Sebastian
A conversa com Julio foi para lá de desgastante, mas o que estava mesmo me deixando inquieto era a lembrança de ter visto Rafaele conversando tão intimamente com Sarah. Será que os dois estavam namorando? Quanta coisa passando pela minha cabeça e além disso, o miserável é quem está dirigindo o meu carro. Mas como dizia uma velha amiga, “não custa nada perguntar”. E é exatamente o que eu vou fazer. Quem sabe eu não descubro alguma coisa?
— Escuta... como é mesmo o seu nome? – pergunto ao rapaz que dirige.
— Perdão. O senhor falou comigo, senhor Baroni? – ele replica, olhando através do retrovisor.
— Sim, como você se chama mesmo!
— Pode perguntar, senhor...
— Quem era aquela moça com quem conversava? Não me lembro de tê-la visto antes! – e eu não me lembro de mentir com tanta facilidade.
— Ah, é a senhorita Sarah Milani. Ela é acompanhante de sua noiva, senhor! Parece que o bonitinho aí, fez a lição de casa.
— Hm, não sabia! – tento disfarçar. — Vocês dois estão... não é que isso seja da minha conta!
— Ah, não senhor! – que alívio. Ele prossegue. — Eu só a achei interessante e parece ser bem inteligente. Gosto de mulheres assim.
— Tá, tá legal. Entra logo, porque eu estou cansado e quero dormir! – falei, interrompendo antes que começasse falar o que eu não queria ouvir.
— Sim senhor! Chegamos na minha mansão e eu já fui logo entrando. As luzes estavam quase todas apagadas, pois já era madrugada e eu acabei demorando mais do que previa. Fui até o bar, enchi um copo com uísque e virei de uma vez na boca.
Que raiva eu sinto do Julio por ter me traído daquela forma, mas isso não vai ficar assim. Aquele maldito só vai viver até eu descobrir com quem e, para quem, ele anda passando o que me pertence. Mas, aqui estou pensando com os meus botões, em como irie matar o traidor, quando de repente eu sou surpreendido por alguém que entra na sala da de cara comigo, todo sujo de sangue e para a minha sorte, ou azar, esse alguém não é nada menos do que a minha Doce Sarah. Só que ela, ao contrário de mim, não ficou tão entusiasmada, pelo menos, não como eu queria que ficasse.
— Ah, meu Deus! A mulher deu um baita grito, assim que acendeu aluz e me viu todo... vocês já sabem. Para ela, eu estava ferido e precisava de ajuda.
— O senhor... o senhor está!
— Ei, calma, está tudo bem! – eu falo, tentando acalmar a garota, que começa a caminha de costas enquanto eu me aproximo.
— Por favor, tenha calma, não ´que você pensa!
— Como não? – ela diz. — O senhor está todo ensanguentado e...
— Esse sangue não é meu, se é o que pensa. E me desculpa se eu a assustei! Parece que la finalmente resolveu entender e parou de andar de costas, o que facilitou a minha aproximação.
Cheguei mais perto, ela treme feito uma vara de bambu ao vento, então pego delicadamente uma de suas mãos, que está gelada por sinal e, a seguro por entre as minhas. Que pele macia, parece até um pêssego.
— Eu me envolvi numa briga e acabei me sujando. Mas estou bem! – novamente eu explico, só que ela resolve derramar um balde de água fria na minha cabeça, metaforicamente falando.
— Espere, o Rafaele. Ele foi quem o levou, não foi? – droga! Tinha que ter o Rafaele. — E como ele está? – ela parece preocupada com aquele insignificante. Mas eu disfarço.
— Ele está bem, não se meteu na briga.
— Ufa — ela, com as mãos sobre o peito — menos m*l. E que bom que o senhor também está bem!
— Obrigado, como é mesmo o seu nome? — nossa, como eu sou sínico.
— Sarah, Sarah Milani. Eu sou acompanhante de sua esposa...
— Noiva! – eu a interrompo. — Nicole é minha noiva!
— Sim, sua noiva! – ela me olha meio desconfiada. Mas é aí que coisa, que já estava meio confusa, fica ainda por. Nicole escutou o barulho e desceu para ver do que se tratava. Adivinha só...
