Multidões se alinharam na infame Bourbon Street enquanto turistas e moradores locais se misturavam na atmosfera festiva. Até agora, Sarah evitava a maior parte disso, preferindo ficar em casa com Aubrey e Ya-Ya, com uma ocasiona noite de cinema tardia enquanto ela terminava seu livro. Agora que estava terminado e enviado ao seu editor, Sarah tinha menos distrações, então este dia foi bem planejado.
Finalmente, Sarah estava começando a se sentir como ela mesma e agora era um bom momento para voltar ao mundo. Felizmente, Aubrey segurou sua mão, guiando-a através das multidões e passando por seus lugares favoritos. Sarah perdeu a conta de quantos desfiles elas tinham visto desde que saíram ao meio-dia. Ambas usavam várias colares de contas, coroas cintilantes e antenas de flores. Sarah não se lembrava mais de onde receberam esses prêmios, pois os pegaram dos desfilantes, que jogaram punhados de prêmios, além de brinquedos, moedas de plástico e outros.
Ela estava hesitante em sair, mas agora dançava com Aubrey ao som do jazz que permeava o ar. Elas se enfiavam entre as multidões, e Aubrey sempre em busca de seu lugar favorito para o próximo desfile. Sarah não se importava em ser arrastada. O copo longo e colorido em sua mão estava cheio de uma bebida da qual ela não se lembrava mais. Ela nunca foi de beber muito, mas era bom deixar-se soltar de vez em quando.
Ela sentiu falta disso. Por que ela não visitara Aubrey com mais frequência? Talvez ela tivesse deixado Lucas mais cedo se percebesse quanto havia sacrificado ao longo dos anos. Mas hoje não era hora de pensar nisso. Hoje era para soltar o cabelo e se divertir.
Eventualmente, elas chegaram à Canal Street e, precisando de um momento de relativa tranquilidade para se preparar para o pôr-do-sol, quando a verdadeira excitação começasse, elas entraram no Witch's Brew. O bar era pequeno, com paredes de tijolo natural. Grandes carretéis de madeira que costumavam segurar fios industriais eram utilizados como mesas. Mesas menores eram feitas de barris. Os banquinhos não combinavam, encontrados em vários lugares e vendas, mas isso dava ao bar um certo charme.
A decoração era decididamente bruxa, com um corvo empalhado, uma coruja e alguns pequenos mamíferos; esqueletos reais e falsos; um gato mumificado; frascos de poção e até um caldeirão atrás do bar. A maior parte dos copos eram de cerâmica feitos pela mãe de Aubrey. Em um canto, havia um pequeno palco onde músicos, comediantes, poetas de slam e divas do karaokê se apresentavam dependendo da noite.
Em homenagem ao Mardi Gras, luzes roxas, verdes e amarelas foram penduradas e os alto-falantes tocavam jazz entre as apresentações dos músicos durante o dia e a noite. Aubrey pegou as bebidas e petiscos no bar, juntando-se a ela no barril que servia como mesa.
"Está se divertindo, querida?" Aubrey perguntou.
"Sim!" Sarah riu. "Eu precisava disso!"
"Isso mesmo!" Aubrey ergueu seu copo para brindar antes de tomarem juntas.
Um toque de campainha soou quando o telefone de Sarah vibrou de repente. Quase caindo da cadeira, ela lutou para tirá-lo do bolso. Ela hesitou ao ver que a ligação era de Tailor. Mordendo o lábio, ela atendeu: "Oi, tio Tailor."
"Olá Sarah. Parece que você está se divertindo."
"Bem, é Mardi Gras.", ela riu. "É possível não se divertir?"
"Tenho boas notícias."
"Oh?"
"Você está oficialmente divorciada, ou estará em seis semanas, mais ou menos."
"Ah."
"Você está bem?"
"Sim. Estou bem."
"E a Rosemary? E ela?"
"Ela ficará bem. Ambas ficaremos. Sempre ficamos."
"Tudo bem. Me ligue se precisar de algo."
"Vou fazer isso. Obrigada."
"Cuide-se."
"Você também." Sarah suspirou ao encerrar a ligação.
"O que foi? O que houve?" Aubrey perguntou, colocando o telefone na mesa.
Sarah ficou quieta por um momento antes de dizer: "Estou divorciada. Acabou."
Aubrey a encarou com um olhar de simpatia. Nenhuma das duas era estranha à desilusão amorosa, mas não era fácil para Sarah encarar isso. Aubrey sabia que ela tinha uma queda pelo marido desde os tempos de escola e sempre esperou que talvez ele se aproximasse. Ela não era ingênua a ponto de esperar amor, mas pelo menos amizade. Aubrey admirava seu desejo, mas isso colocava muita pressão nela.
