Três Anos Depois
Aubrey sentou-se à sua mesa de desenho inclinada sobre o bloco de esboços enquanto sombreava seu desenho com lápis coloridos. A cidade havia convocado artistas para criar esboços para um mural proposto na Benjamin Franklin High School. Esta não era a primeira vez que Aubrey participava de uma dessas competições locais.
Ela já havia feito um mural para sua antiga escola, embora aquele tivesse sido uma encomenda específica da própria escola. Desta vez, a escola estava confiando em um processo de seleção, já que fazia parte da remodelação da escola. Aubrey não se importava com a competição e estava determinada a mostrar seu melhor trabalho. O tema era diversidade e fraternidade, e ela pretendia envolver as crianças e funcionários no trabalho.
Enquanto ela estava concentrada em seu trabalho, uma pequena figura entrou na sala. Ele se aproximou da mesa e ficou nas pontas dos pés para olhar por cima da borda enquanto ela trabalhava. Um sorriso se espalhou lentamente pelo rosto dela.
Sem olhar para cima, ela perguntou: "O que você acha, meu pequeno homem?"
"Ya-Ya diz que o almoço está quase pronto.", disse Jamie, com toda a seriedade.
"Tudo bem. Estou quase terminando.", Aubrey riu. "Você se divertiu no quintal?"
"Laveau estava repreendendo Booker por perseguir seus filhotes.", disse Jamie. "Eu disse a Booker que, se ele não tivesse cuidado, King iria atrás dele."
Aubrey assentiu. Desde que Jamie começou a andar, ele muitas vezes desaparecia no jardim apenas para voltar com histórias de gatos e corvos. Aubrey não mais questionava essas histórias, pois isso só irritava o menino.
Ela costumava se preocupar com os efeitos que crescer em uma família não convencional teria em um menino impressionável. Às vezes, ela ainda se preocupava. Mas ele tinha muitos amigos na vizinhança, se a presença deles na festa de aniversário temática de mágica dele fosse alguma indicação. Eles até tinham um mágico presente para entretenimento, além de uma bola de cristal que Ya-Ya usava para previsões. Como lembranças da festa, eles distribuíram pequenos amuletos e presentes, semelhantes aos jogados comumente de carros alegóricos do Mardi Gras.
Jamie gostava da atenção das outras crianças, mas não tanto quanto celebrava a presença de Sarah e Zoe. Dificilmente uma semana passava sem que ele perguntasse quando sua Tia Sarah e Zoe viriam novamente. Ele nem tinha completado um ano quando Zoe nasceu, e os dois cresceram juntos antes de Sarah decidir que era hora de seguir seu próprio caminho. Tanto Aubrey quanto Jamie esperavam que ela ficasse por perto, mas Sarah era uma garota de Nova Inglaterra de coração. O casal se estabeleceu em Vermont e, de acordo com todas as indicações, Zoe adorava morar na fazenda com todos os seus animais, embora sentisse falta dos corvos.
"Você tem certeza de que era a Laveau?", Aubrey perguntou. "Talvez tenha sido... qual é o outro... Tupper?"
"Toups. Ela é bem menor que a Laveau.", Jamie revirou os olhos, achando impossível alguém confundir uma com a outra.
"Ah, e a Daphne?"
"Delphine.", Jamie corrigiu.
"Sim, essa mesmo."
"Delphine m*l ajuda com os filhotes.", Jamie balançou a cabeça. "Ela fica só porque é fácil de encontrar comida."
"Certo. Bem, ela não é a única preguiçosa. E o Merlin? Ou o outro?"
"Você quer dizer Miracle Max?", Jamie perguntou. "O Merlin desapareceu há meses. Você sabe que ele some depois que o ovo choca."
"Certo."
"Mamãe, você sabe algo sobre corvos?"
"Claramente não tanto quanto você.", Aubrey disse. "Como você consegue diferenciá-los todos?"
