Damion
— Oi, Alanis! — Foi só o que eu disse.
— Como vai, Damion? — perguntou, mas não esperou uma resposta. — Será que poderíamos nos encontrar para uma conversa?
— Espera aí, Alanis, você está aqui no Brasil?
Meu tom de voz não era nada gentil.
— Sim, estou. Cheguei há dois dias.
Fiquei em silêncio por um tempo, tentando absorver a informação de que ela estava por perto mais uma vez.
— Alanis, você não pergunta da sua filha, não quer saber como ela está? — Eu não sabia o porquê de ainda ficar incrédulo com ela.
— Eu já ia perguntar da nossa filha, Damion — disse ela. — Como ela está?
— Muito bem, Alanis. O que exatamente você precisa falar comigo e que não pode ser pelo telefone?
— Acredite em mim, o que tenho para falar não pode ser assim.
— Ok! Vou passar o endereço de um lugar e você pode me encontrar lá.
— Obrigada, Damion! Pode ser ainda hoje? O que eu tenho para falar é bem urgente. Pode ser às duas da tarde?
— Pode ser.
Depois lhe passar o endereço, nos despedimos e encerramos a ligação.
Aquilo era completamente inesperado e louco ao mesmo tempo. Estava curioso para saber o que tanto ela precisava falar comigo depois de longos anos sem dar sinal de vida.
Eu precisava contar para Samantha sobre essa novidade, antes que ela enxergasse isso como um perigo para nosso relacionamento.
Trabalhei sem conseguir prestar muita atenção nas coisas, ansioso para o almoço que não estava nos meus planos.
— Estou saindo para almoçar — avisei a Dimitri e Isa, que estavam na recepção.
— Você ainda não almoçou, Damion? — Dimitri me perguntou.
— Ainda não — respondi. — Vocês não sabem da maior.
— O quê? — perguntam os dois.
— Alanis está no Brasil e me ligou, pedindo que eu almoçasse ainda hoje com ela, pois precisa falar urgentemente comigo.
— Tenha cuidado, Damion. Essa mulher é louca — sugeriu meu amigo.
— Pode deixar.
Cheguei rapidamente no restaurante e avisei que tinha uma reserva, sendo guiado até uma mesa na qual encontrei uma Alanis completamente diferente da que eu havia conhecido anos atrás. Ela estava magra, abatida, e no olhar carregava muita tristeza.
— Alanis — disse, ainda chocado ao vê-la naquele estado.
— Olá, Damion. Sente-se, por favor. — Fiz o que ela pediu, sentando na cadeira em que apontava, e por alguns segundos ficamos em silêncio, até que ela começou a conversa. — Está surpreso em me ver desse jeito?
— Sim, Alanis, muito. Não vou mentir. O que aconteceu? — perguntei, curioso e ao mesmo tempo chocado.
— Estou com câncer, Damion! — exclamou ela e eu fiquei sem palavras.
— Câncer? Nossa!
— Sim, câncer. Descobri há alguns meses. É leucemia, para ser mais exata.
— E está fazendo tratamento? — perguntei, porque apesar de tudo eu me preocupava com ela.
— Estou sim! — respondeu. — Inclusive, me encontro na fila de espera para fazer o transplante de medula óssea.
— Sinto muito, Alanis — eu disse, de coração. — No que eu puder ajudar, eu ajudo. Posso doar sangue a fim de saber se sou compatível. Lágrimas se formaram nos olhos de Alanis.
— Obrigada, Damion. Agradeço mesmo. — Ela estava emocionada. — Gostaria de pedir perdão por tudo que eu fiz e gostaria muito de pedir perdão à Cristal, se você permitir que ela fale comigo, claro.
— Alanis, eu já te perdoei há muito tempo — afirmei, sincero. — Claro que também pode falar com ela. Vou prepará-la para isso.
— Sei que talvez ela não queira me ver, afinal, sou a mãe que nunca a procurou. Cristal ainda é pequena, mas preciso do perdão da minha antes de morrer.
Ainda era difícil de acreditar em como a vida é. Um dia estamos bem, e no outro tudo se vai. Nessa hora eu vi que Alanis foi uma vítima da vida.
Perguntei se ela queria alguma coisa, mas ela se recusou, alegando que evitava comer na rua.
— Preciso ir para casa. Eu estou muito cansada, mas agradeço por ter vindo — disse ela. — Ah, e fico feliz que tenha encontrado alguém legal.
— Sim, eu encontrei. — Ela sabia, pois viu como eu atendi o telefone mais cedo. — Estou completamente apaixonado.
— Que bom, Damion. Fico feliz em ver você bem.
— Eu também, e você logo logo vai se curar. Vou reunir todos os meus amigos para que façam o exame a fim de ver a compatibilidade — comuniquei, solícito por sua causa. — Quer que eu chame um táxi para você?
— Não precisa. Meu namorado está me aguardando.
— Namorado? — indaguei, surpreso. — Que bom que tem alguém, Alanis, eu fico feliz. E por que ele não veio ficar com você aqui?
— Eu pedi para ele me esperar ali perto, a fim de conversarmos melhor. Ele sabia que eu tinha que falar com você a sós.
— Quem sabe um dia você nos apresente?
— Sim, pode deixar. Agora tenho mesmo que ir. Obrigada por tudo, Damion. Se eu pudesse voltar atrás, voltaria — confessou e pela primeira vez eu senti que Alanis foi verdadeira.
