Cap3

1655 Words
-Primavera o que eu tenho de errado?- eu acariciava a minha árvore na qual me escondia as vezes quando eu estava prestes a explodir eu conversava com ela como se ela me respondesse mesmo- Eu não sirvo para nada, porque eu existo? Tudo tem um sentido ao meu redor, mas eu....-respirei fundo- Eu não tenho ninguém, eu me sinto presa em um corpo que não é meu, eu sinto que poderia explodir o mundo se quisesse, ninguém se importaria se eu morresse, você sentiria minha falta?- eu me ajoelhei e comecei a chorar - Eu só não aguento mais, que Celeste me salve. Com a força das mãos rasguei aquele vestido que tinha escolhido por causa dele, e comecei a subir em Primavera, ela era a maior árvore nas proximidades do palácio, eu sempre subia ate um lugar que eu pudesse dormir, mas naquele momento eu fui subindo, sem me importar se conseguiria descer, fui subindo e subindo, até que fiquei na altura das últimas janelas do palácio, ninguém estava lá, todos estavam na festa, se eu simplesmente pulasse ninguém notaria- eu só sirvo para ser a substituta da minha irmã?- pensei e meus olhos estavam cheios e meu coração cheio de dor, e num ato de desespero eu simplesmente....Gritei. Eu gritei tão alto, tão forte que eu vi a terra gritar comigo e o chão tremeu junto, eu achei que era uma alucinação por causa do vinho, mas eu senti um terremoto tão furioso debaixo da árvore que eu me desequilibrei e só lembro do meu corpo solto no ar. Eu tinha certeza que tinha morrido, mas na manhã seguinte eu acordei no meu quarto, rodeada por minhas criadas com expressões aflitas. Minha babá chorava e estava vermelha segurando uma pequena imagem de preces de Kiar, ela segurava minha mão, ela se importava comigo, ela sempre estava ali fazendo o papel que minha mãe devia fazer, eu apreciei suas feições já envelhecidas mas ainda lindas, Marta era uma senhora linda e bondosa, e eu a amava, não queria parecer ingrata, mas eu daria tudo para que fosse minha mãe no lugar dela naquele momento. -Babá?- minha babá se aproximou mais e começou a chorar beijando minha mão -Ah minha filha, eu estava com tanto medo de ter te perdido....minha menina...- O que tinha acontecido? Eu me lembrava de pouco -O que aconteceu?- Quando ela abriu a boca para falar meus pais entraram no quarto gritando e ela falou apenas com os lábios "seja forte" -Por Kiar, que bom que está viva minha filha...- minha mãe exagerada gritava fingindo comoção pelo fato dos reis de Celine estarem presentes -Analya...- meu pai falou com carinho, ele de fato não era tão forçado quanto minha mãe - Minha flor, o que está sentindo? -Um pouco tonta...o que aconteceu? -Ontem, aconteceu um terremoto em toda a costa leste de Celeste e Cecília, você estava na árvore, e caiu....- eu toquei minha cabeça e nenhuma parte de mim doía- Não se lembra de nada?- Neguei mas me lembrava sim, eu olhei para Nelly que sorria e no fundo da sala estava Phillipe, sério, de braços cruzados, mas aparentemente aliviado. -Não aconteceu nada antes?- olhe para meu pai -Um dos nossos magos vindos de Celine, disse que houve um despertar, ele não soube o que significava, mas nunca foi visto algo tão forte antes, graças a Kiar e a nossa mãe Celeste você está viva...- ele beijou minha testa - Vamos deixa-la descansar -Eu falei daquela maldita árvore, devemos corta-la, se ela tivesse morrido, quem...- quando minha mãe ia terminar eu completei -Quem o que mãe? Quem substituiria a Nelly se algo acontecesse? é isso que ia dizer?- meus olhos queimaram -Deixe de ser infantil Analya, obvio que não...- ela saiu sem graça e meus pais foram atrás -Estamos felizes por estar bem princesa Analya. Pedimos muito para Kiar não nos tirar você.- os reis de Celine se curvaram gentilmente e eu retribui com a cabeça. -Lya, porque saiu da festa?- Nelly pega em minha mão, eu vi os rei de Celine saírem e a abracei. -Eu não tinha motivos para estar lá...- eu beijei seu ombro e voltei a me deitar virada para ela -Converse comigo...- ela insistiu -Nelly eu não quero conversar e muito menos te machucar com verdades...- Nelly arrumou a postura e me olhou -Eu insisto, sou sua irmã, sua amiga e serei...- esposa do homem que eu amo?- a sua rainha- ela sorriu e eu me sentei -Quer a verdade? Então ok, estou cansada desse reino, estou cansada dos nossos pais, estou cansada de não servir para nada, eu ESTOU CANSADA DE SERVIR COMO UMA MERA SUBSTITUTA SE ALGUMA COISA ACONTECER COM VOCÊ.