Capítulo 03 - O casamento dos sonhos

2187 Words
03 horas para o casamento... Marina decidiu que pink não era sua cor. Durante a prova, após experimentar todos os tons de rosa claro possíveis, Isa determinou que um tom mais escuro estava liberado, e devido ao contraste com os outros tons de rosa, o pink havia saído como vencedor. Mas agora, ao visualizar suas amigas vestidas em seus tons perfeitos, Marina lamentou profundamente. Luísa tinha a pele clara e fria, olhos azuis e cabelo dourado. O rosa bebê a fazia parecer uma princesa, especialmente pelo decote em coração e pelos detalhes florais do vestido. Emília, com a pele branca, porém quente, e cabelos castanhos, usava um tom de rosa mais coral. Gabi, com a pele em um tom semelhante ao de Marina, porém mais fria, estava perfeita em um tom de rosa quase lilás. E, por fim, Ana Paula, com a pele bem escura e fria, cabelo preto intenso e cacheado, caindo numa linda cascata sobre seu busto, vestia um vestido em um rosa mais forte, semelhante ao de Marina. No entanto, Ana Paula parecia uma top model de tão deslumbrante, enquanto Marina se sentia pálida e apagada. 02 horas para o casamento... Marina estava quase pronta. Ela achou que a maquiagem a salvou da situação de as pessoas perguntarem se ela estava doente, como sempre acontecia quando usava bege ou rosa. Ela aguardava Luísa terminar o penteado para começar o seu, quando ouviram batidas na porta. Isa pediu para a pessoa entrar. Uma moça de baixa estatura irrompeu pela porta a passos largos e firmes até Isa. — Ah, gente, essa é a Luciana, minha cerimonialista. — Isa explicou, e Luciana recebeu diversos acenos. Marina então percebeu o que Luciana tinha nas mãos. — Aqui, Isa. O buquê perfeito, como você me pediu. — Luciana entregou o buquê para a noiva, que já estava praticamente pronta, apenas fazendo os retoques finais no vestido. O buquê de Isa era lindo e simples, com diversas espécies de flores cor-de-rosa amarradas por uma fita branca e rendada. Isa parecia encantada, enquanto Marina só conseguia olhar para os caules afiados das flores. Por um momento, ela pensou em perguntar se aquilo não machucaria alguém, mas como Marina não participaria da corrida desesperada pelo buquê, ela achou melhor confiar que Luciana sabia o que estava fazendo. Isso e também porque Marina gostaria de ver um ou dois olhos furados durante a confusão. — É perfeito, do jeitinho que eu queria. — Isa falou. — Ótimo, vou guardá-lo então. Como estão os nervos? — Luciana perguntou. Isa piscou e de repente começou a pisar várias vezes muito rápido, como se estivesse tentando não chorar. E de fato, estava. A maquiadora, que estava finalizando a maquiagem de Ana Paula, correu até Isa. — Tudo bem, se acalma! — Ela segurou Isa pelos braços gentilmente. — Você vai querer chorar hoje durante o dia inteiro, é normal. Principalmente quando estiver entrando no casamento. Então, você vai fazer o seguinte: — Isa olhava para a moça como se sua vida dependesse disso. — Você vai colocar sua língua no céu da boca e respirar fundo. Marina então percebeu que todos pararam de fazer o que estavam fazendo para olhar a cena e todos estavam muito preocupados. Marina desejou que sua vida fosse tão descomplicada a ponto de sua maior preocupação ser Isa borrar a maquiagem. 01 hora para o casamento... Quando as mães de Marina, Emília e Isa irromperam pela porta, Marina quis sumir. Como sempre, as três chegaram fazendo muito barulho. — Cadê Isa? — A mãe de Isa, que Marina conhecia como Tia Cicinha, perguntou. Marina sempre admirou aquelas três mulheres. Para sua Tia Cicinha, sua Tia Célia e sua mãe Cleonice, não havia tempo ruim. Marina perdeu as contas de quantas vezes as três estiveram em situações desesperadoras e enfrentaram isso com alegria, do jeito delas, é claro. — Sabe, Ciça, é por causa desse "avexamento" que você é apenas a mãe da noiva nesse casamento. — A mãe de Marina alfinetou Ciça. Tia Cicinha se virou para a irmã mais nova. — Cleo, eu sou a mãe da noiva. Se eu não for a mãe da noiva nesse casamento, eu vou ser o quê? Foi então que Célia, a mãe de Emília, puxou o braço de Cicinha. — É mãe da