SERENA
O Marco estava bem surpreso de me vê no seu bar, isso era bem evidente na sua expressão facial.
— O que faz aqui? — ele perguntou com a testa enrugada.
— É assim que você costuma recepcionar os seus clientes? — eu perguntei me aproximando do balcão.
— Perdão! — ele foi propositalmente irônico. — O que vai querer?
"Você." Foi o que eu pensei.
— Um limoncello — meu cotovelo estava encostado no balcão enquanto eu observava ele preparar o meu drink— E um lugar para passar a noite — essa segunda parte eu quase sussurrei de tão baixo que falei. Fiquei com receio de que ele me mandasse procurar um hotel.
— O que? — ele até parou de preparar meu drink.
— Minha moto quebrou quando eu estava voltando de Siena, ela só vai ficar pronta daqui a três dias, mas amanhã eu dou um jeito de voltar para Roma — falei tudo muito rápido. — Inclusive, eu vi a sua moto na mesma oficina que eu deixei a minha.
— Ah... É só para uma revisão — o Marco falou, mas o mecânico já havia falado. — Talvez se você tivesse feito a revisão na sua moto, ela não tivesse quebrado na estrada.
— Se eu tivesse feito a revisão na minha moto e ela não tivesse quebrado na estrada... — o Marco parecia muito lento para entender o que eu estava querendo dizer, então eu tive que soltar umas indiretas mais diretas, se é que vocês me entendem. — Eu não estaria aqui com você agora.
— Serena... — o seu tom de voz era de repreensão.
— O que foi? — peguei o meu drink da mão dele. — Não está feliz de me ver?
— Estou surpreso — ele arqueou uma sobrancelha.
— Você tem um jogo de dados aqui — comentei olhando para o alvo que estava na parede. — Vamos jogar?
Ele riu de forma pretensiosa.
— O que foi? — perguntei.
— A mais de dez anos ninguém ganha de mim nesse jogo — ele estava se achando demais, eu precisava desbanca-lo.
— Não tem problema, eu só quero me divertir — falei piscando um dos olhos, em seguida peguei metade dos dardos da mão dele.
— Você pode começar — ele falou e eu me posicionei com um sorriso discreto no rosto.
Eu acertei o dardo bem no meio do alvo. Quando olhei para o Marco ele estava olhando fixamente para mim.
— Foi sorte de principiante — falei fazendo uma careta e negando com a cabeça.
Em seguida foi a vez do Marco, e ele também acertou perfeitamente no alvo.
Quando eu acertei pela segunda vez, ele me olhou com seus olhos semicerrados.
— Sorte de principiante, é? — a pergunta dele veio carregada de sarcasmo.
Alguns minutos depois, aquilo tinha virado um verdadeiro duelo de titãs.
— Marco, você deveria tomar alguns drinques comigo — sugeri. — Daqui a pouco eu já não vou estar mais com o mesmo reflexo, e essa batalha não vai estar mais sendo justa.
Ele me encarou, foi até atrás do balcão, pegou uma garrafa de tequila e dois copinhos de aperitivo, em seguida encheu e nós dois viramos um shot de tequila. Logo depois ele preparou dois drinks de limoncello. Um para mim e um para ele.
[...]
MARCO
Essa garota me enganou direitinho.
— Que vença o melhor — ela falou lambendo um pouco da bebida que estava prestes a pingar do seu lábio.
"CaraIho, garota."
Porr@, é sério que a irmã do meu primo, essa garota irritante, está me deixando com uma vontade incontrolável de enfiar a minha língua inteira na sua boca?
— No que você está pensando? — ela me tirou dos meus pensamentos com a sua pergunta.
— Nada de mais — desconversei. — vamos continuar?
[...]
Nós já havíamos perdidos as contas de quantos limoncellos e shots de tequila tinhamos tomado.
Por fim, cansamos de jogar. O jogo terminou empate, mas aquele duelo estava longe de acabar.
— Você é muito boa — confessei.
— Você também!
— Mas você me enganou direitinho.
— Eu não tenho tantos anos de experiência como você, mas eu tenho um jogo de dardos no meu apartamento. Foi a primeira coisa que eu comprei quando sai do orfanato, antes mesmo de comprar a minha cama.
Eu pedi para que a Serena esperasse um pouco e fui até a cozinha. Eu improvisei uma salada e um bife, e levei para nós dois. Já era noite, e eu imaginei que ela estivesse com fome.
— Uau! O cheiro está ótimo — a Serena sorriu.
— Você cozinha? —eu perguntei.
— Faço um macarrão instantâneo delicioso — ela falou me fazendo sorrir.
— Sério?
— Eu não consigo nem seguir o passo a passo de receita pronta na internet — ela me fez sorrir novamente.
— E como você faz?
— Eu me viro — Serena falou partindo o seu bife. — Tomo café da manhã na padaria, peço comida em restaurante. Geralmente quando eu como fora eu peço algo saudável para balancear um pouco. E você?
— Eu gosto muito de cozinhar — falei e ela me encarou. — Minha nonna me fez aprender a fazer absolutamente tudo dentro de uma cozinha. Todos os pratos que eu sirvo aqui no bar são receitas da nonna. Até o Angelo que antes da Aurora era a pessoa mais antissocial do mundo, sempre vinha aqui para tomar café da manhã, e vez ou outra também almoçava ou jantava.
***
Depois que jantamos, a Serena me fez um convite.
— O que você acha de darmos uma volta? Eu queria conhecer Grosseto.
— Claro — nós nos levantamos e fomos andando em direção ao porto.
Lá sempre ficam pequenas embarcações ancoradas, e eu achei que seria um lugar perfeito para que pudéssemos ver a lua que estava linda.
— Você falou que aprendeu a cozinhar com a sua Nonna. Você foi criado por ela?
— Sim! Minha mãe morreu no parto, e o meu pai sumiu no mundo com o pai do Angelo.
— Eu sinto muito!
— Pela minha mãe eu também sinto, mas pelo meu pai nenhum pouco — fui sincero. — A melhor coisa que ele poderia fazer por mim, era me deixar ser criado pela minha nonna. Ela era a melhor pessoa desse mundo, me fez ter uma infância muito feliz, já ele era só um covarde.
— O Angelo também fala muito bem da nonna de vocês.
— Ele também amava muita a nonna, e sempre que podia estava na casa dela. Em todas as férias ele ficava o mês inteiro na nossa casa, só parou de fazer isso depois que a Alice nasceu. Ele se sentia na obrigação de proteger ela daqueles pais horríveis.
— Ele tinha toda razão.
— Sim.
Nós nos encostamos em um parapeito e mudamos totalmente o foco do assunto.
— O que você faz da vida, Serena? Digo, em que trabalha? Como consegue se manter?
— Eu sou uma agente secreta.