- Nelly ficou em silêncio - Eu to cansada e tudo, e agora eu me pergunto porque aquele maldito terremoto não me matou de vez? Eu sou um peso e já assumi isso, não tenho serventia nenhuma, e mesmo que você morresse e eu fosse obrigada a te substituir, acho que meus pais iriam preferir que a Ivana - era a égua adestrada do meu pai- no poder do que eu, eles fizeram o favor de destruir a minha imagem perante o povo, eu nem sei quem eu sou.... E posso te pedir uma coisa? Só uma? -Claro..- ela fala baixo -Não morra, por favor...Eu não suportaria viver sendo a sombra do que um dia você foi, então para que não haja decepção, fique viva. Só isso... -Acha que é fácil pra mim Lya?- seus olhos cor de rosa ficaram escuros -Acha que sua vida é difícil? Você tem tudo que eu queria ter...e eu nem to falando do trono...- Enquanto Nelly olhava para suas mãos em seu colo eu dei uma leve olhada para Phillipe que nos observava em silêncio -Antonella, me deixe por favor, eu quero descansar....Eu não quero te machucar mais. -Como quiser querida.- ela não insiste, beija minha cabeça e escuto a porta bater e desabo em meu travesseiro. -Não deveria fingir assim...- Eu me sento e vejo Phillipe encostado na parede, pensei que ele tinha ido com Nelly. -Saia daqui...- eu limpo meu rosto -Lya eu te vi quase morrer, eu tinha saído do baile para te procurar quando eu te vi caída...Meu coração desmoronou só de imaginar um mundo onde você não exista....- ele se aproximou -SAIA DO MEU QUARTO, EU NÃO ME IMPORTO, EU NÃO ME IMPORTAVA ANTES E NÃO ME IMPORTO AGORA...- me sentei e cuspi as palavras para Phill - No final eu percebi que mereço mais, saia daqui, e nunca mais volte a tocar em qualquer assunto relacionado a isso, por mim e pela Nelly, sua noiva. - ele ficou parado me encarando como se aquilo fosse apenas um surto devido a queda.- Acha que eu estou maluca? Acha mesmo que eu faria isso com ela? -Eu não estou insinuando nada, Lya.- ele respirou fundo e massageou suas têmporas- Eu vou me casar com Antonella, e nada vai mudar isso, mas eu não posso me casar sem dizer o que eu sinto por você, porque depois, minha devoção, fidelidade e amor serão para ela. - Eu ri com sarcasmo -Eu acho incrível como as pessoas negociam o amor, pelo reino amarei fulano, por um contrato amarei ciclano. Você sabe o que é o amor realmente, Phillipe? -Acho que nem você sabe.- eu voltei a ri e concordei com a cabeça -Realmente, não conheço e espero nunca conhecer.- olhei para minha mão - Espero que o conheça em seu casamento com Nelly, Phill. Esqueça tudo que um dia eu falei.....- respirei fundo- É melhor acabar aqui, eu não quero no final...te odiar- por fim olhei em seus olhos -Como quiser princesa, espero que se recupere...- ele se curvou e foi em direção a porta mas antes de abri-la, ficou parado por alguns segundos- Lya, posso até não saber o que é realmente o amor, mas acredito que o que sinto por você é um belo indício dele.- ele saiu Eu me sentei e nem pensei em sua declaração, isso não me importava, não mais. Eu olhei para o espelho e meus cabelos estavam bagunçados, meus olhos cor de rosa apagados e minha pele quase acinzentada, será que eu havia perdido a minha cor? Eu me lembrei da noite passada , me lembrei os olhos azuis no salão, me lembrei de olhar sob os muros de Primavera e ver as lindas árvores de Outono brincarem com o vento, nem as folhas ultrapassavam os limites de primavera, mas se eu fosse elas eu ultrapassava tudo que pudesse. E o meu grito? seguinte de um terremoto tão extremo, havia sido eu ou apenas uma coincidência? Talvez pelo fato de não ter magia em meu sangue a natureza estivesse mais ligada a mim e ouviu o meu grito e quis gritar junto, não podia ter sido eu. Mas como eu não me machuquei quando eu cai? Era tão alto....- meu coração bateu mais forte e eu sai na varanda e olhei para Primavera. -Primavera? Foi você que me salvou?- naquele momento uma brisa perfumada passou por mim e uma flor da primavera repousou em meu cabelo - Eu sabia que não tava ficando louca....Obrigada....- eu não fazia ideia do que havia acontecido ou se realmente estava ficando louca, será que a voz da minha cabeça era dela? Eu voltei a entrar e peguei a flor e sorri, a abracei contra meu peito já sabendo que minha mãe não permitiria que eu voltasse a subir na Primavera de novo. Então meus pensamentos foram completamente tomados por aqueles olhos azuis, como eu consegui fazer aquilo, ninguém os via, como se eles não estivessem realmente lá....mas será que estavam? Será que tudo foi alucinação do vinho?- balancei a cabeça e outra flor de primavera entrou pela janela, e assim que eu a toquei a voz ecoou na minha cabeça -Não foi alucinação menina, levante e se prepare a guerra está vindo.
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