— Eu posso saber o que se passa por aqui? Bom, pelo menos dessa vez eu não estarei mentindo quando disser realmente o que aconteceu. E foi exatamente isso o que eu fiz.
— Nada, amor. Eu só estava aqui tomando uma dose de uísque, quando essa senhorita me viu nesse estado e acabou se assustando.
— É, foi sim. — Sarah ainda me ajuda.
— E você estava rolando em qual poça de lama, para estar sujo desse jeito?
— Não é lama, amor, é sangue, mas eu te explico no quarto! – fui logo dando a conversa ali, por encerrada. Não quero correr o risco d expor a Sarah para a Nicole. — Vamos? Estou muito cansado e preciso de uma massagem. E quanto a você, senhorita Milani – me dirijo à Sarah — mais uma vez, me desculpe.
— Que nada, senhor Baroni. Sou eu quem me desculpo se causei algum transtorno!
Assinto e saio, levando a Nicole comigo, segurando em sua mão. Como é uma mulher bastante ciumenta, Nicole indagou o porquê de eu ter pedido desculpas à Sarah e eu disse que foi apenas uma cortesia, já que a garota quase teve um ataque ao me ver todo sujo com o sangue do Julio.
Bom, ela parece ter engolido a história, só que agora eu terei de fazer amor com ela novamente, só assim ela irá tirar quaisquer caraminholas, da cabeça.
***
Sarah
O dia amanheceu, mas eu ainda não consegui tirar da lembrança a visão do senhor Baroni todo sujo de sangue, bebendo uísque. Nossa, quase que o meu coração saiu pela boca. Se ser mulher de mafioso requer conviver com esse tipo de situação, eu nem quero pensar na possibilidade de um dia me tornar mulher de um. Mas o mais impressionante foi a dona Nicole.
Ela parece não ter se importado com o estado em que o noivo se encontrava, apenas perguntou se o coitado estava rolando na lama. Eu hein, povo doido. Começo o dia fazendo a minha higiene pessoal, penteio os meus cabelos, tomo um banho, volto a pentear os cabelos, visto um terninho, regra da dona Nicole e vou procurar elos afazeres do dia. Da sacada do segundo andar da casa eu avisto o senhor Baroni tomando café da manhã, no jardim. Como durante a noite foi tudo muito confuso, eu nem reparei nele direito.
Como esse homem é bonito, mas eu nem posso pensar nisso. Pare com isso, Sarah! No entanto, é praticamente impossível não ficar concentrada em tamanha beleza. Mas o meu barato ´cortado por Margot, que chega em mim, por trás.
— A dona Nicole quer falar com você. O que faz aqui? — ela pergunta. Essa é uma boa hora para uma lorota.
— Eu? Eu estava justamente procurando por você, Margot. Quero saber quais são os afazeres do dia. Pode me dizer? — nossa, me sai melhor do que pensava.
— Bom, isso é com a senhorita Nicole. Agora vamos! Assinto, mas não perco a oportunidade de observar mais uma vez a beldade em forma de homem. E não é que ele estava justamente olhando para mim? Agora lascou, eu não posso chamar a atenção desse homem. Em contra partida... o que um homem desses iria querer com uma sem graça feito eu? Então acompanho a Margot e vou direto para o quarto do Baroni. Uau, que luxo! Fico arada diante da dona Nicole. O que será que ela quer? Eu espero que não seja só comigo.
— Bom dia, Sarah! – ela falou diretamente a mim. Lascou.
— Meu noivo ficou bastante preocupado com você ontem, sabia?
— O... seu noivo? Como assim? – pergunto, meio confusa. Margot me olha, desconfiada.
— Não tem nada com que ele se preocupar, não senhora.
— Você me pareceu nervosa, Sarah. Foi por que ele estava ensanguentado? – ela insiste.
— Sim, foi isso sim! – Agora lascou de vez. — Imagina a senhora entrar na sala e ver um homem todo sujo de sangue bem na sua frente? O pior foi que as outras também concordaram comigo. Apenas a Margot seguia me encarando. Alguma coisa ela está pensando e eu acredito que vou ter trabalho para fazê-la pensar o contrário.
— Tudo bem, então. – disse a Nicole. — Eu só queria mesmo era saber se você estava bem, mas vou te pedir uma coisa, Sarah. Procure não ficar muito perto do Sebastian, tá bom. Pode ser perigoso para você e, isso vale para todas vocês. Fui clara? Todas respondemos sim, apenas gesticulando com a cabeça.
