Capitulo 3

2062 Words
"E hoje percebi que as pessoas são como livros, alguns cheios de magia e encanto, outros vazios. Uns te enganam pela capa, enquanto outros surpreendem pelo conteúdo; Você encontra certas pessoas e em tão pouco tempo de convivência é como ler uma sinopse, e depois não ver a hora de compreendê-lo por inteiro. Cada um com sua devida importância. Por outro lado, alguns livros deixamos pela metade, enquanto outros devoramos intensamente. Se é romântico, dramático, triste, misterioso, infantil, complexo...No fim o que vale é uma boa história." -Jordânia Figueiredo Pelo que conheci de Arthur e Luís, eu sinceramente pensei que Lucas fosse mais...aberto. Pelo fato de eles serem amigos de longa data, pensei que ele fosse mais parecido com os amigos, mas desde que cheguei, ele não deu um sorriso se quer.   Ele é bonito. Assim como Rael, Luís e Arthur, mas tem um olhar desconfiado e misterioso. As pessoas são como um livro. Só precisam ser abertos e lidos. Lucas parece estar com uma corrente grossa em volta do seu livro. Gosto de desafios. Estamos em um bar perto de casa. Tem algumas pessoas conversando ao nosso redor, mas nada muito alto. Um som ao vivo com uma mesa de DJ tentadora. Ao lado de Lucas, tem uma garota que não acredito ser irmã dele, pois ela é completamente diferente dele. Não só de aparência, mas de personalidade.   A garota é um livro aberto. Saquei a sua no momento que ela sorriu para mim e me deu um abraço forte sem nem me conhecer. E ela continua sorrindo. Ao contrário do irmão. Seu nome é Ava, mas se pronuncia "Eiva". É um nome diferente. Simples e aberto. Como ela. Luís chegou junto conosco. Ele sorriu para mim e não pude deixar de perceber que ficou inseguro com a presença do meu irmão, e o mesmo não ajuda, já que não sai de cima de mim. Luís e Lucas começam uma conversa privativa enquanto Ava parece estar morrendo de tédio. Arthur procura o garçom e Rael olha atentamente o cardápio. Arthur parece ter tido sucesso na sua tentativa de chamar a atenção do garçom sem emitir som algum, pois aqui está o garçom. Ele não parece ser muito velho. - Vão querer pedir agora?-O garçom pergunta. -Sim, traz um balde de cerveja e uma picanha para tira gosto.-Arthur diz. Depois do que aconteceu com meus pais, não vou mais beber. Foi por causa e bebida que eles morreram. Por causa do motorista bêbado. E foi por causa da bebida, que eu me lembro de poucas coisas aquela noite. -E um refrigerante para mim.-Digo. Arthur me olha como se a ideia de tomar refrigerante em vez de cerveja fosse a coisa mais absurda do mundo. Eu achei que nós não teríamos problemas um com o outro, mas ele está me provocando desde cedo. O garçom sai e tento prestar atenção na conversa de Lucas e Luís. Eles parecem estar falando da estadia de Luís na cidade. -Então dessa vez é para valer?-Lucas pergunta. -Infelizmente. Eu prefiro muito mais respirar o ar poluído da cidade grande.-Luís diz. -Credo, Luís Eduardo.-Ava fala deitando a cabeça na mesa. Luís revira os olhos para ela e seus olhos se encontram com os meus. Percebo que ele contrai timidamente os lábios em um pequeno sorriso rápido e volta sua atenção para Lucas. Lucas parece ter percebido, pois me olha. Ele me encara e eu o encaro de volta. Ele não tem reação. Nenhuma piscada, nem balançar a perna ou batucar a mesa com os dedos. Ele apenas me encara e desvia como se não fosse nada demais. -Então...Maya, não é? -Ava pergunta a mim. Ela é simpática. No seu sorriso, qualquer um pode ver a satisfação apenas por conversar. -Isso.-Digo. -Faz o que da vida?-Ela pergunta. -Eu consegui um emprego na rádio com o pai do Luís.-Digo. Ela levanta as sobrancelhas surpresa. -Theo te deu um emprego? Ele deve mesmo gostar de você.-Ela comenta. -Espero que sim.-Digo. Ela da um sorriso amistoso e se vira para Lucas que parecia estar ouvindo nossa conversa. Eu o encaro. Ele não me olha mas sei que percebeu que estou o encarando. Ele está claramente desconfortável com isso, mas não se entrega. -Então quer dizer que conseguiu o emprego?-Arthur pergunta desviando minha atenção. -Consigo tudo que quero.