Quinze

2716 Words
Sebastian Eu posso começar esse dia com uma pergunta: seria esse o começo do meu fim? Bom, essa é uma pergunta que nem eu mesmos sei a resposta, já que esse dia já estava marcado na minha história desde que eu nasci. E olha que quando eu era apenas um menino, lá no Orfanato Santa Lucia, eu não fazia a menor ideia de que um dia eu poderia estar nessa situação, me casando por compromisso de família. Se bem que não é de tudo r**m, pois estou me casando com uma mulher que é o sonho de consumo da maioria, senão da totalidade dos marmanjos existentes nos dias atuais. Meu pai já havia estipulado que eu deveria me casar com a filha de Aramis Satine e quando eu vi a garota pela primeira vez, confesso que tudo em mim balançou, tudo mesmo e eu pensei: “é essa deusa que vai estar na minha cama todos os dias”? Só que com o passar do tempo, com as constantes manifestações de sua personalidade, eu fui entender pelo que o meu pai biológico deve ter passado ao lado daquela inominável, a desgraçada que matou a minha mãe. Mas eu torço muito para que a Nicole seja diferente, ou, eu desfaço esse casamento assim que passar o tempo limite pelo qual eu devo permanecer casado, embora o Pepe tenha dito que as famílias de mafiosos devem acima de tudo, apresentarem um modo de vida bastante tradicional e conservador. Sei, até parece que somos assim mesmo. Mas a conversa é outra, não dá mais para adiar o dia do meu casamento, tanto que estou parado agora mesmo bem diante do alfaiate que está a fazer os últimos ajustes no meu terno. E o padre já aguarda a mim e a Nicole para oficializarmos a nossa “união”. — Como está a sua andada, senhor Baroni? — perguntou o alfaiate. — Está ótima. Você não errou a perna, se é o que lhe preocupa! — respondo, e volto a me olhar no espelho. — Que bom. Agora deixe-me olhar só mais um pouco nas costas! — ele novamente diz. — Tá, mas seja rápido, por favor. Eu não sou a noiva para ter tantos aparatos! — respondo novamente. — Não é a noiva, mas é o noivo! — olha a surpresa. Uma tia, irmã mais velha do meu pai, aparece para me ver casar. Tia Natália! — você está lindo, meu sobrinho! — Tia, eu não acredito, Dio mio! Desço do pedestal onde estou a provar o terno e a abraço. Natália é a irmã mais velha do meu pai e assim como eu, ela também é a filha da empregada. Só que no caso dela, a minha avó paterna não a quis matar, como a desgraçada fez comigo. E u não a mato só porque a quero ver sofrer naquele manicômio pelo resto de sua vida miserável. — Mas por que não avisou que viria, tia? — E eu ia estragar a surpresa, meu sobrinho lindo? — ela respondeu, com aquele sorriso largo que preenche o seu rosto fofo por causa da gordura. Sim, a tia Natália é o que podemos chamar de fofinha! — Mas que bom que veio, tia. — Eu já estava pensando que não haveria ninguém da minha família para assistir ao meu... cumprimento de dever. — eu completo, depois de dar uma pausa. — Mas é assim mesmo, meu querido sobrinho. Lembre-se que eu, mesmo não sendo reconhecida como filha legítima do seu avô, tive de me casar com o seu tio, que Deus o tenha! — tio Fabrício morreu pouco antes de eu chegar aqui, não cheguei a conhece-lo. — Bem que eu queria ter conhecido o tio Fabrício. — comento. — E ele a você, meu lindo menino, agora vamos terminar de ver essa roupa, não quero ver o meu sobrinho se casando parecendo um mendigo, alfaiate! — ela se dirigindo ao homem com a agulha nas mãos. Esse casamento promete. Depois de tudo pronto, minha tia e eu nos dirigimos para a Cattedrale di Sant'Agata, principal Catedral de Catânia. Foi