PARQUE

1316 Words
SERENA — O que? — ele perguntou, parecia confuso. — É óbvio que eu estou brincando — desconversei. — ainda não era a hora dele saber. — Eu trabalho com investimentos — falei a primeiro coisa que veio na minha cabeça. — E você, se não fosse dono de bar, o que gostaria de ser? — queria testa-lo. — Um agente secreto — para dar essa resposta ele estava muito certo de que eu não sabia de nada. — Você não está assistindo muitos filmes? — Eu sei que eu não tenho muito jeito para a coisa, mas... Quem sabe seria o caso se eu tivesse alguma habilidade. A habilidade dele para mentir era tão boa quanto sua habilidade para atirar. Nós fomos andando e chegamos em um local onde estava tendo um evento da igreja. Tinha uma roda gigante, muitas barracas de comida, carrossel, martelo de força, cabine de fotos, barraca de tiro... Quando eu vi tudo aquilo, parecia que eu tinha voltado a ser criança. Eu com certeza iria em quase todos os brinquedos, mas obviamente iria começar pela barraca de tiro. — Vamos! — apontei para a barraca. — Por favor. O Marco simplesmente se deixou ser puxado por mim. — Você começa — falei. — Qual você quer? — ele perguntou apontando para todos os brinquedos de pelúcia que estavam à mostra nas prateleiras. — A tartaruga — falei e ele me encarou na mesma hora. — Ah, qual é? Qual outro brinquedo de pelúcia eu poderia escolher, esse tem tudo a ver com a forma que nos conhecemos. O Marco mesmo com a cara emburrada, mirou no alvo e acertou em cheio, conseguindo pegar a tartaruga. — Toma — ele praticamente atirou ela na minha mão. Eu o abracei e ele ficou meio sem jeito. Até eu fiquei, foi espontâneo, não foi algo que eu premeditei. — Agora é a minha vez — eu mirei no maior brinquedo de pelúcia do lugar, era um urso panda gigante, que consequentemente tinha o menor alvo para acertar, mas eu acertei, mesmo que propositalmente tenha segurado a espingarda de uma forma meio desajeitada — o Marco me olhou com sua testa enrugada. Quem também tinha a mesma expressão no rosto era o dono da barraca. — Escolha o próximo — o Marco falou. — O Stitch — apontei. — A mesma pessoa só pode atirar duas vezes — o dono da barraca falou antes do Marco mirar no alvo. Obviamente que ele acertou. — Minha vez — falei, mas mirei e errei propositalmente. O dono da barraca parecia respirar aliviado, já o Marco exibia um sorriso presunçoso no rosto. "Homens e seus egos que precisam ser massageados.'' [...] MARCO A Serena era uma garota bem diferente. Pilotava moto potente, tinha um jogo de dardos na sua casa e não sabia cozinhar. Ela estava se divertindo igual uma criança, e eu estava gostando daquilo. Estar perto dela era bom. Passamos por um garotinho de aproximadamente seis anos, que estava com um adolescente de treze para quatorze anos. — Uau! Ela tem um Stitch — o garotinho falou. — Você quer para você? — ela se abaixou para ficar do tamanho dele. — Sim — a resposta veio com um sorriso com alguns dentes faltando. — Toma, é seu — a Serena entregou o brinquedo para ele. — Obrigado! — era inegável o quanto ele tinha gostado do presente. — De nada! Alguns minutos depois, uma garotinha de uns oito anos mais ou menos, ficou olhando para aquele panda enorme que eu estava segurando para a Serena. — Você quer? — ela perguntou e a garotinha só balançou a cabeça. Serena pediu que eu entregasse a garotinha, mas antes de pegar, ela correu até a Serena e a abraçou, sem que ela esperasse. — Muito obrigada, moça bonita! — a garotinha falou com os braços em volta da cintura da Serena. — Qual o seu nome? — Serena perguntou retribuindo o abraço da garotinha. — Valentina. Ela se abaixou para