Troca de mensagens

1541 Words
Hellen estava sentada no quarto, os olhos fixos na janela aberta enquanto o céu noturno de Veneza se estendia diante dela. As luzes da cidade refletiam nas águas dos canais, criando um espetáculo de brilhos que dançavam suavemente. A brisa trazia o cheiro de água salgada e o murmúrio distante das pessoas caminhando pelas vielas, como um sussurro constante da vida que pulsava naquela cidade antiga. Hellen suspirou, seus pensamentos a mil, tentando imaginar onde Mateo estaria. Será que ele já estava ali, em algum lugar de Veneza? Ou ainda estaria na Sicília, esperando o momento certo para viajar? Ela sabia que o festival começaria no dia seguinte e o jantar da máfia aconteceria no segundo dia, então ainda havia tempo, mas a ansiedade a corroía por dentro. Ela se levantou da poltrona com um suspiro frustrado e pegou o celular. Fazia mais de um mês que Mateo não ligava ou mantinha uma conversa decente com ela por mensagem. Suas respostas eram sempre curtas e diretas, como se ele estivesse constantemente apressado ou distraído. No entanto, ele sempre terminava com a mesma frase, a que ecoava em sua mente toda vez que ela se questionava sobre eles: "Confie em mim, gata. Eu vou voltar." Aquelas palavras já não traziam tanto conforto. Hellen queria mais, queria sentir Mateo presente, queria saber o que ele estava pensando, onde ele estava, o que estava fazendo. Antes que pudesse se segurar, seus dedos voaram pelo teclado do celular, e ela mandou uma mensagem curta, quase desafiadora: "Vontade sem fim de saber onde você está." Para sua surpresa, dois pauzinhos azuis apareceram imediatamente, indicando que ele já estava com a conversa aberta. Seu coração acelerou quando os três pontinhos de "digitando" surgiram na tela. Ele estava ali, respondendo, o que por si só já era algo raro ultimamente. A resposta veio logo em seguida: "Estou me preparando para viajar para Veneza amanhã cedo. Tenho um compromisso lá." Hellen sorriu ao ler a mensagem, seus lábios curvando-se em um sorriso involuntário. Mateo chegaria no dia seguinte, bem antes do jantar da máfia. O que significava que ele teria um dia inteiro livre antes de se encontrar com todos. Será que ela deveria dizer que já estava em Veneza? A ideia passou por sua mente, mas ela hesitou. Queria surpreendê-lo, encontrá-lo de um jeito inesperado, sem levantar suspeitas de que estava ali desde antes. No entanto, algo a intrigava. Os três pontinhos de "digitando" apareciam e sumiam, como se Mateo estivesse escrevendo algo e desistisse de enviar, apagando as palavras antes de finalmente tomar coragem de digitar novamente. Hellen franziu o cenho, sua mente cheia de perguntas. O que ele estava tentando dizer? Ela então arriscou: "Onde você vai ficar em Veneza? Quero pesquisar o local, assim posso imaginar você lá." Por um momento, Hellen se perguntou se estava indo longe demais. Se Mateo suspeitasse que ela estava em Veneza, talvez mudasse seus planos ou ficasse mais reservado. Mas a resposta veio de forma tranquila: "Temos uma casa em Veneza, mas como não quero ficar sob o mesmo teto que meu pai, fiz uma reserva no Aman Venice." Hellen sorriu mais uma vez, satisfeita. Era uma ótima notícia. Mateo chegaria um dia antes do jantar e não estaria com o pai, o que significava que ela poderia se encontrar com ele sozinha, sem interferências. Além disso, o Aman Venice era um dos hotéis mais luxuosos da cidade, discreto e perfeito para manter sua presença em segredo. "Me manda o número do quarto. Quero mandar um presente para você", digitou, tentando manter o tom casual. Ela sabia que estava testando os limites da situação, mas queria algum tipo de conexão mais próxima, algo que a fizesse sentir que ele ainda estava presente em sua vida. Mateo respondeu de forma breve, como de costume : "Te aviso assim que chegar lá." Dessa vez, ele encerrou a conversa de um jeito um pouco diferente, algo que fez um calafrio percorrer a espinha de Hellen: "Boa noite, gata." Ela franziu o cenho. Havia algo naquela despedida que a incomodava, como se algo estivesse fora do lugar. Talvez fosse sua própria ansiedade jogando truques em sua mente, mas o m*l pressentimento não se dissipou. Era uma sensação que a fazia querer ficar alerta, como se algo estivesse prestes a acontecer. Hellen sacudiu a cabeça, tentando afastar a sensação desconfortável. Antes que pudesse mergulhar mais fundo nesses pensamentos, ouviu uma batida suave na porta. "Senhorita Hellen, o jantar está servido." Hellen desceu as escadas com passos firmes, o som de seus saltos ecoando levemente no mármore frio do hall de entrada. Apesar de ter