BRIANA MORRIS
— Parece estar frustrada, Briana, concentre-se no que está a sua frente. Concentre-se no tabuleiro, no jogo. Esteja atenta à tudo a sua frente e em volta de você, então dê o xeque-mate.
— Não posso, isso não é uma ciência exata.
— Não estamos falando de números, Briana, isso é estratégia.
— Sua jogada não está tendo lógica nenhuma, assim eu vou ganhar e aí qual será o meu desafio?
— Nem tudo na vida vai te desafiar, querida, tem que aprender a controlar o que sente, quando isso não acontece você perde. Agora faça a sua jogada e reverta o jogo ao seu favor.
— Não tem lógica! Se eu já vou ganhar, por que tenho que reverter o jogo ao meu favor?
— Esse é o ponto, Briana. Olhe o tabuleiro a sua frente, analise o jogo e me responda a sua pergunta. Aprenda a lidar com suas frustrações. Nem sempre terá desafios matemáticos, nem sempre as coisas vão sair da maneira que você deseja.
— Se você deseja encontrar a resposta certa é preciso fazer a pergunta certa. Por isso, muitas vezes é preciso fazer perguntas que parecem bobas, infantis ou mesmo sem nexo.
“Essa é uma das principais características de pessoas como eu.
“Esse é o motivo de eu sempre estar à procura de desafios.
“Não pode chegar aqui e me repreender por estar frustrada quando você me entrega o jogo dessa maneira, ainda tentar me fazer pensar e analisar uma coisa que não tem sentido nenhum.
“Estou frustrada porque está me entregando o jogo para poder me analisar, para me fazer perguntas sem sentidos.”
— Isso soa arrogante da sua parte, não acha?
— Pessoas superinteligentes não são arrogantes, porque o arrogante sabe tudo sobre tudo. Mas, as pessoas verdadeiramente inteligentes são pessoas conscientes que não sabem ou conhecem muitas coisas.
“Elas não têm medo ou vergonha de dizer que não sabem algo ou não entendem.
“São pessoas que conhecem seus pontos fracos e sabem como protegê-los.
“Eu sou superinteligente na área de exatas, gosto de números e de lógica, não tente confundir a minha cabeça, pois não irá conseguir.
“Agora, se quiser continuar jogando comigo, jogue de verdade e não me entregue o jogo.”
— Senhorita Briana, ainda vai precisar de mim, hoje?
Sou tirada das minhas lembranças com a minha secretária entrando na minha sala, então olho as horas e vejo que já é fim do expediente.
— Não, pode ir, ainda vou ficar um pouco mais por aqui.
— Então até amanhã, senhorita. — Ela sai da sala fechando a porta atrás de si.
Tudo o que faço é respirar fundo, tentando me concentrar nos papéis e nos números a minha frente.
Fazer esse balancete não é difícil para mim, não é um desafio, é apenas um longo trabalho por ter que analisar várias planilhas.
Mas todas as vezes em que me sinto pressionada com alguma coisa fico assim, travada.
Minha vida na escola não foi muito fácil e entrar na faculdade de contabilidade três anos mais cedo também não me ajudou muito.
Terapia era o meu sobrenome até que me cansei de tudo aquilo e parei de ir.
Se as pessoas não conseguiam me aceitar por ser mais inteligentes do que elas, o problema estava nelas e não em mim.
Eu não devia tentar mudar nada na minha vida para agradar outras pessoas e no momento em que me dei conta disso passei a viver melhor.
Mas isso fez com que me isolasse e não quisesse interagir com pessoas mesquinhas que viviam em seus mundinhos insignificantes.
E não é arrogância minha ter chegado a essa conclusão.
Eu não estou sabendo lidar muito bem com o que aconteceu comigo hoje, por isso estou me sentindo pressionada.
Eu poderia muito bem ligar para o Oliver e contar a ele tudo o que o filhinho arrogante dele fez, mas eu não quero causar problemas entre os dois.
Eu devo tudo o que sou ao Oliver e dor de cabeça é a última coisa que quero lhe causar.
Ele já tem a vida tão atarefada para se preocupar comigo.
Vou ter que passar por isso sozinha e do meu jeito. Está na hora de lutar minhas batalhas, sozinha, sem ter que precisar dele e espero conseguir.
Posso até ser um gênio como ele mesmo fala, mas a minha genialidade só se resume aos números.
Minha vida privada é um desastre, vida social eu nunca tive, vida amorosa então eu não sei nem o que é.
Coloco os pensamentos de lado e volto a me concentrar no balancete que o meu querido chefe pediu.
Estou de parabéns, logo no meu primeiro dia de trabalho vou passar a noite no escritório.
Obrigada Oliver Thompson por ter criado um ser humano sem coração.
As horas vão se avançando e logo a madrugada chega.
Quando dá cinco horas da manhã, termino o bendito balancete e estou incrivelmente exausta, então recolho tudo e organizo em uma pasta.
Eu fiz questão de colocar os dados o mais explícitos possíveis, para ter o prazer de ver a cara do i****a quando começar a ler os papéis.
Estarei chamando o homem de burro de uma forma educada e entre planilhas.
Eu posso até não ser muito sociável como costumam comentar, mas também não sou tola ao ponto de deixarem as pessoas pisarem em mim, tirando conclusões precipitadas sem nem ao menos me conhecerem direito.
Pelo menos não mais.
Eu já fui assim, deixava as pessoas me diminuírem, mas Oliver me ensinou muitas coisas e uma delas foi me fazer enxergar o valor precioso que eu tenho.
Com a pasta já organizada, me levanto e sigo até a sala do CEO arrogante.
Como não tem ninguém na empresa, entro direto na sala.
Ele não disse que queria o balancete na mesa dele?
Então é isso que ele terá, a p***a do balancete na mesa dele amanhã cedo ao chegar.
Coloco a pasta em cima da mesa e vejo o porta-retratos com a foto da mãe e a irmã dele, juntas, abraçadas.
As duas são lindas.
Sento na sua cadeira e pego o porta-retratos em minhas mãos para ver a foto melhor.
Depois de alguns segundos o coloco no mesmo lugar e só então me dou conta do quão grande, espaçosa e luxuosa é a sala dele.
Deve ser muito bom mandar no mundo desta sala, ainda mais com a vista maravilhosa que tem atrás de mim.
Uma sala digna do príncipe, do CEO arrogante e que já pertenceu ao rei um dia.
O cansaço toma conta do meu corpo e essa cadeira divinamente confortável não ajuda muito a minha situação.
É como se eu não conseguisse mais mover um músculo sequer, então tiro os sapatos e levanto a saia que prende um pouco as minhas pernas.
Eu me encolho sobre a cadeira que relaxa o meu corpo.
Só um cochilo de trinta minutos não vai me matar.
Trinta minutos é tudo o que preciso para ficar bem de novo, aí volto para a minha sala e espero mais um dia de expediente começar.
É com o pensamento de que vou conseguir acordar que fecho os olhos, já que o meu corpo se recusa a levantar.