Treze

2216 Words
Sarah Eu vivo em um tempo aonde as pessoas são excessivamente previsíveis, destituídas de criatividades, sem controle emocional e aprisionadas nas teias da mesmice. Durante o tempo em que eu estive internada naquele hospital, eu percebi isso, percebi como as pessoas são desmotivadas e que sempre estão buscando uma forma de suprimir seus anseios, mas sem nunca ter a coragem de se desprenderem das amarras do cotidiano. Por que são assim? E por que eu, que sou um ser humano como qualquer um deles, percebo essa falha? — Sarah? — Ah! O que foi? Estou mergulhada no mar de pensamentos, num verdadeiro lombo que mais parecia feito de uma espécie de lama grossa e espessa. Nem estava prestando atenção no que o Rafaele me dizia. — Vamos para a casa da sua tia, ela já está esperando por você, Sarah! — ele repetiu. — Nossa. Em que planeta você estava? A pergunta dele faz todo o senti. Realmente pareceu que eu estava em outra galáxia. Basicamente em uma onde eu me pergunto: será que eu sou a única pessoa normal or aqui? — Me desculpe, Rafa. É que eu ainda estou um pouco desconfortável com o que me aconteceu! — responde meio que disfarçando. — Te entendo. Não é todo dia que a gente fica em coma numa UTI! — ele sorri, mas depois sua expressão fica séria. — O que foi? — pergunto-o. Ele me olha e se dirige até a bolsa, retorna e me entrega um embrulho de papel. — O que é isso? — eu volto a perguntar. — Foi a Marta quem mandou pra você — ele responde desconfiado. — Ela disse que gostou muito de você e por isso está lhe dando essa ajuda! Eu até diria: “puxa, que legal. Agradeça a ela por mim.” Se a quantia não fosse tão grande. Há pelo menos uns 5 mil euros aqui. — Nossa, eu não posso aceitar isso, Rafa! — sou direta. — Devem ser as economias dela, coitada! — Foi o que eu também pensei. Mas ela insistiu e eu disse que caberia a você, de aceitar, ou não! — Você fez bem. Eu vou falar com ela por telefone e dizer que isso daqui é muito dinheiro para eu aceitar assim. A não ser que seja um empréstimo! — deu meu parecer final. — Bom, mas vamos deixar para discutir isso depois. Eu estou aproveitando o carro para te levar até a sua tia, se eu demorar o Pepe me mata! — concordo com o Rafaele. Apesar de estar recuperada, minha perna ainda não está. Acabei quebrado a tíbia durante o acidente, mas os médicos disseram que logo eu voltarei para retirar o gesso, eles até estipularam uma data, daqui há duas semanas. Duas semanas com essa coisa na minha perna. Haja paciência! — Parece que está uma correria só lá mansão do Baroni. — comentou, enquanto aprecio a vista do caminho. — O que? Você está interessada? — Rafaele pergunta, sem tirar os olhos da estrada. — Quem eu? Imagina! — sorrio. — Eu comentei por causa de você, parece bem mais cansado do que antes. E não é bom para a sua saúde, não fazem nem uma semana que você recebeu alta! Rafaele olha novamente para mim, só que rapidamente, pois ele sempre foi concentrado ao volante. — Eu não sei se vai fazer diferença para você, mas é por causa do casamento do senhor Baroni com a senhorita Satine! — ele respondeu. — Aquilo lá está uma verdadeira zona. — Puxa, eu posso até imaginar! — dou uma risada ao recordar das histerias dela. — Imagina a dona Nicole achando que tudo não está, bem na hora de subir ao altar? — Nossa, nem me fale! Nós dois começamos a rir. — E olha que eu conheço a peça. Nada nunca está do que jeito que ela quer. O que torna impossível descobrir do que ela gosta — novamente dou uma risada. Mas o jeito como o Rafa me olha, acaba por chamar a minha atenção. — O que foi? — Nada. Sabe o que é — ele começa tentando encontrar as palavras certas. — É que na verdade, eu temi em te contar sobre o casamento. Temi por sua reação. Será que eu sou tão transparente assim? Melhor eu tentar me defender! — E qual reação você esperava de mim, Rafaele? — Sei