Corro escada a cima, mas me arrependo de ter o feito, eu escorrego torcendo meu tornozelo e um gemido de dor escapa de meus lábios.
Em meu quarto não consigo fechar a porta, já que as caixas bloqueiam a movimentação da mesma. O rapaz entra logo em seguida apressado, posso ver como ele está ofegante, quando se aproxima de mim, em uma distância muito próxima, puxa minha cabeça para trás e me olha nos olhos, com a expressão nem um pouco amigável.
Ele despeja em mim, o restante de álcool que havia no galão e acende um pequeno fósforo.
– Por favor, não faz isso – choro desesperada e o vento entra pela janela apagando o pequenino palito de fósforo.
– Quem te mandou aqui para me espiar? – n**o com a cabeça.
– Eu não sei o que você é, eu não vim te espiar, por favor, não faz isso – ele para um pouco e me observa em silêncio – Por favor... – guarda a pequena caixa de fósforo no bolso da calça jeans.
– Tem certeza disso? – aproxima seu polegar dos meus olhos, e enxuga uma lágrima – Tem mais alguém aqui com você Caitlyn? – n**o com a cabeça – Certo – ele joga seus cabelos encaracolados para trás dessa vez dando um passo de distância entre nós dois.
O mesmo olha ao redor e me da una última olhada.
– Tem certeza que não sabe quem eu sou? – ele insiste ainda desconfiado.
– Sim. Eu sou nova na cidade – desta vez ele já está na porta.
– Se estiver mentindo, eu vou voltar – o rapaz dá as costas e sai andando, mas no meio do caminho, dá uma gargalhada assustadora e se vira novamente para mim – O que alguém como você faz aqui em Solut Hills?
– Eu também quero descobrir – digo e ele desce as escadas correndo, como um garoto levado.
O cheiro de alcóol se espalha pela casa inteira, o carpete, está todo encharcado assim como minhas roupas que grudam em meu corpo, causando-me calafrios desesperados.
Espero um tempo, para me certificar que ele já foi embora, e desço os degraus com medo de que ele ainda esteja sobre o mesmo teto que eu. Mas o encontro encostado no batente da porta, olhando para a rua vazia.
– Você esqueceu de perguntar meu nome – sua voz está distante.
– E deveria? – evito terminar de descer os degraus apertando forte o corrimão de madeira envernizada.
– Vai ser uma boa pista, quando você chamar a polícia assim que eu for embora – engulo o seco.
– Se eu perguntar seu nome, você vai me responder? – elevo minha voz assim que ele desce o último degrau que leva á rua.
– Peter. O meu nome é Peter – ela responde descendo o primeiro degrau mas se vira para mim novamente – E antes que eu me esqueça, cuidado com a coisa debaixo da sua cama – e sai caminhando pela rua e desaparece no meio do breu.
O som do ponteiro do relógio ecoa pela casa inteira, marcando quantos minutos eu estou aqui parada, ainda tentando assimilar o que acabara de acontecer comigo. Eu realmente não quero entender que quase fui morta queimada dentro de minha própria casa, por um louco.
Tento erguer a porta que está caída bem na entrada e coloco a mesma na passagem da porta, pelo menos ate amanhã.
As sacolas que eu havia deixado ao lado da porta estão no mesmo lugar e antes que eu pense em alguma coisa, estou como o telefone na mão discando o número da policia que não tarda a chegar.
Um policial forte com cara de mau humorado e o outro mais magro, sorridente, que anota em seu pequeno caderninho, as informações que tenho, enquanto o mais forte, anda pela casa, procurando algo, que com certeza não encontrara.
– Então quer dizer que a Senhorita chegou aqui e a porta estava arrombada? – o policial diz passando a mão sobre o batente e o outro observa a porta apoiada na parede – Tem certeza de que ele falou o nome dele? Talvez você tenha escutado errado.
– Tem certeza de que ele mandou você perguntar o nome? – o outro policial cruza os braços.
– Eu estou dizendo a verdade! – digo nervosa – Ele pegou um galão de álcool, despejou sobre a minha casa inteira e depois jogou o restante em mim. Ele desceu as escadas novamente e me pediu para perguntar seu nome, e respondeu Peter. – explico enquanto eles se preparam para fazer uma vistoria na casa – Tenho certeza de que ouvi esse nome. Por que estão a duvidar?
– Nós acreditamos Senhorita Stivens – o policial fecha o pequeno caderninho enquanto o outro caminha mais a frente com uma lanterna na mão – Desde que hora faltou energia aqui?
– E-Eu não sei. Eu estava organizando minhas coisas, acabei por adormecer, quando acordei já tinha escurecido e eu saí para comprar algo, quando voltei aconteceu tudo isso. – explico acompanhando eles até a cozinha onde coloquei o galão vazio de álcool sobre a pia.
– Você disse que ele despejou sobre a casa toda? – ele pergunta se baixando, tateando o carpete.
– Sim. Ele caminhou da cozinha, até a sala e em seguida foi subindo pelas escadas. Isso correndo atrás de mim até o quarto lá em cima. Eu torci o pé enquanto subia as escadas – mostro para eles meu tornozelo agora inchado eles apenas assentem.
