Quero que volte

1383 Words
Após o jantar, Hellen subiu as escadas em direção ao banheiro. O dia havia sido exaustivo e repleto de emoções, e tudo que desejava era relaxar. Ela encheu a banheira com água quente, adicionando algumas gotas de óleo essencial de lavanda, que emanava um perfume suave e calmante. Assim que se afundou na água, sentiu os músculos se soltarem, e a tensão do dia começou a desaparecer. Hellen fechou os olhos, permitindo-se desfrutar do calor e do cheiro que a envolviam. A água morna a abraçava, e ela mergulhou no silêncio, deixando a mente vagar. Pensou em Mateo, em como estava ansiosa para vê-lo novamente. Queria sentir seus braços ao redor dela, olhar em seus olhos e finalmente dizer tudo o que guardara no coração. Mas enquanto seus pensamentos dançavam entre os sonhos e as expectativas, ela não percebeu o quanto estava cansada. A água morna a embalou e, logo, ela caiu em um sono profundo e sem sonhos. A noite em Veneza era um espetáculo hipnotizante. As águas do Grande Canal refletiam as luzes dos lampiões, que dançavam suavemente nas ondas, criando um brilho dourado que iluminava as ruelas estreitas e as fachadas antigas dos edifícios. Os sons da cidade eram suaves, misturando o murmúrio distante de conversas e o suave tilintar dos remos das gôndolas que passavam, flutuando como sombras silenciosas na escuridão. O aroma da brisa noturna era uma mistura do perfume da água e das flores que cresciam em varandas escondidas, evocando uma sensação de mistério e romance. Enquanto isso, na casa de Cross, a tranquilidade da noite era apenas um disfarce para a tensão que pairava no ar. Ele, vestido em um robe de seda escura, com um anel de ouro e rubi brilhando em seu dedo, descia as escadas com passos pesados. O olhar em seu rosto era sério, refletindo o peso de suas responsabilidades. Ele havia retornado à sua terra natal, e o que deveria ser um momento de alegria estava impregnado de apreensão. A velha casa estava em silêncio, exceto pelo leve som de passos de seus homens, que se moviam silenciosamente, atentos a qualquer sinal de perigo. Enquanto Cross se dirigia ao seu escritório, a escuridão da noite foi interrompida por uma gôndola que se aproximava lentamente. O som suave do remo cortando a água ecoava na tranquilidade da noite. À distância, dois homens se aproximaram da casa, mantendo-se em guarda, suas sombras se projetando nas paredes de pedra como sentinelas. A tensão aumentou quando um deles, um robusto guardião da segurança de Cross, preparou-se para intervir, acreditando que se tratava de um ataque. No entanto, assim que o homem se aproximou, reconheceu a figura familiar que descia da gondola. A tensão dissolveu-se, e os seguranças trocaram olhares aliviados. O homem que se aproximava era Don Mattos, um mafioso respeitado e temido, cujos cinquenta e seis anos não ocultavam a força e o poder que emanavam de sua presença. Ele havia sido um dos poucos aliados fiéis de Cross, aguardando pacientemente o retorno do homem que um dia conhecera como um dos mais temidos do submundo. Com um gesto de mão, Don Mattos fez sinal para os guardas se afastarem. “Saia da frente seus ratos, Don Mattos me espera”, disse ele, com um sorriso confiante, enquanto removia o chapéu que encobria parcialmente seu rosto. Seus olhos escuros brilhavam com um humor travesso, e seu porte imponente se destacava sob a luz suave dos lampiões que iluminavam a entrada da casa. Os guardas, reconhecendo sua autoridade e sua conexão com Cross, deixaram-no passar sem hesitar. Don Mattos avançou em direção ao escritório de Cross, onde ele sabia que seu velho amigo o aguardava. Ao entrar no escritório, a atmosfera mudou. O ambiente era iluminado por uma luz suave, que destacava os traços de ambos os homens enquanto eles se encaravam. A alegria do reencontro tomou conta do espaço, e ambos riram ao se abraçar. Era um gesto de camaradagem, um reconhecimento de que, apesar dos desafios e das batalhas que enfrentaram, a lealdade ainda os unia. “O bom filho, à casa