"Não é difícil se você prestar atenção.", Jamie balançou a cabeça. Ele não conseguia acreditar que sua mãe ainda tinha dificuldade em lembrar dos corvos mesmo depois de ele já os ter apontado várias vezes.
"Tudo bem. Tudo bem.", Aubrey riu. "Vamos comer!"
Ela pegou o menino de três anos e meio no colo, fazendo cócegas nele até ele rir, enquanto o carregava até a cozinha. Lá, ela encontrou Ya-Ya servindo jambalaya. Enquanto sua tia colocava o prato do menino na frente dele, ela disse: "Você recebeu algo pelo correio. Parece oficial."
Os olhos de Aubrey imediatamente pousaram no envelope bege. Ela o pegou e sentou-se. Talvez houvesse novas regras para a competição de arte. Ao abrir, seus olhos se arregalaram e um sorriso se espalhou por seu rosto.
"Boas notícias?", perguntou Ya-Ya.
"O décimo livro de Rosemary será lançado.", disse Aubrey. "A editora está realizando um baile de máscaras para comemorar. No final da noite, Rosemary revelará sua verdadeira identidade!"
"É mesmo?", Ya-Ya sorriu. "Ela finalmente vai se mostrar para o mundo?"
"Parece que sim."
"Isto significa que eu não terei mais que fingir que não sei quem é a Rosemary?", Jamie perguntou.
"Isso mesmo.", Aubrey sorriu para ele. "Você poderá contar para todo mundo que a Rosemary é sua tia Sarah, depois do baile."
"Isso é legal." disse Ya-Ya. "Ela tem se escondido por muito tempo. É hora de deixar ela brilhar intensamente. Isso diz quando?"
"No final da semana, droga, isso não nos dá muito tempo." Aubrey praguejou suavemente.
"Ohm." Jamie deixou cair sua colher e cobriu a boca, lembrando a ela para não usar palavrões em sua presença.
"Desculpe, querido. Isso na verdade é um convite." disse Aubrey. "Para mim e um acompanhante. Diz que as crianças entram de graça."
"Nós vamos?" Jamie perguntou.
"Claro, como se nós fossemos perder isso. Espero que ainda consigamos um voo. E você, Ya-Ya?"
"Se os humanos fossem feitos para voar, teríamos asas." Ya-Ya balançou a cabeça. "Eu vou esperar até que o bom Deus me envie as minhas. Mas vocês dois vão e passem todo o meu amor para ela."
Aubrey revirou os olhos fazendo Jamie rir enquanto alcançava o telefone. De todas as peculiaridades de Ya-Ya, essa era uma que eles nunca se cansavam de zoar. Mas todo mundo tinha o direito às suas idiossincrasias.
"...Oi, eu preciso de uma passagem para Nova York. Duas poltronas. Não, precisamos sentar juntos...Bem, eu não vou deixar meu filho de três anos voar sozinho...Obrigada..."
Aubrey balançou a cabeça. Às vezes as pessoas faziam as perguntas mais estranhas, mas ficar chateada não ajudaria, especialmente ao telefone. Assim que o voo foi marcado, ela suspirou aliviada, mas ainda havia muito a fazer antes disso. Ela precisava terminar sua inscrição para o mural, comprar um vestido para si mesma, um terno para Jamie, fazer reservas em hotel, fazer as malas...a lista era longa. Geralmente ela não era boa com listas, mas tinha muita energia quando os objetivos eram importantes. Esperançosamente um iria cancelar o outro.
* * *
Eles chegaram tarde, o que era a história da vida de Aubrey se ela fosse honesta. Jamie estava exasperado com todo o processo de se arrumar. Ela realmente não podia culpá-lo, dada a hora tardia do voo. Na verdade, ela estava mais nervosa com seu carro, já que haviam deixado Ya-Ya para dirigi-lo de volta para casa em vez de estacioná-lo no estacionamento de longa duração do aeroporto. Ya-Ya não dirigia há anos, então seu medo era justificável. Aubrey nem mesmo tinha certeza se Ya-Ya tinha uma carteira de motorista válida.
