Uma Explosão Chamada: Hellen

Veneza

Hellen respirou fundo, voltando ao presente após a lembrança da discussão no aeroporto.

"Estou bem, Marcos", respondeu ao telefone, mantendo o tom leve, mas sabendo que havia mais por vir. Do outro lado da linha, o silêncio momentâneo de Marcos indicava que ele estava pensando, talvez escolhendo as palavras. Quando ele finalmente falou, sua voz soava mais séria.

"Estou te esperando no escritório. Temos um assunto sério a tratar."

Hellen assentiu, mesmo sabendo que ele não podia vê-la.

"Tudo bem, estarei aí em meia hora." Ela encerrou a chamada, guardando o celular no bolso com um suspiro pesado. Era claro que, apesar da melhora na relação entre os dois, algumas tensões permaneciam.

Enquanto caminhava, sua mente viajou de volta ao momento em que Marcos a impediu de embarcar para a Sicília. A raiva que ambos sentiram naquele dia ainda estava presente em pequenas fagulhas, mesmo que agora sob controle. Ele estava sendo super-protetor, mas aquilo tinha sido demais, pensava ela. Ainda assim, entender o lado dele não era tão difícil.

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No escritório da Deravux House, Marcos encarava a vastidão de Manhattan pela janela. As luzes da cidade piscavam, mas sua mente estava distante, presa nos pensamentos sobre Hellen. Desde aquela discussão no aeroporto, ele não conseguia parar de pensar no que sua irmã havia dito. As palavras dela ainda ecoavam em sua cabeça.

"Se fosse Bruna na Sicília, você não hesitaria."

Aquelas palavras perfuraram como facas. Hellen tinha razão. Ele sabia disso. Se fosse Bruna, ele atravessaria o mundo sem pensar duas vezes. E, mesmo que o argumento de que Hellen poderia colocar toda a família em risco ao ir para a Sicília fizesse sentido, a verdade era que ele estava usando a guerra como desculpa. No fundo, era medo. Medo de perdê-la. E agora, isso o fazia questionar se tinha o direito de impedir Hellen de seguir seu coração, de ir atrás de Mateo.

Antes que pudesse mergulhar ainda mais fundo em seus pensamentos, ouviu três batidas na porta.

"Entre", disse, ainda encarando a janela, sem se virar.

Peter, Ryan e Jackson entraram no escritório, carregando pastas e relatórios sobre os novos carregamentos de armas e munições que haviam adquirido para fortalecer a máfia Didion. A operação estava crescendo, e o controle de armamentos era vital para manter o poder sobre as demais famílias. Mas o clima estava estranho, pesado, com os três sentindo a tensão de Marcos.

Jackson, ser o mais direto, e foi o primeiro a quebrar o silêncio.

"O que está te preocupando, Marcos?"

Marcos finalmente se virou, encarando o trio.

"Vou mandar Hellen para um evento em Veneza", disse, medindo as palavras. "Um evento onde sei que Mateo estará."

Peter foi o primeiro a romper o silêncio que se instaurou depois das palavras de Marcos, com um tom incrédulo:

"Você está louco? O Don Castilho pode pôr as mãos nela e torturá-la!"

Marcos virou-se para encará-lo, entendendo imediatamente o porquê de tanta preocupação. Peter amava Hellen. Não era algo romântico, não mais. A ligação entre os dois era profunda, uma conexão que ia além de simples amizade, mas havia uma clareza na mente de Peter que o impedia de desejar algo mais. Ele estava apaixonado por Iana, e a amava de uma maneira muito mais intensa e definitiva. A relação dele com Hellen era complexa, mas, no fim das contas, Hellen era quase como uma irmã para ele.

A situação se assemelhava de certa forma à dinâmica entre Bella e Jacob, do filme "Crepúsculo". Bella amava Jacob, sim, mas nunca da mesma forma que amava Edward — assim como Peter se importava profundamente com Hellen, mas seu amor por Iana era maior. Ele queria proteger Hellen, queria garantir sua segurança, mas o coração dele já estava completamente entregue a outra pessoa, e ele sabia disso.

Jackson cruzou os braços, pensativo.

"Peter tem um ponto. Se algo der errado, Castilho pode usá-la como moeda de troca."

Ryan, por sua vez, manteve-se mais calmo, analisando a situação de forma prática.

"Hellen vai acabar indo de qualquer jeito, Marcos. Se ela quer encontrar Mateo, ela vai achar um jeito. Melhor em Veneza, onde temos algum controle, do que na Sicília."

Marcos respirou fundo, reconhecendo a verdade nas palavras de Ryan.

"Já tomei minha decisão", disse, com um tom finalizador. "Se fosse Bruna, Iana, Lis ou Hanna, nada nem ninguém nos impediria de ir até elas. Não tenho o direito de impedir Hellen de ir até Mateo."

Peter permaneceu em silêncio por alguns segundos, claramente ainda desconfortável com a ideia, mas compreendendo o ponto de Marcos. Ele sabia que Hellen não desistiria facilmente. Jackson e Ryan assentiram em concordância. Estava decidido.

Agora, o plano precisava ser ajustado. Hellen iria com quatro dos melhores homens da máfia Didion. Era um número pequeno, mas suficiente. Eles seriam discretos, mas eficientes. A missão era garantir que ela ficasse protegida a todo momento, e se algo desse errado, que a tirassem de Veneza rapidamente e sem ferimentos.

Enquanto os detalhes eram discutidos, mais uma batida na porta interrompeu o planejamento. Dessa vez, era Hellen. Ela entrou na sala e encontrou os olhares de todos sobre ela. Ryan foi o primeiro a falar, com um sorriso cínico. "Hellen."

Ela assentiu em cumprimento, o olhar firme e confiante. A relação entre ela e Ryan havia evoluído. Apesar de ainda haver uma certa ironia entre os dois, agora havia também uma cumplicidade. Afinal, Hellen fazia parte da vida de Lis, e isso a tornava uma presença constante na vida de Ryan.

Jackson, sempre mais leve, sorriu.

"Bem, vamos indo então."

Ryan concordou com a cabeça, e Peter, com relutância visível, começou a se dirigir para a porta. No entanto, ao passar por Hellen, ele parou, encarando-a por um momento antes de dizer, em um tom baixo:

"Se cuide."

Hellen sorriu, tentando transmitir uma segurança que ela própria não estava certa de sentir.

"Sempre."

Peter parecia preocupado, e pensava que talvez pensando nos treinos no galpão, onde Hellen havia conquistado alguns inimigos com suas habilidades brutais. Havia homens que ainda guardavam rancor pelas surras que levaram dela, e certamente muitos gostariam de uma revanche.