-Falo de nariz empinado, apenas para fazê-los rirem. Arthur levanta os braços em rendição e me junto a rir com o resto do pessoal. O garçom chega com a cerveja, meu refrigerante e a picanha. -Quem foi que fez o pedido?-Ava diz claramente irritada. Olho para Arthur e ele tem um sorriso satisfeito. -Eu mesmo.-Ele diz. Ava revira os olhos como se tivesse acostumada com as brincadeiras de Arthur. -Você sabe que sou vegetariana.-Ela diz. Ele apenas da de ombros e pega um pedaço de carne. Se tivéssemos em um desenho animado, estaria saindo fumaça pelos ouvidos de Ava. Ela olha Arthur com um olhar de ódio tão intenso, que qualquer pessoa que não fosse tão boa em ler as pessoas como eu, acharia que é apenas isso. Ódio. Mas eu vejo além disso. Eu vejo amor. Posso estar enganada. Não é 100% de certeza, mas Ava gosta de Arthur e não é de agora. -Qual é, Arthur, pede uma batata pra menina.-Rael diz. -So se ela pedir por favor.-Arthur diz. Lucas bufa. Ele age como se estivesse cansado de aturar Arthur. Acho que essa amizade deles não é tão boa quando achei que fosse, está na cara que há cicatrizes. -De novo, Arthur? -Luís pergunta. Arthur se encosta na cadeira e revira os olhos. Chamamos o garçom novamente e pedimos as batatas de Ava. Quando a noite fica tão chata, a ponto de eu querer ir embora, Ava me chama para ir ao banheiro. Assim que entramos, ela joga a bolsa em cima da enorme pia, com raiva. -Está tudo bem?-Pergunto. Ela se olha no espelho. Seus cabelos tingidos de um loiro quase natural, estão presos em um r**o de cavalo e todo seu carisma e sua beleza me faz pensar que Arthur é realmente um i****a por não ver isso nela. -Tá, é so que...-Ela começa. -É só que Arthur não demonstra sentir o mesmo.-Digo. -Como você sabe? Foi o Luís que te contou?-Ela pergunta assustada e parece abalada por não poder confiar um segredo ao amigo. -Ninguém me contou nada, eu apenas adivinhei. -Você é boa nisso. -Ela diz.-Ei, você é legal. Quando soube que a irmã de Rael iria morar com ele, fiquei preocupada, quero dizer, você vai morar no mesmo teto que Arthur e você é linda, mas agora que te conheço...não sei, você tem uma alma boa. Tento não demonstrar que achei estranho esse papo de alma boa e me concentro nas palavras bonitas. -Sabe, você é o tipo de amizade que eu gostaria de ter aqui.-Digo. Ela abre um grande sorriso exibindo seus lindos dentes brancos. -Então é seu dia de sorte.-Ela diz e sei que fiz uma grande amiga.-Sabe, eu odeio vim para a noite dos garotos, venho apenas para ver Arthur. Quer dar o fora daqui? -E ir pra onde?-Pergunto. -Eu te chamaria para uma boate, mas tenho certeza que ainda está de luto e acharia uma falta de respeito, então a gente pode so dar uma volta e conversar. -Ta bom. ♡¤♡¤♡¤♡¤♡¤♡ Estamos dando voltas nesse parque a meia hora e já sei de tudo sobre a vida de Ava e de quebra, descobri coisas sobre Lucas. Ela gostou de Arthur desde o momento que pôs os olhos nele pela primeira vez, mas nunca teve coragem de tentar algo. Luís é seu melhor amigo e sempre ajuda ela quando Arthur faz alguma besteira. O que era frequente. Arthur me lembra muito meu ex namorado e ele sempre fazia besteira. Eu e Yan tínhamos a imagem de casal modelo a zelar. Acho que se meus pais não tivesses...falecido, eu perdoaria Yan e voltaríamos. É difícil explicar, nós não éramos como os outros casais. Éramos abertos pra falar se gostávamos de outra pessoa e éramos mais como melhores amigos do que namorados. Todos nos a admirávamos, estávamos juntos a quase 3 anos. É muito tempo comparado aos namoros hoje em dia. Ava disse que Lucas não é assim. Que ele não é tão fechado como penso, ele apenas não gosta de mudanças. Prefere a monotonia da não-mudança. Nada contra, com a revira volta que minha vida deu, eu também ficaria com medo de mudanças. -O que é isso?-Ava pergunta olhando para meu pescoço. -O que? Meu colar?-Ela assente.