– Certo. E porque não está molhado o carpete? – o mais magro sorridente indaga para mim enquanto o outro ilumina o chão.
Eu arqueio a sobrancelha olhando para o chão. Ligo a lanterna do meu celular para iluminar uma parte maior do chão, mas não há nenhum indício de que o carpete tenha sido encharcado de álcool.
– Eu juro que ele jogou por aqui. E... – faço uma pausa caminhando até a escada de madeira – E por aqui, até lá em cima – explico mas ele não dão mais nenhum passo sequer para ver – Precisam acreditar em mim.
– Acreditamos que você não tomaria banho de álcool – o outro diz subindo as escadas.
– Vamos investigar o seu caso – comenta o outro subindo atrás e se direciona até meu quarto – Se lembrar de mais alguma coisa, característica física, nos diga. É importante – assinto com a cabeça – Talvez o vizinho da frente tenha visto alguma coisa – ele dá os ombros.
– Ou talvez fosse só um bêbado. – resmunga o outro m*l humorado.
– Ou talvez eu só quase tenha sido queimada viva – murmuro e ele me olha sério – Aqui tem menos de 200 moradores, não é possível que vocês não consigam prender esse cara.
– Entendo que a senhorita está assustada, mas a cidade é pequena. Saberíamos se algum Peter morasse aqui. Conhecemos a todos.
A dupla de policiais me entrega uma ficha para preencher, e eu assim que eu preencho eles se despedem de mim, pedindo para que eu troque de roupa.
Sei que eles não acreditaram no que falei, mas eu tenho absoluta certeza de que aquele rapaz entrou aqui e queria me queimar viva.
– Caitlyn? – ouço a voz de Ian, me chamar na calçada enquanto tento colocar a porta no lugar, pelo menos para que eu não durma de porta escancarada – Aconteceu alguma coisa? – pergunta.
– Pelo visto, você estava certo. As trancas dessas portas são uma m***a – digo enquanto ele se aproxima para observar minha porta e o moreno acaba por me ajudar, mas ele tira ela da passagem e coloca ao lado do lado de fora.
– O que aconteceu aqui? – ele pergunta.
– Um doido invadiu minha casa e queria por fogo em mim – explico num suspiro – E para completar, estou sem luz – ele assente enquanto eu falo me sentando no sofá.
– Posso olhar seu quadro de luz se quiser – assinto para ele que caminha junto comigo até os fundos da casa.
Ligo a lanterna do celular para que ele possa checar e ele acaba por soltar um riso.
– O disjuntor foi desligado – ele diz ligando o mesmo e a luz da casa volta – Direto acontece essas coisas nas casas daqui, o sistema de elétrica é muito antigo e fraco.
– Ah, certo. Obrigada Ian – agradeço um pouco mais aliviada e observo todo o trajeto que fiz enquanto corria do louco que me atacou a poucos minutos atrás.
– Você vai ficar bem? – ele pergunta se direcionando á porta.
Penso antes de responder e suspiro.
–Preciso ficar – dou os ombros.
– Se quiser, pode passar a noite lá em casa – ele se oferece mas eu n**o.
– Minha casa não tem uma porta mais, não posso deixar tudo aqui assim – ele assente se preparando para ir, mas se vira para mim.
– Amanhã te ajudo a concertar isso aqui – ele me lança uma piscadela e eu assinto enquanto ele desce os pequenos degraus que levam de volta á rua.
– Ian, – o chamo e ele se vira para mim – Você pode dar uma olhada no que tem de baixo da minha cama? – ele assente soltando um leve riso.
Ian sobe as escadas atrás de mim e assim que chegamos no quarto, eu dou passagem para que ele entre.
– O rapaz que invadiu aqui, disse para eu tomar cuidado com o que tinha ai de baixo. Você pode... Só dar uma conferida? – Ian assente acendendo a luz e se abaixa de baixo da cama fazendo uma careta.
– Vai precisar limpar aqui – ele diz sem fazer cerimônia fazendo uma careta – Acho que não limparam a casa antes de entregar para você.
Ian se aproxima da vassoura e do pano dos quais eu estava usando hoje mais cedo e passa de baixo da cama trazendo para minha visão a ratazana prenha com a barriga aberta, evidenciando seus filhotes, todos mortos.
Eu cubro o rosto enquanto ele joga dentro do saco preto ali ao lado e carrega consigo até lá em baixo.
– Obrigada mesmo – digo e ele dá um sorriso mínimo.
– Se precisar, sabe onde moro – ele se despede jogando o saco preto na lixeira e eu assinto observando o mesmo até que ele chegue ao seu portão.
Já passam das 22:00 da noite eu me sento no sofá observando a porta da minha casa escancarada tendo absoluta certeza de que essa vai ser mais uma noite da qual irei passar em claro.
Resolvo organizar a cozinha para manter os olhos na porta e garantir que ninguém mais vai passar por ali mas depois que os primeiros raios de sol entram pela porta, eu sou vencida depois de esvaziar a última caixa e acabo por dormir no meio das caixas dos meu livros que vão ficar na sala.