Uma Explosão Chamada: Hellen

Festival em Veneza

Hellen encarou Marcos com um olhar firme, tentando decifrar a razão por trás do chamado urgente para o escritório.

"Se me chamou por causa da nossa briga...", começou ela, a voz com um tom de desconfiança, lembrando-se da acalorada discussão que tiveram no aeroporto.

Marcos suspirou, um cansaço evidente em sua postura.

"Tem a ver com isso, sim", admitiu, os olhos voltados para o chão por um instante. "Mas não só por isso."

Ele fez uma pausa, organizando seus pensamentos antes de continuar. Dessa vez, ele foi mais direto.

"Durante o festival Redentore, haverá um grande evento da máfia em Veneza. Mafiosos do mundo inteiro estarão presentes, e nossa família também foi convidada." Ele se recostou na cadeira, os olhos firmes nos de Hellen, esperando por sua reação. "Inclusive os Castilhos."

Hellen prendeu a respiração ao ouvir o nome da máfia rival. A família Castilho, a familia de Mateo, ainda era uma ferida aberta, especialmente depois dos recentes confrontos entre eles e os Didion em Nova York. Sua mente rapidamente começou a traçar cenários de perigo, mas Marcos continuou.

"Mas ninguém ousaria atacar ninguém em um evento de tal magnitude. Ofender uma máfia no Redentore seria como declarar guerra a todas as outras. É um terreno neutro, Hellen."

Ela ouviu atentamente, mas ainda sem entender por completo onde ele queria chegar. Seu irmão suspirou de novo e, finalmente, soltou o que parecia estar segurando.

"Por isso, decidi que você pode ir para Veneza. Você e mais cinco dos nossos melhores homens vão representar a máfia Didion."

O coração de Hellen disparou. Ela quase não podia acreditar no que estava ouvindo. Um misto de surpresa e emoção começou a tomar conta dela.

"Você... está falando sério?" perguntou, ainda processando a notícia.

"Sim, estou falando sério", confirmou Marcos, olhando diretamente para ela. "Mas há mais uma coisa."

Hellen levantou uma sobrancelha, esperando a continuação.

"Nosso pai vai com você", disse ele, cruzando os braços. "Cross Didion por si só seria capaz de botar fogo em Veneza, mesmo ela sendo cercada de água."

A imensa felicidade que tomou conta de Hellen naquele momento foi incontrolável. A permissão para ir a Veneza, encontrar Mateo , que nem mesmo a presença do pai ao seu lado seria capaz de ofuscar sua felicidade, parecia um sonho distante que de repente se tornava realidade. Ela não conseguiu se conter. Num impulso, ela correu para abraçar Marcos.

Por um segundo, Marcos ficou rígido, mas logo cedeu e retribuiu o abraço. Era uma sensação nova para ele, que sempre havia sido mais reservado em expressar emoções com a irmã. Mas algo havia mudado desde a última briga. Ele percebeu que não se sentia mais incomodado com aquele gesto. Pelo contrário, havia uma estranha sensação de conforto.

"Obrigada, Marcos", disse Hellen, a voz carregada de emoção. "Obrigada por confiar em mim."

Marcos deu um leve sorriso, mas logo assumiu o tom sério novamente.

"Escuta, Hellen. Eu estou confiando em você, mas você precisa seguir o plano à risca. Você não pode se afastar da segurança, de jeito nenhum. E tem que voltar para casa no final do festival, entendeu? Nada de se meter em encrenca ou seguir impulsos."

Hellen assentiu vigorosamente.

"Eu prometo que vou fazer tudo como você disse."

Marcos a observou por mais um segundo, certificando-se de que ela realmente estava levando aquilo a sério, antes de dizer:

"Então se prepare, porque você vai partir daqui a dois dias no meu jato particular."

O sorriso de Hellen cresceu ainda mais. Ela não conseguia conter a felicidade que a invadia. Depois de tanta tensão e brigas, finalmente sentia que Marcos estava a seu lado, a apoiando em algo que ela desejava profundamente.

"Eu vou me preparar", disse ela, ainda sorrindo, enquanto se afastava. Sua mente já estava a mil, cheia de planos para os próximos dias.

Marcos assistiu a irma deixar seu escritorio como uma explosão, ele sorri ao se lembrar do novo apelido da irmã, pensando que ele combinava muito bem com ela, pelo menos com a nova versão dela.

Ela deixou o escritório com um brilho no olhar, a adrenalina correndo por suas veias. Caminhando pelas ruas de Manhattan, Hellen sentia uma leveza que não experimentava havia tempos. Havia uma sensação de liberdade, de conquista. Ela iria para Veneza, e veria Mateo. Isso a fazia vibrar de antecipação.

Sem perder tempo, decidiu que precisava de novas roupas. Se iria para Veneza, representando a máfia Didion, ela queria estar impecável. Mais do que isso, ela queria estar deslumbrante quando visse Mateo. A ideia de reencontrá-lo após tanto tempo fazia seu coração bater mais rápido. Ela queria que ele a visse em toda a sua glória, poderosa e irresistível.

Hellen foi direto para uma das boutiques de luxo que conhecia bem. Lá, foi recebida com o tratamento que estava acostumada, com vendedores correndo para mostrar as últimas coleções e acessórios. Ela escolheu vários vestidos, cada um mais sofisticado que o outro. Sabia que Veneza seria palco de encontros importantes, e cada detalhe de sua aparência tinha que estar à altura.

Depois das compras, com as sacolas cheias de roupas que certamente chamariam a atenção, Hellen voltou para casa. A sensação de satisfação a acompanhava a cada passo. Ela estava feliz, verdadeiramente feliz. Pensar em Mateo, o festival, o apoio de Marcos — tudo parecia estar finalmente no lugar certo.

Mas, mesmo enquanto estava envolvida na excitação do reencontro com Mateo, uma parte de sua mente permanecia alerta. O festival Redentore podia ser terreno neutro, mas nada na vida da máfia era completamente seguro. Ela sabia disso. E mesmo que estivesse confiante em sua própria capacidade de se defender, ainda era um território hostil. Ela precisaria estar sempre um passo à frente.

Quando chegou em casa, começou a preparar a mala, escolhendo cuidadosamente o que levar. Ao olhar para o espelho, viu-se refletida não apenas como uma mulher que estava indo para um festival em Veneza, mas como alguém que carregava o peso de uma guerra nas costas. Apesar de toda a leveza que sentia por dentro, sabia que a verdadeira batalha ainda estava por vir.