ficar na altura da Valentina. — Vamos combinar uma coisa? — a menina assentiu. — Mesmo que alguém te dê um ursão desse tamanho, ou qualquer outro presente, se for um estranho você não vai abraçar, tudo bem? E se um estranho quiser te dar uma bala ou qualquer outra coisa de comer você também não aceita, tá bom? Pode falar que a sua mãe não deixa. A Valentina ficou olhando para a Serena, e em seguida concordou balançando a cabeça. — Tem pessoas que parecem ser legais, mas não são, por isso que não pode abraçar estranhos. — Tudo bem! — Bate aqui — a Serena falou e as duas bateram as mãos. A Valentina foi andando com aquele urso gigante, até que sumiu das nossas vistas. — Foi legal o que você fez, inclusive, a parte de orientar sobre abraçar estranhos. — Infelizmente, a maioria das garotas mesmo na idade da Valentina, já tiveram que encarar olhares cobiçosos, e a sensação não é nada boa. Ela é só uma garotinha inocente que estava agradecendo um presente que havia acabado de ganhar, mas nem sempre a pessoa abraçada está com boas intenções. Muitas pessoas inclusive, usam essa tática de dar uma bala ou um presente para fazer com que a criança se aproxime. — Verdade. Na mesma hora me lembrei de um episódio há um ano atrás, onde eu exterminei cinco homens que faziam parte de uma quadrilha de tráfico de órgãos que haviam sequestrado três crianças. Por sorte, eu cheguei à tempo de salvar as três crianças, mas sabe-se lá quantas não tiveram a mesma sorte. Continuamos andando, até que a Serena viu algo que a deixou animada. — Podemos ir na cabine de fotos? — ela perguntou. Seu sorriso estava de orelha a orelha. Como ela só pergunta por educação, mas já saiu me puxando para o lugar como fez na barraca de tiro, eu não tive muito tempo de responder. Nós entramos e nos sentamos. Lá dentro era bem apertado, então estávamos grudados um no outro. — Quantas caretas você consegue fazer? — ela me perguntou e eu franzi o cenho. Não demorou para que eu entrasse na brincadeira. Tiramos fotos sorrindo, fazendo careta, dando língua, fazendo bico, com cara de bravo, cara de triste, de espanto... A última foi a que ficou mais legal. Nós estávamos rindo, mas foi espontaneamente. Na verdade estávamos dando gargalhadas. — Onde quer ir agora? — perguntei. — Que tal o martelo de força? — Então vamos. Chegamos lá, esperamos que algumas pessoas que estavam na nossa frente brincassem, até que chegou a nossa vez. Cada um tinha direito a bater o martelo três vezes. O segredo para ir bem no martelo de força não está só em usar a força, o movimento tem que ser preciso. Na primeira vez, nós não tínhamos entendido muito bem isso, e não fomos tão bem. Da segunda e da terceira vez fizemos ótimas pontuações. — O Angelo certamente teria quebrado o brinquedo — A Serena comentou e eu concordei sorrindo. Faltava apenas a roda gigante. A fila estava imensa, mas nosso papo estava tão descontraído que nem percebemos quando chegou a nossa vez. — Vamos — ela sorriu e nós entramos. A vista era espetacular lá do alto. A Lua estava linda, clareando a água do mar que balançava com o vento. As luzes da cidade deixaram a vista ainda mais espetacular. Os olhos da Serena estavam brilhando. Ela que de calma não tinha nada, estava serena como o seu nome. — Você não vai dar para alguém a tartaruga? — perguntei vendo ela abraçada com o bichinho de pelúcia. — Não! Eu tenho um queda por tartarugas — ela respondeu olhando bem no fundo dos meus olhos. "Essa garota só pode estar querendo brincar com fogo." Eu não sei explicar, mas senti novamente aquele desejo incontrolável de beija-la.
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