Damion
Alguns dias se passaram depois da chegada da família de Samantha, e minha relação com eles vinha se estreitando mais e mais. Minha cunhada era bem maluquinha, mas eu a adorava ainda assim. Até Cristal eles aceitaram muito bem, pedindo, inclusive, que minha pequena os chamasse de avós, o que ela aceitou fazer, toda eufórica.
Contei para ela sobre o meu casamento com Alanis, sua rejeição à nossa filha e sua ausência de nossas vidas até o momento em que reapareceu, falando de sua doença.
Meus sogros se prontificaram a também fazer a doação, solícitos e generosos com a causa de minha ex mulher.
O momento que me deixava apreensivo havia chegado.
Estávamos eu e Samantha, com Cristal sentadinha no meio da gente.
— O que foi, pai? — me perguntou Cristal, prestando atenção em mim.
— Então, filha, quero te contar sobre a sua mãe — falei, tentando reunir as palavras certas.
— Minha mãe Sam?
Minha menina estava confusa e olhava de mim para Samantha com as sobrancelhas levantadas.
— Não, amor, é sobre a sua outra mãe? — esclareci calmamente para ela.
— O que tem ela?
Samantha percebeu que eu me sentia bastante perdido com a situação, por isso pediu com o olhar, autorização para falar em meu lugar.
— Amor, deixa eu te falar uma coisa — começou minha deusa. — Eu sei que sua mãe Alanis fez uma coisa feia indo embora da casinha de vocês, só que ela mudou e quer ver você.
— Mas mãe, eu não quero ver ela.
Cristal afirmou, no entanto eu não fiquei surpreso com aquilo. Só que era errado deixá-la pensar assim. Minha filha precisava aprender que apesar de tudo, Alanis era sua mãe, e que o perdão era uma dádiva.
— Princesa, a sua mãe Alanis gostaria muito de ver você. Além do que, ela está doente.
Cristal arregalou os olhos com minha declaração.
Tão pequena e já tendo que receber uma bomba como aquela.
— Doente? — perguntou ela num sussurro.
— Sim, minha linda, ela está dodói — Samantha confirmou. — É importante para ela ver você nesse momento r**m.
— É muito sério? — Cristal perguntou e mais uma vez me choquei com a sensibilidade e esperteza da minha criança.
— Sim, coração — respondeu minha deusa. — Por isso eu te peço que você a receba. Eu não quero te obrigar a nada, mas talvez seja tão bom para ela quanto para você.
Samantha sabia o jeito certo de falar com ela e eu a amava ainda mais por isso.
— Mas eu não quero morar com ela! — Cristal falou de imediato.
— Não, Cristal, isso não vai acontecer — esclareci para ela, que já estava com cara de choro.
— Ela não vai mesmo me levar embora?
— Fica tranquila, filha. Ninguém vai tirar você de mim! — prometi. — Tem outra coisa. Você deixaria o papai te levar para fazer um exame?
— Mas papai, eu não estou doente. — A frase dela nos fez sorrir em meio aquele clima tenso. — Não, filha, você não está doente mesmo, graças a Deus. O exame é para sua mãe Alanis. Ela está doente e precisa do seu sangue para ajudá-la.
— Então tá bom — enfim ela concordou. — Mas minha mãe Sam tem que ficar comigo. Eu não gosto de agulha.
— Pode deixar, filha. Eu acompanho você, ok?
Samantha prometeu a ela e foi mais um passo dado.
Vários amigos se disponibilizaram a doar, e era um ato muito válido. Porque ainda que não servisse para Alanis, poderia servir para outras pessoas que estão em uma situação parecida.
Depois da nossa conversa, saímos todos pra ir ao shopping. Meus sogros também foram e cada um decidiu fazer sua programação, determinando um horário para nos encontrarmos mais tarde.
Eu e meus dois amores fomos ao cinema assistir a uma animação chamada Divertidamente, que mostrava a história de uma menina e suas emoções, que eram representadas por personagens, como se eles tivessem vida. O filme praticamente inteiro era passado como se estivéssemos na cabeça da tal Riley, e foi tão bom para nós quanto foi para Cristal.
Voltamos para a casa de Samantha e nos preparamos para dormir, pondo Cristal no meio de nós, para meu total êxtase. Era maravilhoso dormir ao lado das mulheres da minha vida.