Marina testemunhou, estampado no rosto da noiva, o horror em sua forma mais pura ao ver Tia Drica se levantar e bater com uma colher na taça. O salão mergulhou em silêncio, aguardando as palavras afiadas da Tia Drica.
Esta limpou a garganta, uma ação que Marina considerou necessária, dada a identidade da tia, impregnada com o cheiro do cigarro.
— Boa noite a todos, eu sou a Adriana, a tia-avó da noiva. — Foram as primeiras palavras da mulher. A surpresa de Marina ao ouvir a tia desejar "boa noite" antes de despejar seu veneno foi evidente. — Queria parabenizar os noivos. Quando soube que a Isa ia se casar, pensei imediatamente que ela tinha engravidado do rapaz milionário. Aparentemente, a gravidez na adolescência pulou esta geração, o que é uma pena, já que seria uma herança garantida. — Tia Drica riu sozinha de sua própria piada.
Marina ficou sem palavras, incrédula com o que a tia havia dito diante dos pais de Felipe.
Então, Marina viu Luísa se levantar.
— Que belas palavras da Tia Drica, pessoal. Parece que alguém está enciumada de não ter fisgado um partidão, ein? É isso mesmo, ninguém tem tanta sorte quanto o Felipe. Um partidão como a Isa não se encontra no bar da esquina onde a senhora conheceu seu marido, né? — Luísa ofereceu o brinde diretamente para Tia Drica.
Marina cobriu a boca imediatamente, tentando abafar seu grito de surpresa. No entanto, a risada escandalosa que se seguiu teve mais sucesso em romper o abafamento. Tia Drica lançou um olhar fulminante para Marina.
O salão logo se encheu de risadas, e Marina viu a noiva relaxar. A ameaça foi contida.
Os pais de Felipe propuseram um belo brinde sobre como ganharam uma filha que abafou completamente o incidente com Tia Drica. O problema surgiu quando a mãe de Isa, sentindo-se provocada, também propôs um brinde, falando que ganhou um filho. A fala foi interrompida pela mãe de Marina, que disse: "Esse filho você não vai conseguir criar na base do cuscuz e farinha, minha irmã."
A mãe de Isa ficou vermelha imediatamente, e Emília teve que puxar uma salva de palmas para a noiva para disfarçar o fato de as duas estarem se beliscando.
O celular de Marina vibrou em sua mini-bolsa, e ela achou melhor conferir. Era o grupo de Madrinhas.
Isa: Quem diria que nosso plano ia ter que começar logo na recepção do casamento.
Luísa: Nem me fale. Até o final da noite, eu vou estar rolando no chão com essa velha.
Emília: Pelo menos a sua velha é só uma. Acho que vou apanhar da minha mãe e das tias. Elas estão me olhando estranho.
Isa: Vocês pegaram os mais complicados. Foi mal, meninas. As outras estão conseguindo aproveitar bem?
Ana Paula: Aproveitar? Você não percebeu que seu Tio Ernesto não está na recepção? Tive que jogá-lo na piscina para ele não derrubar seu bolo, e ele foi se trocar.
Gabi: Ao menos o primo Murilo está tranquilo.
Gabi: Esquece. Estou vendo ele dar em cima da cerimonialista.
Isa: Como assim????
Marina: KKKKKKKKKKKKKKK. Vocês estão muito lascadas.
Luísa: Se eu fosse você, eu não riria. Seus padrinhos têm bastante potencial para estragar esse casamento.
Marina parou de rir na mesma hora, sabendo que a amiga estava certa. Como se Luísa fosse a vidente, um dos padrinhos, o que Marina conhecia como Ander, se levantou.
— Como o padrinho do noivo, eu também gostaria de fazer um discurso. — O rapaz começou. — Eu conheci Felipe durante o Ensino Fundamental, e desde então, a gente fez tudo junto. Fomos para os mesmos colégios, fizemos a mesma faculdade e até começamos a trabalhar juntos. O que eu quero dizer é que eu estive ao lado do Felipe quase que nossa vida inteira, e eu nunca o vi tão feliz quanto desde que ele conheceu a Isa. — Marina estava aliviada. Aparentemente, os padrinhos não eram tão idiotas assim. Ander fez o discurso mais lindo que Marina já tinha escutado. — E isso foi o que ele me mandou dizer. Mas o que eu realmente queria dizer é algo ainda mais bonito. Felipe já teve namoradas muito gatas, tipo, supermodelos, uma atriz famosa também. Ele já pegou metade do Projac...
Marina deu um salto na cadeira.
— Como madrinha, eu também vou fazer um discurso. — Marina praticamente gritou. Ela escutou sua voz ecoar no salão e teve que respirar fundo com a sensação de toda aquela gente olhando para ela.
— Ahn... eu ainda não terminei meu discurso... — Ander começou a falar, mas Marina o ignorou.
— Um brinde aos noivos! Que o futuro deles seja brilhante, porque quem vive de passado é museu, não é?!