Apesar dos contratempos, eles haviam chegado. Ela entregou o convite ao porteiro e eles entraram no local. Era muito maior do que ela imaginava, sabendo o quanto Sarah era autoconsciente, especialmente quando se tratava de reconhecimento e fama. Eles percorreram o amplo espaço em busca de figuras familiares entre o mar de máscaras e vestidos luxuosos. Aubrey tinha que dar crédito a Ruth, o baile tinha um clima de Mardi Gras e considerando que o personagem de Rosemary era da Louisiana, era muito apropriado.
Antes mesmo de darem uma volta completa pelo espaço, Aubrey estava começando a sentir o peso de ser única. O ambiente era decididamente rico, privilegiado e de peles claras, mas isso não a incomodava muito. Ela estava acostumada a abrir seu próprio caminho de qualquer forma.
"Ah, claro que eu conheço Rosemary! Nós estudamos juntas!"
Aubrey pausou, olhando para a mulher com um vestido vergonhosamente curto. Ela lutou para não rir ao pensar que alguém poderia acreditar que essa mulher tinha alguma conexão com Rosemary e, portanto, com Sarah. Ela m*l podia esperar pela grande revelação.
Seu olhar finalmente pousou na pessoa que ela estava procurando, ou pelo menos uma delas. Aubrey avistou Zoe sentada no colo de uma senhora idosa, aparentemente muito confortável. Ela não viu Sarah na proximidade imediata, então isso só poderia significar que a velha senhora era uma babá de confiança. Aubrey não fazia ideia de quem era a mulher na cadeira motorizada. Ela sabia que a mãe de Sarah já havia falecido há muito tempo, então talvez fosse alguém que Ruth conhecesse?
Havia várias pessoas mais velhas na mesma mesa, junto com várias crianças. Ela nunca tinha conhecido Ava, mas sabia dela e de seus filhos, e é claro que os ruivos pertenciam naturalmente a Macey. Seu olhar eventualmente encontrou Tailor em uma discussão séria com um homem alto e jovem. Dado o cabelo loiro dele, Aubrey teve que supor que era o irmão de Sarah. Se ele estava aqui, talvez eles não estivessem tão afastados como costumavam estar?
A curiosidade de Aubrey foi despertada e seu olhar finalmente se fixou em Sarah falando e rindo animadamente com um pequeno grupo de mulheres. Ela definitivamente parecia feliz e à vontade, então Aubrey ficou contente. Sem dúvida, voltar para Nova York tinha sido extremamente estressante, mas ela estava prosperando.
Aubrey estava prestes a se aproximar quando Ruth chegou para levar Sarah embora. Seu olhar seguiu o par até vê-los desaparecer atrás do palco. Ela sabia imediatamente que era hora da revelação, então ela incentivou Jamie a se posicionar perto do palco para ter uma boa visão.
As luzes diminuíram, atraindo as pessoas para a área. Aubrey observou a mesa onde Zoe estava, enquanto Macey e as outras mulheres com quem Sarah havia conversado se aproximavam para se juntar a seus respectivos cônjuges. Aubrey adivinhou suas identidades e esperava estar certa. A única que ela já havia conhecido antes era Macey em sua viagem a Paris.Zoe de repente saiu do colo em que estava e correu em direção a um homem, que a levantou imediatamente, beijando sua bochecha. Aubrey observou a interação atentamente. Se Sarah estivesse em um relacionamento, não havia como ela não ter contado para ela, o que significava que ele devia ser... Lucas. Definitivamente, essa era uma história que Aubrey gostaria de ouvir.
Ruth entrou no palco primeiro, chamando a atenção de Aubrey para longe do homem misterioso. Quando Sarah apareceu como Rosemary, Aubrey quase enlouqueceu. Era perfeito demais. Ela não achava que poderia ficar melhor até que Sarah tirou a peruca e soltou os cabelos. Aubrey estava cheia de emoção ao ver o mar de olhares surpresos.
Quando Sarah se empenhava... ela realmente se empenhava.