noiva, mas estava se arrumando no mesmo lugar que as tias da noiva. Se fosse importante, estaria aqui com a noiva. — Célia falou. Marina, na mesma hora, olhou para Emília. Ciça e Célia eram, respectivamente, a irmã mais velha e a caçula. As duas pareciam não se suportar na maior parte do tempo, mas já arriscaram a vida pela outra diversas vezes. A dinâmica familiar entre elas funcionava assim: estavam bravas e se alfinetando a ponto de quase sempre partir para uma agressão verbal pública, mas se protegiam como se fossem a mesma pessoa. Cleo então cutucou a irmã caçula. — Para com isso, Célia, não começa. Célia deu de ombros, prestes a falar algo que poderia provocar Cicinha, quando Emília correu e passou os braços em volta da mãe. — Mãe! Tia Cicinha, Tia Cleo! Achamos que vocês não iam aparecer! — Emília falou animada. — Achamos mesmo, mas fomos ingênuas. — Marina acrescentou baixinho. Embora Marina tenha falado baixo, sua mãe e suas tias a escutaram. Como era de esperar, elas a ignoraram. Marina tinha um senso de humor exótico. Ela costumava fazer piadas desconfortáveis ou autodepreciativas, além do que, sempre fora um tanto maluquinha. Seus pais sempre encorajaram seu lado artístico. É claro que "artístico" era apenas uma forma de eles não dizerem "maluco". Seu pai a achava divertida, e sua mãe... bom, sua mãe era uma versão dela. — Cadê Isa? — Tia Cicinha mais uma vez perguntou. Então ela avistou a filha finalizando a produção com um delicado véu. Marina viu os olhos de sua tia encherem de lágrimas e não conseguiu segurar as suas. Algo em ver uma mãe tão emocionada com a filha fazia seu emocional virar uma manteiga. — Meu Deus, minha filha... você tá linda! — Obrigada, mãe. Como está lá fora? — Isa quis saber. — Estão todos aqui, estão esperando você. Seu pai até passou um perfume pra acompanhar você. — Tia Cicinha falou chorosa. Isa bateu palmas. — E Felipe? Você viu ele? Tia Cicinha assentiu. — Ele tá uma pilha de nervos, mas tá tão lindo! Vocês estão tão lindos, o casamento tá perfeito! — Tá bom, Cicinha, ela já entendeu. — Tia Célia falou. — Acho que chegou a hora. — Isa falou então, respirando fundo. Emília segurou a mão de Marina, a pegando de surpresa. — Vamos lá casar nossa prima mais nova. — Ela falou. — Ah sim, esse era meu sonho desde que eu era uma garotinha. — Marina falou ironicamente, fazendo Emília rir. Então havia chegado a hora. Em poucos minutos, Luciana atravessou a porta mobilizando todos aos seus devidos lugares. Cada um dos envolvidos no casamento foi entrando em suas respectivas funções até chegar a hora dos padrinhos e madrinhas. Cada madrinha deu o braço para um dos padrinhos, e Marina entrou com um rapaz que ela julgou ser bastante desrespeitoso. Enquanto todos os outros padrinhos elogiaram suas madrinhas, o rapaz baixinho e careca ao seu lado pisou no seu vestido durante toda a caminhada. Logo estavam todos no altar. Marina pôde observar de perto o grupo de amigos no qual ela havia ficado responsável. Além do cara baixinho e careca, havia mais rapazes. Ao ver dois deles trocando farpas e rindo durante toda a cerimônia, ela soube que era neles que deveria focar. Eram dois rapazes atraentes, aparentando ter entre 25 e 30 anos. Um deles era 2 ou 3 centímetros mais alto que o outro. Embora ambos fossem bastante altos, ela os apelidou de "o baixo e o alto". O alto era de tirar o fôlego. Algo que Marina não achou relevante, pois só conseguia pensar no quão inconveniente ele estava sendo ao simplesmente dar um apertão na bunda do mais baixo bem ali no altar do casamento. Ele tinha a pele mais escura do que a de Marina, barba por fazer, cabelos curtos e pretos, e lábios carnudos cor-de-rosa. O mais baixo tinha a pele bem mais clara, cabelo castanho de tamanho médio, abaixo do queixo. Lindos olhos claros e um lindo maxilar. Os dois pareciam ter saído diretamente de Grey's Anatomy de tão lindos. Marina deixou escapar algumas lágrimas durante a cerimônia. E quando o tão esperado "SIM" aconteceu, houve uma salva de palmas e gritos. Era oficial, Isa havia se casado com um multimilionário e a festa de casamento havia começado. No momento