Capitulo 4

1056 Words
"Um gênio a procura de emprego: eis aí uma das visões mais tristes deste mundo. Não se encaixa em lugar nenhum, ninguém o quer. É desajustado, diz o mundo" - Henry Miller   Sabe, é muito comum você chegar em um lugar novo e uma pessoa ou duas não gostarem de você de cara, mas hoje, entrei por aquela porta junto com Luís e dei "Bom dia" para todas as pessoas que passavam por mim. Apenas uma respondeu e ela estava de cabeça baixa, assim que olhou para mim, a cara de nojo foi imperceptível. Poderia dizer que foi infantil da parte deles, mas a pessoa mais velha que vi aqui, parece ter uns 22 anos. Parece que Theo gosta da alma jovem. Luís me explicou o que tenho que fazer. Tecnicamente, sou uma faz tudo. Só hoje, tirei tanta xerox que perdi a conta, tive que ir comprar almoço três vezes, pegar a correspondência, servir café para todos menos para a garota do segundo andar, pois ela não pode tomar cafeína. Soube disso do pior jeito. Espero que o salário compense. Luís trabalha com a papelada. Pelo visto, ele é ótimo em contas e cuida de toda a parte financeira. Theo, parou para conversar comigo por exatos seis minutos e foi para sua sala. Ele me pediu para chamar todo o segundo andar para a sala de reuniões e é exatamente isso que estou fazendo agora. A última pessoa da lista, é Luís. Ele não tem exatamente uma sala, é apenas um lugar com vários discos e CDs com uma mesa e uma cadeira. Nesse primeiro dia, pude observar que o térreo é apenas a recepção, o primeiro andar é onde fica todo o equipamento da rádio. Onde acontece a "magica", como diz Theo, e o segundo andar é onde está toda a burocracia. Bato na porta de Luís e ele me pede para entrar. -Seu pai está chamando todos para a sala de reuniões.-Digo. -Por favor, na frente dos outros, chame-o apenas de Theo.-Luis fala um pouco grosso. Tento não demonstrar que fiquei incomodada com seu tom e apenas digo um mero "ta".-Eu já vou. Saio da sala revirando os olhos. Uma mania que tenho. Vou direto para a sala de reuniões, mas sou parada por uma mão no meu ombro. Me viro assustada e percebo que é apenas Luís. -Desculpa por aquilo, é complicado.-Ele diz apenas. Consigo ver em seus olhos, que ele está sendo sincero. Assinto desconfortável e olho para a porta da sala de reuniões, um pouco curiosa. -Eu já sei do que se trata.-Ele diz chegando mais perto. O cheiro do seu perfume amadeirado misturado com seu próprio cheiro entra em minhas narinas e respiro fundo. Eu conheço esse perfume. É o meu preferido, lembro de ter dado ao meu ex-namorado de aniversário, mas ele não entendeu a indireta e nunca o usou. -E do que se trata?-Pergunto de costas para ele, mas ciente que seu queixo está quase encostando na minha cabeça. -Meu pai tem fetiches estranhos. Um deles é festas extravagantes para arrecadar fundos. Ele faz sempre que pode, apenas para funcionários da radio e convidados, mas essa é especial, ele vai chamar praticamente a cidade inteira. Pode ser interessante. Luís e eu entramos na sala de reuniões. Eu imaginava uma enorme mesa com cadeiras executivas em volta e um painel, mas é uma sala um pouco alegre, coberto com um carpete azul escuro e almofadas por todo lugar. Tem uma máquina de café e uma máquina de refrigerante. Uma cadeira em frente as almofadas onde está sentado, Theo e atras dele, um mini-palco com uma mesa de DJ e vários outros instrumentos. Luis e eu sentamos em uma almofada e esperamos Theo. Decorei quase todos os rostos dessa sala e posso dizer que nenhum deles simpatizaram comigo. -Eu os chamei hoje aqui para dizer que temos uma nova estagiaria...-Theo começa e todos olham para mim.-Vocês já sabiam, mas apenas quis oficializar... -Sinceramente Theo, não acho que precisamos de uma estagiaria.-Uma garota de r**o de cavalo e delineador perfeito diz. Ela parece ter uns 19 anos. -Obrigada pela opinião, Ravenna, mas quem paga o salário de vocês sou eu então eu decido isso.-Theo diz e Ravenna me fuzila com o olhar. -Qual é a dessa Ravenna?-Sussurro a Luís. -É minha prima.-Ele faz careta.-Só ignora ela. -Enfim, quero que todos tratem a Maya bem, pois agora ela é uma de nós.-Theo diz e sinto minhas bochechas esquentarem.-Mas não os chamei apenas para isso, quero dar uma festa com um tema diferente, que mostre exuberância e elegância, algo misterioso e nada barato. Alguma ideia? -Anos 70?-Ravenna diz. -Brega, Ravenna, brega.-Theo diz com um abano de mão. Theo olha para todos quase decepcionado por ninguém ter uma ideia. Fico tentada a falar e quando Theo olha diretamente para mim, não consigo resistir. -E se o tema fosse baile de mascaras? -Pergunto. Ele juntas as sobrancelhas analisando minha ideia e da um sorriso amarelado. -Esse é o espirito! Baile de mascaras, não vejo opção mais perfeita.       **   -A senhorita me daria a honra de me acompanhar ao baile? -Sem dúvidas alguma.-Respondo me curvando arrancando risadas das pessoas presentes. Luís, Lucas e Ava vieram jantar aqui e Arthur e Rael cozinharam. Estamos agora na sala conversando e Luís e eu contamos para o pessoal da festa. -Qual é a graça de ir ao baile com o irmão? Sério, Lucas, nem tenta imitar o Rael.-Ava diz após Rael me convidar para o baile. Lucas levanta os braços em rendição e nossos olhares se cruzam. Seu sorriso se desfaz e ele volta a sua expressão de tédio constante. Então vai com algum dos meninos.-Lucas diz. Ava olha discretamente para Arthur que está rindo olhando para o celular, e depois olha para Luís com olhos de cachorrinho. Luís olha para mim depois para Arthur e novamente para mim. Posso conhece-lo à dias, mas entendi totalmente esse olhar. -Nem adianta, meu pai pediu que eu fosse com a Ravenna.-Ele diz. -A gêmea má? Eu apenas te desejo sorte.-Ava diz. -Então Arthur podia te levar.-Digo. Ava se vira para mim com olhos arregalados. Cutuco Arthur. -Hein?-Ele diz. -Pode levar a Ava pro baile?-Pergunto. Ele olha para ela, depois para mim e volta ao celular com olhar de tédio. -Beleza. Ava fica aliviada. Continuamos falando e Ava e eu combinamos um dia para comprar os vestidos. A festa será daqui a duas semanas e me deixa feliz ver Ava feliz assim. Ela parece ser uma pessoa maravilhosa, e se eu pudesse escolher, escolheria um cara totalmente diferente para ela, que a trate bem e de valor a ela, um cara como Luís, talvez.  
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