Em seguida a Nicole nos disse que estávamos todas dispensadas e deixamos a suíte de luxo. Só que logo que saímos, Margot me puxou pelo braço, conduzindo-me a um local reservado.
— Ai, Margot. Por que me puxou desse jeito? – pergunto, estranhando a sua atitude.
— Pensa que eu não andei prestando atenção no modo como você olha para o senhor Baroni? – ela diz, com cara de poucos amigos.
— Margot. Com pode pensar isso de mim?
— Eu penso sim senhora. Você sabe o que acontece com uma mulher que se envolve com homens como ele? Não, né? Pois eu vou te dizer... ele apenas usa e depois descarta, só isso. E a Nicole? Bom, ela é do interesse dele e posso lhe garantir que não se trata de amor, meu bem! Olho para ela, com decepção, mas também não a julgo. Eu tenho penando sim, no Sebastian, mas nem me passa pela cabeça ter algo com ele.
E é exatamente o que respondo para a Margot, ainda acrescento que não é pecado achar um homem bonito, mas que sei, que Sebastian Baroni está muito além do que eu possa alcançar.
— Pois que bom que você pensa assim, viu. E espero que continue a pensar... e fique longe das vistas dele, pois aquilo dali consegue conquistar até uma pá de jardim só com um sorriso! — ela diz. E está mais do que certa. O Sebastian é do tipo que pode ferrar com a vida de uma mulher como eu, num piscar de olhos.
***
Deixo a Margot e vou para o jardim sul, onde oportunamente eu encontro o Rafaele. Ele me dá um sorriso brilhante, assim que me vê. Nossa, como esse daí também sabe ser bonito. Não tanto quanto o Sebastian, mas é bonito.
— Oi Sarah. Que bom te ver por aqui! – ele diz, dando dois beijos na face, um de cada lado.
— Também fico feliz em te ver. – respondo. — Ontem eu encontrei o senhor Baroni todo sujo e fiquei preocupado com você. – falei, ele me olhou com ar de surpreso.
— Sério? Você se preocupou mesmo comigo, Sarah?
— Sim. E fiquei feliz quando ele me disse que você estava bem.
— Foi só mais uma de suas aventuras, mas eu geralmente fico de fora, sabe. Então não tem porque se preocupar. – disse ele.
— Que bom, fico feliz. De repente, Rafaele e eu começamos a nos encarar, é quando eu olho por cima de seu ombro direito, vejo que o Sebastian Baroni está a olhar para a gente, fixamente e a sua cara não é das melhores.
Então a dona Nicole se aproxima e ele parece disfarçar, dando-lhe um beijo nos lábios.
— O que foi? – Rafaele olha para trás.
— Nada. Só os patrões! – respondo, disfarçando.
— Olha, hoje é a minha folga. Topa jantar comigo? Nossa, que ótima ideia.
— Ah, claro! – concordo na hora. — Estava mesmo querendo sair um pouco.
— Poxa, que legal. Que bom que você concordou. Vamos às oito então. Pode ser?
— Pra mim está ótimo!
— Ok, te aguardo aqui mesmo, tá?
— Yes!
Volto para os meus afazeres. Estou começando a acreditar que o Rafaele é algo bom na minha vida, pois não gostei nenhum um pouco de como o senhor Baroni ficou em encarado enquanto eu falava com o Rafa. A Margot tem razão, vou procurar ao máximo, ficar fora da visão dele.
***
Sebastian
Posso me classificar como sendo uma criatura noturna, isso porque eu adoro solucionar meus problemas durante à noite, já que durante o dia, eu prefiro aproveitar o melhor da vida. Sou completamente oposto das outras pessoas. Não demorou nem doze horas da prensa que eu no safado do Julio e já meus homens descobriram quem é de fato o receptor dele. Como o Rafaele não está disponível, peço ao Pepe para me levar até o local e pegar o desgraçado com a boca na botija. De hoje esse filhote de égua não passa. Só que no caminho para chegar até o galpão, mais precisamente em frente ao um restaurante simples, eis que eu me deparo com algo que me deixou muito, mas muito irritado.