Marina ouviu risadas aqui e ali da sua piada sem graça, e logo uma salva de palmas surgiu. Quando ela se deu conta, os brindes se encerraram. Sentia-se aliviada, uma etapa já havia passado. Faltava apenas o corte do bolo, o lançamento do buquê e a dança dos noivos. Após isso, parentes e amigos poderiam destruir o lugar, e ainda assim, seria considerado um dia perfeito.
A comida foi servida, e as garotas chegaram a ouvir o barulho de copos e pratos quebrando. Elas nem se deram ao trabalho de se virar para ver de onde vinha o barulho. Sabiam que os desajeitados primos estavam nas mesas dos fundos, onde podiam quebrar coisas à vontade sem causar um grande estardalhaço.
Marina às vezes sentia que o gene de sua família carregava o desastre e a pobreza para cada novo membro.
Ao fim do jantar, quando a noite começava a escurecer o local, os convidados e os noivos se dirigiram para fora do salão, que estava totalmente decorado. Havia um espaço instagramável, atividades como pintura, um salão de tatuagem e até mesmo uma área kids.
Tudo estava silencioso, e era possível ouvir os suspiros de admiração dos convidados. Isa e Felipe foram para uma parte mais alta, uma espécie de sacada real onde uma princesa poderia acenar aos seus súditos. A noite caía perfeitamente, a lua refletia no mar e iluminava uma boa parte do salão. Isa e Felipe deram um beijo, e as luzes se acenderam como um show, iluminando o lugar e fazendo os suspiros ficarem ainda mais evidentes, especialmente quando as luzes levaram a atenção de volta para os noivos, e diversas borboletas de papel foram soltas ao redor.
Marina colocou a bolsa debaixo do braço e aplaudiu, fazendo até um beicinho admirado. A prima Isa tinha planejado até o momento em que o sol se poria. Marina admirava esse empenho.
Uma salva de palmas e gritos se seguiu, e o lugar se encheu de seguranças. Ninguém menos que Luan Santana apareceu no palco, saudando os noivos. Marina achou interessante ver a maioria das mulheres de sua família lutando e puxando os cabelos dos seguranças para alcançar o palco, enquanto a família de Felipe aplaudia e cantarolava com um sorriso singelo e educado. Ela pensou: "É por isso que os ricos entram em depressão, eles param de admirar as oportunidades da vida." Depois disso, Marina correu tentando passar por cima do ombro de um segurança, na esperança de encostar seu dedo mindinho na sombra que Luan Santana fazia ao redor do palco.
Após terminar de cantar uma música, o cantor levantou um braço aos noivos.
— Uma salva de palmas para a primeira vez apresentados como marido e mulher, Isa e Felipe! — O cantor falou.
Infelizmente, Luan Santana ficou apenas para cantar as três músicas que foram a trilha sonora da noite em que Isa e Felipe se conheceram. Após isso, a cerimonialista assumiu o microfone. Ela explicou algumas instruções sobre as áreas de atividades e, por fim, anunciou que era a hora de jogar o buquê.
Houve uma comoção entre as mulheres para ver quem chegava primeiro abaixo de Isa. Marina não queria ser uma daquelas mulheres chatas que falam mal do casamento e do desespero das mulheres por um buquê de flores destruído. Ela se encaminhou até a multidão, ficando um pouco mais distante, mas fingindo costume.
Isa se preparou para jogar o buquê, relaxou as pernas e olhou em volta à procura de suas amigas.
Então o buquê foi jogado. Ou melhor, lançado. Marina ainda olhava ao seu redor, sem se dar conta de que Isa era uma praticante de crossfit há um ano e estava a pelo menos 4 metros acima dela. Marina percebeu o buquê vindo em sua direção, mas congelou quando sua única visão era a parte pontuda indo diretamente para seu olho. Por menos de 1 milésimo de segundo, Marina teve essa visão, e como ela mesma havia notado, o desastre estava em seus genes. Ela perderia um olho, pelo menos.
Ela perderia, se não fosse um rapaz que se colocou na frente do buquê, a envolveu com os braços e segurou a cabeça dela contra o peito dele. Sim, o peito, pois o rapaz era alto e forte. Marina conseguia sentir seu próprio coração saltar dentro de si, e o aconchego ao seu redor, ficando cada vez mais quente e apertado, a fez se sentir... segura.
Ela ouviu alguns "ai, meu Deus" e outros "será que a gente pode pegar o buquê?". Até o rapaz se afastar gentilmente e olhar nos olhos de Marina.
— Você está bem? — Ele perguntou. Marina mal conseguia formar uma frase. Apenas murmúrios e sons saíram de sua boca. O rapaz se agachou e pegou o buquê no chão. Ele o entregou nas mãos de Marina e, mais uma vez, olhou nos seus olhos. — Você quer um copo d'água? Precisa se sentar?
A verdade é que Marina até precisava se sentar. Não pelo quase acidente, mas por ouvir as palavras de Sol ecoando em sua mente enquanto seu coração estava disparado, olhando os lindos olhos de Mário que a fitavam com preocupação.