lá, Sarah! — ele para bruscamente. — Olha, eu não ia te contar, mas no dia em que você foi levada para a UTI, sabe quem foi te visitar no hospital? Ele! — Ele quem, caramba? — O Sebastian! O Sebastian Baroni em pessoa foi lá para se certificar de que você estava bem. E ele foi até disfarçado! Sinceramente, eu não sei o que responder ao Rafaele. — Por que o Sebastian Baroni veio me visitar aqui no hospital? Isso remonta outra dúvida. Será que esse dinheiro foi mesmo enviado pela Marta? Se nem a Margot, com quem eu trabalhei or quase cinco anos, me daria uma quantia dessas apenas por ter gostado de mim? E acredito que esse seja o motivo pelo qual o Rafaele ficou tão desconfortável. — Olha, Rafa, eu não e nem quero saber o motivo de o senhor Baroni ter vindo aqui me ver. Foi ele mesmo quem exigiu da senhorita Nicole a minha demissão e por isso, a não ser pelo fato de você estar trabalhando para ele, nada mais daquele homem me interessa! Sou objetiva. E não quero mesmo saber o motivo da vinda dele até mim, já não basta a pressão que eu sofri por causa daquela maluca da Nicole. — Você está certa! — ele concordou. — Se quiser eu posso averiguar a origem desse dinheiro aí. — Pois faça isso. Se eu souber que esse dinheiro tem dedo do Sebastian Baroni, eu quero distância dele! Rafaele deu a partida no carro novamente e poucos minutos depois eu já estava na casa da tia Cornélia, irmã mais velha do meu pai. — Sarah, que bom que você já recebeu alta, minha filha! — tia Cornélia veio me receber com um abraço caloroso. — E a senhora nem sabe o quanto eu estava desejando sair daquele hospital! — eu, retribuindo o carinho. Rafaele me pegou nos braços e me colocou sentada na cadeira de rodas. Que sensação r**m, a de estar nessa situação. Vou procurar as muletas o mais depressa possível. O Rafa não demora muito, pois precisa voltar logo para o trabalho, então nós dois nos beijamos deliciosamente e ele retorna para a casa Baroni. — Você arranjou um belo de um ragazzo para namorar, filha! — minha tia comenta. — Bonito e parece ser una brava persona (boa pessoa)! — Bonito é pouco, tia Cornélia, o Rafaele é lindo! — devolvo o comentário. — Só é mais lindo do que o... Decido não prosseguir, não quero prosseguir! — Como quem, filha? — Um ninguém, tia. Pode acreditar, um ninguém! — Definitivamente, és a primeira vez que vejo alguém falar com tanto entusiasmo de um ninguém! — minha tia sabe como ser sarcástica às vezes. — Mas, vamos deixar isso de lado, porque tem uma coisa pra te falar. — O que, tia? — Seus pais. Eles disseram que era para você entrar em contato assim que deixasse o hospital! — ela responde. — Será que aconteceu alguma coisa? Corro, melhor, rodo os pneus da minha cadeira até a mesa do telefone. — Eu posso, tia? — Claro, minha filha! — ela responde de modo sereno. — Vou estar no jardim, preciso abrigar algumas mudas para o inverno. Qualquer eu estarei lá. — Obrigada, titia! Assim que a minha tia me deixa sozinha, pego o telefone e faço uma chamada internacional. É certo que essa ligação será descontada do meu salário, mas não é bem a conta que me preocupa e sim, o motivo dos meus pais quererem falar comigo, com tanta pressa. — Alô, pai? — ele logo atente. — “Sarah, minha filha. Como é bom ouvir a sua voz!” — é o meu pai falando, eu simplesmente os amo. — Tia Cornélia me disse que queriam falar comigo. A mamãe está aí com você? — pergunto. — “Está sim, vou colocar no viva-voz!” “Oi Sarah, é a mamãe!” — Oi mãe. Nossa, quanta saudades de você dois! — “Filha, você quase matou a mim e ao seu pai do coração. Como que esse acidente foi acontecer?” — Pai, mãe a polícia daqui está investigando, mas acredito que tenha sido só um descuido da minha parte! — “Você precisa tomar mais cuidado, Sarah.” — diz a minha mãe. — “Você sempre dirigiu tão bem, desde que tirou a carteira. Quase não acreditei