uma escolha da própria Nicole em se casar ali, nela também foi celebrada a cerimônia de casamento do meu pai. Eu só espero que não aconteça comigo o mesmo que com ele, pois vou pensar que ao invés de abençoar, casar-se ali seja sinônimo de outra coisa. Chego na Catedral e ela já está lotada, só aguardando a chegada da noiva. Quanta gente fútil está presente aqui. Políticos, empresários, mafiosos do baixo clero... quanta lambança. Não seria mais fácil só dizer que sim e pronto? Pois é apenas isso que falta para mim e para a Nicole, já que praticamos tudo que um casal pratica, tudo mesmo. — Você convidou os Petroni para o seu casamento? — perguntou a minha tia, olhando na direção de uma família para lá escrota. — O que? Eu não. — respondo. — Deve ter sido coisa da Nicole. Ela é que tem contato com essa gente. Olho para o outro lado e vejo um representante do clã de Roma. O que ele faz aqui? Pergunta ao mandamento da Máfia, onde cerimônias oficiais não são proibidas para os rivais. Eu não sei quem inventou essa, mas por mim, eu transformava a cara desse infeliz em uma peneira, agora mesmo. — Nicolas Salvatore. O filho de Francesco Salvatore, senhor do clã de Roma! — minha tia o reconhece logo de cara. — A senhora e o Salvatore eram bem jovens, não é mesmo, tia? Chegou a ter algum tipo de amizade? — pergunto-a, ela faz um bico. — Bem mais do que uma amizade, mas isso já não interessa mais! — ela responde, voltando a olhar para frente. — Acho que ainda temos muito o que conversar não é mesmo, tia Nat? — olho para ela, enquanto seguimos para a sala de espera. E nisso eu espero que a Nicole não demore muito. *** Nicole Seguimos todos os protocolos para que o casamento seja firme e duradouro, Sebastian e eu. Mas eu não posso negar que estou muito nervosa, o meu vestido parece não querer entrar no meu corpo e todos aqui parecem estar contra mim. Minha mãe tenta me acalmar, mas eu não quero me acalmar. Droga! Por que eu fui nascer tão insegura assim? — Nicole, minha filha. Do que mais você está a reclamar? — minha mãe pergunta. Ela diz isso porque não está na minha pele. — Mãe, olha só para mim, eu estou gorda parecendo um hipopótamo fêmea. Aquele personal incompetente vai me pagar muito caro, pois eu o paguei rios de dinheiro para que me deixasse uma Barbie, para o meu casamento! — eu grito de maneira histérica. Minha mãe tapa os ouvidos. — Você está perfeita, minha filha. Não tem nada de errado com você, além do seu temperamento. Como ela consegue ser tão calma? Acho que por isso que o meu vive fazendo o que quer. E por falar nele? — Você acha que eu estou linda, mãe? — Claro, minha flor. — ela diz de maneira terna. — A noiva mais linda que já se viu. — Mas eu não acredito! Ela sacode os braços fazendo gesto de que desiste de mim. E para ser sincera, eu também desistiria, até que a estilista me põe diante do espelho e caramba, não estou nada m*l. Mas eu também não posso elogia-los, quanto mais pressão, mais eles trabalham bem, sendo assim. — Nunca que está da forma que eu queria, mas como já não dá mais tempo de desmanchar tudo e fazer novamente, vai ter que ser assim mesmo. — digo como se estivesse dando bronca. — Só que essa será a última vez que eu contrato o serviço de vocês! Depois do penteado pronto, eu coloco o meu véu, que é curto. No meu vestido, eu não dispensei o muito volume de pompa, digno da realeza, muito tule, rendas, mas com destaque para a parte de cima, bem justa e valorizando o meu decote. A maquiagem também foi para arrasar, pois a última noiva que teve na minha família, a minha prima nojenta, Julieta, se