torna”, disse Don Mattos, sorrindo amplamente. Cross riu, seus olhos brilhando com nostalgia. “Agora me chamam assim? Quando fui embora, era o d***o em pele de gente”, respondeu, sua voz carregada de ironia e lembranças de tempos passados. Don Mattos não pôde conter a risada. “Bons tempos”, concordou, seu tom se tornando mais sério à medida que os dois homens se sentavam. Cross se inclinou para frente, sua expressão mudando rapidamente. “Alguém ousou tomar meu território? Ou Veneza é terra de ninguém? Ninguém me consultou ao marcar um evento da máfia na minha cidade.” Don Mattos colocou as mãos na mesa, observando a intensidade de Cross. “Veneza ainda é sua, meu amigo. Nenhuma máfia se estabeleceu aqui de fato; tornou-se uma espécie de território neutro. Por isso foi escolhida para o evento”, respondeu, tentando acalmar a inquietação de Cross. Cross relaxou um pouco, mas ainda assim sua preocupação estava presente. “E os Castilhos? Descobriram o que pedi?” Don Mattos assentiu, sua expressão agora mais grave. Ele sabia que a lealdade dos aliados era vital em tempos de incerteza. “Os Castilhos estão se movendo, estive de olho e tenho conhecimento de todas as suas ações. Não se preocupe, vou garantir que nada aconteça sem que você saiba”, disse Don Mattos, seu tom firme refletindo a lealdade que sempre teve por Cross. A conversa prosseguiu, cheia de trocas de histórias antigas e lembranças de batalhas travadas lado a lado, até que Don Mattos sorriu, quebrando a seriedade do momento. “Mas diga-me, amigo, já não oferece nada para beber aos amigos?” Cross sorriu de volta, apreciando a camaradagem. “Por que não? A noite é longa, e temos muito a discutir.” Enquanto os dois amigos se preparavam para um brinde, a atmosfera leve contrastava com a tensão subjacente que ainda pairava no ar. A noite em Veneza continuava a envolver a cidade em seu manto de mistério, mas ali, naquele escritório, a lealdade e a amizade ainda prevaleciam, como uma luz em meio à escuridão. Após algumas taças de um excelente vinho tinto, a atmosfera no escritório de Cross se tornava cada vez mais descontraída, mas o peso das preocupações ainda pairava no ar. Cross recostou-se em sua cadeira, olhando para Don Mattos, que agora exibia uma expressão mais séria. “Desenfunda o que realmente sabe sobre os Castilhos”, ordenou Cross, a curiosidade e a tensão em sua voz. Don Mattos não hesitou. Ele inclinou-se para frente, suas mãos entrelaçadas sobre a mesa. “Mateo, ao retornar de Nova York, se movimentou astutamente, minando as forças do próprio pai. Orquestrou uma série de manobras para tomar a mafia Castilho. Mas, incrivelmente, há mais ou menos um mês, ele parou. Começou a agir como um cordeirinho na coleira, fazendo tudo o que o pai mandava”, explicou, sua voz baixa e grave. A revelação atingiu Cross como um soco no estômago. Sua irritação e alerta cresciam, como uma tempestade se formando no horizonte. Ele se lembrava bem do caráter de Don Castilho, um homem asqueroso até mesmo pelos padrões de Cross. “Esse é um homem que não conhece lealdade. O jogo sujo é seu lema”, pensou, enquanto sua mente fervilhava com as implicações daquela mudança de comportamento de Mateo. O fato de Mateo ter cessado seus avanços poderia significar duas coisas: ou ele estava tramando o golpe final contra o pai, ou Don Castilho o tinha em suas garras, utilizando algo poderoso o suficiente para fazer Mateo se submeter. O medo por Hellen e a dúvida sobre o futuro de Mateo começaram a consumir os pensamentos de Cross, mas ele optou por não compartilhar suas preocupações com Don Mattos. Percebendo o silêncio de Cross, Don Mattos inclinou-se ainda mais para frente, seus olhos fixos nos de Cross. “Quero que você volte. Quero que assuma seu território. O i*****l do Don Castilho ouviu o que seu filho fez na América. Inclusive, tenho que dizer: seu filho está escrevendo um novo capítulo da máfia.” Um sorriso de orgulho surgiu nos lábios de Cross ao ouvir sobre Marcos.
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