viajado durante horas, estava determinada a não deixar que a exaustão a dominasse. Mas, ao olhar para os outros, ela percebeu que havia algo diferente. Todos os homens que viajaram com ela, incluindo Hugo e Cross, estavam mais bem apresentados. A pele deles estava fresca, como se tivessem acabado de sair de um banho relaxante, enquanto ela ainda estava vestida com as roupas da viagem: uma calça social justa, um top que moldava seus músculos e um terninho por cima. As linhas de seu corpo se destacavam, mas ela sentia que faltava algo, uma espécie de brilho que o resto da companhia parecia ter. Ao entrar na sala de jantar, Hellen foi recebida por uma cena que a fez sentir como se tivesse entrado em uma pintura. A mesa estava lindamente posta, com toalhas brancas e finas, pratos de cerâmica delicada e talheres de prata que reluziam sob a luz suave das velas. O aroma dos pratos típicos de Veneza preenchia o ar, uma mistura de sabores que prometia uma experiência gastronômica memorável. No centro da mesa, um grande prato de risoto al nero di seppia chamava a atenção. O risoto, cozido com tinta de lula, tinha uma cor profunda e sedutora, adornado com pedaços de lula grelhada que pareciam quase artísticos. Ao lado, havia uma travessa de sardinhas à escabeche, marinadas em vinagre e ervas, que exalavam um aroma forte e tentador. Hellen reconheceu também as bruschettas, cobertas com tomate fresco e manjericão, e um prato de polenta cremosa, um clássico da região. As opções eram inúmeras, e Hellen percebeu que seu estômago roncava em antecipação. Ela se sentou à mesa, observando o ambiente ao seu redor. O lugar era grande e elegantemente decorado, com pinturas renascentistas nas paredes e candelabros de cristal pendurados no teto alto. Os homens estavam reunidos, todos parecendo descontraídos, mas Hellen sabia que havia uma tensão sutil no ar, uma expectativa que permeava o jantar, especialmente com o festival se aproximando. A conversa era fluida, mas ela percebeu que muitos dos olhares se dirigiam para Cross, que ocupava o lugar de honra à cabeceira da mesa. “Você está ótima, Hellen. A viagem não a deixou menos deslumbrante”, Hugo comentou, interrompendo seus pensamentos. Ele estava sentado a seu lado, com um sorriso sarcástico no rosto ele gostava de provoca-la. “Obrigada, Hugo”, respondeu ela igualmente sarcastica, tentando não deixar transparecer a sensação de estar um pouco deslocada. “Você deveria ter tomado um banho, assim como nós”, ele acrescentou, brincando. Ela sorriu e mostrou o dedo do meio para ele, mas não pôde deixar de sentir um pequeno desconforto. Era verdade, sua aparência não estava exatamente à altura da magnificência do ambiente. Mas agora não havia tempo para se preocupar com isso; o aroma da comida estava chamando-a, e a companhia era importante. A conversa continuou, cheia de risadas e comentários sobre o festival que estava por vir. Hellen tentou se concentrar, mas sua mente ainda estava parcialmente presa à conversa que tivera com Mateo. O que ele estaria fazendo agora? Estaria tão ansioso quanto ela? Esses pensamentos a distraíam e, quando o jantar começou, ela mergulhou na refeição. O risoto estava perfeito — cremoso, com um sabor rico que dançava em sua boca. Ela se deliciou com cada garfada, sentindo-se um pouco mais relaxada a cada prato que passava. O ambiente estava quente e acolhedor, os homens conversando sobre assuntos de negócios e fazendo comentários sobre a chegada de outros membros da máfia, mas, no fundo, Hellen sabia que tudo isso era parte do jogo. Conforme as horas passavam, Hellen se viu rindo e se envolvendo na conversa, apesar de ainda se sentir um pouco fora de lugar em suas roupas de viagem. Mas, enquanto o jantar se desenrolava, ela percebeu que estava cercada por homens que a respeitavam e a consideravam uma parte vital da máfia Didion. Aquela era sua família, e ela se lembrava disso a cada nova garfada. Com o jantar avançando, a sobremesa foi servida: um tiramisù tradicional, que estava leve e perfeitamente adoçado. Hellen se permitiu aproveitar aquele momento, sorrindo e compartilhando histórias, enquanto a conversa fluía com naturalidade. No entanto, em um canto de sua mente, a expectativa do reencontro com Mateo não saía de seu coração. Ele estava tão perto, e a ideia de que ela o veria em breve tornava tudo mais emocionante. E mesmo que o jantar estivesse maravilhoso, seu pensamento estava apenas um dia adiante, ansiosa pelo momento em que seus olhos se encontrariam novamente, e ela finalmente poderia dizer tudo o que guardara em seu coração.
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