SERENA EM GROSSETO

1181 Words
SERENA O Marco estava bem surpreso de me vê no seu bar, isso era bem evidente na sua expressão facial. — O que faz aqui? — ele perguntou com a testa enrugada. — É assim que você costuma recepcionar os seus clientes? — eu perguntei me aproximando do balcão. — Perdão! — ele foi propositalmente irônico. — O que vai querer? "Você." Foi o que eu pensei. — Um limoncello — meu cotovelo estava encostado no balcão enquanto eu observava ele preparar o meu drink— E um lugar para passar a noite — essa segunda parte eu quase sussurrei de tão baixo que falei. Fiquei com receio de que ele me mandasse procurar um hotel. — O que? — ele até parou de preparar meu drink. — Minha moto quebrou quando eu estava voltando de Siena, ela só vai ficar pronta daqui a três dias, mas amanhã eu dou um jeito de voltar para Roma — falei tudo muito rápido. — Inclusive, eu vi a sua moto na mesma oficina que eu deixei a minha. — Ah... É só para uma revisão — o Marco falou, mas o mecânico já havia falado. — Talvez se você tivesse feito a revisão na sua moto, ela não tivesse quebrado na estrada. — Se eu tivesse feito a revisão na minha moto e ela não tivesse quebrado na estrada... — o Marco parecia muito lento para entender o que eu estava querendo dizer, então eu tive que soltar umas indiretas mais diretas, se é que vocês me entendem. — Eu não estaria aqui com você agora. — Serena... — o seu tom de voz era de repreensão. — O que foi? — peguei o meu drink da mão dele. — Não está feliz de me ver? — Estou surpreso — ele arqueou uma sobrancelha. — Você tem um jogo de dados aqui — comentei olhando para o alvo que estava na parede. — Vamos jogar? Ele riu de forma pretensiosa. — O que foi? — perguntei. — A mais de dez anos ninguém ganha de mim nesse jogo — ele estava se achando demais, eu precisava desbanca-lo. — Não tem problema, eu só quero me divertir — falei piscando um dos olhos, em seguida peguei metade dos dardos da mão dele. — Você pode começar — ele falou e eu me posicionei com um sorriso discreto no rosto. Eu acertei o dardo bem no meio do alvo. Quando olhei para o Marco ele estava olhando fixamente para mim. — Foi sorte de principiante — falei fazendo uma careta e negando com a cabeça. Em seguida foi a vez do Marco, e ele também acertou perfeitamente no alvo. Quando eu acertei pela segunda vez, ele me olhou com seus olhos semicerrados. — Sorte de principiante, é? — a pergunta dele veio carregada de sarcasmo. Alguns minutos depois, aquilo tinha virado um verdadeiro duelo de titãs. — Marco, você deveria tomar alguns drinques comigo — sugeri. — Daqui a pouco eu já não vou estar mais com o mesmo reflexo, e essa batalha não vai estar mais sendo justa. Ele me encarou, foi até atrás do balcão, pegou uma garrafa de tequila e dois copinhos de aperitivo, em seguida encheu e nós dois viramos um shot de tequila. Logo depois ele preparou dois drinks de limoncello. Um para mim e um para ele. [...] MARCO Essa garota me enganou direitinho. — Que vença o melhor — ela falou lambendo um pouco da bebida que estava prestes a pingar do seu lábio. "CaraIho, garota." Porr@, é sério que a irmã do meu primo, essa garota irritante, está me deixando com uma vontade incontrolável de enfiar a minha língua inteira na sua boca? — No que você está pensando? — ela me tirou dos meus pensamentos com a sua pergunta. — Nada de mais — desconversei. — vamos continuar? [...] Nós já havíamos perdidos as contas de quantos limoncellos e shots de tequila tinhamos tomado. Por fim, cansamos de jogar. O jogo terminou empate, mas aquele duelo estava longe de acabar. — Você é muito boa — confessei. — Você também! — Mas você me enganou direitinho. — Eu não tenho tantos anos de experiência como você, mas eu tenho um jogo de dardos no meu apartamento. Foi a primeira coisa que eu comprei quando sai do orfanato, antes mesmo de comprar a minha cama. Eu pedi para que a Serena esperasse um pouco e fui até a cozinha. Eu improvisei uma salada e um bife, e levei para nós dois. Já era noite, e eu imaginei que ela estivesse com fome. — Uau! O cheiro está ótimo — a Serena sorriu. — Você cozinha? —eu perguntei. — Faço um macarrão instantâneo delicioso — ela falou me fazendo sorrir. — Sério? — Eu não consigo nem seguir o passo a passo de receita pronta na internet — ela me fez sorrir novamente. — E como você faz? — Eu me viro — Serena falou partindo o seu bife. — Tomo café da manhã na padaria, peço comida em restaurante. Geralmente quando eu como fora eu peço algo saudável para balancear um pouco. E você? — Eu gosto muito de cozinhar — falei e ela me encarou. — Minha nonna me fez aprender a fazer absolutamente tudo dentro de uma cozinha. Todos os pratos que eu sirvo aqui no bar são receitas da nonna. Até o Angelo que antes da Aurora era a pessoa mais antissocial do mundo, sempre vinha aqui para tomar café da manhã, e vez ou outra também almoçava ou jantava. *** Depois que jantamos, a Serena me fez um convite. — O que você acha de darmos uma volta? Eu queria conhecer Grosseto. — Claro — nós nos levantamos e fomos andando em direção ao porto. Lá sempre ficam pequenas embarcações ancoradas, e eu achei que seria um lugar perfeito para que pudéssemos ver a lua que estava linda. — Você falou que aprendeu a cozinhar com a sua Nonna. Você foi criado por ela? — Sim! Minha mãe morreu no parto, e o meu pai sumiu no mundo com o pai do Angelo. — Eu sinto muito! — Pela minha mãe eu também sinto, mas pelo meu pai nenhum pouco — fui sincero. — A melhor coisa que ele poderia fazer por mim, era me deixar ser criado pela minha nonna. Ela era a melhor pessoa desse mundo, me fez ter uma infância muito feliz, já ele era só um covarde. — O Angelo também fala muito bem da nonna de vocês. — Ele também amava muita a nonna, e sempre que podia estava na casa dela. Em todas as férias ele ficava o mês inteiro na nossa casa, só parou de fazer isso depois que a Alice nasceu. Ele se sentia na obrigação de proteger ela daqueles pais horríveis. — Ele tinha toda razão. — Sim. Nós nos encostamos em um parapeito e mudamos totalmente o foco do assunto. — O que você faz da vida, Serena? Digo, em que trabalha? Como consegue se manter? — Eu sou uma agente secreta.
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