gaba até hoje como sendo a noiva mais linda da família Satine, até hoje! Chego na igreja, assim que entro na Cattedrale di Sant'Agata, logo vejo rostos que não me agradam nenhum pouco, tudo um bando de gente falsa, principalmente os Petroni, os quais eu convidei apenas por mera formalidade. E também porque eu quero a casa cheia, assim dará mais respaldo para a imprensa que está a cobrir o meu casamento. Mas o que me deixou chocada, foi ver um Salvatore aqui. Será que isso foi obra do meu noivo? Bom, para mim, tanto faz, o que importa mesmo é que todos olhem para mim e babem. — Como você está linda, minha filha? — diz o meu pai, que me guará até o altar. — Pois eu já não concordo, mas foi tudo o que tive. — respondo. Minha mãe olha para o meu pai e balança a cabeça. A marcha nupcial começa a tocar. Optei pela tradicional, mas pra ser sincera. Ô coisinha mais brega, hein! Faço a minha parte na encenação e fico louca quando vejo o meu noivo no altar. Nossa, como ele está lindo, com aquele terno escuro e aquela chamada barba curta de três dias, aquela que deixa o rosto de bebê para trás, dando ao homem um rosto másculo. Ele sabe que eu adoro esse visual e achei fofo ele ter escolhido o mesmo para se casar. Vou andando pelo tapete vermelho até que sou entregue pelo meu pai, ao homem com quem, eu acho, que passarei o resto da minha vida. Isso mesmo, eu acho, não tenho certeza. — É com muita alegria que estamos aqui para celebrarmos a união dessas duas criaturas, diante de Deus! — o cardeal começa a cerimônia. — Peço aos noivos que se coloquem de joelhos diante do altar, por favor! É nesse momento que a coisa complica para o meu lado, pois na hora de me ajoelhar, me dou conta de que manei apertar demais o meu vestido e começo a passar m*l. Ah não, desmaiar agora não! Segura as pontas, Nicole Satine, por favor! Tarde demais, acabei tombando do altar. Droga! *** — Nicole! — Nicole! Abro os meus olhos devagar e vejo o rosto do Sebastian a me chamar. — O que aconteceu? — minha cabeça parece estar girando. — Está tudo rodando! — Você desmaiou e eu tive que resgar uma parte do seu vestido para você conseguir respirar. Estava apertado demais. — Não acredito. — Onde estava com a cabeça ao mandar apertar tanto assim a sua roupa? — Você fez o que? *** Sebastian — Tem alguma coisa acontecendo com ela. Não sinto sua respiração direito! — estou aflito. Minha noiva não pode morrer no dia do meu casamento. Seria isso um mau presságio? — Um médico! Tragam um médico por favor! — minha sogra começa a gritar feito uma louca. — Que médico o que? — fala a minha tia. — Essa moça está mais apertada do que carne embalada a vácuo! — Do que a senhora está falando, tia? — pergunto-a. — Experimente abrir um pouco do vestido dela, para ver se não volta a respirar normal? — Oi? — todos perguntamos de uma só vez. — Isso mesmo. Faça um pique de cada lado do vestido dela e logo a noiva melhora. Eu já passei por isso e sei como é! — ela insistiu. — Sebastian, só eu sei o trabalho que deu para que a Nicole aceitasse vir se casar assim. — Melina segue com sua histeria. — Agora você quer estragar o vestido dela? Vamos esperar o médico! — Eu sou médico! — o cara está mais parecendo um anêmico. Mas tá valendo. — O que tem a noiva? — Ela não respira direito, doutor! — os pais dela respondem, ao mesmo tempo. O home magricela se aproximou de Nicole, que seguia desmaiada e com a respiração curta. Eu estava a ponto de leva-la ao hospital, então o médico a examinou, olhou de um lado para o outro e voltou-se para mim. — Não seria prudente se eu o