-Era da minha mãe, ela estava com ele quando o acidente aconteceu. Ela levanta as sobrancelhas surpresa. -E ele já estava quebrado ou quebrou na hora? -Ela diz com cuidado, observando minhas expressões para saber o quanto eu já superei. A verdade é que nunca vou superar. Eram meus pais. -Quebrou na hora. Com minha resposta seca, Ava entende que não devemos mais falar desse assunto e conversamos por mais alguns minutos e vamos para casa. Assim que entro em casa, vejo Arthur jogado no sofá lendo um livro. Automaticamente lembro de Ava e mais uma vez, penso o quanto ele é um i****a por não ver realmente ela. Subo para meu quarto e olho para a janela. Um par de olhos verdes que a essa distância parece um castanho, me fita como se tivesse algo importante para falar. Abro a janela e me inclino, e Luís faz o mesmo. -Ava me pediu para te dizer para não contar sobre Arthur. -Ele diz. -Diga a ela que pode confiar em mim.-Falo. Ele balança a cabeça, mas continua inclinado sobre a janela. -Nervosa para amanhã? -Ele pergunta. -Não mesmo. -Eu bato o ponto no mesmo horário que você, quer ir comigo?-Ele pergunta. Percebo que está inclinado na janela de um jeito que deve estar sentindo dor na sua mão, mas ele parece ignorar. -Cuidado Luís, seu pai disse que não é permitido nenhum tipo de relacionamento amoroso no trabalho e se continuar assim, vou acabar achando que está afim de mim.-Falo com uma pontada de ironia na voz. Uma sombra de confusão passa por Luís quase fazendo me arrepender por ter dito isso, mas ele ri olhando para baixo e volta a olhar nos meus olhos. -É apenas uma companhia para o trabalho, nada além disso.-Ele diz. -Até amanhã então. -Digo e fecho a janela. ♡¤♡¤♡¤♡¤♡¤♡ Tenho que trocar a música do meu despertador. Levanto e desligo o celular rapidamente. Na boa, amo a Sia, mas acordar as 7:00 com Chandelier no maior volume, não é algo muito recomendável. Tenho que trocar a música do meu despertador. Vou direto para o banheiro e tomo um banho, mas não molho o cabelo. Que tipo de roupa se usa para servir café em uma rádio? Tenho que trocar a música do meu despertador. Uma calça jeans rasgada e uma blusa de alças. Vai ter que servir. Me visto e desço. Arthur, que parece nunca estar fazendo nada, está jogando vídeo-game no sofá. Na boa, o cara estuda de tarde, ele pode dormir a manhã inteira, mas prefere acordar cedo para jogar FIFA. Tenho que trocar a música do meu despertador. -May, pode dar um jeito? -Meu irmão aparece na sala vestido em uma camisa super amassada. -Tirou de uma garrafa?-Pergunto e ele apenas tira a camisa e joga pra mim. Engomo sua blusa, volto a sala e Luís está me esperando. Qualquer um percebe seu desconforto com o olhar do meu irmão. Acho que como meu pai se foi, Rael se vê na obrigação de bancar o pai protetor. Por um lado, tudo bem. Ele está só cuidando de mim, mas ele desconfiar de um amigo assim, é demais. Jogo a blusa para ele e pego minha bolsa. -Não vai tomar café?-Rael pergunta. Com a menção de comida, meu estômago ronca alto. -A gente como alguma coisa no caminho.-Luís diz. Pisco para Rael e saio atrás de Luís. Andamos em silêncio. Nenhum de nós puxa assunto com o outro. Tenho que trocar a música do meu despertador. Um dia eu vou trocar, so preciso ficar me lembrando. -Tá afim de uma coxinha? -Luís pergunta. -Claro. Ele me leva até uma pequena tenda. Dentro dela, uma moça magra que aparenta ter uns 40 anos, com uma touca transparente na cabeça, está fritando alguns salgados. Ele percebe nossa presença e faz uma cara f**a para Luís. -Como assim você veio morar de vez aqui e nem se quer veio me ver?-Ela diz fazendo cena. Luís ri e a puxa para um abraço. Ela me encara me estudando. Tento não parecer intimidada. -É quem é a moça bonita?-A mulher pergunta assim que eles desfazem o abraço. Luís olha para mim com expectativa. Ele mexe nervosamente a mão e a põe dentro do bolso para disfarçar. Luís está com receio que a moça não goste de mim ou vice e versa. -Essa é a Maya, irmã do Rael, Maya, essa é minha tia Marizete. -Eu soube do acidente, sinto muito. -Dona Marizete diz. -Todos sentem.-Murmuro baixo para apenas Luís ouvir. -Bom, vocês vão querer alguma coisa?-Ela pergunta. -Sim, mas antes tenho que trocar a musica do meu despertador.-Falo pegando o celular e me virando.  
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