quando me contaram do acidente!” — “Sim, filha!” — é a vez do meu pai. — “Olha, sua mãe e eu gostaríamos que reconsiderasse!” — Reconsiderasse o que, pai? — “Voltar para casa, filha, para os seus pais. Aqui a gente vai poder cuidar melhor de você!” — Olha pai, mãe, eu sei o quanto vocês se preocupam comigo e eu também me preocupo muito com vocês, mas por hora eu não posso voltar. — “E por que não, filha?” — Eu quero ficar e ajudar a tia Cornélia, pai. E tem mais... — “O que, amor?” — os dois perguntam, ao mesmo tempo. — Eu conheci um rapaz, o nome dele é Rafaele. Pai, ele é uma pessoa muito legal. Até a tia Cornélia gostou muito dele. — explico, o meu pai fez uma cara... eu prossigo. — Não sei se vamos chegar a nos casar, mas ele é das antigas e já até me propôs isso. Eu quem disse que ainda é cedo. — “Bom, a gente respeita a sua decisão, filha!” — meu diz, com o apoio da minha mãe. — “mas saiba que essa casa também é sua e quando quiser voltar, ela está aqui pra você!” — Eu amo vocês, pai e mãe! Me despeço deles e desligo o telefone. Até que não seria má ideia se eu retornasse para Paris, mas eu também preciso dar um espaço para as coisas que eu posso vir a conquistar aqui. É isso, eu vou dar uma chance ao Rafa e a este lugar. Se der errado, eu sei muito bem para onde correr. *** Rafaele Me chamo Rafaele Galaretto e tenho 24 anos. Trabalho como motorista do senhor Baroni desde os meus 18, na época era o pai do Sebastian Baroni quem dava as cartas por aqui. Me lembro do velho Baroni e de suas armações, também já cheguei a testemunhar diversas brigas entre ele e a senhora Mirela, sua esposa. Para ser sincero, eu vejo a história se repetindo com o casamento do Sebastian e da Nicole, uma trama onde tudo o que importa é o dinheiro. Meu pai morreu quando eu tinha 15 anos, em uma dessas aventuras dos Baroni, ele acabou recebendo um tiro. Ele queria que eu me tornasse um médico, me fazendo jurar antes de partir, que eu lutaria para realizar esse sonho, não importando o que eu tivesse de fazer. Sentinel Baroni conseguiu pegar o cara que atirou no meu pai, mas aquilo já não importava, o velho Emanuel Galaretto já não estava mais comigo, então eu jurei que iria trabalhar para realizar esse sonho, que também é o meu. Nas horas vagas eu estudo. Quem sabe eu não possa conseguir uma bolsa, ou meia. O que vier é lucro. Só parei um pouco de estudar depois que conheci a Sarah. Ah minha nossa, ela é demais, mas eu também notei o interesse do Sebastian por ela, só que dessa vez ele perdeu. Estou aqui pesando na minha vida, quando sou surpreendido por Pepe, o melhor amigo do meu pai. — O que um jovem tão bonito faz aqui nesse jardim, parado e com um olhar perdido? — ele pergunta, com aquela voz já ficando enrouquecida. — Pepe. Que bom que se juntou a mim! — respondo-o. — Não estou perdido, estou navegando em águas muito conhecidas. — Ah, mas isso é muito bom, meu rapaz! — ele sorri. — Deixe-me adivinhar. Nessas águas se encontra uma bela sereia, estou certo! — Como você sabe? — Eu vi a forma como você ficou quando viu a senhorita Sarah Milani pela primeira vez! — respondeu. — É, você tem razão, Pepe. Além de todas as conquistas pelas quais estou lutado e para ser sincero, bem perto de conseguir, a Sarah também faz parte dessa minha felicidade! Pepe olha para mim modo estranho, é como se ele soubesse de algo que eu não sei, mas prefiro deixar a seu encargo, se vai me contar, ou não. — E quais as suas intenções com essa moça, Rafaele? — A depender do tamanho da minha paixão, eu só irie dar-me por satisfeito quando estiver casado com ela. E essa é mais uma das metas pela qual eu lutarei para alcançar! Pepe desejou-me boa sorte e disse que precisava resolver mais um assunto para Nicole. Melhor me preparar para a dor de cabeça que vai ser esse casamento.
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