fizesse. — Se o senhor fizesse, o que? Doutor? — eu pergunto. — Tirar o vestido da moça, pois é isso que a está impedindo de respirar direito! — Não falei! — minha tia diz, com a cara de satisfação de quem estava com a razão o tempo todo. Melina a olha atravessado. — O que? A senhora já tinha dito isso antes? E por que vocês estão deixando a pobre moça sofrendo desse jeito? Isso pode fazer m*l para ela, sabiam? — o médico dando uma bronca em todos nós. — Vamos, meu rapaz, tire o vestido da moça! — Eu não vou tirar, pois sei que ela irá surtar se eu o fizer, mas pode deixar comigo... Pedi ao Cardeal que me desse algo cortante, uma faca afiada e um bisturi. O coroinha me trouxe um pequeno canivete. Um canivete na igreja? Bom, isso não vem ao caso agora, então fui abrindo o vestido da Nicole bem nas costuras. Se ela não fazer movimentos bruscos, poderia se casar sem que ninguém note o que aconteceu. Aos poucos ela foi recobrando a consciência. — O que aconteceu? Expliquei a ela tudo o que houve, só que quando chegou na parte do vestido... — Como você pôde fazer uma coisa dessas, Sebastian? E agora, como que eu vou me casar? — ela gritava feito uma maluca. — Olha, se você começar a chorar, além de ter que se casar com um vestido afrouxado, vai ter a cara borrada também! — falei a verdade, ela me olhou querendo me picotar. — Ele está certo, filha. — não acredito que a minha sogra concordou comigo. — É melhor voltarmos para a cerimônia. E o seu vestido está perfeito! — Não é por nada. — diz o Cardeal. — Mas eu tenho outro casamento para celebrar hoje, o da filha do prefeito e você devem se apressar. — Ouça aqui, padre. Eu não dou a mínima para a filha do prefeito. Eu não vou me casar com um vestido rasgado! — novamente eu grito. — Já basta, Nicole! — minha paciência já se esgotou. Olhe-se no espelho e vais ver que você não está com seu vestido rasgado. Agora recomponha-se e vamos voltar para o altar, agora. Falei entredentes. Nicole por fim aceita voltar ao altar, mesmo contra a vontade. O Cardeal então faz as perguntas e nós dois fazemos os nossos votos. — Se tem alguém dentre você, que tenha algo a dizer contra esse casamento, que fale agora, ou, cale-se para sempre! Bom, não tem ninguém. E mesmo que tivesse... e daí? Casaríamos mesmo assim. Nos beijamos, conforme manda a tradição e recebemos os cumprimentos de todos ali, até de quem eu não queria. *** Sarah Rafaele está de folga hoje. Pepe o dispensou de estar no casamento do Sebastian Baroni com a Nicole e ele aproveitou para vir ficar comigo. Eu adoro a companhia do Rafa, mas não osso negar que estou me sentindo abalada pelo fato de o Sebastian estar se casando hoje. Eu não sei o porquê de eu estar assim, mas só sei que estou. — O que foi? — ele pergunta. — Parece aérea. — Nada. Só estou ansiosa para retirar esse gesso — respondo, sentindo-me m*l or estar mentindo para alguém que me quer tão bem. — Não se preocupe, o doutor Tulio disse que só mais três ou quatro dias, e você estará livre desse gesso horrível! — ele sorri e me beija. — E você, Rafa? Tem certeza de que está totalmente recuperado? — também me preocupo com a saúde dele. — Claro, Sarah. Amanhã mesmo eu vou ao médico para fazer outro check-up. Não quer vir comigo? — não resisto a esse sorriso. — Lógico que sim. Passe por aqui quando for, tá? Seguimos assistindo ao filme. A essa altura a cerimônia já deve ter acabado. Certamente foi uma Cerimônia perfeita, com tudo perfeito e sem nenhum contratempo. Ah, mas que boba! Já chega, Sarah, ele nunca será seu!
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