"Você...está bem?" Aubrey perguntou. "Quer ir para casa?"
"...Não.", Sarah levantou seu copo. "Vamos beber! É hora de comemorar!"
* * *
Sarah acordou com boca seca e uma dor de cabeça latejante. Ela tinha quase certeza de que não havia bebido tanto assim, mas foi sua primeira noite fora em um ano, então talvez a ressaca fosse inevitável. Desta vez não havia um gato para acordá-la, e ela rolou na cama imediatamente, tendo que correr para o banheiro.Depois de esvaziar o estômago no vaso sanitário, ela desceu as escadas procurando algo para acalmar a garganta e a cabeça. Ya-Ya já estava acordada e mexendo na cozinha. Ao ver Sarah na porta, ela sinalizou para que ela sentasse enquanto o chaleira apitava. Sem dizer uma palavra, ela mergulhou o chá verde e entregou para Sarah com um olhar cúmplice. Sarah sorveu, deixando seu estômago resmungante se acalmar aos poucos.
"Se divertiu?" Ya-Ya perguntou.
"Sim, pelo que me lembro.", disse Sarah. "Não me lembro de ter bebido tanto... mas acho que comemos dois King Cakes."
Ya-Ya riu. Não era incomum as pessoas se empolgarem durante o Mardi Gras, mesmo os moradores locais que estavam acostumados com isso. Certamente não era o primeiro Mardi Gras de Sarah, mas depois dos últimos três anos ela precisava relaxar, então não foi surpresa que tudo tenha saído de uma vez.
"Todos temos direito a um momento de excesso."
Sarah suspirou, "... Eu estou divorciada."
Ya-Ya fez uma pausa, olhando para ela.
"É oficial, em sua maioria. O tio Tailor disse que o juiz assinou e está tudo registrado. Então... eu estou divorciada."
"E como você se sente em relação a isso?" Ya-Ya perguntou.
"Sinceramente, eu não sei.", Sarah balançou a cabeça. "Será que é errado eu esperar que ele lute um pouco contra isso?"
"Não querida.", Ya-Ya se juntou a ela na mesa e acariciou sua mão. "Você queria reconhecimento, todo mundo quer. Não há nada de errado nisso."
Sarah sorriu hesitante.
"Acredite nas minhas palavras... aquele garoto vai aprender. Ele vai perceber os erros que cometeu com o tempo. Quando isso acontecer, você terá uma decisão a tomar."
Sarah balançou a cabeça, "Isso não vai acontecer, Ya-Ya. Ele nunca se importou comigo, então ele não vai começar agora. Agora ele pode se casar com a mulher que ele realmente ama."
"As pessoas podem te surpreender.", Ya-Ya disse após um momento. "Mas enquanto isso você terá muito o que fazer. Aqui está. Terminei ontem com a ajuda de Laveau."
Ela entregou a Sarah um chaveiro. Contas e pedras polidas estavam enfeitadas e entrelaçadas com uma alça de couro em um padrão de roxo, vermelho e verde, com uma pena preta iridescente na parte de baixo junto a contas douradas. Além do estilo das contas e pedras, era muito semelhante ao que Sarah sabia que Ya-Ya tinha dado para Aubrey.
"Para que é isso?" Sarah perguntou, olhando confusa para ela.
"É para proteção.", Ya-Ya disse como se fosse óbvio. "Para você e o bebê."
"Ya-Ya, eu não estou grávida."
"Tem certeza disso, querida?"
"Como eu poderia estar? Luke e eu fomos apenas..." Sarah hesitou, mas Ya-Ya já parecia estar ciente.
"Uma vez é mais que suficiente, querida."
"Mas eu..."
"Confie em mim, faça um teste."
"Teste para quê?" Aubrey apareceu carregando Jamie. Ela olhou de uma para a outra e então avistou o amuleto. "Meu Deus. Sarah? Você está..."
"Eu não sei.", Sarah queria negar, insistindo que não poderia ser, mas a convicção de Ya-Ya era muito grande. Seria verdade? O que ela ia fazer? Como ia criar uma criança sozinha?
"Sarah, isso é incrível!" exclamou Aubrey.
Sarah piscou olhando para ela. Será?
"Podemos criar nossos bebês juntas!" disse Aubrey emocionada.
Ah. É verdade.
Ela não estava sozinha. Como ela pôde ser tão estúpida quando estava ali mesma com Aubrey e Ya-Ya? Não havia dúvida de que eles ajudariam. E ela ainda tinha Ruth e Tailor também. Que família poderia ser mais perfeita do que aquela? Era como os corvos. Ela tinha muitos ajudantes.
"Acho que devo fazer um teste antes de começarmos a planejar, não acha?"