Ela se foi, mas ainda consegui ver um homem se aproximar dela, dar um beijo bem de leve e abraçá-la com carinho.
Depois de ter p**o a conta, saí de lá com um sentimento estranho no peito, e assim cheguei ao fórum, me deparando mais uma vez com Dimitri e Isadora.
— Nossa, Damion, foi tão horrível assim falar com ela? — perguntou Dimitri, vendo meu estado.
— Foi, Dimitri — concordei. — Alanis está com câncer.
— Nossa! — os dois falam ao mesmo tempo.
— Pois é. Ela me pediu perdão, quer ver Cristal, e me coloquei à disposição para doar sangue, pois ela está à espera do transplante de medula óssea. Se vocês quiserem fazer o mesmo...
— Claro que sim. A gente faz, né, Isa? — Dimitri se prontificou logo.
— Podemos doar, sim.
— Obrigado, gente! Bom, agora eu vou trabalhar e mais tarde encontrar Samantha para lhe contar sobre essa situação.
Passei o resto do dia trabalhando e quando estava no caminho para a escola da minha deusa, o telefone tocou e era ela.
— Oi, amor! — atendi.
— Oi, grego, precisamos conversar.
Ouvi sua voz de choro e meu coração se apertou.
— O que houve, amor? — perguntei, preocupado. — Samantha, estou indo aí. Me espere.
Senti uma angústia no peito, mas ela logo respondeu que me esperaria, encerrei a chamada e segui para encontrá-la.
— O que foi, deusa? Por que está chorando? — perguntei assim que cheguei lá e a vi.
— Damion, o Caio voltou a me perturbar — disse ela, chorando ainda mais.
— Quem é esse Caio, deusa?
— Meu ex. Aquele que me traiu da maneira mais horrível. Ele me ligou ontem, e eu ia te contar, mas estava esperando o melhor momento — admitiu ela, nervosa. — Até pensei que ele não ligaria mais, só que já me enviou mensagem de texto hoje.
— Calma, amor, eu não vou deixá-lo te machucar de novo, fique tranquila ninguém te perturbar.
Pedi o celular dela para ver o teor das mensagens, assustando-me com o que ele havia dito nelas.
— Você sabia da existência desses vídeos — indaguei, o sangue já subindo à cabeça.
— Não, nunca poderia imaginar. Nem chegamos a fazer nada além de amassos, mas eu jamais pensei que ele tivesse feito algo tão absurdo.
Samantha se alterava a cada palavra dita a mim.
— Shhh... — Eu tentava acalmá-la. — Por favor, se acalme. Vou entrar com uma ação contra os sites e contra ele. Vamos para casa e tente, por ora, não deixar que isso a afete tanto.
A abracei, levando para fora de sua sala.
Encontramos a Ana pelo caminho, que perguntou se podia ajudar em alguma coisa, depois de ver o estado emocional da amiga. Agradeci a preocupação e prometi que depois lhe contava o ocorrido, bem como prometi que ficaria tudo bem.
Deixei o carro de Samantha onde estava estacionada e segui com ela no meu.
— Obrigada, grego, por tudo! — disse ela no carro.
— De nada, amor. Pode contar com comigo sempre.
Fiz um carinho em sua face antes de começar a dirigir até minha casa, desejando que ela sentisse conforto através do meu toque.
Cristal adorou a presença de Samantha, nós tivemos um jantar maravilhoso e assim ela pareceu se distrair dos problemas em sua cabeça.
Minha deusa levou Cristal até sua cama, e eu fiquei observando as duas, prestando atenção de longe na conversa que as duas tiveram até minha princesa dormir.
Fizemos amor e eu mais uma vez dei a ela palavras que ajudassem a aliviar sua angústia pelo ato abominável que o ex cometeu. Mais um, na verdade.
Samantha dormiu e eu continuei a acariciando, beijando...
Quando peguei no sono, mesmo com ela ao meu lado, sonhei com minha deusa e os filhos que desejava ter com ela, que completariam nossa família e nossa alegria.
Samantha
Foi difícil no dia em que o Caio ligou, mas mais difícil ainda foi receber as mensagens dele que continham vídeos que até então eu nunca soube que existiam, e que mostrava minha i********e com aquele maldito.
Além de tudo, ele ainda me chamava de p**a e zombava pelo “sucesso” que o vídeo que ele gravou de mim fazia na internet.
Fui até o banheiro e lá joguei uma água no rosto, tentando controlar a respiração descompassada.
Nas imagens eu me masturbava, chamava pelo nome dele... Coisas que me causavam um nó horrível no estômago. Coloquei tudo que havia comido pra fora, tamanho meu nojo de ver aquilo.
Assim que consegui me acalmar ao menos um pouco, liguei para Damion, e disse, com a voz trêmula — que ele notou —, que precisávamos conversar.
Felizmente ele já estava a caminho da escola e não demorou nada a chegar.
Me debulhei mais ainda em lágrimas quando o vi, então contei todo o acontecido, partindo da ligação.
Acreditei quando ele prometeu que judicialmente conseguiria tirar aquelas coisas horríveis do ar, e me confortei com seu carinho, mais ainda com o jantar agradável que tivemos junto da princesa Cristal, que conseguiu espantar a nuvem n***a sobre a minha cabeça.
A coloquei para dormir e terminei a noite com um sexo carinhoso e calmo com meu grego.