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1986 Words
"Você não pode obrigar as pessoas a sentirem por você o mesmo que você sente por elas" - (Kyle XY). Eu sabia que a pequena conversa que tive com o Leonardo ontem não mudaria nada, mas bastou para que eu pensasse nele ainda mais. Eu pensei que talvez poderíamos nos falar no colégio com mais frequência, mas ao perceber que ele nem ao menos me olhou senti tanta raiva que poderia socá-lo ali mesmo. Na frente de todo mundo. Ele deve ter percebido o que eu queria - quem não perceberia? - e se afastou para não precisar me dispensar cara a cara, não é? Essa era a única alternativa que se passava pela minha cabeça. O pior de tudo era que ele não se afastava completamente. Enquanto eu estava indo ao banheiro, passei por ele e seus inseparáveis melhores amigos - Lucas, Tomás e Daniel - e eles falaram sobre mim na maior cara de p*u. O Tomás disse "Olha aí, Castanhari", o Daniel disse "Boa, Leozão" e ouvi o Leo mandando-os calarem a boca, mas com um sorriso ridículo no rosto. Ele deve estar amando isso. Deve estar amando saber que tem uma garota caidinha por ele, deve ser tão ótimo para seu ego ficar ainda maior do que já é. - Olha aí de novo, Castanhari. Vai que é tua. - não consegui conter a minha raiva quando ouvi falarem sobre mim enquanto eu voltava para a sala. - Estão querendo me dizer alguma coisa? - me virei para os quatro, que me encaram com os olhos arregalados. Quase soltei uma risada. - Podem falar. Eu estou ouvindo direitinho agora. Queria mesmo rir ao ver a cara de tonto de todos eles. Eles não esperavam que eu fosse ligar. - Awn, vocês perderam a fala agora? - cruzei os braços e sorri falsa. - Tão fofos. - dei um passo pra frente. - Se quiserem falar sobre as meninas que circulam por esse corredor, sejam mais discretos. As paredes tem ouvidos. - acenei com a cabeça em direção as meninas que saíam do banheiro. Elas estavam falando sobre eles. Ia dar as costas, mas o Leo levantou da mesa e veio na minha direção. Meu olhar se encontrou com o do Lucas por um momento e ele fez um joia como se estivesse me incentivando. Não entendi nada. Agora os amigos dele sabiam também? Ok, minha vergonha acabou de triplicar. - Não liga para o que eles estavam falando. Eles são otários. - Leonardo disse me olhando e eu assenti dando de ombros. Ficamos nos encarando por longos segundos. - Preciso voltar pra sala. - apontei para trás com o polegar enquanto desviava o olhar do dele. - Claro. - Nos vemos depois. - falei rápido e voltei praticamente correndo para a sala. Onde diabos a Luíza estava e por que o Rafael era o único ser existente naquela sala? - Oi, Rafa. - sentei na carteira em sua frente. - Finalmente você apareceu! Quero conversar com você. - ele disse e eu franzi o cenho. - É sobre o Castanhari? Porque se for... não estou interessada. - Claro que está. - disse e eu bufei. - E eu me lembro daquele dia, Mari. No meu aniversário do ano passado. Rolou um clima pesado entre vocês, eu percebi. Nos conhecemos no aniversário do Rafael e lembrar desse dia era algo que me fazia sorrir constantemente. Inclusive agora. Era tentador demais lembrar dos vinte andares dentro de um elevador com ele. - Você sabe que pode conversar comigo. Quer conversar? Tudo que eu queria era conversar. - Ah, eu odeio sentir essas coisas, Rafa... - murmurei abaixando a cabeça, até encostar na carteira e fiquei assim por um tempo. - Quer dizer, tem tantas pessoas no mundo. Por que a gente se sente atraída justo por quem não está nem um pouco na sua? - É até estranho ver você, sendo você, sofrendo por não ser correspondida. - O que isso quer dizer? - Que todo mundo corresponde. - disse como se fosse óbvio. - Não sei qual é o problema do Castanhari. - Talvez é exatamente por isso que eu não consiga esquecer, não é? Nós temos um lance estranho de gostar do impossível. - Não é nada impossível. - O que você acha que eu devo fazer? Deixa pra lá mesmo ou... sei lá? - Você não pode obrigar alguém a sentir por você o mesmo que sente por ela. - disse. Ele tinha razão. - Meu, você é bonita pra c*****o. Gente boa, engraçada, além de que todo mundo sabe que você tem o melhor senso de humor. - Estou achando que você tem uma quedinha por mim, Rafa. - falei piscando pra ele. - Viu! Senso de humor. - disse também rindo. Óbvio que eu estava brincando, o Rafa nunca ficaria afim de mim. - Ele que está perdendo. - É, eu sei disso. - falei dando de ombros. Um pessoal começou a entrar na sala. - Confiante. Nada convencida e sim confiante. - disse rindo. - Sempre, Rafinha. - levantei a mão e fizemos um Hi-5. Nessa hora, o Leonardo entrou na sala e seu olhar foi direcionando a mim, mas eu desviei na mesma hora. Chega de ser i****a. - Obrigada, Rafa. - falei levantando da mesa e o abracei. Ele me deu um beijo na testa e eu fui atrás da Luíza. - Meu, você ficou maluca?! - gritei quando a Luíza me deu um rosto enquanto eu entrava no banheiro. - Meu Deus. - fiquei até sem ar. Sentei na mesa que tinha perto do banheiro e fiquei com a cabeça abaixada por cinco minutos, só ouvindo a risada - escandalosa - da Luíza. - Chega, chega! Vai logo! - falei apressando a Luíza para irmos logo para a classe. A prova começaria logo logo. Nós entramos na sala