em que Isa e Felipe saíram de mãos dadas, Isa olhou para Marina. E ela sabia exatamente por quê. Há algo que ninguém te conta sobre crescer com primas de idade parecida: você cresce com sua melhor amiga. Marina não tem como dizer se com irmãs é a mesma coisa, mas com primas? Ela cresceu com suas duas melhores amigas. E melhores amigas sempre sabem o que a outra quer apenas com o olhar. Marina na mesma hora pôs seus olhos nos amigos de Felipe e não os tirou de lá. Por algum motivo desconhecido por Marina, os rapazes estavam rindo. Mesmo quando os convidados se retiravam do salão do casamento para o salão da festa, eles continuavam andando e rindo. Assim que os rapazes tiveram a oportunidade, levantaram o noivo pelas pernas, quase dando um infarto em Isa. Marina então, teve um relance de um futuro hipotético: Felipe caindo de cabeça no chão, manchando de sangue o lindo vestido de Isa. Na mesma hora, a garota correu até os rapazes. — HaHa! Que engraçado, meninos! Brincadeira saudável! — Ela disse com alegria, mas sufocando por dentro. — Vamos pôr o noivo no chão? Não queremos deixar a Isa viúva logo nos primeiros 10 minutos de casamento, não é? Um dos rapazes olhou Marina de baixo a cima. O cara alto, como ela apelidou. — E você é? — Ele perguntou. Marina pôde relaxar ao ver os pés de Felipe tocarem o chão novamente. — Essa é a Marina, prima da Isa. — Felipe apresentou Marina. — Esses são meus amigos, Ander, Mário, Gustavo, Eric e Fabião. Marina olhou para os respectivos rapazes. O alto era Ander. O baixo era Mário. Gustavo e Eric eram parecidos demais para Marina se lembrar de quem era quem, e Fabião era o careca que caminhou ao seu lado no altar. — Muito prazer, onde estão sentados? — Marina perguntou puxando assunto. Os rapazes puxaram um papel do bolso. — Na mesa 2. Vocês também? — Mário respondeu a Marina e perguntou aos amigos. Todos concordaram aliviados. Marina puxou seu papel do decote. — Olha só, estou na mesa 2 também. — Marina acenou. Ela se afastou dos rapazes, mas não o bastante para deixar de ouvi-los. Marina era dissimulada o suficiente para o trabalho que Isa a deu, e ela sabia que não podia decepcionar. — Gata. — Eric/Gustavo falou. — Aham. É, mas é um pouco maluca. — Felipe mencionou. Marina estreitou os olhos, mas logo deu de ombros. A verdade é que Felipe não poderia ter outra impressão dela. Em todas as vezes em que ela encontrou Felipe, algo aconteceu e Marina fez algo de sanidade duvidosa. Como na vez em que ela tocou fogo na própria saia num restaurante e na tentativa de apagar o fogo, segurou um garçom pelos braços e ficou batendo com sua virilha, na virilha do homem. Ela estremeceu ao lembrar desse dia. — O quão maluca? As vezes maluca é bom. — Fabião falou. Isso fez Marina estremecer mais ainda. — Qual é, esse casamento tá cheio de mulher bonita! Por favor, não fiquem com as malucas, vai sobrar pra mim, como sempre. — Ander implorou aos amigos. — Nenhuma maluca e nenhuma prima da Isa, por favor. Isso sim vai sobrar pra mim. — Felipe pediu. — Então é um "não" duas vezes para Marina. — O outro Eric/Gustavo falou. Marina bufou. Como se ela quisesse algum deles. — Acho que vocês estão exagerando, ela pareceu bem normal. — Esse era Mário. Marina instantaneamente simpatizou com o rapaz. — Apenas...apenas não cheguem perto da Marina se ela tiver pegando fogo. — Felipe falou e bufou. Um dos rapazes iria responder, mas ele calou a boca dele e abraçou a noiva que estava se aproximando. Marina não estava com raiva de Felipe, ela sabia que agora, ela teria a vida inteira para torturar o pobre rapaz. Alguns funcionários começaram a encaminhar as pessoas para o salão de festas. Marina logo se encontrou com as amigas na mesa 2. Ela percebeu ser uma mesa em destaque para os padrinhos e madrinhas, e Isa e Felipe entre eles. Não demorou para o salão estar completo e as mesas estarem cheias de bebidas. E ao ver o lado masculino da mesa virando cervejas atrás de cervejas, Marina pensou que teria mais trabalho que as amigas. Isso até Tia Drica se levantar e pedir um minuto da atenção de todos.
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