No dia seguinte, acordo num pulo quando sinto alguém me cutucar. Um gemido de dor escapa dos meus lábios quando noto a posição em que dormi em meio as caixas e me levando prendendo os cabelos bagunçados num coque, enquanto uma senhora de mais ou menos 50 anos me observa com uma forma na mão.
– B-Bom dia – digo ainda sonolenta me colocando de pé em frente dela.
– Sou a senhora Brown, eu vim te trazer uma torta como boas vindas – ela diz ainda hesitante olhando ao redor – Vi que a porta estava arrombada e... Fiquei sabendo do que aconteceu ontem com você. Você está bem? Precisa de ajuda em algo?
– Não eu... É um prazer senhora Brown – sorrio pegando a porta da mão dela colocando em cima da mesa – Sente-se – convido mas então noto que todas as cadeiras estão ocupadas por caixas, então volto a guiá-la de volta para o sofá – Me desculpe pela bagunça, eu cheguei ontem e não achei que iria demorar tanto para organizar tudo sozinha – explico ainda meio desorientada pelo sono e ela balança a cabeça.
– Pelo visto o senhor Bailey só veio mesmo m***r o seu rato – ela comenta um tanto maliciosa e eu arqueio a sobrancelha.
– Você diz o Ian? – ela assente.
– Pelo visto a senhorita é uma danadinha – arregalo os olhos com o comentário dela ofendida.
– Acho que a senhora está cometendo um equívoco, eu e o Ian nos conhecemos ontem, ele só veio retirar uma ratazana que estava debaixo da minha cama. Está na lixeira se quiser olhar – repreendo ela séria e ela dá os ombros.
– Sei muito bem como vocês novinhas inventam histórias para fisgar rapazes como o senhor Bailey – gargalho alto para ela não a creditando no que ela está insinuando.
– Senhora Brown, muito obrigada pela torta, mas acho que já está na hora da senhora ir – digo caminhando até a porta e dou de cara com Ian.
– Senhora Brown, – Ian saúda ela que nos olha maliciosa.
– Até mais senhora Brown – me despeço dela e assim que ela desce as escadinhas que levam para a rua eu reviro os olhos voltando para dentro – Por Deus, que senhora mais atrevida – resmungo para Ian que sem entender nada apenas me olha esperando eu explique algo enquanto eu ataco a forma com a torta que ela trouxe, levando em conta eu não como desde ontem – Ela insinuou que eu queria fisgar você usando a história do rato – Ian solta uma alta gargalhada enquanto eu falo de boca cheia.
– Você acabou de receber boas vindas da mulher mais fofoqueira de Soult Hills.
Suspiro com a fala de Ian, e ele solta um leve riso e Ian coloca em cima do sofá uma bolsa com algumas ferramentas.
– Bom, eu tinha em casa algumas dobradiças, acho que dá para pode na sua porta – o moreno diz abrindo a bolsa se preparando para começar a retiras as partes das dobradiças velhas que restaram na porta.
Resolvo tomar um banho quente, enquanto ele fica no andar de baixo parafusando as novas trancas.
Saio do banheiro vestindo o roupão de banho á procura de roupas limpas para usar, e decido abrir a janela onde a luz do sol entra e observo por alguns minutos a rua vazia, fecho os olhos por um momento inspirando e ar fresco que a cidade tem, muito diferente do da cidade de Nova York.
Sobressalto assim que ouço Ian pigarrear na porta chamando minha atenção e eu coro tentando cobrir meu corpo, por mais que ele á esteja coberto pelo roupão.
– Te espero lá em baixo – ele diz também sem jeito.
Visto uma moon jeans de lavagem clara e uma blusa de manga cumprida, desço as escadas que rangem a cada degrau e me deparo com Ian aguardando no sofá, vejo também que a porta já está posta de volta no lugar e eu sorrio mais aliviada.
– Quanto fica Ian? – pergunto tirando algumas notas da carteira mas ele balança a cabeça.
– Não precisa se preocupar, considere como um presente de boas vindas – ele faz um gesto com a cabeça e eu agradeço assentindo para ele.
– Muito obrigada Ian.
– Disponha – ele responde se preparando para ir embora, mas se vira para mim e coça a nuca – Vai fazer algo hoje? – eu hesito antes de lhe responder.
– Só preciso terminar de organizar a casa.
– Não quer dar uma volta pela cidade? Posso te mostrar alguns lugares, caso precise de algo – ele pergunta sem jeito.
