpa de vocês, eu não estava acreditando em toda a baboseira até vocês enfiarem na minha cabeça que iria acontecer. — Marina disse ao se recuperar da gargalhada.
— Talvez tenhamos exagerado, mas convenhamos, é sua última chance para o amor. — Isa falou.
Emília concordou com a cabeça.
— É verdade, é sua última chance de conhecer alguém como você, daqui alguns meses, sua vida vai ser rodeada de advogados e toda essa gente chata.
Marina riu das primas.
Elas tinham essa ideia de que Marina escolhera uma carreira completamente absurda para sua personalidade, onde as pessoas do ramo divergiam completamente do tipo de pessoa que Marina gostava.
— Eu confesso, o Mário é muito lindo e gentil, eu só fiquei doida com isso porque... bom, porque eu senti algo. — Marina revelou às amigas e se arrependeu imediatamente.
— É, realmente uma vidente revelar que você vai conhecer o amor da sua vida logo e em seguida, você sentir algo por alguém é uma coincidência. — Isa falou ironicamente.
— Você ser uma mula em relação ao amor e nem lembrar da última vez que sentiu isso com alguém também não deve ter nada a ver. — Luísa ironizou junto.
Marina riu.
— Sol é uma vidente fajuta. Aceitem isso. Eu já aceitei. — Marina falou confiante.
Ela soou tão confiante que as próprias amigas quase se convenceram. Isso até um estrondo enorme surgir junto de gritos, e a luz se apagar.
Na escuridão completa, as meninas tatearam no ar até achar umas às outras e saíram do banheiro devagar. Do lado de fora, apenas a lua iluminava o lugar, mas não ajudava muito a enxergar. Em alguns segundos, as luzes foram ligadas novamente, revelando um completo desastre.
De cara não dava pra ter certeza no que causou tudo aquilo. O palco estava vazio, todos os instrumentos e caixas de som no chão. Diversos holofotes da área instagramável estavam quebrados no chão, e mal dava pra ter certeza de onde vinha todo o vidro quebrado, pois a torre de champanhe já não estava mais em pé. Pouco longe disso, estava o lindo e enorme bolo de casamento, agora, deitado no chão com uma nova decoração: Uma daminha de honra com cobertura da cabeça aos pés bem no meio dele.
— O que aconteceu? — Isa perguntou.
A cerimonialista veio correndo.
— Eu não sei ao certo, alguém tropeçou nos fios e parece que a daminha caiu no bolo no escuro. — Ela descreveu exatamente o que todos já estavam vendo.
— O casamento... — Emília começou a falar.
— Está arruinado. — Isa terminou a frase.
— Exatamente como ela previu. — Essa foi Marina, falando as palavras que ela temia.
Era verdade, o casamento havia sido arruinado. O bolo já era, o som se foi, a pista de dança estava perigosamente cheia de vidro e molhada.
Então Felipe apareceu. Olhou toda a situação, observou sua noiva enchendo os olhos de lágrimas. O rapaz fez o impensável. Visto que alguém já havia acudido a daminha de honra, Felipe alcançou uma colher no chão e tirou um pedaço do bolo que não encostava no chão.
Ele comeu e balançou a cabeça, como se afirmasse algo.
— Isso tá muito bom. — Ele disse e estendeu a mão em direção à noiva.
Isa deliberadamente foi ao encontro do marido.
Ele carinhosamente tirou mais um pedaço e deu na boca de sua mulher.
Marina suspirou. Assim como o restante das pessoas no lugar. Não havia dúvidas que Isa escolheu o cara certo.
— Vamos todos pra piscina? Que tal uma festinha lá? — Felipe perguntou alto.
As pessoas foram se dirigindo até a área da piscina, que era pequena demais para toda aquela gente, mas assim que grande parte da família de Isa começou a pular na piscina olímpica do lugar, as pessoas começaram a entrar também e fazer dar certo.
Marina estava tomando um mojito numa espreguiçadeira ao lado de Luísa e Emília quando ela se virou para as amigas.
— Sol estava certa e eu não posso perder essa chance. — Ela falou.
— Exato! — Luísa exclamou. — Você precisa ir atrás dele!
— Espera, ela não pode chegar no cara falando que uma vidente previu que eles iriam ficar juntos, eles precisam se encontrar casualmente. — Emília sugeriu.
— Você tá certa. — Marina falou. — Então, eu vou ali encontrá-lo casualmente.
Marina se levantou.
Avistou o grupo de padrinhos de longe. Os rapazes pareciam se divertir, todos com uma cerveja na mão e rindo bastante. Ela, decidida, caminhou a passos largos em direção a eles.
Estava próxima quando Mário a viu. Marina deu um sorrisinho para ele, e então, de repente, alguém entrou na sua frente. Marina tentou desviar, mas ela e a pessoa ficaram como numa dança e não saíam do lugar. Foi então que ela resolveu olhar para cima e ver o rosto que impediu que ela fosse falar com seu futuro namorado.
Ah, era apenas um dos padrinhos.
— Com licença? — Marina falou impaciente.
O homem levantou uma sobrancelha.
— Desculpe, o que você quer?
Marina se sentiu atingida por aquele comentário.
— O que eu quero? O que você tem a ver com o que eu quero? — Ela perguntou, contando que sua grosseria faria o cara sair da frente.
Sem sucesso.
— Se não vai me dizer, não vai passar. — Ele declarou.
Marina sabia quem era ele. Era Ander, o mais alto dos rapazes. Ela se lembrou de vê-lo sempre muito próximo a Mário.
— Eu quero apenas... agradecer ao Mário mais uma vez por ter me salvado. — Ela explicou.
Ander assentiu. Bebeu um gole considerável da cerveja em suas mãos, e Marina até pôde ver o líquido descendo por sua garganta.
— Então, não vai dar. Outra hora? Tchau. — Ander segurou Marina pelos ombros e a girou, a fazendo dar as costas para ele.
Marina poderia ter se virado e passado por Ander se quisesse, mas estava aturdida com a situação. Ela nem acreditara no que acabara de acontecer.
Quando finalmente se virou, Ander estava na frente de Mário, bloqueando a visão dele. Ela se aproximou o bastante para escutá-los.
— Eu falei, eu conheço uma doida quando eu vejo, acredite, eu te salvei. — Ela escutou Ander falar.
— Ela não parecia doida... — Mário falou.
— Claro que era! Eu te garanto, e não vou deixar ela se aproximar de você, não aguento mais uma doida nas nossas vidas.
Marina deu passos para trás inconscientemente. Até seu corpo queria sair dali depois do que escutou. Ela não contava estar tão próxima da piscina e caiu nela, trazendo consigo um grito alto.
Quando voltou à superfície, viu Mario e Ander a encarando, com Ander falando, com todas as letras que Marina leu de seus lábios.
"Eu te disse."