— Algum problema, menino Sebastian? – perguntou Pepe. Ele ainda com essa de me chamar de menino.
— Nada. Pode dar a partida, Pepe. Imaginem que eu acabo de ver a Sarah na maior felicidade, jantando justamente com o Rafaele. E eu que estava achando que não era nada de especial, mas parece que os dois estão mesmo tendo um caso. Droga! Por que eu fui ficar interessado numa mulherzinha tão sem graça feito a Sarah? Com aqueles olhos azuis, cabelos escuros e corte Chanel. Aqueles lábios carnudos e sorriso inocente.
Ah, merda! Se ela fosse uma daquelas a quem apenas pegasse, jogasse sobre a cama e me atirasse com tudo, certamente eu não estaria nessa tara toda. Será que o meu velho pai tinha mesmo razão?
— Já chegamos, Pepe? — pergunto. A minha cabeça já está doendo do tanto que estou a pensar naqueles dois, juntos. Eu tenho a Nicole, a mulher mais gostosa de toda Catania e fico a pensar numa mulher que não chama atenção nem mesmo de um gato. Só que ela chamou a atenção do Rafaele. E a minha também.
— Merda! Me dou conta de que pensei alto demais.
— Tem certeza de que está tudo bem Sebastian? – Agora o Pepe pareceu mesmo preocupado.
— Estou com raiva do Julio. Ele está me roubando, Pepe!
— Pois a hora de sua vingança já chegou. O carro dele acabou de chegar... Ficamos no escuro, em um local que já fazia parte da zona rural, na estrada que se toma para Palermo. Fiquei só aguardando para ver o rosto o receptor e ele logo aparece. O cara não é mesmo conhecido e eu nunca o vi no meio dos integrantes do clã de Roma.
— Muito bonito, não é mesmo, Julio! – apareço de surpresa. Ele me olha com medo. — Eu te avisei.
— Espere, senhor Baroni! — Você me disse que aqui era seguro, seu infeliz! – o receptor saiu correndo para entrar no carro, mas eu não posso permitir isso. Saco a minha arma e disparo com quatro tiros nas costas.
— Quanto a você, Julio. Tenho algo especial. Gesticulo para que os homens o tragam para mim. — Coloquem-no no porta-malas do carro. Vamos dar um passeio, Jujú. Digo ao Pepe que dirija até à beira mar, mas faço questão de ir para os penhascos, não quero deixar vestígios. Meus homens o retiram de dentro do porta-malas e o arrastam até onde eu estou.
— Por favor, senhor, me dê mais uma chance! – ele implora, ficando de joelhos.
— Eu já lhe dei, Julio, mas você me traiu – respondo-lhe. — Eu lhe disse que se falhasse comigo novamente, você morreria, mesmo assim decidiu não me dar ouvidos.
— Eu só fui até lá para dizer a ele que não iria mais vender a droga, senhor. Eu juro!
— Não adianta tentar querer me enganar mais, Julio. Você sabe que é isso o que acontece quando se trai o clã Baroni. Podem jogar! Dou a ordem e meus homens o lançam para baixo, fazendo com que parecesse um suicídio. Eu não gosto de chamar atenção para mim e quanto menos sujeira eu deixar para trás, melhor. Jogamos o Julio lá embaixo e deixamos que o mar faça o restante do trabalho.
Pela força com a qual as águas batiam contra as pedras, pouco vai sobrar desse infeliz para contar a história. Abotoei o meu terno e entrei de volta no meu carro, pedido ao Pepe que me leve de volta. Preciso de algo que me faça esquecer a frustração por ter visto aquela maldita com o Rafaele. Preciso fazer alguma coisa para esquecer aquela mulher, ou, tê-la em meus braços antes que eu enlouqueça.
Chego em casa e vejo o carro do infeliz no estacionamento onde os empregados costumam guardarem seus veículos. Pelo menos eu acho que não foram para um motel logo depois do jantar. E o que isso teria a ver comigo? Subo direto para o quarto e pego uma garrafa de vodca, viro a mesma na minha boca e em seguida, a lanço contra a parede.
— Maldita! Ela vai pagar por ter saídos com outro!
— Quem é maldita, Sebastian? - Droga, a Nicole está aqui no quarto. E agora? — Vamos, Sebastian? Quem foi a mulher que te deixou irritado desse jeito?