– Seria de grande valia para mim – sorrio o deixando mais confortável e ele assente.
– Passo aqui ás duas, pode ser? – assinto.
– Certo Ian.
Me despeço dele e tranco a porta encostando-me nela por alguns minutos e o cheiro de mofo da casa, me faz caminhar até cada janela e abri-las.
Não me lembrava da casa ser tão velha quando vim ver com a corretora de imóveis. Para mim, parecia perfeita para passar algum tempo. Até colocar a cabeça no lugar. Mas agora, vejo o quanto eu estava desesperada por um lugar para me esconder, e vejo isso se refletir a cada passo que dou pela casa, tentando organizar minhas coisas para dar uma cara a ela, e o único resultado que encontro é madeira velha, carpete velho, cupins,e cheiro de mofo em toda a parte.
Meu celular toca no andar de cima da casa e assim que pego o mesmo vejo se tratar de minha mãe.
“Querida?” ela dize eu sorrio com a voz empolgada dela.
“Oi mamãe”
“Você não me ligou ontem. E eu também quis deixar um tempinho para você se instalar e me contar como está sendo para você” ela diz e eu solto um leve riso.
“Está indo tudo bem mamãe” minto não querendo causar alarde para ela começar a dizer que me avisou e que eu não precisava ir embora “é cedo para dizer como é cidade. Não tive muito tempo de sair, mas hoje vou dar uma volta e te conto o que achei” tranquilizo ela.
“Já sabe quando vai voltar?” n**o mesmo sabendo que ela não pode ver.
“Não mamãe. Mas quando eu estiver melhor, você vai ser a primeira a saber” novamente eu tranquilizo ela “Agora preciso desligar, o montador dos movei acabou de chegar” minto e ela diz fique com Deus e em seguida desliga.
Suspiro encerrando a ligação dessa vez olhando a casa com outros olhos.
Por mais que não seja a melhor casa, foi o melhor que á fiz por mim e pela minha família. Sei que minha mãe teme a distância, mas eu precisa dar um pouco de paz para eles. Precisava cortar o assunto com eles de vez, e eu sabia que estando ali a poucos kilômetros deles, minha mãe todos os dias iria deixar de fazer algo para ir me ver, ou se sentiria na obrigação de fazer algo por mim, algo para me fazer alguém mais competente.
Mas eu sei que depois do que aconteceu com Ronny, eu nunca mais seria a mesma. Não enquanto estivesse morando na minha antiga casa, por mais que eu tenha trocado o carpete manchado de sangue ou trocado todas as trancas da minha casa. Eu precisaria deixar tudo aquilo para trás e buscar algo novo, nem que fosse por alguns meses, até minha corretora encontrar outra casa em Nova York, mas enquanto isso não acontecia, eu me contentaria e passar alguns dias numa cidade distante de todos que abrigaria eu e minhas cicatrizes.
Termino de limpar o banheiro e colocar todos meus pertences de higiene lá, em seguida parto para o meu quarto novamente, para limpar em baixo da minha cama com alguns produtos de limpeza que havia trazido comigo em saches dissolventes em água.
Arrasto minha cama e encontro o rastro de sangue.
Me pergunto como a barriga daquela ratazana tinha sido aberta? Aliás, não estava fedendo carniça, e isso quer dizer que ela tinha sido brutalmente sido vítima de alguém que não se contentou em capturá-la numa armadilha, alguém tinha colocado ela ali, fazia pouco tempo.
E novamente, me vem a imagem do rapaz misterioso dos olhos verdes. Porque ele faria isso?
Por um momento vejo que tinha me esquecido do ocorrido de ontem e suspiro.
São tantas perguntas, e nenhuma resposta. Nenhuma explicação para a insanidade que aconteceu. Ele parecia ter a total certeza de que estava na casa certa, estava convicto de que iria me queimar junto com a casa, sem nenhuma compaixão.
Como aqueles policiais não conheciam nenhum Peter na cidade? Como as marcas de álcool sumiram pela casa inteira?
Suspiro terminando de passar um pano úmido pelo quarto e me surpreendo quando encontro um palito de fósfuro próximo á janela. O palito que Peter tinha usado para colocar fogo em mim, mas que o vento que entrou pela janela impediu e ele largou no chão.
Aquilo era real. Eu não estava louca e eu tinha uma prova com digitais bem ali a minha frente.