ainda rindo e todo mundo estava estudando em silêncio, ou seja, viramos o centro das atenções por alguns minutos. Nem eu e nem a Luíza gostávamos disso. Preferíamos ficar mais na nossa, quietas e sem chamar atenção. - Eita! A Lara aceitou ficar com o Castanhari? - Luíza sussurrou quando sentamos e vimos o Leonardo conversado com Lara e com a Larissa. - Tomara! - murmurei irritada. - Aí pelo menos ele já consegue o quer e se decepciona por se iludir com ela. - O que você disse? - Nada. - dei de ombros. - Você está diferente nesses dias. Parece meio tristinha. - eu desejaria que eles não pudessem escutar a nossa conversa, mas estavam praticamente ao nosso lado. - Não estou tristinha não. - falei baixo. Acho que o Leonardo ouviu o que a Luíza disse porque ele ficou me olhando... De repente, o diretor Pedro entrou na sala e todo mundo foi para o seu lugar. - Bom dia, pessoal. - ele disse. - Bom, vim comunicá-los que daqui um mês terá uma excursão para São Paulo. Vamos a uma exposição de artistas do século XIX, e mais tarde no teatro do shopping Eldorado. E logo começou a falação. - Quem tiver perguntas, levante a mão. - muita gente levantou a mão, mas eu fiquei na minha. - Caio. Caio perguntou se todos iriam no mesmo ônibus e a resposta foi imediata: seria em dois ônibus, então separariam os alunos. A galera fez um coro de "Ahhh" e eu comecei a rir sozinha. Como o pessoal era safado! E me irritei ao olhar pro lado e ver o Leonardo me olhando. Poxa, se ele não quer ficar comigo pelo menos sai fora, né? Ele não tem ideia de que esses olhares me enchem de esperanças? A excursão seria dia 03 de abril e enquanto todo mundo ficou animado, eu só conseguia pensar que meu irmão ia embora alguns dias antes. Meu coração só conseguia se apertar. Me lembrei de que ele viria me buscar hoje e também lembrei que a Luíza me convidou para ir viajar com ela para São Paulo nesse final de semana. Meu irmão ia fazer uma chantagem emocional comigo que eu não seria capaz de negar. - E aí? Foi bem na prova? - meu irmão chegou com um sorriso enorme. Ele sentia falta do colégio, credo. - Aham. - respondi. - Você vai mesmo conversar com todo mundo? Todos os professores e tal? - perguntei coçando a cabeça. Ele assentiu. - Ok, vou ao banheiro. Meu irmão sempre passava longos minutos conversando com as pessoas que ele conhecia e eu fiquei um bom tempo no banheiro para o tempo passar. Voltei mexendo no celular e bati no braço de alguém. - E aí, Marizinha. Beleza? - Davi, um garoto do terceiro que era amigo do meu irmão, disse. - Oi. Beleza. - falei. Tinha muitos garotos conversando com meu irmão ali. A maioria era do terceiro e o Lucas e o Tomás do segundo, mas logo vi mais alguém ficando ao meu lado. - Então, você é irmã do Gustavo? - ouvi a voz do Leonardo e eu o ignorei. Na verdade, fingi que não ouvi porque estava com fones de ouvido. - Ah, desculpa. Você falou comigo? - perguntei tirando fone quando percebi que ele estava me olhando. Ele balançou a cabeça parecendo meio bravo e não com aquela expressão de divertimento de sempre. Era isso. Ignorar. Depois de longos dez minutos, meu irmão disse: - Vamos, Mari? A maioria dos professores já foram embora. - Finalmente. - falei mais alto do que eu esperava, o que fez alguns meninos rirem. - Tchau! - acenei pra eles e fui atrás do Gustavo. Entrei no banco passageiro do carro e Gustavo no do motorista. - Você sabe quem eram aqueles dois que estavam com o Lucas Rochette? - meu irmão perguntou do nada. - Tomás e Leonardo. - respondi. - Por que? Você conhece eles? - Eu acho que já joguei bola com eles quando eles ainda eram pequenos. - disse. - Quando eu tinha uns dezesseis, tinham molequinhos de dez que vinham jogar com a gente. - Ah, sim... deve ser eles. - dei de ombros. - Ah é! - lembrei do que a Luíza disse. - A Luíza me chamou pra ir pra São Paulo com ela nesse final de semana. - Você vai me abandonar? - eu não disse?! Ele sempre fazia chantagens emocionais. - Vou mudar de país em menos de um mês e meio e você vai pra São Paulo?! Minha ida foi adiantada! - Eu sabia que você ia fazer isso. - falei rindo. - São apenas três dias. Além de que você vai viajar com a sua namorada semana que vem. - Por isso mesmo você não deve ir. - disse. - Vai ter uma festa, poxa. - Agora que você não vai mesmo. - ás vezes ele agia como meu pai e isso era engraçado. - Tudo bem, eu não vou. Mas você também não vai viajar com a Elisa. - falei. - Ela vai me matar! - Quem é mais importante, Gustavo? Eu ou ela? - fiz drama e cruzei os braços. - Claro que é você! - disse como se fosse óbvio. - Tudo bem, vou cancelar com ela e nós passamos o final de semana juntos na Ilha. Pode ser? - Na Ilha? - Sim. A mamãe não te falou? Ela vai levar as amigas pra lá. - Ah, entendi. - murmurei. O Gustavo abriu o vidro do carro, fazendo meu cabelo se espalhar. Estávamos na pista e ele sabia que eu odiava quando fazia isso porque era um sacrifício arrumar o meu enorme cabelo. - Vou te jogar pela janela. - falei brava. - Você chora só quando lembra que vou embora, imagina se você me matar. Vai viver sem mim e com a culpa. - i****a. - falei rindo. Eu já estava sentindo tanta falta do meu irmão e olha que ele ainda nem foi.
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